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quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Derrota amarga!

Tenho por hábito guardar artigos que considero interessantes e certa vez vasculhando minhas pastas de papéis (hoje dou preferência a arquivos digitais) encontrei um artigo que considerei uma crítica contundente ao governo FHC, e, conforme lia, o entusiasmo aumentava, pois, o artigo ia na contra-mão do governo que tínhamos, então, cheguei ao final do texto e vi para meu espanto que o autor era o então professor Fernando Henrique Cardoso muitos anos antes de chegar ao Planalto. Faz sentido aquela frase “esqueçam o que eu escrevi” e que agora parece estar sendo substituída por “esqueçam o que eu disse”, pois, o ex-presidente costuma não corresponder ao status de intelectual que dispõe e costuma pecar em seus pronunciamentos escritos e orais pela falta de uma maior reflexão e tem o hábito posterior de negar e até mesmo culpar a interpretação dos jornalistas, leitores e telespectadores por suas falas irrefletidas. Lembro também ter lido que um político ultraconservador que apoiou e foi apoiado pela ditadura questionou um poderoso “coronel” da política sobre os riscos de colocar um homem de “esquerda”, um “subversivo” no Poder (FHC) na sucessão de Itamar Franco e o “coronel” o tranqüilizou afirmando: “calma, às vezes para que tudo continue como está é preciso mudar”. E o governo FHC foi um governo “mais do mesmo”, aprofundou o neoliberalismo iniciado no governo Collor, e teve como grande aspecto positivo o Plano Real que chamou para si a paternidade, quando na verdade, o título de Pai do Plano Real cabe ao injustiçado e já falecido Itamar Franco. FHC em sua coluna de domingo (07/12/2014) na Gazeta do Povo, com o título “Vitória amarga” afirmou: “[...] é indiscutível a legalidade da vitória, mais discutível sua legitimidade”. Ora, quem é FHC para questionar a legitimidade do governo Dilma? Ele que em proveito próprio deu um golpe branco na Constituição fazendo aprovar uma emenda constitucional com denúncias comprovadas de compra de votos de parlamentares pela “bagatela” de R$ 200.000,00 para cada voto favorável à reeleição para que o tucano-mor permanecesse em seu ninho no Planalto. Como pode questionar a corrupção? Quando em seu governo apoiado pela maioria absoluta que tinha no Congresso, e o apoio do “Engavetador Geral da República” arquivava-se todos os processos evitando a apuração de possível corrupção mesmo contra todas as evidências reunidas? Como pode aparecer na mídia com um ar solene de grande representante dos interesses da Pátria? Quando foi o maior lesa-pátria deste país, pois, a Privataria (privatização+ pirataria) Tucana foi o maior escândalo de corrupção deste país e que se deu pela má-gestão dos recursos públicos num processo de privatização eivado de vícios que em qualquer país onde a Justiça e o Parlamento primassem pela isenção e pela correção teria sido apurado com grande rigor e muitos “paladinos” da ética na política que hoje discursam livremente estariam atrás das grades. FHC não foi o presidente mais amargo deste país, este talvez tenha sido o General João Baptista Figueiredo que pediu “que o esquecessem”, mas, dentre os ex-presidentes, FHC é com sobra o mais amargo, isto, porque Lula foi eleito e contrariando as suas expectativas fez um bom governo, foi reeleito, fez a sucessora e esta se reelegeu. Lula é de longe em nível nacional e internacional o mais prestigiado ex-presidente brasileiro, é também o mais premiado e o povo o adora. O governo FHC quando comparado ao de Lula possui números muito inferiores. FHC encontra grande simpatia apenas na Casa Grande, entre os representantes do grande capital nacional e estrangeiro. Penso que a amargura de FHC não é apenas a questão de ver a corrente política adversária no poder, talvez, a razão de sua amargura esteja na sua consciência, ou seja, que poderia ter sido um presidente melhor e não o foi, pois não se ganha aplausos e o carinho do povo, sem sair do povo, viver no meio do povo e para o povo.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Em homenagem a Baco e Dionísio!

Tenho o costume de ler dois ou três livros ao mesmo tempo, dessa forma vou intercalando as leituras conforme meu estado de espírito, nesse momento em especial, quando me recupero de uma cirurgia a que me submeti há poucos dias tenho buscado ocupar as longas horas dos dias de repouso com leituras leves, aliás, sempre que chego em finais de ano opto por deixar de lado as leituras teóricas densas, pois, o cérebro também precisa de relaxamento, e, com este propósito separei como leitura dos primeiros dias pós-cirúrgicos o livro “Vinho: Manual do sommelier”. Já assisti a programas de TV em madrugadas insones em que degustava o grande conhecimento de especialistas sobre a bebida sagrada de pelo menos duas religiões: o Cristianismo e o Judaísmo. Lembro de ter lido que de acordo com o relato bíblico, Noé após descer da Arca plantou uma videira. No Irã, o Islamismo oficial condena o consumo de álcool, porém, as pessoas que seguem as religiões cristã e judaica podem sem problemas consumir e portar garrafas de vinhos, inclusive a espécie Syrah é originária daquele país. O vinho, a bebida favorita de Dionísio, deus grego do vinho e da diversão, ou na versão romana equivalente com o deus Baco, provavelmente surgiu entre oito a cinco mil anos antes de Cristo e está presente nos ritos cerimoniais de religiões, nas artes visuais, na poesia e na música. A história do vinho, como vimos, confunde-se com a própria história da humanidade e dezenas de países produzem vinhos de excelente qualidade e com uma variedade tão diversa que denota a necessidade de profundo conhecimento somente acessível após vários anos de estudos sem nunca deixar de lado livros essenciais para entender as inúmeras linhagens das espécies. Os grandes engarrafadores erguem fortunas e exportam para o mundo, vinhos que se tornaram símbolos de regiões identificadas como D.O.C. (denominação de origem controlada) e de seus próprios países. Embora, seja quase abstêmio, sempre considerei o vinho uma bebida sofisticada, e, admiro quem tem grande conhecimento sobre ele. Há alguns anos fui com o moto-grupo ao Vale dos Vinhedos em Bento Gonçalves (RS) e conheci algumas vinícolas entre elas a Miolo e a Aurora, sendo esse um passeio que recomendo aos amantes do precioso líquido, na ocasião, devido ao mau tempo deixamos de conhecer uma capela que fica na Linha Leopoldina naquele município, e, que foi erguida com massa preparada com vinho doado pelos produtores da comunidade devido a falta de água por ocasião da forte seca que assolava a região. Eu não me atrevo a tentar discorrer sobre o conhecimento que adquiri com a leitura deste livro que aborda a história da planta e todas as etapas necessárias até a produção do vinho, as diversas espécies e suas origens, os países produtores, o tipo de vinho que acompanha cada prato, a taça adequada, a temperatura ideal, a armazenagem, a ordem de consumo de diferentes tipos de vinho de acordo com a variedade, a gradação alcoólica, etc., pois, seriam necessárias várias edições dessa coluna, posso apenas indicar a leitura desse excelente livro que me trouxe alguns novos conhecimentos, pois sou leigo no assunto, para pelo menos ter menores dúvidas no momento em que estiver em frente a uma prateleira da bebida, principalmente em grandes cidades, cujos estabelecimentos costumam ter maior variedade de vinhos e marcas. Uma dica: embora a garrafa dos vinhos mais famosos seja cotada em centenas ou milhares de reais existem bons vinhos a preços acessíveis. SUGESTÃO DE BOA LEITURA: CALÓ, A. Et alii.Vinho: Manual do sommelier. São Paulo, Editora Globo, 2004

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Terra, casa e trabalho

A revista Carta Capital publicou recentemente uma reportagem sobre o Papa Francisco com o título “Francisco, o radical”, e considerando que tal termo é utilizado muitas vezes de forma pejorativa, no entanto, a utilização foi no sentido de que radical é quem vai à raiz dos problemas e não fica na superficialidade, então, ninguém na prestigiosa revista ficou louco. Há alguns anos atrás, um colega professor irrompe na sala dos professores e me informa: “Habemus Papa” e pergunto quem é, e, ele me contou ser o Cardeal Joseph Ratzinger ao que prontamente exclamo: “A Igreja vai voltar à Idade Média”! Hoje posso afirmar que a Igreja não voltou à Idade Média, porém, também não avançou. O Papa Bento XVI não possuía o carisma de João Paulo II e minha decepção com o mesmo devia-se ao fato de ser um conservador extremista e principalmente por ser ele o conselheiro de João Paulo II quando da perseguição aos padres, bispos, etc. que eram integrantes da Teologia da Libertação, momento em que foram silenciados, neutralizados ou em caso de resistência convidados a se retirar da Sacristia da Igreja. Bento XVI se retirou voluntariamente do cargo e o Cardeal argentino Jorge Bergoglio assumiu seu lugar escolhendo o nome de Francisco em alusão a São Francisco de Assis, cuja história de vida protagonizada no filme “Irmão Sol, Irmã Lua” é fantástica e inspiradora para pessoas de qualquer crença. Porém, à época fiquei feliz por ser um papa latino americano o que incluía um novo olhar para os países do Sul ou países subdesenvolvidos. No entanto, me questionei se ele tinha idéia da responsabilidade de usar tal nome tendo em vista a história de vida de São Francisco. O Professor Mariano Sanchez escreveu um artigo há algum tempo que trouxe luz à algumas dúvidas que possuía e entre estas o fato de que Jorge Bergoglio em sua ação na capital argentina foi sempre conservador e que não se pode esperar grandes avanços em questões consideradas polêmicas dentro da Igreja, mas, avanços nas questões sociais. Nesse sentido, o Papa teceu críticas ao Capitalismo hegemônico quando afirmou que: “a verdadeira soberania é exercida por um sistema econômico centrado no deus dinheiro, que tem também necessidade de saquear a natureza para manter o ritmo que lhe é próprio”. Também falou sobre as guerras que movimentam o lucrativo negócio das armas sacrificando seres humanos e salvando balanços econômicos. O Papa chamou os movimentos sociais para um encontro com o tema “terra, casa e trabalho” e nele afirmou que “[...] a fome é criminosa e que a alimentação é um direito inalienável”. João Pedro Stédile líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) participou do encontro e sobre este afirmou que o Papa se mostrou mais à esquerda do que muitos dos participantes dos participantes do evento. Penso que conforme vimos até o momento o Papa Francisco não provocará profundas alterações na Igreja, mas, vê-la com o olhar voltado para os pobres, os injustiçados, etc. e sendo coerente com as questões sociais é alentador. Caso leitor deseje saber mais, recomendo os artigos abaixo referenciados. REFERÊNCIAS: BERNABUCCI, C. Francisco, o radical. Revista Carta Capital. 19 Nov.2014 pag. 64-65. SANCHEZ, M. O que significa um Papa latino-americano? Disponível em: http://www.jcorreiodopovo.com.br/colunas.php?id=64&post=3255 – acesso em 25 de Novembro de 2014.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

O poema que perdi!

