Powered By Blogger

sábado, 29 de julho de 2023

Diário de um homem supérfluo

 

Ivan Sergeiévitch Turguêniev (1818-1883) foi um romancista, poeta, escritor de contos e novelas, tradutor, dramaturgo e divulgador da literatura russa no Ocidente. Turguêniev, oriundo de uma família de proprietários rurais abastados, foi criado juntamente com seus irmãos Nikolai e Serguéi por sua mãe, uma mulher muito educada, porém autoritária. O escritor se formou bacharel em filosofia pela Universidade de São Petersburgo, seguindo para a Universidade de Berlim para prosseguir seus estudos. Na Europa, conheceu e conviveu com intelectuais e literatos de renome. Na volta à Rússia, conseguiu licenciatura pela Universidade de Moscou e ocupou um cargo no Ministério da Administração Interna. Escreveu vasta obra, e, embora a repressão do período soviético seja amplamente conhecida, a Rússia Czarista nunca ficou atrás, tanto que as obras de literatos russos eram fortemente censuradas no país.A literatura de Turguêniev alcançou menor projeção mundial do que a de  Tolstoi (1828-1910) e Dostoievski (1821-1881), no entanto, na sua terra natal, a Rússia, Turguêniev é muito aclamado. A literatura clássica russa é considerada uma das mais ricas do mundo, são vários grandes autores e não se resume a essa tríade, porém, esta é a que alcançou, por suas obras, maior disseminação no planeta.

            A obra "O diário de um homem supérfluo" publicado originalmente em 1850, foi fortemente censurada e desfigurada, tanto que inicialmente não alcançou grande sucesso devido aos cortes estabelecidos pelo governo czarista de Nikolau I. Turguêniev que tinha uma formação intelectual consistente, inclusive residindo parte de sua vida nos países da Europa Ocidental, observava o quanto seu país natal estava atrasado. O sentido de supérfluo, por ele introduzido, não somente na referida obra, mas, na literatura russa, tem como intenção expressar um homem que acreditava ter mais capacidade moral e intelectual do que a media da sociedade russa, mas, que não era reconhecido e se encontrava impotente para agir, dado o aparato opressor estatal e os arraigados hábitos culturais da sociedade russa de sua época. Ao homem supérfluo, introduzido por Turguêniev, se seguiram vários outros em diferentes obras de autores diversos que eram críticos ao atraso social e econômico em que se encontrava a Rússia, mas, que nada conseguiam fazer, dessa forma, se sentiam deslocados, sem conseguirem se encaixar na realidade vivida.

            No livro "O diário de um homem supérfluo", a personagem Tchulkatúrin é um homem na faixa dos  trinta anos, que se encontra acamado, à espera da morte, que, em seus quinze dias finais, resolve escrever um diário. Ele conta ser filho de proprietários rurais abastados, sendo que odiava sua mãe, apesar de ter recebido amor somente dela, uma mulher que somente descansou no dia em que morreu, pois era viciada em trabalho. Seu pai era viciado em jogo, e, quando morreu quase todas as propriedades foram confiscadas para pagamento das dívidas de jogo dele. Era esse pai que ele de fato amava. Tchulkatúrin apesar de ter decidido escrever sobre sua vida, passa quase o tempo todo contando sobre uma desilusão amorosa. Morando em uma cidadezinha pacata ele conhece uma mocinha chamada Elizavieta Ojóguin ("Liza") por quem se apaixona, mas, não é correspondido. A situação fica mais complicada quando um jovem príncipe vem para a localidade recrutar soldados para o exército do Czar. Liza, a pretendida de Tchulkatúrin, se apaixona perdidamente pelo belo príncipe.

            Tchulkatútin, enciumado ofende o príncipe que o desafia para um duelo. Tchulkatúrin tem a certeza que irá morrer, mas aceita o desafio. O príncipe, na hora marcada, está muito confiante e pergunta ao adversário se quer se desculpar ou morrer, Tchulkatúrin recusa-se a retirar suas ofensas. Em conformidade com as regras, o duelo se inicia e, o príncipe é alvejado de raspão na cabeça, ele observa que não é nada grave, apesar do sangue escorrendo na face, atira para o alto e, assim poupa a vida de seu oponente afirmando que o duelo está encerrado. Tchulkatúrin se sente humilhado pelo perdão concedido pelo Príncipe. Considera que o Príncipe não o considerou um adversário válido para ser por ele morto. O Príncipe propõe que o ocorrido seja ocultado, mas, a cidadezinha toda fica sabendo e Liza, sua família e toda a sociedade fica indignada com Tchulkatúrin que é proibido de frequentar a casa de Liza. O Príncipe continua a frequentar a casa de Liza e, após alguns dias, vai embora deixando uma carta para a jovem afirmando que neste momento não pretendia se casar e que nem ela poderia ser sua esposa. A jovem entra em depressão, passa seus dias chorando sempre acompanhada de seu amigo Bismiónkov, um funcionário público de baixo escalão. Thulkatúrin tenta se aproximar da moça, tendo em vista que já não têm a concorrência do Príncipe, na esperança de que ela veja nele a pessoa que ele pensa ser e, por isso ser merecedor de seu amor. Paro aqui! Fica a dica!

