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sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Lá vem o textão!

       Há alguns anos, em uma solenidade, reencontrei um professor do Ensino Fundamental o qual muito estimo. Ele me parabenizou por meus artigos e sugeriu que se eu desejasse aumentar meu público leitor deveria adotar o padrão Twitter de 140 caracteres, pois, essa juventude não lê textos longos. Disse-lhe que não estava preocupado com a quantidade de leitores de meus artigos e que também não desejava escrever para quem tem preguiça de ler, pois, estes são os mesmos que têm preguiça de pensar, e sempre desejei que a leitura de meus artigos viesse acompanhada da reflexão. Também lhe disse que não escrevo para convencer ninguém a mudar de opinião, mas, para que as pessoas que compartilham do mesmo pensamento saibam que não estão sozinhas.
      Infelizmente, em nosso país, grande parte das pessoas não tem o hábito da leitura e não há nada mais indissociável da boa escrita que a leitura. Ler é uma forma de evoluir mentalmente desde que seguida da necessária reflexão. Nenhuma obra, nenhum autor deve ser tratado de forma dogmática. Certa vez assisti à palestra de um professor universitário especialista nas obras de Karl Marx e que afirmou: não há nada mais contrário ao pensamento de Karl Marx do que tratar sua obra de forma dogmática, ou seja, a leitura traz em seu bojo a necessária reflexão e contextualização face os tempos atuais, porém, sem perder de vista o que lhe é estruturante: o método. Umberto Eco (1932-2016), considerado em seu país natal, a Itália, como “o homem que sabia de tudo” disse que “[...] a Internet deu voz a uma legião de imbecis com o mesmo direito à fala que um ganhador do Prêmio Nobel, e, que promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade”. Na Internet é estarrecedor o nível raso de conhecimentos de grande parte das pessoas que se sentem portadoras da verdade embora façam uso do senso comum nos debates. Lembro-me de um aforismo que muitas vezes é atribuído a Abraham Lincoln, a Mark Twain ou ainda a Maurice Switzer e cuja autoria original permanece duvidosa, o conteúdo é o seguinte: “É melhor calar-se e deixar que as pessoas pensem que você é um idiota do que falar e acabar com a dúvida”! E algumas pessoas, não se calam, pois possuem a ilusão de terem o conhecimento muito embora passem ao largo de bibliotecas e livrarias, fato que remete a outro aforismo: “Quando você morre, você não sabe que está morto. Quem sofre são os outros. É a mesma coisa quando você é um idiota” (Ricky Gervais).

       Há muito observo na Internet, várias pessoas provocando debates através de frases e afirmações curtas embasadas no senso comum, denunciadoras do seu baixo nível de conhecimento, de sua desinformação, de sua alienação e enquanto aguardam a réplica de seu oponente não raras vezes digitam: “lá vem o textão”. Ora, escrever textos longos com profundidade, contextualização e argumentação coerentemente amparada no conhecimento científico desenvolvido por intelectuais que dedicaram suas vidas pesquisando por meio de regras estabelecidas pela ciência virou démodé? Outro fato surreal é que para muitas pessoas somente é conhecimento científico aquilo que for condizente com a sua visão de mundo. Para estas, toda pessoa que possui uma ideologia da qual discordam, não pode em hipótese alguma ser considerada inteligente ou culta. Ainda hoje me deparei com um médico que afirmou nunca ter ouvido falar de Noam Chomski que apóia Lula contra o processo de Lawfare do qual é vítima. Ao explicar a ele sobre quem é Noam Chomski e informando se tratar de um dos maiores intelectuais do mundo, ele voltou à carga e disse que não concordava em atribuir o conceito de intelectuais às pessoas de esquerda e de que éramos de mundos diferentes. E isso, é bastante comum: Fulana é muito inteligente! - Não! É petista! - Beltrano é muito culto! - Nada! É comunista! Como afirmei ao médico: “Desde os tempos de Platão simbolizados pela Alegoria da Caverna, há pessoas que buscam a luz e pessoas que amam viver na escuridão das cavernas e que inclusive se puderem, matam quem descobre a luz e ousa revelar a verdade”.