Leonardo Boff é um dos maiores intelectuais brasileiros vivos, foi frei da Igreja Católica e uma das mais importantes lideranças do movimento conhecido como Teologia da Libertação, em meu ver, uma semente do Reino de Deus que foi plantada no seio da Igreja Católica, mas, que infelizmente foi sufocada, pois, a Igreja é conduzida por homens e homens ao contrário de Deus são falíveis, mas, não vou me estender neste tema, pois, esta não é a intenção deste artigo. Há alguns anos sua Santidade o Dalai Lama, líder da religião budista, exilado na Índia desde que a China ocupou o Tibete veio ao Brasil e Leonardo Boff em audiência com o Dalai Lama preparou-lhe marotamente a seguinte pergunta: “Na opinião de Sua Santidade, qual é a melhor religião do mundo”? Imaginando que o líder budista afirmaria ser o budismo e neste caso Boff teria uma contra-argumentação, mas, o Dalai Lama que segundo Boff é uma alma iluminada, cuja paz por ele pregada pode ser sentida pela sua simples presença, respondeu genialmente: “A melhor religião do mundo é aquela que faz de você uma pessoa melhor”! Leonardo ficou sem palavras diante da sabedoria e da humildade do líder budista. Tenho boas lembranças do tempo de juventude, especialmente, do tempo em que participei de grupo de jovens na Igreja Católica à época da Teologia da Libertação e neste período comecei a participar de discussões sobre política, movimentos sociais, reforma agrária, etc. Eu sempre me questiono: Se Jesus viesse hoje ao mundo qual seria o teor dos seus discursos? Qual seria a sua prática? E costumo imaginá-lo na favela, nos acampamentos de refugiados da violência pelo mundo, junto aos sem terra e sem teto, também o imagino com os líderes mundiais pregando a conciliação, a solidariedade, e, tal como vi num post no Facebook, penso que Jesus seria chamado de comunista, de populista, etc., pois, pensar que todos merecem ter uma vida digna e que o Reino do Céu precisa acontecer na Terra é algo que alguns que se encontram no topo da pirâmide social consideram injusto, afinal, devem pensar que possuem o que têm por que todos sem exceção são “self made man”. Penso que é muito fácil falar em meritocracia quando se começa a correr quilômetros à frente de seus adversários e com a linha de chegada mais próxima. Penso que Jesus falaria de respeito à diversidade de opinião, de respeito e cuidado para com a natureza, para com os pais, os idosos, os professores, os pobres, os injustiçados, etc. Quando participante de grupo de jovens tive contato com uma poesia de José Wanderlei Dias que à época considerei profundamente inspiradora tanto que já a procurei diversas vezes na Internet sem lograr êxito, mas tenho sempre comigo outra poesia que também considero tocante, escrita por uma pessoa que somente pode ter uma alma iluminada. Ei–la: Além da imaginação Tem gente passando fome/E não é a fome que você imagina/entre uma refeição e outra. Tem gente sentindo frio/E não é o frio que você imagina/entre o chuveiro e a toalha. Tem gente muito doente/E não é a doença que você imagina/entre a receita e a aspirina. Tem gente sem esperança/E não é o desalento que você imagina/entre o pesadelo e o despertar. Tem gente pelos cantos/E não são os cantos que você imagina/entre o passeio e a casa. Tem gente sem dinheiro/E não é a falta que você imagina/entre o presente e a mesada. Tem gente pedindo ajuda/E não é aquela ajuda que você imagina/ entre a escola e a novela. Tem gente que existe e parece imaginação. Fonte: Ulisses Tavares. Viva a poesia viva, p. 57. São Paulo, Saraiva, 1997.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Tributo a São Pedro

“Água é fonte de vida”! Que o digam os paulistas em meio a maior crise hídrica de sua história. A crise de abastecimento de água na metrópole paulistana tem sido assunto frequente nos telejornais e na imprensa escrita. O tema foi inclusive debatido durante as últimas eleições em que os políticos situacionistas do estado mais rico do país, culpavam São Pedro, o El Niño, etc. Do outro lado, os oposicionistas afirmavam que houve má gestão, pois, importantes obras deveriam ter sido efetivadas e não o foram, ou seja, as denúncias davam conta de que a gestão da Sabesp se preocupou muito em distribuir dividendos aos acionistas e investiu pouco na ampliação de sua capacidade de armazenagem, tratamento e distribuição de água à população. As reportagens diárias na TV, principalmente após as eleições (por que será?) mostravam que ao contrário da afirmação do Governo paulista de que não havia racionamento, interrupções sistemáticas de fornecimento estavam acontecendo principalmente em áreas periféricas (por que será?). O Governo paulista chamado à realidade (que não é aquela dos felizes acionistas da Sabesp) anunciou que iria fazer a captação, tratar e enviar para a população água da chamada reserva técnica, também conhecida como volume “morto” denominação (que não anima muito não é?) dada para a água do fundo do reservatório abaixo do nível dos túneis de captação. Essa água é segundo os especialistas de qualidade inferior, pois, apresenta maiores índices de contaminação, inclusive por metais pesados. O tempo passou, a eleição chegou e o povo deu à “situação” por resolvida concedendo mais um mandato de quatro anos e Alckmin reeleito fez um brinde com água do volume morto (será?). Porém, a imprensa começou a falar sobre o risco da perda do poder de atração de São Paulo para novos investimentos industriais por causa da crise hídrica, e como São Pedro lhes parecia ser petista (a direita adora chamar de petista qualquer um que se posicione em seu caminho e não partilhe dos mesmos ideais!), pois, as chuvas quando vinham eram insuficientes, viu que precisava pensar seriamente na situação e então o governo paulista resolveu apostar na “água de reuso”, ou seja, esgoto tratado que servia apenas aos processos industriais que agora seriam despejados e diluídos nos reservatórios cuja água seria então captada, tratada e enviada à população. Certo, existem países europeus e mesmo algumas regiões dos Estados Unidos onde essa prática é utilizada, porém, existem elementos químicos que não desaparecem mesmo após o tratamento da água e que podem causar problemas no sistema endócrino dos seres humanos, um destes é o hormônio feminino estrógeno que devido ao consumo de anticoncepcionais é eliminado de forma generosa na urina. Menarcas precoces, tumores e outros problemas podem ser as consequências da exposição a tal contaminação de forma crônica. A revista Carta na Escola (Out.2014) trouxe uma bela reportagem sobre o tema e mostrou que houve má gestão na Sabesp (e consequentemente do governo tucano) e os investimentos que deveriam ter sido feitos teriam evitado a crise atual. Alckmin reeleito foi à Brasília conversar com o governo federal para fazer uma parceria por meio de empréstimos bilionários para a realização de obras que já deviam ser realidade há pelo menos uma década. Sempre afirmei que fazer oposição é legítimo, mas a oposição deve se basear em atitudes inteligentes e recusar a mão estendida do Governo Federal nessa hora em que as torneiras paulistas secam seria uma atitude desumana com o sofrimento da população! Perdoe-lhes São Pedro! Eles não sabiam o que falavam! Referências: FIERZ, M.S.M. A fonte secou. Revista Carta na Escola. Out. 2014. VENTURI, L.A.B. O mito da estiagem de São Paulo. Revista Carta na Escola. Out. 2014. ZIEGLER, M.F. Água de reuso que SP irá adotar pode trazer riscos à saúde, dizem especialistas. Endereço: http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2014-11-10/agua-de-reuso-que-sp-ira-adotar-pode-trazer-riscos-a-saude-dizem-especialistas.html - acesso em 10/11/2014 LIMA, L. Alckmin diz que São Paulo precisa de 3,5 bi contra crise da água. IG Brasília. Endereço: http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2014-11-10/alckmin-busca-parceria-do-governo-federal-para-solucionar-crise-hidrica.html - acesso em 10/11/2014.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

A classe média não me representa! – Parte 2

Há algum tempo, um aluno pediu a palavra e perguntou: “Professor, a qual classe o senhor pertence”? Prontamente respondi: à classe trabalhadora! E o educando novamente inquiriu: Professor, o senhor não entendeu! Eu quero saber se o senhor é classe média, classe baixa.... Sem hesitar lhe respondi: Entendi sim! Eu pertenço à classe trabalhadora, pois, penso que a sociedade tal como afirmou Karl Marx é dividida em classe trabalhadora ou proletária que precisa vender sua força de trabalho para sobreviver e a classe capitalista que é a possuidora dos meios de produção e que se apropria da mais-valia, ou seja, da produção excedente de riquezas realizada pelo trabalhador”. É óbvio que para alguns setores da economia, ou até para o governo seja importante saber a classificação da sociedade de acordo com critérios de renda, porém, estes sempre foram polêmicos. Há algum tempo a classificação era determinada de acordo com a posse de aparelhos eletrônicos, também, há classificações que estabelecem a divisão de acordo com faixas de rendimentos em classes A, B, C, D, e, E. Não é nosso intuito discorrer sobre as faixas de renda neste artigo até porque existem muitas imprecisões baseadas em interpretações equivocadas e também por que nossa visão acerca da classe média é outra e não diz respeito ao aspecto material, mas, conceitual. Penso que para nós trabalhadores, a interiorização de pertença à classe média não alivia a nossa carga de trabalho, não nos outorga os direitos pelos quais lutamos e serve para a nossa alienação. Ao pensarmos que pertencemos a um grupo específico de renda esquecemos a nossa militância, abandonamos o sindicato, e, alienados, nos tornamos indiferentes à luta de outros companheiros trabalhadores que eventualmente tenham renda inferior à nossa e passamos a defender os interesses da elite, que não somos, pois, sobrevivemos por meio da venda de nossa força de trabalho. A intelectual Marilena Chauí afirma que: “O que distingue uma classe social da outra não é a renda ou a escolaridade. O que distingue uma classe social da outra é a maneira de ela se inserir no modo social de produção”. Então, segundo Chauí, temos os capitalistas (banqueiros, latifundiários, industriais, etc.), os proletários (trabalhadores que vendem sua força de trabalho). Aquela parcela da população que não está inserida nas categorias anteriores é que forma conceitualmente a classe média, ou seja, a pequena propriedade comercial, agrícola e das profissões liberais. Cazuza gravou uma música que afirmava “a burguesia quer ficar rica” e na mesma letra disparava “enquanto houver burguesia não vai haver poesia”, nada mais verdadeiro, a classe média quer ser o topo da pirâmide social, não consegue, e vive resmungando a sua sina. Marilena Chauí causou polêmica algum tempo atrás quando afirmou: “a classe média é uma abominação política porque é fascista; é uma abominação ética porque é violenta; é uma abominação cognitiva porque é ignorante”. Em entrevista posterior, ela afirmou que não se dirigiu à chamada “nova classe média” que é em seu ver, “uma nova classe trabalhadora”. Afirma que se dirigiu à classe média já estabelecida que considera petulante, arrogante, ignorante e fascista. De minha parte, sou contra generalizações, mas concordo que há no seio da classe média, uma parcela de integrantes com discurso alienado, preconceituoso e extremamente autoritário. É por essas atitudes grotescas de parte de seus representantes que digo: a classe média não me representa! Referência: CHAUÍ, M. Não existe nova classe média. Disponível em: http://socialistamorena.cartacapital.com.br/marilena-chaui-nao-existe-nova-classe-media/ - acesso em 27/10/2014.

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

A classe média não me representa! – Parte 1

No início da carreira, eu um jovem professor, ia para a escola a pé (por não ter outra opção) “como o rapaz latino americano, sem dinheiro no banco e sem parentes importantes” tal qual a letra da música entoada por Belchior. O salário de início de carreira era muito aquém do que hoje se verifica, pois, não havia a lei do Piso Salarial Profissional Nacional (PSPN), uma conquista efetivada no Governo Lula. Lembro que trabalhando em escola da rede privada fui algumas vezes questionado sobre minha condição financeira e afirmei ser da classe baixa e algumas alunas prontamente me corrigiam, “Professor, você não é pobre e sim classe média”. Não se tratava de uma constatação por parte das alunas acerca de minha condição socioeconômica, mas de reação espontânea (desprovida de qualquer maldade) ao incômodo que lhes causava pensar que seu professor fosse do estrato social mais baixo. Penso que parte de nossa sociedade ainda não assimilou os mais de 100 anos da Lei Áurea assinada pela Princesa Isabel que aboliu a escravidão, não sem algumas décadas antes, a elite nacional haver preparado o terreno para que, uma vez libertos, os escravos não tivessem outra opção, que, vender sua mão de obra devido à premeditada inacessibilidade de acesso à terra (Lei de Terras de 1850). Oficialmente, não temos mais escravidão, embora ocorrências policiais esporádicas demonstrem que ela ainda persiste em alguns latifúndios das regiões Centro-Oeste e Norte. Em pleno século XXI ainda existe em nossa sociedade um ranço do período escravagista, pois, há dentre a classe média, quem ainda divide a sociedade em Casa Grande (os merecedores da vida confortável pela graça divina) e Senzala (estes considerados sub-humanos). Aos integrantes da Senzala do século XXI nada resta senão derramar suor e lágrimas e sem reclamar aceitar o valor que os “Senhores” lhes atribuem como justo e que sempre é pouco diante da riqueza produzida. Em nossa sociedade, os negros são discriminados e críticas raivosas são feitas ao Governo Federal por algumas pessoas de origem caucasiana por causa da lei de cotas nas universidades públicas. Em muitos momentos da história nacional, generosos recursos financeiros foram distribuídos para a elite nacional sem qualquer protesto, porém, críticas fervorosas se dirigem a programas como a “Bolsa-Família” que atende a população carente com um valor baixo e que apenas dá um leve alívio aos sintomas da pobreza extrema. Na eleição presidencial, integrantes da classe média fizeram inflamadas críticas de cunho preconceituoso contra os nordestinos culpando-os pela reeleição da Presidenta Dilma, no entanto, as regiões Sul e Sudeste deram mais votos à Dilma do que a região Nordeste. É importante lembrar que o Brasil começou na região Nordeste (período colonial) e que os nordestinos ajudaram a construir São Paulo e Brasília, e, em tudo que há neste país conta com a contribuição do povo nordestino, que, não merecia essa demonstração de preconceito e ignorância. A OAB repudiou e solicitou que medidas judiciais sejam tomadas contra aqueles que publicaram mensagens discriminatórias nas redes sociais. Quando universitário, participei de congressos da UNE (União Nacional dos Estudantes) e, digo, nós da região sul não tínhamos a consciência política dos representantes nordestinos que dominavam os debates! Os nordestinos nestas eleições apenas exerceram o direito constitucional de votar de acordo com sua livre consciência, mas, isto é algo difícil de ser entendido por quem não aceita até hoje a assinatura da Lei Áurea.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Cabral e as eleições majoritárias de 2014