Sugestão de boa leitura:

Título: Diário de um homem supérfluo.

Autor: Ivan Turguêniev.

Editora: Expressão 34, 2018,  96 p.

 


quarta-feira, 26 de julho de 2023

Quem quer viver para sempre?

 

               Estou às vésperas de completar mais um inverno (a estação em que nasci), dessa forma, falar em completar mais uma primavera seria faltar com a verdade. É natural que nessa época (aniversário), as pessoas estejam mais reflexivas sobre a vida, seus encantos e desencantos. Sendo uma pessoa introspectiva por natureza, não fujo à regra. A vida não examinada não vale a pena ser vivida, já ensinava o filósofo Sócrates (470 a.C. - 399 a.C). Colocar os dias vividos, portanto, todo o passado ao escrutínio de uma lupa, pode ser bastante dolorido, mas também libertador. A verdade é que não seríamos as pessoas que somos, sem as experiências que tivemos, inclusive as traumáticas. Lembro de um filme de Sylvester Stallone em que o referido ator interpretava o lutador de boxe Rocky Balboa que ensinava "ninguém vai bater tão duro em você quanto a vida, e viver é isso, não importa o quanto você é capaz de bater, mas o quanto você é capaz de resistir e seguir em frente". Da mesma forma, li certa vez que "a vida é como um navio em que você é o comandante, sendo que as pessoas não querem saber se no caminho você enfrentou fortes tempestades, elas querem saber é se você trouxe o navio". Não espere compaixão, mostrar as avarias do navio causadas pelas tempestades, serão vistas como prova de sua imperícia ao navegar.

            Tenho uma camiseta, cuja frase inspiradora afirma: "mar calmo não forma bons marinheiros", da mesma forma, a vida, cujas dificuldades a nós impostas, uma vez superadas, fazem com que nos tornemos mais fortes. O Japão, por sua cultura, tem muito a ensinar ao Brasil, lá estudantes são valorizados como sendo aqueles que dedicam suas vidas à busca do conhecimento (lindo não?) e os professores (por formarem todos os outros profissionais) são os mais valorizados, inclusive o imperador japonês (que não precisa se curvar a ninguém) já se curvou a professores. No Brasil, cuja sociedade não valoriza o conhecimento e, que as escolas muitas vezes são tratadas apenas como "um lugar para deixar os filhos enquanto os pais trabalham", há quem compare professores a traficantes de drogas. No Japão, idosos são valorizados nas empresas, nas famílias e pela própria sociedade, pois contribuíram muito com o país e têm a  maior riqueza que é a sua experiência de vida. No Brasil, idosos são considerados um estorvo pela sociedade, pelas famílias, especialmente pelos mais jovens. As autoridades prolongam o tempo de trabalho para a aposentadoria, pois as pessoas estão vivendo mais. O aumento da expectativa de vida de parte da população brasileira (marcada pela forte desigualdade social) é a condenação à morte (no trabalho ativo) para a outra parte que jamais poderá se aposentar e desfrutar de seus poucos anos de vida restantes.