domingo, 14 de janeiro de 2018

Brasil: entre a apatia e a esquizofrenia

        Há alguns meses, foi divulgada na Internet uma frase supostamente atribuída a um engenheiro da Microsoft de que “o Brasil seria uma Ferrari governada por macacos”. Não consegui verificar ser verdadeira ou não. Mesmo que ela não seja de autoria do funcionário da empresa estadunidense, cabe uma análise. O Brasil tem a vocação obrigatória de ser uma potência. Temos um imenso território rico em recursos naturais, terras férteis, recursos hídricos, biodiversidade, ausência de guerras, e uma das maiores populações do planeta. Mas, segundo o autor da frase, o problema é os macacos (embora sabedor do sentimento de desprezo nutrido pelos anglo-saxônicos em relação aos latino-americanos por eles considerados inferiores, penso que tal afirmação não se deva a preconceito étnico e sim ao estarrecimento em observar como que um país com toda essa potencialidade não deslancha). Faz sentido, coloque um macaco no cockpit de uma Ferrari num grid de largada e esta não sairá do lugar, apesar de a Ferrari estar naturalmente destinada a ocupar um lugar no pódium.
O Brasil tem grande parcela de sua gente que parece ser esquizofrênica, uma doença mental crônica, cujo indivíduo por ela acometido, tem seu pensamento dissociado da realidade que o cerca. Dessa forma temos os pobres de direita, que apesar de viverem na miséria ou muito próxima dela, pensam, falam e votam como se ricos fossem, elegendo políticos e partidos que historicamente sempre pautaram as suas ações na perpetuação do apartheid social que separa pobres e ricos neste país. Aos pobres de direita parece lhes fazer bem a ilusão do pertencimento aos segmentos abastados, algo que efetivamente não corresponde à realidade. Dentre os pobres de direita, há o significativo grupo da classe média, a maior parte formada por trabalhadores assalariados, funcionários públicos e pequeno-burgueses. Ora, quem é trabalhador assalariado é pobre! Não importa quanto ganhe, pois, não é capitalista (não detém o Capital). E que dizer do funcionário público neoliberal? Esse primor de inteligência! Fez concurso público (isso é algo próprio de quem não tem Capital), depende de seu emprego numa repartição pública, mas, pensa como capitalista (que não é! Lembra? Não tem Capital!), fala como se capitalista fosse e vota em políticos e partidos que pretendem instalar o capitalismo puro, cujo Estado Mínimo não interfere na economia, não a regula, tudo privatiza ou terceiriza, e, não oferece sequer a educação e a saúde pública gratuita, pois entende que estas devem estar nas mãos da iniciativa privada, que não constituem direitos básicos do cidadão e nem obrigação do Estado. E muitos pobres de direita, aplaudem isso, mesmo sem ter condições de pagar por tais serviços! Seria falta de inteligência ou caso de esquizofrenia? Quanto aos pequeno-burgueses, Temer acaba de negar o Refis para a micro e a pequena empresa, apesar de ter distribuído perdões e isenções fiscais envolvendo trilhões de reais para petroleiras estrangeiras, bancos privados e grandes empresas capitalistas. Como sempre digo, a pequena burguesia quer ser rica, mas não é convidada para sentar-se à mesa da Casa Grande.
Jornalistas estrangeiros ficaram estupefatos com a passividade do povo brasileiro ante a destruição dos direitos trabalhistas, a entrega do pré-sal, a compra de parlamentares em troca de verbas ou cargos para fazer aprovar pautas danosas à sociedade e que jamais foram referendadas nas urnas. As instituições (podres) já não defendem a Constituição Federal que é a todo o momento, violentada. O Judiciário não cumpre seu papel e é partícipe da situação em que o país se encalacrou. No exterior, a repercussão acerca do Congresso Nacional é de que se trata de uma agremiação formada por grande parcela de criminosos, e infelizmente, isso é a realidade. A população permanece apática. Parte dos que apoiaram a ascensão do grupo corrupto que se encontra no Poder se calou. E parte continua a pensar esquizofrenicamente que a queda da espécie humana do paraíso foi por culpa do PT, Lula e Dilma. Em seu modo de pensar, antes não havia corrupção, nem inflação, nem pobreza, nem desigualdade social. São desonestos, doentes ou tele-guiados? Plim! Plim!