Uma piada recorrente no meio universitário é de que “Cabral quando chegou ao Brasil não sabia para que lado ir, pois, o que vinha pela frente era de todo desconhecido, então, deu ordens aos seus subordinados para seguir à esquerda e questionado sobre o motivo de tal escolha, afirmou, que era melhor ir pela esquerda por que a direita era duvidosa”. Sempre que penso nessa piada lembro-me de Collor que em 1989 afirmava que se Lula fosse eleito confiscaria a poupança do povo e Collor uma vez eleito confiscou o dinheiro dos brasileiros, conheço muita gente que nele votou e teve grandes prejuízos, no entanto, houve na alta elite nacional quem teve informações privilegiadas e pode antecipar-se salvando o seu rico dinheirinho. Gostei muito das falas de Eduardo Jorge e Luciana Genro nos debates, porém, me decepcionei com a opção de Eduardo Jorge de apoio ao projeto neoliberal de Aécio Neves, penso que ele queimou seu capital político. Luciana Genro se capitalizou politicamente e ganhou fãs. Penso que os Partidos de esquerda que estabeleceram “nenhum voto em Aécio” mesmo não apoiando Dilma foram coerentes com a ideologia partidária, pois, sabemos que se navegarmos sempre para o Ocidente acabaremos por chegar ao Oriente, assim fizeram alguns políticos de extrema esquerda que foram tão à esquerda que acabaram na direita, ou seja, rasgaram a cartilha e causaram nódoas no histórico de seus partidos. Marina Silva cuja história acompanho desde suas origens na Amazônia tem sido há muito uma decepção (a sua guinada à direita, a defesa do grande capital, especialmente dos interesses dos banqueiros privados) seria caso eleita fosse boneco de ventríloquo, ou seja, alguém sempre falaria e tomaria as decisões por ela. De tudo que li sobre Chico Mendes, tenho a convicção que ele se vivo estivesse não apoiaria a atual Marina Silva cujo eleitor não é de “voto de cabresto” e fará grande análise sobre quem apoiar, ou seja, Marina não é sinônimo de transferência farta de votos para Aécio. Tenho um vídeo guardado em que o Senador Aécio Neves discursa no Congresso Nacional e o Senador Lindbergh Farias solicita um aparte no qual chama a atenção de Aécio para a necessidade de fazer um discurso mais competitivo, pois Aécio teria discursado por longo tempo sem ter proferido as palavras povo, sociedade, social, naquele momento Aécio ainda não era candidato, atualmente parece ter aprendido a lição, minha dúvida é se eleito as palavras povo, sociedade e social continuarão sendo prioridade nos seus discursos. Conversei com uma pessoa que disse “ votei em Aécio no primeiro turno e vou votar também no segundo turno... precisa mudar... acho que a mudança será para pior... mas é preciso mudar”. Entendo quem deseja mudanças, mas não aquelas que estão representadas na fala desta pessoa, pois, mudanças são bem vindas quando trazem melhorias, porém, se ao invés de certezas, a dúvida se instala, andar para os lados ou para trás não parece ser uma atitude coerente. Não vejo em Aécio nenhuma possibilidade de mudança benéfica para a classe trabalhadora, para o povo pobre. Penso que com Aécio a inflação pode até abaixar, porém, os juros subirão, o desemprego aumentará, os benefícios se houverem serão para o grande capital, para a elite econômica nacional e estrangeira, pois Aécio não é legítimo representante da Senzala (classe trabalhadora), mas sim da Casa Grande (grande capital). E termino com a frase de um amigo: “depois do que vivi no Governo FHC, não digito 45 nem no micro-ondas”.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

A “deforma” do Congresso Nacional

Em Junho de 2013 houve em nosso país grandes manifestações populares exigindo mudanças na política nacional, inicialmente a Rede Globo posicionou-se contrária às mesmas e aos protagonistas que marchavam de forma ordeira e nem tão ordeira assim, pois, atos de vandalismo foram praticados principalmente contra ônibus, carros e prédios públicos. Num segundo momento, a Rede Globo baseada em seu senso de oportunidade resolveu apoiar os manifestos e o comentarista Arnaldo Jabor, 48 horas depois, tal como na música Sociedade Alternativa de Raul Seixas afirmou “o oposto do que disse antes” sendo as imagens de seu comentário veiculado num programa de TV argentina como símbolo da manipulação midiática que há muito tal grupo de comunicação realiza e prova disso é que Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho) reconheceu que a Globo manipulou a edição do debate de 1989 entre Collor e Lula levado ao ar, na época Collor era mostrado pela Rede de TV da família Marinho, como um caçador de marajás e a salvação da lavoura da política brasileira (deu no que deu!). A manipulação observada pelo saudoso Leonel Brizola era tanta que ele afirmou: “caro eleitor, sempre que ficar na dúvida sobre o que é melhor para o Brasil, veja o que a Globo apoia, se ela for a favor seremos contra e se ela for contra, seremos a favor”. Sem dúvida, Brizola faz muita falta! Se um extraterrestre acompanhasse as manifestações de Junho de 2013 cujos partícipes pediam mudanças na política nacional e uma presença maior do Estado brasileiro por meio de mais Educação, mais Saúde, mais Segurança, etc. e em seguida voltasse ao seu planeta e depois retornasse à Terra para acompanhar os resultados da eleição para o Congresso Nacional ficaria atônito, pois, o novo parlamento que inicia suas atividades em 2015 é o mais conservador em 50 anos. As bancadas de evangélicos, militares e ruralistas aumentaram e houve a redução da representação de parlamentares ligados à classe trabalhadora, dessa forma, importantes itens da pauta do Congresso Nacional terão mais dificuldades para a aprovação devido à redução dos parlamentares progressistas representantes das causas das minorias da sociedade. Penso que grande parte da sociedade brasileira não compreende a importância do Poder Legislativo (Estadual e Federal) e parecem pensar que apenas a eleição para o Poder Executivo (Estadual e Federal) é que precisa ser objeto de maior atenção esquecendo que ninguém governa sozinho. Os manifestantes de 2013 tinham uma pauta de esquerda (mais educação, mais saúde, mais segurança, etc., enfim, mais Estado) uma vez que a direita representa o Estado Neoliberal, ou seja, o Estado Mínimo, no entanto, apesar da pauta, grande número desses manifestantes se mostraram eleitores da direita. Há quem tenha um discurso para cada ocasião e muitos são os políticos da direita que fazem um discurso com ênfase no social para ganhar a eleição e depois da posse mostram a que vieram através da cartilha neoliberal do corte de investimentos sociais, redução do tamanho do Estado, mas não de seus gastos e sim do direcionamento dos recursos, pois, costumam distribuir as benesses via terceirização de serviços com planilhas superfaturadas na origem para beneficiar empresas que precarizam as condições de trabalho de seus empregados enquanto enchem as burras com o dinheiro do contribuinte. Os empresários assim estimulados se tornam prestativos financiadores de campanhas num sistema que além de injusto, é imoral e antiético.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Os caminhos que levam à Brasília

Em período eleitoral, nada melhor que um pouco de história sobre Brasília, a nossa capital planejada e patrimônio cultural da humanidade. Salvador foi nossa primeira capital entre os anos de 1549 a 1763, o Nordeste vivia um declínio econômico e o Sudeste estava em ascensão, por isso, o Marquês de Pombal transferiu a capital para o Rio de Janeiro deixando os cariocas felizes e causando contrariedade aos nordestinos. Em 1808 a Corte Portuguesa evitou ter com Napoleão Bonaparte e mudou-se para o Rio de Janeiro. Tal mudança foi boa para o país que ganhou infraestrutura, status político e teve o processo de independência nacional acelerado. Em 1821, José Bonifácio de Andrada e Silva o Patriarca da Independência já havia se pronunciado sobre a necessidade de mudar a capital do país para o interior, e considerava que o planalto central deveria ser este lugar e indicava inclusive a localidade de Paracatu em Minas Gerais (Triângulo Mineiro). Em 1883, Dom Bosco sonhou que a capital do Brasil (a terra prometida) seria erguida entre os paralelos 15º e 20º à margem de um lago e cercado por montanhas. A Constituição Federal de 1891 fixou um quadrilátero no Planalto Central no Estado de Goiás para a futura instalação da capital do país, da mesma forma as Constituições de 1934 e 1946 também determinavam procedimentos para a mudança da sede do Governo Federal. Mas apesar do tema ser abordado nas Cartas Constituintes, poucos acreditavam que o Rio deixaria de ser a sede do Governo Federal. A discussão acerca da mudança ganhou ímpeto durante o governo de Getúlio Vargas que cria a política governamental de ocupação e integração dos vazios demográficos em que se constituíam o sertão brasileiro (Marcha para o Oeste) e que resultou na criação dos Territórios Federais nas áreas de fronteira (dentre os quais o T. F. do Iguaçu com sede em Iguassú, atual Laranjeiras do Sul). No entanto, em sua segunda passagem pelo Palácio do Catete, sob forte pressão opositora Getúlio não reúne condições políticas para sequer aventar uma empreitada de tal envergadura e de acordo com a história oficial se suicida. Café Filho assumiu a presidência e sob pressão das autoridades de Goiás ratificou uma das cinco áreas escolhidas pela Comissão Cruls que percorreu a região em 1910. Em 1955, Juscelino Kubitschek em campanha presidencial na cidade de Jataí é questionado por um de seus ouvintes se cumpriria o dispositivo constitucional que determinava a mudança da capital e JK que tinha como slogan de campanha 50 anos em 5, ou seja, pretendia fazer o país avançar 50 anos durante seu mandato e tinha 30 metas em seu plano de ação, não se intimida e afirma: “Acabo de prometer que sim. Se eleito for, construirei a nova capital e farei a mudança da sede do Governo” e saiu de Jataí com 31 metas sendo esta última a maior de todas. Apesar da promessa de campanha, poucos acreditavam que JK a cumpriria se viesse a ser eleito uma vez que contava com forte oposição, da mídia inclusive, mas, contava com a simpatia dos eleitores órfãos de Getúlio Vargas. Os motivos considerados para a mudança da capital era que o Rio de Janeiro era exposto demais a um ataque por forças navais estrangeiras e o clima tropical favorecia a disseminação de doenças, além disso, o Rio de Janeiro era palco frequente de inúmeras revoltas e desordens. Havia também a intenção de integrar o litoral ao resto do país no espírito do projeto getulista da Marcha para o Oeste o que consideravam crucial para o avanço do país. A verdade é que além de tornar a Capital mais segura contra um ataque de uma nação hostil pelo Oceano Atlântico, também a Capital estaria mais distante das revoltas e insurreições populares. Tendo o governo de JK a marca da democracia causa no mínimo estranheza a mudança da capital de acordo com este último prisma. Naquela época o Brasil também vivia um momento de modernização política e econômica e a capital nacional deveria traduzir esse espírito do futuro grandioso reservado ao país. O arquiteto escolhido Oscar Niemeyer com quem JK já havia feito parceria em Belo Horizonte na construção do complexo da Pampulha. Faltava o projeto urbanístico o qual foi escolhido através de concurso sendo vencedor Lucio Costa que curiosamente fez a apresentação visual mais simples do projeto, mas que foi considerado o melhor. Os moradores de Goiás estavam cheios de expectativas, porém, muitos se frustraram, a construção trouxe o fim da vida pacata nas cercanias, a especulação imobiliária, a inflação, a violência, a instalação de zonas de prostituição, etc. Lógico, houve quem ganhasse muito dinheiro, mas estes foram poucos privilegiados. No Rio de Janeiro, os antimudancistas eram muitos, a mídia afirmava que JK estava punindo a sociedade carioca pelo baixo desempenho em votos que o presidente ali teve. A campanha contra Brasília durou todo o mandato de JK, porém, subiu de tom em 1960, por conta das eleições presidenciais. Os jornais afirmavam o que não viam, pois, poucos tinham correspondentes em Brasília, assim, não faziam uso da imparcialidade. Afirmavam que Brasília era cara, de mau gosto, construída num lugar selvagem e representava um escoadouro de verbas públicas; que era uma obra faraônica; que os operários trabalhavam em regime de escravidão para cumprir os prazos, pois, JK no início das obras já havia determinado a data de 21 de Abril de 1960 para a inauguração. Havia denúncias que os trabalhadores não recebiam horas-extras; Também havia críticas ao endividamento externo, pois, para dar conta da construção JK tomou empréstimos junto aos EUA. JK também era criticado pela mídia porque gastava fábulas na construção de Brasília, mas negava reajustes aos funcionários públicos. A mídia também tecia críticas de que às vésperas da inauguração Brasília estava inacabada e que os prédios eram mal projetados e que os parlamentares iriam trabalhar em meio à poeira vermelha e que havia o risco de quem para lá migrasse ser alvo de flechas indígenas além do desconforto de ter que se deslocar vários quilômetros para fazer a compra de víveres, tamanha a improvisação reinante na cidade. As matérias falavam do custo de manter os parlamentares em Brasília e que eles iriam se ausentar muito da cidade preferindo ficar no Rio de Janeiro. E denunciavam a corrupção reinante na construção da capital sem necessariamente comprová-la. JK inaugurou Brasília na data pretendida, a capital somente ficou totalmente pronta nos anos seguintes. Certamente Brasília era cara e ainda o é, pois temos segundo uma pesquisa os parlamentares mais caros do mundo. E se naquele tempo, muita gente não queria ir para Brasília, diante do número de candidatos da última eleição vemos que hoje isso não corresponde à realidade, até porque, os parlamentares se acostumam facilmente com o fuso horário em Brasília cuja semana se inicia as terças-feiras e termina as quintas-feiras. Referências: LOPES, C. A. A loucura de Brasília: o antimudancismo nas páginas do Jornal Tribuna da Imprensa (1956-1960). OLIVEIRA. J. A. Construção de Brasília: Expectativa e frustração para o povo goiano (1957-1962).