            Lembro de um artigo do saudoso João Olivir Camargo, afirmava ele que é enganoso o mote da "Melhor Idade" para a assim chamada terceira idade (60 anos ou mais). João Olivir falava das dores no corpo que afligiam os idosos. Nesse mesmo sentido, em conversa com colegas de profissão, comentávamos como seria bom se tivéssemos o corpo e a saúde da época em que tínhamos vinte anos, mas conservando o conhecimento e a experiência da maturidade (pois, até mesmo Marian Gold (da banda Alphaville) mundialmente conhecido pelo hit "Forever Young" envelheceu, e ficar eternamente jovem é uma "bruxaria" que a Paula Toller (ex-Kid Abelha) não ensina para ninguém). Houve quem falasse que gostaria de ter com vinte anos também o dinheiro que hoje possui. A verdade é que ninguém está contente. Lembro de um dito popular sobre a vida que reproduzo: "Quando crianças, temos tempo e energia, mas não temos dinheiro; quando adultos, temos dinheiro e energia, mas não temos tempo; quando idosos, temos tempo e dinheiro, mas não temos energia", nada mais verdadeiro. Na vida, fazemos opções, dentre as opções que fiz, a busca pelo conhecimento, como tudo, oferece bônus e ônus, tal como professorava Friedrich Niezsche (1844-1900) quando disse "se optar pelo prazer do conhecimento, prepare-se para sofrer". É por isso que vemos, pessoas alienadas e felizes e, por outro lado, intelectuais depressivos.

            Quando adolescente, li um livro intitulado "A desintegração da morte" de Orígenes Lessa. O livro tratava de avanços científicos que possibilitariam a vida eterna. Como se tratava de um trabalho escolar, na época, no diário de leitura, afirmei que viver para sempre era coisa de masoquista, afinal, o mundo, a sociedade, enfim, a vida tal como é, não há que prolongar demasiadamente. Nunca mudei de opinião. Meus alunos perguntam a minha idade, sempre respondo ter vinte e cinco anos. Como eles duvidam, respondo que a idade é um estado de espírito e que jovem é quem não se cansa de buscar conhecimento, de aprender com a vivência e com os livros. Digo ainda que tenho um trato com o tempo, não penso na morte e nem a apresso. Faço tudo para não encontrá-la na próxima esquina ou curva da vida. Sei que um dia nos encontraremos e vejo isso com naturalidade. Na vida, há que se descansar, inclusive da própria vida! Viver para sempre é coisa de masoquistas!

P.S. O título desse artigo remete a música "Who wants to live forever" da inesquecível banda Queen.

domingo, 16 de julho de 2023

O beijo no asfalto

 


Nelson Falcão Rodrigues (1912-1980) foi um escritor, jornalista, romancista, teatrólogo, contista e cronista de costumes e de futebol brasileiro. É considerado o mais influente dramaturgo do Brasil. Nascido no Recife (PE), mudou-se em 1916 para a cidade do Rio de Janeiro. Foi repórter policial durante longos anos, de onde acumulou uma vasta experiência para escrever suas peças a respeito da sociedade. Sua primeira peça foi "A mulher sem pecado" (1941), que lhe deu os primeiros sinais de prestígio dentro do cenário teatral. O sucesso veio com "Vestido de noiva" (1943), que trazia, em matéria de teatro, uma renovação nunca vista nos palcos brasileiros. Com seus três planos simultâneos (realidade, memória e alucinação construíam a história da protagonista Alaíde), as inovações estéticas da peça iniciaram o processo de modernização do teatro brasileiro. A consagração se seguiria com vários outros sucessos, transformando-o no maior dramaturgo brasileiro do século XX, apesar de suas obras terem sido, quando lançadas, tachadas por críticos como obscenas, imorais e vulgares. Politicamente, gostava de se intitular como um reacionário. Chegou a apoiar o regime militar, posicionamento que revisou quando seu filho Nelsinho foi preso e torturado, tendo então militado pela anistia ampla, geral e irrestrita aos presos políticos. (Fonte: Wikipedia)     

            Neste espaço, várias vezes nos referimos a Nelson Rodrigues, principalmente quanto aos conceitos de Narciso às avessas e Complexo de vira-latas que o dramaturgo afirmava que o brasileiro médio era portador. Apesar de muito ter lido e assistido sobre Nelson Rodrigues, somente agora li na íntegra uma obra sua, trata-se de "O beijo no asfalto". A referida peça foi encomendada a Nelson Rodrigues pela brilhante atriz Fernanda Montenegro que desejava encenar no teatro alguma criação do famoso dramaturgo, fato que aconteceu em 1961. Nelson Rodrigues costumava escrever sobre o cidadão médio, aquele que tinha uma vida comum, mas nele buscava desvendar suas contradições ante a hipócrita moralidade coletiva. É dessa forma que se desenvolve a trama de "O beijo no asfalto", nela Aprígio (o sogro) e Arandir (o genro) caminham até a Caixa Econômica Federal na intenção de obter um  empréstimo para o marido de sua filha. Momento em que presenciam um acidente que ocorre muito próximo a eles. Um rapaz que caminhava no meio-fio tropeça e cai na rua, uma lotação não consegue parar e o atropela.

