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sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Do encantamento da telinha ao desencanto do quadro de giz da classe

            Iniciamos nossa modesta reflexão com uma frase de um artigo anterior (“A educação como alavanca para o conhecimento”) por achá-la muito oportuna: “Vivemos na assim chamada sociedade da informação, muito embora dela façam parte menos que um terço da humanidade, pois a grande maioria da população mundial encontra-se excluída dos avanços tecnológicos cada vez mais céleres da Terceira Revolução Técnico-Científica ora em curso”. A sociedade mundial, essa da onipresença dos meios de comunicação e da toda poderosa globalização ainda o é uma sociedade atrasada e que não conseguiu dar à maioria dos seres humanos o essencial para uma vida digna, entenda-se alimentação e saúde. Que falar então em Educação, quando ainda temos no planeta inúmeros países com ampla maioria de analfabetos? E que falar então da multidão de analfabetos funcionais que a estes se somam devido à precarização e/ou improvisações nos sistemas educacionais públicos visando gastos menores com tal “peso orçamentário” (no entender de alguns políticos) delegado aos Estados?
            A Educação não pode ser entendida como gasto, mas como investimento para a melhoria da sociedade local, regional e mundial. Não se trata apenas de construir bases para a qualidade de vida, mas de um alavancamento cultural e civilizacional rumo a uma sociedade mais humana e isso pressupõe um contraponto ao modelo econômico atual, individualizador e despersonalizador do principal agente produtivo, o trabalhador. Não se trata de vestir camisas de “Che Guevara” e sair às ruas fazer protestos, mas trabalhar com a meta da formação do ser humano integral e não mero homo sapiens laborum, peça de reposição barata do sistema.
            Afirma-se que a escola está passando por uma crise e que esta decorre da estagnação do processo ensino-aprendizagem, pois segundo dizem: a escola perdeu o encanto e deveria seguir o exemplo dos meios de comunicação, entre os quais a TV e o Computador com acesso à internet. Analisemos primeiramente o caso da TV, se ela por si só bastasse para o sucesso e o tão esperado “encantamento” dos alunos, bastaria tirar os professores da classe e gravar aulas para que os mesmos assistissem, mas a realidade não é esta, pois têm raízes culturais, poucos são os canais de TV que possuem grandes audiências, a maioria deles não consegue sequer alcançar um ponto de audiência. A situação piora quando a programação não está “afinada” com os anseios do público e isto nada tem a ver com qualidade programática.
            A Televisão precisa ter uma função social educativa e para isso deve ter sua programação voltada para a formação integral do ser humano, ou seja, após assistir à televisão a pessoa deve adquirir subsídios para se tornar um alguém melhor. E isso ocorre? Sim, mas nos programas que apresentam menor audiência, pois, por uma questão cultural, de forma geral, o povo prefere programas de péssima qualidade, com palavrões, violência, muito sexo e pouca informação útil. A futilidade é receita para o sucesso, afinal para que assistir aos telejornais e ficar sabendo dos problemas do município, estado, país ou do planeta? É muito melhor se isolar na redoma de vidro que a programação da TV possibilita e assistir aos “BBB’s”, Pânico na TV, etc.
            A assim chamada crise da Educação nada mais é do que uma crise da sociedade que tem sua origem na crise da família, pois, muitas estão desestruturadas, os pais trabalhando fora não dão a atenção necessária à educação dos filhos criados sem limites e são educados pela Televisão, quando estes chegam à escola esta se torna um palco de embates, afinal busca-se dar limites e bons valores para quem não tem em sua casa limites e cujos valores aprendidos sejam no seio familiar ou ao assistir a TV não são os mais adequados.
Muito se acusa e com razão os meios de comunicação por manipular a população, mas também ocorre o contrário, ou seja, a população também manipula os meios de comunicação, em especial a TV, pois, se o canal de TV não der ao público o que este deseja na programação, certamente não terá audiência e conseqüentemente não terá a sua permanência no ar assegurada. O sucesso de programas como o “BBB” e o “Pânico na TV” é assegurado por excelentes profissionais que conferem à mesma àquilo que o povo quer, ou seja, futilidade, sensualidade, vulgaridade, beleza e nenhum conteúdo. Algum tempo atrás um projeto piloto, ou seja, um ensaio para a realização de um Big Brother em certo país europeu formado por integrantes intelectuais foi abortado, a explicação: as pessoas que assistiram o ensaio acharam muito chato ouvir os intelectuais falando sobre coisas sérias, as quais muitas vezes não as entendiam. Assim, não pretendemos endemonizar a TV, pois há excelentes programas e canais, mas estes não são os de maior audiência, assim, podemos dizer que a escola e os bons programas de TV navegam num barco a remo contra a correnteza, enquanto os BBB’s, Pânicos na TV, etc. navegam com potentes motores de popa em águas favoráveis.
No caso do Computador, não é pequena a parcela da população que o utiliza principalmente para bate-papo, troca de mensagens e busca de sites pornográficos, etc.. Essa poderosa ferramenta para a pesquisa acaba sendo subutilizada, pois mesmo que o fosse utilizada de forma adequada, é preciso fazer análises e sistematizar a informação mentalmente para haver crescimento cognitivo e muitas pessoas simplesmente não sabem como buscar e menos ainda trabalhar com a informação.
No entanto, a TV e o computador são poderosos instrumentos e que podem ser ainda mais incorporados na prática escolar do professor em classe, mas com a consciência que jamais darão aos alunos o encanto que eles encontram nos programas de baixa qualidade, pois em educação se trabalha com conhecimento útil e bons valores, exatamente o contrário daquilo que faz brilhar seus olhos na programação televisiva. Encanto mesmo em sala de aula quem faz é o bom professor, algumas vezes apenas com “quadro de giz e cuspe”!

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