sábado, 4 de outubro de 2014

De olho no ENEM e nos vestibulares– Parte 3

Este ano se comemorou, ou melhor, lamentou-se os cinquenta anos do golpe que instalou a ditadura militar neste país e tudo que ela significou, ou seja, a perda das liberdades (direitos) civis (AI-5), as perseguições por questões ideológicas, as prisões por motivos políticos, as torturas que eram ato comum nas prisões especialmente no DOPS e os assassinatos por agentes que representavam o Estado brasileiro. Então, o estudante deve ler a respeito do período ditatorial no Brasil e a ação estadunidense que além do reconhecimento oficial de regimes autocráticos que desrespeitavam os direitos humanos (a ditadura brasileira, inclusive), sendo que militares estadunidenses ainda promoviam o treinamento de militares das forças ditatoriais latino-americanas visando o aperfeiçoamento de “técnicas de convencimento” (torturas) para serem utilizadas em interrogatórios, também é importante ler sobre a ação colaborativa das ditaduras sul-americanas na assim chamada Operação Condor de repressão aos focos de resistência revolucionária. Já tratei deste tema neste espaço com os artigos “A indefensável defesa da ditadura militar” e “Uma ferida que nunca cicatriza – parte 1 e parte 2” que podem ser acessados no blog, no entanto, a passagem dos 50 anos da fatídica e lamentável data pode ser lembrada no Enem e nos vestibulares com outro enfoque segundo os educadores entrevistados por VEJA, pois, é possível que a temática abordada seja referente à Comissão da Verdade instituída pela Presidenta Dilma em 2012 e que tem como objetivo apurar crimes cometidos durante a ditadura militar com a intenção de reprimir a oposição ao regime e enfraquecer ou anular os movimentos que buscavam a restauração da ordem democrática no país. A dificuldade encontrada para investigar crimes cometidos durante a ditadura militar e elucidar inúmeros casos de desaparecidos políticos como se fez em outros países demonstra que a democracia é ainda insipiente no Brasil. Outro tema que pode estar presente nas referidas provas é aquele concernente aos movimentos sociais tais como o movimento feminista que conseguiu entre outras conquistas no país a criação da Lei Maria da Penha que é um instrumento de justiça e de amparo às mulheres. O estudante deve ler a respeito do grupo de orientação anarquista “Black Bloc” que alcançou os holofotes da mídia nacional por ocasião dos protestos de Junho de 2013. O professor Samuel Loureiro do Cursinho do XI afirmou que “o aluno tem que saber diferenciar o comunismo do anarquismo e entender quais outras ideologias estão presentes no cenário mundial hoje. Isso é imprescindível para garantir o bom desempenho nas questões relacionadas à sociologia, história e geopolítica”. A campanha de vacinação gratuita contra o HPV ofertada pelo Ministério da Saúde também pode ser tema, pois houve críticas de alguns segmentos da sociedade notadamente entre setores religiosos. As autoridades da saúde visam reduzir exponencialmente a transmissão do vírus causador do câncer do colo do útero, no entanto, sabemos que até a distribuição de preservativos gratuitos em épocas festivas como o carnaval em que os riscos de contágio e de gravidezes não planejadas aumentam ainda causa polêmica. No entanto, apesar das críticas, o Governo planeja aumentar o percentual de meninas vacinadas contra o HPV nos próximos anos visando reduzir a incidência da doença. As autoridades da Saúde e do Governo devem seguir orientações científicas ou promover apenas ações em conformidade com a orientação cultural/religiosa da sociedade? O candidato à vaga na Universidade deve ler sobre o HPV, e, em minha opinião também deve ler sobre o vírus ebola causador da febre hemorrágica para a qual existem apenas medicamentos em teste. Com a atual fase do capitalismo mundial conhecida como globalização e a intensa circulação de pessoas através dos modernos meios de transporte, notadamente o aéreo as possibilidades de contágio desta e de outras doenças tornam-se cada vez mais uma ameaça sempre presente. Quais medidas os países devem tomar para se prevenir e também para reagir à entrada do inimigo invisível que adentra as fronteiras nacionais através de cidadãos locais que viajaram ao exterior ou dos turistas que visitam o país sem ferir os direitos humanos e nem causar prejuízos à economia nacional ou de outros países? P.S. O estudante deve rever o conteúdo referente ao período da Guerra Fria (Capitalismo x Socialismo / EUA x URSS) e a questão da incorporação da Crimeia à Rússia e a situação de instabilidade da Ucrânia com os protestos dos Estados Unidos e da União Europeia num episódio que rememora a Guerra Fria e causa certa animosidade entre os protagonistas daquele momento histórico. Outro tema pode ser a perda de biodiversidade cuja lista de espécimes ameaçadas de extinção teve forte aumento neste ano. Referências: http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/enem-2014-prova-sera-realizada-nos-dia-8-e-9-de-novembro http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/temas-da-atualidades-que-podem-cair-no-enem-e-vestibulares-201415

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

De olho no ENEM e nos vestibulares– Parte 2

Além da extração de gás de folhelho, popularmente conhecido como “xisto”, os especialistas consultados por Veja apontam as questões relacionadas à água especialmente a crise no sistema hídrico que se fez mais grave em São Paulo sendo que até água do volume morto do sistema Cantareira foi bombeada para o consumo da população. Também é importante lembrar que no mesmo período em que São Paulo sofria com a falta de chuvas houve enchentes em outras áreas da região sudeste. A região norte do país teve um excesso de chuvas provocando alagamentos e a interrupção do tráfego em algumas rodovias e também do funcionamento de usinas no Rio Madeira. Os telejornais noticiaram a disputa pela água entre São Paulo e Rio de Janeiro e o Governo Federal se preocupou também com o volume de água liberada para o funcionamento de usinas hidrelétricas na região. A reflexão deve ser quanto ao que deve ser feito para evitar crises de abastecimento, pois, estas não constituem apenas reflexo do clima, mas, apontam para a má gestão dos recursos hídricos e também para questões culturais não condizentes com o desenvolvimento sustentável. A crise energética é outro tema apontado pelos educadores para o Enem e para os vestibulares, o sistema elétrico brasileiro possui uma carga instalada de 120000 megawatts e para ter segurança no fornecimento precisa contar com uma margem excedente de produção em relação ao consumo de 5%. Ocorre que a margem de segurança encontra-se em 2% e quaisquer problemas decorrentes de raios e o Brasil é um dos países com maior incidência de raios pode causar a interrupção de uma linha de transmissão de energia que pode derrubar todo o sistema ou parte dele. A Matriz energética conta com a produção de 86923MW de usinas hidrelétricas; 9816 MW de usinas termelétricas a gás; 8870 MW de usinas a biomassa; 4805 MW de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) 5297 MW de usinas a óleo e bicombustíveis; 3152 MW de usinas a carvão mineral e 2181 MW de usinas eólicas. O crescimento econômico e o aumento do poder aquisitivo da população levam a um maior consumo de energia, portanto, o Brasil precisa de constantes acréscimos de oferta de energia, porém, há um custo ambiental envolvido. Conhecer a matriz energética brasileira é importante, bem como refletir sobre a equação da necessidade de novas ofertas de energia e o custo ambiental decorrente, ou seja, qual é o custo-benefício a ser buscado. Outro tema apontado por Veja diz respeito aos problemas urbanos e sistemas modais sendo que por ocasião dos protestos de Junho de 2013 o tema em pauta na imprensa nacional era o transporte público e na ocasião da Copa a preocupação governamental e dos organizadores era quanto às obras de mobilidade urbana, sendo que houve investimentos no aumento das redes de metrôs, trens leves e corredores de ônibus. No Brasil há uma carência histórica de investimentos no transporte público aliado à preferência cultural da população em utilizar o transporte individual ocasionando o congestionamento das vias urbanas. A política governamental incentiva a produção e venda de veículos buscando preservar empregos e manter a economia em funcionamento, no entanto, “iniciativas verdes” como o aumento das ciclovias é um sonho distante em grande parte das cidades brasileiras e o percentual de impostos cobrado na produção de uma bicicleta é superior ao do veículo zero km. Li certa vez que nos Estados Unidos há uma cidade que construiu metrôs de superfície e estabeleceu o passe livre para desengarrafar o trânsito, assim, o passageiro se desloca gratuitamente ao invés de gastar utilizando o automóvel particular, na outra mão existem cidades europeias que cobram pedágios urbanos e taxas elevadas para o estacionamento de veículos visando desestimular o uso pelo público de seu automóvel individual. Diante disso, qual caminho deve ser perseguido pelos gestores públicos? Algumas cidades europeias contam com pontos de aluguel de bicicletas, uma iniciativa que merece aplausos. O desenvolvimento de um sistema de transporte público eficiente e barato é um desafio econômico e ambiental para o país com a entrada crescente de novos veículos em circulação. A energia utilizada nesse transporte público também deve ser objeto de reflexão (etanol, biodiesel, etc.). Enfim, o transporte público é tema corrente na pauta dos países desenvolvidos e um grande desafio para o Brasil, assim, o estudante deve dispensar alguns momentos refletindo sobre tal tema. Referências: http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/enem-2014-prova-sera-realizada-nos-dia-8-e-9-de-novembro http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/temas-da-atualidades-que-podem-cair-no-enem-e-vestibulares-201415