            Arandir que estava muito próximo, levanta a cabeça do rapaz moribundo e beija-o na boca. Ante a circulação normal de pedestres e motoristas pelo local, o acidente e a cena insólita do beijo, deixam atônitas as pessoas presentes no local que não compreendem a reação de Arandir. Amado, um jornalista conhecido pelo sensacionalismo de suas matérias, pouco ligadas à realidade dos fatos, e que passava pelo local presenciou a cena. O jornalista vê nela uma oportunidade de vender mais jornais e começa a levantar hipóteses desvirtuando a realidade do fato observado. Nesse mesmo sentido, a polícia conduz a investigação e interroga Arandir. Tanto o delegado Cunha, como o jornalista, lançam suspeição sobre Arandir. Arandir e a vítima eram desconhecidos (como afirma Arandir)? Os dois rapazes, embora casados, eram amantes? Arandir teria arremessado a vítima, que caiu e, assim foi atropelada pela lotação?

            Aprígio conta o fato ocorrido para a bela filha Selminha (esposa de Arandir) e também para Dália, a filha mais nova. Aprígio é viúvo e, após a morte da esposa, jamais se casou. A versão contada por Aprígio é, segundo o próprio, tal como ele viu. As duas irmãs não concordam com a narrativa do pai. As irmãs afirmam que os comentários raivosos do pai se deve ao ciúme que tem de Selminha, pois era contra o casamento, prova disso é que ao se referir a Arandir chama ele de "genro" ou "seu marido" (para Selminha). Selminha afirma que o marido é muito homem (a procura muito) e que a prova disso é a sua gravidez. Dália concorda e diz que se a irmã não houvesse se casado com Arandir ela faria isso. Aprígio afirma que há homens que tal como as lâminas, cortam dos dois lados. Selminha conta ao pai que Arandir (não intencionalmente) viu Dália nua e que sentiu atração, mas, contou para ela de forma a não haver mal entendido. Seu marido era muito homem e também um marido fiel. E que acredita que o ato do marido foi genuinamente humano, beijar alguém que estava morrendo.

            A escalada de desinformação promovida pelas matérias de capa do jornal sensacionalista torna a vida da família um inferno. Arandir é solto e, novamente procurado, ninguém sabe seu paradeiro. Selminha é conduzida para interrogatório numa casa determinada pelo delegado Cunha (procedimento incomum). Selminha é interrogada e por afirmar não saber o paradeiro de Arandir (estava escondido na casa) e por não dar as respostas (certas), ou seja, aquelas que confirmavam a hipótese do delegado é colocada nua visando quebrar seu moral e resistência. Selminha é libertada e conta a Dália a humilhação que passou, pois foi colocada nua pelo delegado. O jornalista vai ao encontro de Aprígio em busca de novas informações e dá a ele a sua opinião. Amado afirma que fosse ele o sogro, daria uns tiros no genro que não apenas desonrou o casamento com sua filha, mas o nome da família. Aprígio pergunta ao jornalista por que ele está dizendo isso, se ele quer mais sangue para vender ainda mais jornal. Paro aqui para não dar spoiler. Fica a dica!

Sugestão de boa leitura:

Título: O melhor de Nelson Rodrigues: teatro, contos e crônicas.

Autor: Nelson Rodrigues.

Editora: Nova Fronteira, 2018, 240 pág.

 

sábado, 1 de julho de 2023

Celular...use com moderação!

 

               Há algum tempo, estava dirigindo meu automóvel quando, uma moça saiu de trás de alguns carros estacionados no meio da quadra e atravessou a rua logo a minha frente, como estava devagar, parei o carro a dois metros de atropelá-la. O susto foi somente meu, pois ela não me viu e seguiu seu caminho enquanto manuseava o celular. Naquele mesmo dia, assisto na TV uma reportagem sobre mulheres que foram assaltadas porque não viram o criminoso se aproximar por estarem atentas ao celular. Casos de atropelamentos sofridos por pedestres desatentos ao trânsito e também de acidentes de trânsito ocasionados por motoristas que falavam ao celular também foram reportados.