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Sobre fazer novo o ano novo!

                Todo final de ano se parece, as pessoas exaustas por um ano de muita labuta, divergem ao conceituar o ano que finda. Alguns comentam que o ano anterior foi muito bom e que esperam repetir a dose, outros desejam esquecer o ano que termina e apostam firmemente que o ano que se inicia será melhor. Chamou-me a atenção uma imagem do réveillon numa praia em que um menino negro sem camisa, com os pés na água, pois, provavelmente foi pular as sete ondas na passagem do ano, olha na direção do oceano com uma expressão preocupada (estaria ele olhando preocupadamente sobre o que as ondas do destino lhe trarão ou o oceano de preconceito e desigualdade no qual terá que navegar?), nesta imagem, ao fundo, pessoas brancas vestidas com a cor padrão da passagem do ano e de costas para o menino se abraçam (estariam elas a demonstrar seu caráter ao virar as costas, mesmo inconscientemente, para não ver algo que as tire de seu paraíso idílico?). A imagem diz tudo: o ano novo começou no calendário, mas, não nos corações e mentes das pessoas. Apesar do novo ano, o gari, mesmo tendo em vista sua grande importância social para a saúde e bem-estar da população, continuará sendo tratado por muitos como o “mais baixo na escala do trabalho” em conformidade com o pensamento de famoso apresentador de telejornal. Pobres continuarão sendo pessoas que “têm mesmo que trabalhar no dia de natal, pois, não estudaram” na opinião de um cliente abastado e daqueles que partilham de seu pensamento. Professores, apesar de seus imensos esforços em condições de trabalho cada vez mais precarizadas, e, em que pese sua extrema importância ante a crise civilizacional, continuarão a ser taxados de doutrinadores (que, no entanto, já não conseguem sequer fazer os educandos estudarem para as provas). E negros, serão sempre aqueles que inconvenientemente apertam a buzina dos automóveis na visão de outro apresentador de telejornal e daqueles que comungam de sua opinião.
            Há um texto genial de Roberto Pompeu de Toledo, geralmente atribuído de forma errônea a Carlos Drummond de Andrade do qual extraio um fragmento: “quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança fazendo-a funcionar no limite da exaustão. Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para frente vai ser diferente...”. A passagem de ano é uma celebração que Gramsci afirmava odiar, pois, entendia que esta se dava pelo signo do capitalismo, as pessoas celebravam porque seus antepassados celebraram. Ele não era contra as pessoas unirem-se em momentos festivos para celebrar o que fosse, mas, tal como Marx afirmava em relação à religião no século XIX, que a fé desprovida da luta, não muda o status societário, a passagem do ano, em si não mudava nada. Os opressores continuariam a ser opressores e os oprimidos continuariam oprimidos. Em seu ver, a não ser que a pessoa em seus propósitos resolvesse fazer de cada dia, um ano novo, e prestar contas consigo própria, porém, não em uma data fixa estabelecida pelo capitalismo, mas, a cada novo dia, em relação ao dia de ontem, o ano novo jamais ocorreria. Gramsci afirmava que não havia uma muralha que separasse o novo ano do que lhe antecedeu, pois, para a maioria, apesar do novo ano tudo continuaria como antes em virtude de seu imobilismo, de sua apatia em buscar fazer as mudanças ocorrerem ante as injustas situações postas.
            Para encerrar, cito um fragmento do artigo “Receita de Ano Novo” de Carlos Drummond de Andrade: “para ganhar um Ano Novo, que mereça este nome, você meu caro, tem de merecê-lo, têm de fazê-lo novo. Eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre”.
Afinal, fazer as coisas do mesmo modo e esperar um resultado diferente, não é mostra de persistência, mas de tolice! O ano de 2018 está dentro de você, cabe a você decidir se vai deixá-lo existir, ou se o aborta, e permanece em 2017, 2016, 1964, 1954, 1932...