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

De olho no ENEM e nos vestibulares– Parte 1

O Enem, o Exame Nacional do Ensino Médio inicialmente alvo de críticas de especialistas em educação esteve também envolvido em polêmicas por causa de vazamento de provas, no entanto, essa fase parece ter ficado definitivamente para trás e o referido exame cada vez mais se firma como um dos mais importantes passaportes para que milhões de jovens brasileiros tenham enfim o acesso ao curso universitário. O Enem é utilizado por várias instituições de ensino superior, e, pelo Programa Universidade para Todos (ProUni) é possível obter bolsas de estudo para cursos de universidades privadas. O Sistema de Seleção Unificada (Sisu) utiliza a nota do exame para selecionar alunos para universidades públicas. O Enem/2014 se realizará nos dias 8 e 9 de novembro e somente poderão participar os candidatos devidamente inscritos até fins de maio passado. O número de inscritos esse ano supera o de 2013. A segurança do exame contra fraudes e vazamentos tem sido cada vez mais aperfeiçoada. Também é possível tirar o certificado do ensino médio, desde que o estudante consiga atingir a nota mínima de 450 pontos em cada uma das quatro provas objetivas (linguagens, matemática, ciências da natureza e ciências humanas) e 500 pontos na redação. A VEJA também publicou uma matéria sobre os temas da atualidade que poderão cair no Enem e nos vestibulares por meio de uma lista de temas fornecidos por especialistas em educação. A referida matéria registra que acompanhar assuntos discutidos no Brasil e no mundo é um fator importante para um bom desempenho no Enem e nos vestibulares e que embora o Enem ao contrário dos vestibulares, não cobra de seus candidatos informações pontuais sobre atualidades, possui questões que exigem do candidato conhecimentos básicos sobre o que está em debate no país e no mundo. Paulo Moraes, coordenador do Anglo Vestibulares afirma: “O Enem não é factual, não cobra do aluno detalhes de um assunto que ganhou as manchetes dos jornais às vésperas da prova, mas exige atenção a temas que pautaram as discussões no Brasil nos últimos doze meses”. Dentre os temas que podem cair no Enem e nos vestibulares estão a extração de gás e petróleo do xisto (tema já tratado nesse espaço com o artigo “O canto da sereia”), na verdade, folhelho betuminoso e que está gerando grande polêmica devido a difícil equalização entre benefícios econômicos e custos ambientais. A exploração de folhelho é conhecida há muito tempo, mas o processo não tinha a lucratividade da exploração tradicional de petróleo e jazidas profundas eram inacessíveis, então a exploração era realizada em depósitos superficiais, no entanto, a crescente necessidade de energia e o aumento da dependência externa de grandes potências como os Estados Unidos da América e a descoberta da técnica conhecida pelo termo em inglês “fracking” que se trata do fraturamento hidráulico em que é injetada água sob alta pressão com grande quantidade de componentes químicos para liberar o gás da camada de folhelho que pode estar em profundidades entre 1000 a 3000 metros. Trata-se da possibilidade de por um lado conseguir o suprimento de grande quantidade de energia que pode ser utilizada em indústrias, usinas termelétricas a gás, etc. O Brasil fez o leilão para a exploração de tal minério e o Paraná especialmente o terceiro planalto (Atenção: possível tema para vestibulares de universidades públicas paranaenses!) possui grandes reservas de folhelho betuminoso, porém, a técnica é considerada muito agressiva ao meio ambiente e vários problemas já foram reportados em países como os EUA, a Argentina, etc. O debate em questão é: O mundo precisa cada vez mais de energia e o folhelho betuminoso explorado pela técnica do “fracking” pode ser o passaporte para a autossuficiência energética, no entanto, seu custo ambiental é gigantesco e os riscos são exponenciais. O gás de xisto (folhelho) deve ser explorado imediatamente ou sua exploração deve ser suspensa até que novas pesquisas ou uma nova tecnologia menos agressiva sejam desenvolvidas? Pela autossuficiência energética vale a pena correr os riscos ambientais envolvidos? Ou deve a humanidade passar a contabilizar como custo de extração os prejuízos ambientais decorrentes e procurar desenvolver com o auxílio da ciência fontes alternativas e preferencialmente renováveis de energia? As questões ambientais costumam ser secundarizadas quando afetam as motivações econômicas e os especialistas pregam a necessidade do surgimento de uma nova sociedade, econômica e ambientalmente sustentável. Há nessa nova sociedade sustentável lugar para a exploração do gás de “xisto” levando em conta a ética na responsabilidade de preservação ambiental para as futuras gerações? Essas são algumas das questões que o postulante à vaga na Universidade deve refletir após se inteirar do tema. Referências: http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/enem-2014-prova-sera-realizada-nos-dia-8-e-9-de-novembro http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/temas-da-atualidades-que-podem-cair-no-enem-e-vestibulares-201415

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Longa vida aos sebos!

Penso que visitar sebos é uma atividade muito interessante, pois, lá podem ser encontrados livros raros (esta semana acrescentei mais dois ao meu acervo) sendo que um deles mesmo sendo usado não saiu exatamente barato, devido à famosa lei da oferta e da procura (não reclamo, pois, valeu cada centavo!). Nos sebos encontramos livros fantásticos (e alguns nem sequer imaginávamos existir) e o atendimento é uma atração à parte, a impressão que dá é de que as pessoas que trabalham com sebos sentem-se felizes por dar ao velho livro ou nem tanto (há novos e seminovos) uma nova oportunidade, um novo lar, uma nova mente para iluminar. Acredito que as pessoas que têm tem amor pela leitura, mesmo sabedoras das vantagens do livro digital, não abandonam o livro de papel, pois, o papel dá alma ao livro. O papel é a primeira paixão de um menino-homem ou de uma menina-mulher, que se aventura na vida em busca do saber, novos amores podem até acontecer, mas, o livro de papel terá sempre seu lugar no coração e na alma de um ancião e uma anciã. Não há como falar em amor sem falar em Drummond e é dele o texto aqui reproduzido, com vocês o poeta eterno: “O amigo informa que a cidade tem mais um sebo. Exulto com a boa-nova e corro ao endereço indicado. Ressalvada a resistência heroica de um Carlos Ribeiro, de um Roberto Cunha e pouco mais, os sebos cariocas foram se acabando, cedendo lugar a lojas sofisticadas, onde o livro é exposto como artigo de moda, e há volumes mais chamativos do que as mais doidas gravatas, antes objeto de decoração, do que de leitura. Para onde foram os livros usados, os que tinham na capa este visgo publicitário, as brochuras encardidas, as encadernações de pobre, os folhetos, as revistas do tempo de Rodrigues Alves? Tudo isso também é “gente”, na cidade das letras, e como “gente”, ninho de surpresas: no mar de obras condenadas ao esquecimento, pesca-se às vezes o livrinho raro, não digo raro de todo, pois o faro do mercador arguto o escondeu atrás do balcão, e destina-o a Plínio Doyle, ao Mindlin paulista ou à Library of Congress, que não dorme no ponto… mas pelo menos, o relativamente raro, sobretudo aquele volumeco imprevisto, que não andávamos catando, e que nos pede para tirá-lo dali, pois está ligado a circunstâncias de nossa vida: operação de resgate, a que procedemos com alguma ternura. Vem para a minha estante, Marcelo Gama, amigo velho, ou antes, volta para ela, de onde não devias ter saído; sumiste porque naqueles tempos me faltou dinheiro para levar a namorada ao cinema, e tive de sacrificar-te, ou foi um pilantra que me pediu emprestado e não te devolveu? Perdão, Marcelo, mas por 5 cruzeiros terei de novo a tua companhia. Matutando no desaparecimento de tantos sebos ilustres, inclusive o do Brasielas chego a este novo. É agradavelmente desarrumado, mas não muito, como convém ao gênero de comércio, para deixar o freguês à vontade. Os fregueses, mesmo não se dando a conhecer uns aos outros, são todos conhecidos como frequentadores crônicos de sebo. Caras peculiares. Em geral usam roupas escuras, de certo uso ( como os livros ), falam baixo, andam devagar. Uns têm a ponta dos dedos ressecada e gretada pela alergia à poeira, mas que remédio, se a poeira é o preço de uma alegria bibliográfica? Formam uma confraria silenciosa, que procura sempre e infatigavelmente uma pérola ou um diamante setecentista, elzeveriano, sabendo que não o encontrará nunca entre aqueles restos de literatura, mas qualquer encontro a satisfaz. Procurar, mesmo não achando, é ótimo. Não há a primeira edição dos Lusíadas, mas há do Eu, e cumpre negociá-la com discrição, para que o vizinho não desconfie do achado e nos suplante com o seu poder econômico. À falta da primeira, a segunda, ou outro livro qualquer, cujo preço já é uma sugestão: “Me leva”. Lá em casa não cabe mais nem aviso de conta de luz, tanto mais que as listas telefônicas estão ocupando lugar dos dicionários, mas o frequentador de sebo leva assim mesmo o volume, que não irá folhear. A mulher espera-o zangada: “Trouxe mais uma porcaria pra casa!”. Porcaria? Tem um verso que nos comoveu, quando a gente se comovia fácil, tem uma vinheta, um traço particular, um agrado só para nós, e basta. A inenarrável promiscuidade dos sebos! Dante em contubérnio com o relatório do Ministro da Fazenda, os eleatas junto do almanaque de palavras cruzadas, Tolstoi e Cornélio Pires, Mandrake e Sóror Juana Inés de La Cruz… Nenhum deles reclama. A paz é absoluta. O sebo é a verdadeira democracia, para não dizer: uma igreja de todos os santos, inclusive os demônios, confraternizados e humildes. Saio dele com um pacote de novidades velhas, e a sensação de que visitei não um cemitério de papel, mas o território livre do espírito, contra o qual não prevalecerá nenhuma forma de opressão”. (Carlos Drummond de Andrade – O sebo).

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Todo o poder ao povo!

A Constituição Federal (1988) em seu artigo 1º, parágrafo único estabelece “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos, ou diretamente nos termos desta Constituição”. Porém, em Junho de 2013, milhões de brasileiros saíram às ruas para protestar e dar o recado de que as Instituições bem como a classe política “não os representam”. Não há nenhuma novidade em dizer que grande parte da população está descontente com a política e a forma como ela é conduzida em nosso país. As manifestações fizeram a alegria dos políticos oposicionistas, pois, pensavam que poderiam canalizar tais protestos para causar desgaste do governo federal, porém, a pauta das manifestações tinha as cores da esquerda, ou seja, ao invés do Estado Mínimo preconizado pela direita neoliberal, hoje, na oposição, os manifestantes ansiavam por uma maior presença do Estado, assim, desejavam mais Educação, mais Saúde, mais Segurança, etc. Diante da força dos protestos que pegou de surpresa o Governo Federal tirando-o da zona de conforto de sua alta aprovação nas pesquisas e assimilando o recado dado nas ruas, a Presidenta Dilma se comprometeu em convocar um Plebiscito Constituinte para fazer a reforma política para que enfim a sociedade se sinta representada, mas, setores conservadores de partidos da oposição e também da base de sustentação do Governo Federal no Congresso Nacional se opõem à iniciativa. Desde a época colonial o Brasil é governado pela elite e para a elite, desta forma se construiu um dos países mais injustos do mundo, pois, apesar de sermos a sexta economia mundial dentre pouco mais de duzentos países somos o 13º país com a pior distribuição de renda do mundo (isso que melhoramos dez posições nos últimos doze anos). O atual Congresso Nacional não representa a classe trabalhadora, pois, de seus membros (513 deputados e 81 senadores) apenas 91 são considerados representantes dos trabalhadores, da bancada sindical. Como a imensa maioria dos parlamentares no Congresso Nacional são representantes da minoria que se encontra no topo da pirâmide social, temos absurdos como a classe média e a classe baixa pagando proporcionalmente mais impostos do que a parcela privilegiada da sociedade, pois, em nosso país os impostos são regressivos. É por causa do perfil do Congresso Nacional que não se vota o Imposto sobre Grandes Fortunas e que a reforma agrária não acontece; O mesmo se diz da reforma urbana. Recentemente se debateu no Congresso Nacional o aumento do investimento federal em Educação e Saúde, não sem muita resistência de políticos conservadores que embora eleitos pelo povo, muitas vezes não o representa e agem em defesa de interesses particulares e em benefício da elite econômica do país. De 01 a 07 de Setembro de 2014 está se realizando o “Plebiscito Popular por uma Constituinte exclusiva e soberana do sistema político” organizado pelos movimentos sociais que embora não tenha poder legal para ocasionar mudanças constitui uma importante ferramenta de pressão (principalmente se a votação por parte da sociedade for expressiva) para que um Plebiscito Constituinte seja legalmente instaurado pelo Congresso Nacional. Na possibilidade de a Constituinte da Reforma Política vir a ser instaurada, os representantes constituintes terão como tarefa única a reforma do sistema político inversamente ao que ocorreu com os constituintes que elaboraram a Carta Magna de 1988. A Constituinte de 1988 apesar de alguns avanços traz muitos ranços da ditadura militar que impedem o país de avançar rumo a uma democracia plena e a uma sociedade menos injusta, mais solidária e fraterna. Há setores conservadores que não desejam mudanças, pois, o sistema político atual (que conta inclusive com partidos de aluguel) lhes é benéfico, assim, não querem acabar com o balcão de negócios que se tornaram as eleições financiadas em grande parte pelo setor privado que cobra caro depois da eleição na forma de corrupção, fraudes nas licitações, favorecimentos pessoais ou de empresas, etc. Quem é defensor da democracia sabe que conceder mais espaço para o povo opinar sobre questões de grande relevância nacional é fortalecer a democracia e quem é contra, se for do povo é mal informado, se é da classe política é manipulador. P.S. É possível votar eletronicamente no site: http://www.plebiscitoconstituinte.org.br/vote-no-plebiscito ou nas urnas através de cédulas de papel, informe-se sobre os pontos de votação de sua cidade. Vote Sim!!!