            No dia seguinte conto aos meus alunos sobre o ocorrido e alerto-os do risco de manusear/ver o celular enquanto caminham nas ruas. Alguns estudantes contam que haviam passado por situações semelhantes. Um deles conta que sua mãe caiu em uma boca de lobo (bueiro) enquanto caminhava vendo um vídeo no celular. Nas salas de aula, o celular se tornou um problema. Os professores têm que pedir várias vezes durante a aula para que guardem os aparelhos, mas, ao menor descuido, eles acessam as redes sociais, perdendo as explicações da aula e, assim comprometendo sua aprendizagem. Em suas casas, o uso do celular supera o tempo de estudo para as provas (quando não substitui totalmente).  O celular também se tornou um dos métodos mais utilizados para fazer cola, sendo que os estudantes da turma possuem grupos (sem os mestres) nos quais, as respostas das questões das provas são compartilhadas. Há também estudantes que tiram fotografias (não autorizadas) de professoras em ângulos que consideram interessantes. Fotografias dos mestres são também utilizadas para fazer memes que repassam nos seus grupos de WhatsApp. Pouco adianta alertá-los que o uso indevido de imagem pode ser alvo de um processo judicial. Num ambiente com muito adolescentes, algumas vezes ocorrem desentendimentos entre estes que acabam em agressões físicas, não raramente há quem filme e repasse a gravação nas redes sociais (grupos) expondo os estudantes e a própria escola.

            O smartphone (celular moderno) é um símbolo da Terceira Revolução Técnico - Cientifica, fruto da nanotecnologia, congrega vários aparelhos num só: máquina fotográfica, gravador de áudio, filmadora, player de vídeo e áudio, rádio, lanterna, relógio, despertador, GPS, computador de mão, modem de Internet, etc., e que pode ser usado, segundo me contaram, até para fazer ligações telefônicas (risos). É uma invenção formidável, que pode ser utilizada para o estudo por meio de pesquisas na Internet e, também para o acesso e resolução de exercícios complementares postados pelos professores em plataformas específicas. No entanto, os adolescentes o utilizam para a distração seja com games, bate-papos ou para assistir vídeos produzidos por youtubers que seguem, cuja qualidade nem sempre é boa devido à imaturidade dos mesmos em buscar vídeos de boa qualidade informacional. Essa é uma preocupação, pois há estudantes que discordam de fatos científicos pois se em embasam em conteúdos carregados de senso comum e desinformação publicados por youtubers.

            Em uma matéria da BBC, uma pesquisa constatou que o Brasil e a Indonésia foram os países estudados que as pessoas passam mais tempo diante do celular (quase cinco horas e meia). Comento esse dado com os estudantes e grande parte deles declaram que ficam nas redes sociais um tempo semelhante. Há quem afirme ficar até dez horas utilizando o celular. Não faltam reportagens sobre os prejuízos causados à mente e à visão das crianças e adolescentes  pelo uso por tempo excessivo de celular, no entanto, aplicativos para celular se converteram em jazidas de ouro, pois movimentam centenas de bilhões de dólares anualmente. Há aplicativos para quase tudo, do lazer aos negócios. A verdade é que o celular e as redes sociais estão tirando tempo de vida das pessoas, tempo que poderia ser utilizado para estudar,  para ler, para contemplar a natureza, para conviver em família, para sair com os amigos, para praticar esportes, para conhecer alguém e namorar...Sim, as redes sociais dão a ilusão de que as pessoas têm muitos amigos, porém nunca estiveram tão solitárias. Os usuários se conectam aos que estão distantes e não convivem mais com quem está próximo.

            A BBC, em outra reportagem mostra que os telefones burros, aqueles que costumávamos chamar de "tijolos" e que apenas faziam ligações telefônicas, enviavam SMS, tiravam fotografias de baixa qualidade e tinham o popular game da cobrinha não estão mais sendo vendidos apenas para os idosos, mas, para jovens que descobriram que os smartphones lhes estavam tomando muito tempo de suas vidas. Eles priorizam os estudos, o trabalho, a realização das tarefas que lhe cabem e o smartphone atrapalhava muito. Este escriba tem a consciência disso, pois, diminuiu seu ritmo de leituras ao mesmo tempo em que passou a utilizar mais o celular, principalmente assistindo vídeos no You Tube e recebendo informações que, muitas vezes, não faria falta não as ter. A missão agora é reduzir o uso e, se não funcionar, adquirir um celular burro, talvez seja a solução!

Referências:

BBC - Brasileiro usa celular por um terço de seu tempo acordado, diz estudo - Acesso em 29 de junho de 2023.

BBC - Telefones burros: como os celulares sem conexão estão ressurgindo no mundo hiperconectado - Acesso em 29 de junho de 2023.