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

O canto da Sereia!

Penso que o leitor certamente já ouviu falar ou então leu a respeito do mito das sereias cujos corpos eram parte mulher e parte peixe. Elas habitavam rochedos e ao avistá-las, os marinheiros eram por elas atraídos devido à sua beleza estonteante e por seu belíssimo e doce canto, assim, guiavam suas embarcações até elas e acabavam colidindo com os rochedos e naufragando. Os gregos relatam que apenas duas pessoas conseguiram escapar ilesos ao encanto das sereias, Orfeu que era o deus mitológico da música e da poesia e que para salvar a si próprio e aos que lhe acompanhavam na viagem de barco cantou mais divinamente do que as sereias superando-as com seu talento e sua voz. O outro vitorioso foi Ulisses que por não possuir o talento musical de Orfeu colocou cera de abelha em seus ouvidos e pediu que lhe acorrentassem ao mastro do navio e deus ordens que se caso implorasse para libertá-lo apertassem ainda mais as cordas que o prendiam. Ulisses quase enlouqueceu gritando para ser liberto e assim poder ir ao encontro das sereias, mas, passou ileso pela grande provação a que fora submetido. No primeiro caso Orfeu foi vencedor porque teve espírito de superação, autoconfiança e coragem de fazer ainda melhor e no segundo caso, Ulisses sobreviveu porque teve a consciência de sua fragilidade e tomou atitudes sábias para evitar o feitiço visual e musical das sereias. Mitologia é sempre um assunto interessante, muitos livros e filmes se produziram com tal temática, no entanto, neste artigo serve apenas para introduzir neste espaço a discussão que precisa ser feita por todos antes que seja tarde demais e não dê tempo para preparar a voz daqueles que talento possuírem ou na inexistência de tal dom para tapar os ouvidos com cera. Este escriba que redige estas linhas adotará por não haver outra possibilidade a estratégia de Ulisses. Há um debate que precisa ser urgentemente realizado, trata-se da exploração através do sistema de “fracking” do gás de xisto, na verdade, o termo correto seria gás de folhelho betuminoso. O Folhelho betuminoso é uma rocha sedimentar que se aquecida num processo antieconômico vira óleo e é possível obter dela os combustíveis normalmente obtidos do petróleo. O Brasil possui uma das dez maiores reservas de folhelho do mundo e há a intenção da Copel de explorar inicialmente uma região localizada no terceiro planalto paranaense entre Pitanga, Cascavel, Toledo e Paranavaí. O fracking, ou fraturamento hidráulico consiste numa nova técnica em que água com aditivos químicos cuja fórmula não é revelada por constituir segredo empresarial é injetada sob altíssima pressão por um furo vertical até atingir a camada de folhelho e após são feitas perfurações horizontais para liberar o gás presente na rocha que tem a mesma utilidade do gás natural obtido pelo método de perfuração tradicional com máquinas perfuratrizes de petróleo para libertar o gás do bolsão em que se encontra. Tanto o petróleo como o folhelho é encontrado em áreas sedimentares e no Terceiro Planalto Paranaense se encontra em profundidades de mil a dois mil metros. Lembro-me de ter lido certa vez um livro sobre os Estados Unidos da América que relatava os graves danos ambientais nas regiões de exploração por tal método, onde as compensações financeiras que alguns fazendeiros receberam foram insuficientes para cobrir os prejuízos, pois, tiveram que abandonar a prática da agropecuária porque a carne e os alimentos naquela região produzidos estavam contaminados e impróprios para o consumo, aliás, a saúde dos moradores da região também se deteriorou gravemente e a água de lençóis freáticos e rios contaminados não puderam mais ser utilizados para consumo humano. Atualmente não há como evitar a contaminação porque é impossível saber onde os gases podem ser liberados uma vez que as rochas do subsolo apresentam fraturas pelas quais as águas infiltram até camadas mais profundas. Nos EUA ocorreram casos de rios pegando fogo, e mais bizarro ainda, fogo saindo pela torneira. Há também registros naquele país de terremotos em áreas inusitadas que estão sendo investigados por sua possível relação com o método do fracking. A Argentina também enfrenta os problemas ecológicos e econômicos de tal exploração resultantes. Na atualidade, o canto da Sereia diz respeito a uma proposta extremamente vantajosa e que depois se mostra um engodo. As autoridades da Cantuquiriguaçu, os professores e estudantes do Ensino Básico e Superior, especialmente a UFFS, os agricultores, os pecuaristas, enfim, todo o povo paranaense precisa debater o tema e em meu ver combater essa monumental tragédia ecológica que se prenuncia, a possível morte por envenenamento do Aquífero Guarani e inviabilidade econômica da agropecuária nas regiões de exploração e circunvizinhas. P.S. Parabéns aos cidadãos de Toledo e Cascavel que resistem brava e heroicamente ao canto da Sereia!

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

De como ser uma pessoa bem sucedida!

Há algum tempo uma pessoa me disse que se eu fosse rico, um empresário, teria opiniões diferentes a respeito da realidade nacional e mundial, afirmei ser isto impossível, pois, não tenho vocação empresarial e que se tivesse não seria “eu mesmo”, ou seja, quis dizer-lhe que teria que morrer e nascer outra pessoa, pois, não tenho nem mesmo a ambição acumulativa que move as pessoas em busca do “vil metal”. Disse ao meu interlocutor que havia inúmeras formas de ser rico, para alguns era ter muito dinheiro, para outros era ter muitos amigos, e que havia ainda aqueles que julgavam que a riqueza estava em ter muita saúde enquanto para outros, como era o meu caso, a riqueza estava em buscar a cada dia se apropriar de tanto conhecimento produzido pela humanidade quanto me fosse possível. Para ilustrar um caso de pessoa bem sucedida vou contar um singelo fato ocorrido em nossa região, no qual um senhor com idade bastante avançada e que se recusava a parar de trabalhar, sendo que ultimamente estava plantando mudas de erva-mate e também de espécies destinadas ao aproveitamento madeireiro em sua propriedade rural. Uma de suas filhas lhe questionou por que continuava trabalhando em vez de descansar, afinal, talvez ele nem pudesse aproveitar aquelas árvores que estava plantando, pois, elas levariam muitos anos para estarem prontas para o aproveitamento e ele com toda a tranquilidade, amor de pai e a sabedoria que a vida dá às pessoas independentemente do nível de estudo lhe disse: Mas, vocês irão aproveitar filha! É para vocês que estou plantando! Diante do exemplo e da fala deste senhor qualquer comentário é meramente acessório! Certa vez li a seguinte frase: “a pessoa era tão pobre, mas tão pobre, que somente tinha dinheiro”, faz todo sentido, a pobreza não é apenas uma questão material, mas, também de estado de espírito, exemplifico: Pepe Mujica é o atual presidente do Uruguai, foi preso e torturado durante a ditadura militar implantada naquele país com o apoio dos Estados Unidos da América, e, apesar do alto cargo que ocupa leva uma vida muito simples e doa boa parte do salário que recebe a instituições de caridade, dirige um fusca de sua propriedade e vive numa pequena chácara com a esposa que também foi prisioneira política no mesmo período. Pepe não gosta que falem ser ele o presidente mais pobre do mundo, afirma que “não é pobre, pois, não precisa de muito para viver”. Penso que tem toda a razão, pobres são as pessoas que vivem tristonhas por não ter o dinheiro que gostariam e por não estarem na classe social compatível com a mentalidade que expressam em suas ideias e ações, pois, muitos são os que falam e agem como se ricos fossem e apesar de enganarem a alguns e até mesmo a si próprios são desmentidos pela conta bancária e pelo ponto que têm que bater na firma na qual trabalham sob o olhar atento do patrão. Há alguns dias em visita a alguns parentes de outra cidade, aproveitei a oportunidade para levar o carro para a revisão e decidi visitar uma loja de motocicletas que me informaram ficar a dois quilômetros da concessionária onde estava, resolvi ir caminhando, passados 25 minutos não encontrei a loja, perguntei a uma pessoa que afirmou ficar ainda mais a frente, no caminho, encontrei uma loja de livros, entrei e comprei alguns que desconhecia, mas que se encaixavam perfeitamente como fontes de pesquisa para um artigo que precisaria escrever e ao caminhar mais um pouco e em não encontrando a loja, pedi informações a um frentista que alegremente cantarolava uma música e este afirmou que a referida loja ficava na metade do caminho que já havia percorrido, voltei e descobri que para escapar da chuva que começava a cair naquele trecho quando ali passei, corri para me abrigar sob uma marquise e por isso não vi a referida loja do outro lado da rua e também que a pessoa que me deu informações confundiu-se com a loja de automóveis da mesma marca e que ficava mais no centro da cidade, mas, que, sem estes enganos não teria encontrado aqueles preciosos livros e nem visto o alegre trabalhador do posto de combustíveis que me levou a pensar que, por sua forma de agir deve ser uma pessoa melhor sucedida do que algumas do topo da pirâmide social que passam o tempo a lamuriar o “infortúnio” de suas vidas! P.S. Penso que uma pessoa bem sucedida é aquela que ajuda a transformar o mundo fazendo do local onde vive um lugar melhor através da dedicação de seu tempo, de suas ideias e de sua prática.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Educação com compromisso social! – parte 2

A Gazeta do Povo veiculou em 20/07/2014 um artigo de autoria do jornalista José Maria e Silva, Mestre em Sociologia pela UFG com o título “Escola não pode ter partido” e nele o autor afirma que “educar é um ato formativo que fala à consciência através da liberdade. Quando isso não ocorre tem-se a doutrinação” e cita a “ONG Escola Sem Partido” com a qual compartilha ideias. Concordo com ele que educar é um ato formativo e que a liberdade é necessária, no entanto, o referido autor que diz defender a liberdade, na verdade, apoia a censura, ou seja, a restrição à liberdade do professor defendendo uma suposta neutralidade que é também um posicionamento ideológico que contribui para a conservação do status quo da sociedade, pois, a apregoada neutralidade é manipuladora e beneficia os privilegiados. Silva nada falou sobre os dois projetos existentes para a Educação brasileira quais sejam: a educação economicista que visa tão somente formar o estudante para compor as fileiras do mercado de trabalho nele se inserindo de forma acrítica, portanto, alienada bem ao gosto de parte da classe empresarial (parece ser esta a preferência do jornalista) e a formação humana que visa emancipar o estudante, indo além do mercado de trabalho, contribuindo na sua conscientização objetivando a sua inserção na sociedade de forma crítica e atuante na construção de uma sociedade menos injusta, mais solidária e cooperativa. A denominação “Escola Sem Partido” foi uma escolha sagaz, qualquer um concorda (até eu) que na Escola os partidos não devem interferir, porém, a intenção é silenciar, amordaçar a Escola, os/as professores(as) e condenar os livros que trazem uma conotação marxista, ou seja, aqueles cujas páginas trazem a preocupação do autor com as questões sociais e que ousam discutir as mazelas de nossa sociedade causadas pelo modelo econômico vigente. José Maria e Silva também critica o fato de que na “Universidade impera o socialismo apesar do mundo ser capitalista”, nesse caso há três observações a serem feitas: 1. Enquanto houver capitalismo o marxismo que defenestra é a principal ferramenta para a análise crítica do status quo societário e também para humanizá-lo, pois, o capitalismo em si constitui darwinismo social em estado bruto, ou seja, a “lei da selva” onde somente os mais fortes sobrevivem, apesar disso, em nossa sociedade contraditoriamente existe muitos gatos pensando serem leões, defendendo-a. 2. O ingresso na carreira do Magistério no Ensino Superior Público ocorre através de concursos e não é critério para aprovação ser marxista e nem de reprovação ser neoliberal, pois, são aprovados(as) os/as mais preparados(as) independentemente de sua ideologia. Já li/ouvi críticas quanto à Universidade Pública ser uma instituição onde se concentram docentes marxistas e pergunto: onde estão as pesquisas que comprovam isso? Já conversei com vários professores universitários e estes afirmam que os/as conservadores(as) são a maioria e isto se observa também na Educação Básica, então, o que incomoda é na verdade a força dos argumentos dos(as) professores(as) marxistas. 3.O autor do artigo também critica a quantidade de teses e dissertações sobre Marx, no entanto, a verdadeira questão é porque os autores do liberalismo clássico e do neoliberalismo têm sido tão pouco pesquisados? O problema está no objeto de estudo (liberalismo/neoliberalismo) que exerce pouca atração para o desenvolvimento de pesquisas ou estariam sendo os/as professores(as) conservadores(as) menos eficientes no desenvolvimento de pesquisas em tal área? A grande quantidade de pesquisas em Marx é algo positivo, pois, o conhecimento desenvolvido auxilia cidadãos comuns e bilionários como George Soros que afirmam ler Marx para entender o sistema socioeconômico vigente e o mundo atual. Silva afirma [...]“é preciso – com urgência – resgatar a escola dessa ideologia que a torna refém do ódio de classes”, ou seja, não se trata de partidos, mas sim da ideologia marxista, pois, nada fala da ideologia liberal conservadora da maioria dos(as) mestres(as), porém, a Escola não é refém do ódio de classes e pretende tão somente emancipar o/a estudante a fim de que não se torne mera peça de reposição do sistema (mão de obra alienada e sem capacidade crítica) na manutenção da sociedade injusta que temos. Concluindo, concordo com o autor quando afirma que “Educar é um ato formativo, que fala à consciência através da liberdade. Quando isso não ocorre, tem-se a doutrinação”, porém, negar o acesso ao conhecimento humano ou parte deste (impedir a liberdade) é um ato que fortalece a ideologia contrária, ou seja, também constitui doutrinação e amordaçar o/a professor(a) é algo comum nos regimes ditatoriais por isso, defendo a liberdade para que o/a professor(a), intelectual que é possa livremente expressar a sua visão de mundo e o/a aluno(a) possa tomar conhecimento da produção marxista e também liberal e defender a visão de mundo, de sociedade e de cidadão que julgar ser a melhor, pois, segundo a belíssima letra de “Tocando em Frente” de Almir Sater e Renato Teixeira, citada por José Maria e Silva, “cada um de nós compõe a sua história/ cada ser em si/ carrega o dom de ser capaz”.

sábado, 2 de agosto de 2014

Ariano Suassuna um brasileiro!

Na última semana a humanidade perdeu um ser iluminado Ariano Suassuna (16/06/1927– 23/07/2014) que dispensa qualquer apresentação e que é lembrado menos por ser membro da Academia Brasileira de Letras e de seus títulos Doutor Honoris Causa, mas, principalmente por ser o autor de o “Auto da Compadecida” dos inesquecíveis personagens João Grilo representado por Matheus Nachtergaelle e Chicó (Selton Mello) em minissérie da Rede Globo que contou com um elenco de grandes estrelas. Escrevo neste espaço há seis anos e sempre foi meu propósito inarredável de que tudo o que aqui postasse fosse algo resultante da minha reflexão sobre a contribuição de outros autores/pensadores e/ou criação própria, mas, como aprendemos na escola que “para toda a regra existe a exceção” resolvi quebrar meu intento original e partilhar um texto do inesquecível e imortal Ariano Suassuna. O texto ora partilhado é semelhante a uma ideia que anotei há alguns anos para um dia escrever e que na ocasião de sua passagem para a eternidade ao aprofundar as leituras sobre artigos publicados e entrevistas por ele dadas constatei que Ariano já havia escrito sobre o tema com uma abordagem condizente com o que pretendia, mas, com o aprofundamento e brilhantismo que lhe era característico e que eu jamais alcançaria lograr. Nada mais há para ser dito, o texto de Ariano Suassuna é irretocável bem como sua obra. Ariano Suassuna não pode ser ressuscitado pela flauta de João Grilo, porém, sempre que alguém tocar uma flauta vai trazer mais próxima a sua luz para iluminar as mentes e os corações desse povo tão especial e sofrido que é o brasileiro, principalmente, o pobre. Esquerda e Direita - Por Ariano Suassuna Não concordo com a afirmação, hoje muito comum, de que não mais existe esquerda e direita. Acho até que quem diz isso normalmente é de direita. Talvez eu pense assim porque mantenho, ainda hoje, uma visão religiosa do mundo e do homem, visão que, muito moço, alguns mestres me ajudaram a encontrar. Entre eles, talvez os mais importantes tenham sido Dostoievski e aquela grande mulher que foi Santa Teresa de Ávila. Como consequência, também minha visão política tem substrato religioso. Olhando para o futuro, acredito que enquanto houver um desvalido, enquanto perdurar a injustiça com os infortunados de qualquer natureza teremos que pensar e repensar a história em termos de esquerda e direita. Temos também que olhar para trás e constatar que Herodes e Pilatos eram de direita, enquanto o Cristo e são João Batista eram de esquerda. Judas inicialmente era da esquerda. Traiu e passou para o outro lado: o de Barrabás, aquele criminoso que, com apoio da direita e do povo por ela enganado, na primeira grande “assembleia geral” da história moderna, ganhou contra o Cristo uma eleição decisiva. De esquerda eram também os apóstolos que estabeleceram a primeira comunidade cristã, em bases muito parecidas com as do pré-socialismo organizado em Canudos por Antônio Conselheiro. Para demonstrar isso, basta comparar o texto de são Lucas, nos “Atos dos Apóstolos”, com o de Euclydes da Cunha em “Os Sertões”. Escreve o primeiro: “Ninguém considerava exclusivamente seu o que possuía, mas tudo entre eles era comum. Não havia entre eles necessitado algum. Os que possuíam terras e casas vendiam-nas, traziam os valores das vendas e os depunham aos pés dos apóstolos. Distribuía-se, então, a cada um, segundo a sua necessidade”. Afirma o segundo, sobre o pré-socialismo dos seguidores de Antônio Conselheiro: “A propriedade tornou-se-lhes uma forma exagerada do coletivismo tribal dos beduínos: apropriação pessoal apenas de objetos móveis e das casas, comunidade absoluta da terra, das pastagens, dos rebanhos e dos escassos produtos das culturas, cujos donos recebiam exígua quota parte, revertendo o resto para a companhia” (isto é, para a comunidade). Concluo recordando que, no Brasil atual, outra maneira fácil de manter clara a distinção é a seguinte: quem é de esquerda, luta para manter a soberania nacional e é socialista; quem é de direita, é entreguista e capitalista. Quem, na sua visão do social, coloca a ênfase na justiça, é de esquerda. Quem a coloca na eficácia e no lucro é de direita. Fonte: http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/A-esquerda-e-a-direita-segundo-Ariano-Suassuna/4/31455 - Acesso em 27 de Julho de 2014.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

A Copa das Copas e o vexame dos vexames! - Parte 2

No campo enquanto o selecionado brasileiro levava uma estonteante surra da seleção alemã percebi que na segunda etapa os alemães haviam desacelerado e pensei que com o jogo já liquidado estavam poupando energia para a final, porém, dias depois, assisti num programa de TV que os atletas alemães combinaram no intervalo do jogo não humilhar a seleção brasileira, faz sentido, penso que se desejassem chegariam facilmente aos 10 gols e que fizeram isto nem tanto pelo respeito à seleção brasileira, mas pelo fato de o Brasil ser o anfitrião e cujo povo acolheu carinhosamente a seleção germânica que por sinal se demonstrou uma das mais simpáticas. Se em campo a seleção brasileira protagonizou o maior fiasco em 100 anos de sua história, fora dele, ao contrário do que a parcela do povo que canta em verso a suposta “incapacidade nata” do povo brasileiro de organizar grandes eventos e de ocupar um lugar ao sol entre as grandes nações do mundo, a Copa de 2014 foi um sucesso e ganhou a nota 9,25 atribuída pela FIFA superando a Copa de 2006 na Alemanha e obtendo o segundo maior público da história. Ao contrário do que todos imaginam, na Alemanha também houve atrasos no cronograma de entrega de algumas obras e obras que ultrapassaram o valor orçado. A Alemanha investiu menos recursos que o Brasil, pois, convenhamos, aquele país já tinha uma boa infraestrutura no que concerne a mobilidade urbana e, por isso, os gastos foram menores. No Brasil, após a ditadura militar até a entrada de Lula e Dilma no governo federal, os governantes somente tinham uma preocupação: vender as “joias da coroa” e vender o quanto antes, não importa a que preço! Pois bem, as “joias” foram vendidas e a infraestrutura do país além de não ser ampliada foi sucateada com o “Estado do mínimo” efetivado naqueles duros tempos de verdadeiramente minguados recursos para a Educação, para a Saúde e para a infraestrutura do país, em que boas estradas somente havia aquelas que eram pedagiadas vendendo-nos a falsa impressão de que o pedágio era a única solução, quando na verdade o problema era de péssima gestão dos governantes de plantão. A Copa de 2014 é pelo menos por enquanto, a Copa das Copas, pois, a FIFA e os jornalistas estrangeiros a elegeram como a melhor dos tempos modernos, e, na qual o povo brasileiro deu um show de acolhimento aos turistas estrangeiros vindos de 203 países diferentes e contados em cerca de um milhão. Penso que a conhecida frase “o melhor do Brasil é o brasileiro” é corretíssima, pois, excluída uma parcela de pessoas nascidas em berço de ouro que se consideram castigados por Deus ou por uma fatalidade do destino ter nascido nestas plagas e que apenas resmunga, o brasileiro ri de suas próprias desgraças. Durante o desenvolvimento da Copa uma poderosa revista semanal que parcela da população considera a “Bíblia da notícia” e nela creem com imensa fé e a maior rede de TV deste país que dita o que o povo deve pensar estavam ambas com o discurso totalmente descompassado com a imprensa internacional que cobria o mundial e que tecia rasgados elogios ao país e à Copa, dessa forma, tais meios de comunicação acabaram capitulando e abrandando as críticas que inclusive boa parte dos marcianos acredita: não tinham motivações eleitoreiras. Fracassamos em campo com uma empresa privada, sim, a CBF é uma entidade privada e não tem nenhuma ligação com o Governo Federal e, portanto, a Presidenta Dilma não pode ser culpada pelo fracasso da seleção, pelo menos não racionalmente. A CBF é uma entidade com imagem bastante arranhada pela ineficiência na gestão do futebol brasileiro em que os negócios e as negociatas se sobrepõem ao verdadeiro esporte. As relações viciadas entre a CBF, as Federações Estaduais, os clubes, os patrocinadores e a principal rede de TV transmissora dos jogos comprometem o presente e o futuro do futebol brasileiro. A Alemanha conseguiu a atual hegemonia do futebol mundial com uma grande reformulação do futebol nacional que é gerido pela DFB (Federação Alemã de Futebol) que é um órgão ligado diretamente ao governo do país e que ao contrário da CBF investe nas categorias de base (são 366 centros oficiais), aplica uma espécie de Lei de Responsabilidade Fiscal aos clubes (Fair Play financeiro) e estes não podem gastar mais do que arrecadam (no Brasil com raras exceções os clubes vivem no vermelho). Naquele país, os clubes são obrigados a investir nas categorias de base e a distribuição dos recursos aos clubes referentes à transmissão dos jogos são mais justos do que aqui se verifica. Os ingressos estão entre os mais baratos da Europa, enquanto no Brasil estão cada vez mais caros. Enfim, enquanto fracassamos com uma entidade privada, a Alemanha foi vitoriosa com uma entidade estatal, mas deixando de lado a questão ideológica do privado x estatal que obviamente não constitui o axioma da questão, pois, este se encontra na gestão e a gestão do futebol levado a cabo pela CBF tem se demonstrado uma coisa de “Jênio” (assim mesmo, com jota!). Fonte: Sucesso alemão inspira “novo” Brasil – Jornal Gazeta do Povo – 20 de Julho de 2014.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

A Copa das Copas e o vexame dos vexames!

Há quatro anos escrevi um artigo com o título “futebol e política” e nele comparava algumas semelhanças entre essas duas paixões do povo, pois, quase todo brasileiro pensa que no Governo ou na seleção brasileira falta apenas boa vontade para que todos os problemas sejam resolvidos instantaneamente. Na época afirmei que tínhamos um bom “técnico” (o presidente Lula), mas que nosso selecionado (o Congresso Nacional) estava maltratando a bola, e, reafirmo isso, penso que Dilma tem conduzido muito bem o país mesmo diante da maior crise econômica mundial desde 1929, a qual está levando inclusive alguns países europeus para o fundo do poço. Mas, quando penso na frase “maltratar a bola”, impossível não se lembrar da desastrosa atuação da seleção brasileira neste mundial realizado no país, porém, há um lado bom nisso, com este vexame frente à Alemanha viramos uma página da história e finalmente deixaremos em paz os valorosos atletas derrotados na final de 1950, principalmente o goleiro Barbosa para que descanse em paz. Precisamos ter mais humildade, nunca fomos no futebol o que os Estados Unidos da América representam no basquetebol, ou seja, praticamente imbatíveis e isso não é algo ruim, um esporte em que você sabe de antemão quem será o vencedor não tem muita graça. Porém, o verdadeiro e retumbante vexame foi protagonizado por pessoas que embora bem nascidas demonstraram ter má educação, pois, diante das câmeras de TV cujas imagens percorreram o mundo vaiaram a presidente Dilma e o hino do Chile. Também foram motivo de vergonha nacional a imprensa vira-lata que apostou no fracasso da Copa não como uma constatação realista de falta de organização, mas, resultante de um desejo ardente que o fracasso ocorresse para que dividendos eleitorais fossem colhidos pelo grupo oposicionista por ela apoiado. Também contribuíram para o vexame os pseudorrevolucionários que escondidos atrás de máscaras promoveram vandalismo destruindo patrimônio público e privado e também os pseudointelectuais que sem conhecer os valores aplicados na Educação e na Saúde e, portanto, sem comparar os dados sobre os investimentos em Educação e Saúde desde a implantação do Plano Real proferiram discursos enganosos à população, pois, nunca se investiu tanto em Educação e Saúde como nos governos Lula e Dilma e o montante é várias vezes superior ao investido na Copa. O futebol é imprevisível, em 1982, perdemos com uma seleção inteira formada por craques sendo que inclusive deixamos craques de fora da lista de convocados, e, apesar de nada conquistarmos, encantamos o mundo com um futebol maravilhoso, de lá para cá não vi mais espetáculos da seleção canarinho. A verdade é que uma derrota normal com esta fraca equipe não seria nenhuma surpresa, pois, na Copa havia seleções melhores e algumas nem chegaram às semifinais. Nesta Copa, com a humilhante derrota para a Alemanha, as câmeras mostraram idosos muito tristes, pois, jamais em suas vidas tiveram uma decepção tão grande com o selecionado brasileiro. Também foram emocionantes as imagens de crianças chorando, certo, as decepções fazem parte do processo de amadurecimento, no entanto, quando sabemos a forma como é organizado o futebol brasileiro em que a estrutura é toda viciada e a corrupção impera, traz certa revolta. Infelizmente, não tenho muita esperança que esse fracasso resulte numa reforma da CBF, das federações, do calendário do futebol brasileiro e da Lei Pelé que nada mais é que o neoliberalismo aplicado ao futebol para reservar o lucrativo mercado de atletas para os empresários causando o enfraquecimento dos clubes. A Lei Pelé precisa ser revista, não podemos continuar exportando craques que muitas vezes iniciam a carreira em campos estrangeiros sem nunca terem vestido camisas de equipes profissionais nacionais. Vários comentaristas esportivos e ex-jogadores afirmaram que é preciso que os clubes voltem a investir nas categorias de base, eu, particularmente, penso que seria possível e necessário formar uma seleção com base em jogadores que atuam no país e acrescentar ao elenco apenas alguns craques imprescindíveis que atuam no exterior, pois, precisamos de uma equipe com jogadores que se identifiquem com os torcedores brasileiros, pois, o que vejo na seleção é uma legião estrangeira. Precisamos fortalecer os clubes e os campeonatos nacionais e talvez extinguir os deficitários certames estaduais e esse é o “nó górdio” da questão, pois, a CBF e as federações estaduais e mesmo grande parte dos clubes estão amarrados a um sistema viciado para o qual não adianta fazer maquiagem, a mudança precisa ser radical, o caminho é difícil, mas, se não o percorremos, as frustrações em campo se tornarão cada vez mais corriqueiras com clubes cada vez mais endividados e fracos competitivamente e a CBF maquiando soluções e seleções ad eternum.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Globalização: O alvorecer de uma Nova (velha) Era?

Nos anos 1990, quando cursava a Universidade tive contato com um pequeno livro azul, uma obra elucidativa sobre o mundo que estava sendo gestado e que veio a ser confirmado com o passar do tempo. O livro “Nova Era: A civilização Planetária” de Leonardo Boff (cujas várias obras mais tarde se tornariam minhas leituras frequentes) discorria sobre os novos tempos que a humanidade estava inaugurando sob a hegemonia do Capitalismo Neoliberal imposto ao mundo pelas lideranças globais (representantes dos países centrais e de poderosos grupos transnacionais) através do processo de mundialização ou globalização pela via do mercado, da política, da estratégia militar, da tecnociência, da comunicação e da espiritualidade. O autor também discorreu na obra sobre os grandiosos avanços científicos na área da Tecnologia, da Biotecnologia (Genoma Humano), da Informática e da Robótica e sobre a forma como tais avanços científicos estavam mudando o processo de produção industrial com uma produtividade crescente à custa da redução progressiva dos postos de trabalho. O autor não faz oposição na obra à mundialização em si, mas ao caminho percorrido para se chegar a ela, ou seja, a via do mercado concorrencial, cujo egocentrismo das nações mais poderosas não lhes permite enxergar a possibilidade de levar a humanidade para outro patamar, o da dignidade humana para todos independentemente da origem étnica ou de gênero. Para Boff, outra mundialização seria possível, a mundialização da solidariedade, da compaixão com os pobres e famintos, e, sobretudo de esforços das nações desenvolvidas para assegurar o desenvolvimento para toda a população mundial. Criar uma sociedade planetária que garantisse a todos a dignidade humana para que o básico a ninguém faltasse ao contrário do que Leonardo já observava nos anos 1990 e hoje temos certeza absoluta, um mundo de exclusão sempre crescente em que apenas 85 pessoas são donas de 1% da riqueza global (uma fatia equivalente à que caberia para uma população de setenta milhões de habitantes caso a divisão da riqueza fosse equânime). No mundo que temos hoje, a fatia que cabe à parcela que forma os 1% mais ricos da humanidade equivale a 50% de toda a riqueza global e na outra ponta temos cerca de um bilhão de pessoas provando a fome, a miséria, o analfabetismo, etc. como vítimas do egocentrismo humano levada a cabo pelas principais lideranças políticas e empresariais globais, pois, como o autor afirmou na obra “quem não interessa ao mercado, não existe”. Uma parte interessantíssima da obra é quando Leonardo relata a injustiça que o processo de informatização/robotização está fazendo ao aumentar os lucros do patrão e diminuir os postos de trabalho, e, que em seu ver deveria ser uma oportunidade de reduzir a jornada de trabalho em 50% com a manutenção de pelo menos 75% do antigo salário e dos postos de trabalho, ou ainda, a criação de um salário tecnológico (participação nos lucros da empresa com alta utilização de tecnologia no processo produtivo) que seria recolhido pelo Estado e repassado às pessoas que perderam seus postos de trabalho em virtude do avanço tecnológico que dispensou o trabalho humano. O autor defende ainda “a criação de um salário de sobrevivência humana para todos os bilhões de desamparados da Terra que possibilitasse a todos a dignidade humana como um dever ético exigido aos países ricos outrora colonizadores e que à base da exploração colonial conseguiram obter a acumulação primitiva que lhes possibilitou o salto para a modernidade e a industrialização”. Boff afirma que ao “conceder um salário de sobrevivência aos hoje pobres e colonizados de outrora seria um imperativo de justiça e não de caridade social”, afirma ainda que seriam necessárias algumas reorientações globais da economia mundial, mas, que isso é tecnicamente viável caso uma visão da dignidade humana para todos fosse se impondo e houvesse vontade política para tal. A obra apesar das poucas páginas é densa, e, caso fosse aqui esmiuçá-la resultaria numa monografia, pois, Leonardo disse muito com poucas palavras com a sua sensibilidade e intelectualidade ímpar sempre traz mais luz à humanidade que vive na escuridão de um mundo imagético, artificial e cada vez mais desprovido de espiritualidade. Leonardo Boff é no mundo atual em que o capitalismo global veste novas roupas para continuar a fazer aquilo que sempre o caracterizou (a apropriação de mais-valia da classe proletária e a exploração das riquezas naturais e do mercado de nações do Sul) uma leitura necessária e urgente! Sugestão de boa leitura: BOFF, Leonardo. Nova Era: A civilização planetária. São Paulo, Editora Ática: 1994.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

A monoleitura e o monossaber

Há alguns meses estávamos debatendo num grupo de estudos questões que afligem a Educação como um todo, ou seja, o Ensino Básico e também o Ensino Superior, na ocasião afirmei que os professores universitários se superespecializavam num determinado tema para o qual direcionavam seus estudos e pesquisas e também todo o tempo de que dispunham, dessa forma, se tornavam sabedores de tudo sobre pouco e ao mesmo tempo sabedores de pouco sobre tudo. E falei também que nós docentes do Ensino Básico por não termos as mesmas condições, pois temos nossa carga horária principalmente em classe e por termos dependendo da disciplina até 14 turmas com cerca de 40 alunos e a especificidade de nosso trabalho faz com que sejamos sabedores de um pouco sobre tudo e tudo de coisa nenhuma. Penso que o sistema educacional tal como enunciado inúmeras vezes por diversos educadores parece ser formado por gavetas e em cada uma delas uma disciplina e cada gaveta parece hermeticamente fechada para evitar o contágio que o contato com as demais poderia ocasionar, esse contágio tem nome chama-se interdisciplinaridade e que embora necessária muitas vezes acaba por não ocorrer tornando o processo Ensino-Aprendizagem fragmentado. É bom que se diga que a culpa não pode ser assumida unicamente pelo(a) professor(a) e nem mesmo pela escola, pois, existem vários fatores que fogem à alçada da mesma e que impedem ou dificultam o trabalho interdisciplinar, preocupadas com isso, as equipes pedagógicas das escolas visando amenizar tal falha incentivam o desenvolvimento de projetos interdisciplinares que são importantes, porém, pontuais. Penso que parte dos(as) professores(as) do Ensino Básico e também do Ensino Superior devido à necessidade que a profissão impõe se encastela e realiza uma monoleitura, ou seja, lê principalmente aquilo que faz parte da sua área de atuação ou de pesquisa e adquire assim um monossaber e embora dessa forma se possa conseguir grande reconhecimento pelo notório saber adquirido e construído e que habilita tal profissional a dar cursos e palestras “país adentro ou afora” o(a) priva de ter uma visão mais abrangente do mundo e da humanidade e isto acaba por prejudicar a formação política (aqui não falo no sentido partidário) de seus educandos. Não faço crítica à especialização do(a) professor(a), apenas, penso que ele(a) deve às vezes sair um pouco do seu “quadrado”, se inteirar das questões políticas, econômicas e sociais, ou seja, ser um especialista, mas também, um profissional politizado e com consciência de classe, digo isso, porque percebo que em qualquer dos níveis de ensino, básico ou superior a falta de politização de parcela dos(as) educadores(as), não raro, vejo profissionais agindo contra os interesses da classe e/ou atacando propostas de cunho social que deveriam defender, tais como as cotas nas Universidades para alunos(as) de escola pública, afrodescendentes, etc., e também os programas Bolsa-Família, a política de valorização do salário mínimo, etc.. Tais programas devem ser defendidos como políticas de Estado independentemente do grupo político no Poder. Como todos(as) sabem a Educação vive uma crise, porém, essa crise não se iniciou dentro do prédio escolar, mas veio do seu entorno, ou seja, da sociedade que a cerca e adentrou os muros escolares. Os fatores que afligem a escola e fogem ao controle dos(as) professores(as) é a desestruturação familiar, a miséria, a violência, a falta de sonhos, as culturas do prazer imediato, de não valorização do estudo e do conhecimento, e, principalmente, a da Pós-Modernidade que se torna visível em parcela dos(as) alunos(as), pais/mães, professores(as) e pessoas da sociedade. É muito fácil e cômodo culpar os(as) professores porque não ensinam direito ou os/as alunos(as) porque não aprendem, mas, como várias vezes discutimos entre nós docentes cada vez mais percebemos a impossibilidade de se ensinar, de trabalhar o conteúdo de forma eficiente, que, não é a eficiência empresarial, pois, educandos são seres humanos e neles não é possível colocar um selo de “qualidade total” e em se falando de qualidade total, qualidade para quê? Qualidade para quem? Uma formação de qualidade total para a Vida ou para o Mercado? Uma formação desenvolvida com o objetivo exclusivo de garantir o acesso à Universidade e/ou para garantir o acesso à cidadania colocando na sociedade uma pessoa esclarecida, crítica e atuante? Não há como formar o cidadão esclarecido, crítico e atuante sem o conhecimento científico que embasa tal agir, e, é por isto que trabalhamos também conteúdos que algumas pessoas consideram desnecessários e/ou refutáveis, pois, a escola é um lugar onde se tira vendas, não o contrário!