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quinta-feira, 26 de julho de 2012

Sobre lobos e cordeiros

Vivemos uma época complexa, a revolução dos transportes deixou o mundo menor, mas a distância física entre as pessoas só fez aumentar, por sua vez, a revolução das telecomunicações tornou a informação acessível, porém, nunca entendemos tão pouco acerca do mundo. Essa dificuldade afeta até mesmo os líderes e intelectuais que já afirmam não dar conta de entendê-lo tendo em vista a celeridade de suas transformações. Se o rol das pessoas que entendem com clareza o que vem a ser a globalização e o neoliberalismo atual diz respeito à pequena parcela da sociedade, a coisa degringola de vez quando o assunto é o pós-modernismo predominante. O momento atual é de ruptura, uma crise civilizacional, em que as ideologias (conjunto de idéias, crenças e valores) que sustentam ou sustentaram o período da história humana conhecida como modernidade encontram-se em questionamento e mesmo sendo refutadas. É como alguns palestristas a quem assisti afirmaram categoricamente “é a negação da história”. Já não valem mais as ideologias, ou seja, os valores que sustentaram o mundo nos últimos séculos. O que reina é o caos, a destruição da ordem até aqui conhecida. E neste mundo complexo, em que as pessoas não sabem mais distinguir esquerda e direita na política, seja por alienação e também por dificuldade mesmo, pois, a forma de agir dos partidos políticos e suas estranhas alianças contribuem muito pouco para o entendimento por parte da sociedade. Há até mesmo pessoas que afirmam que os conceitos de esquerda e direita serem coisas ultrapassadas, que na prática isso não existe mais. Há algum tempo um líder de partido político declarou que o mesmo era “desideologizado” e se engana quem pensa que o político entrevistado era ingênuo, lógico, que a afirmação da desideologização do partido não tem sustentação científica, pois, não existe neutralidade, porém, as pessoas gostam da ilusão de um mundo “desideologizado”, de um partido “desideologizado”, do ensino “desideologizado”, sobre este último há até ONG para defendê-lo. Dessa forma, sendo a neutralidade impossível, as pessoas que a propõem estão longe de serem consideradas ingênuas, só me resta imaginá-las numa sala escura cheia de teias de aranhas, em frente a um caldeirão preparando a receita de como dominar as mentes inocentes que compram esse discurso fantasioso da neutralidade. A neutralidade é um discurso falso e devemos ter um pé atrás com quem não tem uma ideologia definida, pois não ter uma ideologia definida é a principal característica dos oportunistas, hoje eu digo isso e abraço fulano, amanhã digo o contrário e abraço o ciclano. Ouvi até que o sindicato que representa os trabalhadores da educação deveria ser “desideologizado” e que na sua diretoria não deveria haver pessoas ligadas a partidos políticos, ora quem é engajado na luta da classe trabalhadora, está fazendo a luta econômica no sindicato e a luta política no partido como o afirmou Lenin. Talvez estas pessoas pensem que o sindicato não deveria estar nas mãos de trabalhadores da educação, isso seria entregar os cordeiros para serem cuidados pelo lobo! Não obstante os defensores de uma vida “desideologizada” sou mais fã de Cazuza quando cantava “ideologia, quero uma para viver”.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Paraguai, um passo para trás

A palavra “impeachment” se tornou conhecida entre os brasileiros por ocasião do processo aberto contra o então presidente Fernando Collor de Mello e mais recentemente pelo processo contra o presidente paraguaio Lugo. No entanto, os dois processos são totalmente distintos. Collor eleito como “caçador de marajás” com o apoio fundamental de importantes empresas midiáticas teve seu governo envolvido num esquema de corrupção sem precedentes na história brasileira e teve acesso a um amplo direito de defesa através de um processo demorado assegurando desta forma a legitimidade do mesmo. O processo contra Collor contou com o apoio da sociedade brasileira, jovens conhecidos como “caras pintadas” saíram às ruas e exigiram a cassação de Collor, na CPI e na imprensa a todo o momento eram apresentadas novas provas da culpabilidade do então presidente, apesar disso, todos os ritos ou passos foram seguidos para que o processo seguisse seu curso e em seu desfecho culminasse com uma resposta para a sociedade baseada na justiça e que acabou por demonstrar ao mundo a maturidade da jovem democracia brasileira. O país saiu do processo de impeachment presidencial fortalecido, dando a todos a impressão de que o país havia consolidado a democracia. Infelizmente não é a mesma impressão que tenho com relação ao Paraguai, não é possível chamar de processo de impeachment o que lá ocorreu, com um processo relâmpago de menos de 48 horas e que não assegurou ampla defesa, sendo, portanto um arremedo de processo de impeachment, na verdade, um golpe. Para começar, houve oportunismo dos parlamentares daquele país, em sua quase totalidade oposicionistas e fortemente conservadores para derrubar o presidente Lugo, bastante conhecido por apoiar movimentos sociais. Na prática, o apoio do Presidente Lugo aos movimentos sociais foi a principal causa de sua derrubada do poder por um congresso que fez eco aos clamores dos latifundiários paraguaios e brasileiros inclusive, que não querem que um movimento pela reforma agrária prospere naquelas terras. Lembro-me de ter lido que “se apoiar movimentos sociais é motivo para um processo de impeachment, se deveria então fazer o mesmo com todo presidente que tivesse ligações com os banqueiros”. Penso que é lamentável o que ocorreu no Paraguai, um dos países mais pobres da América do Sul e que gostaríamos de ver avançando na qualidade de vida de seus cidadãos juntamente com todos os demais países latino-americanos. A impressão é a de que o Paraguai deu um passo para trás na sua caminhada no concerto das nações. O ocorrido no Paraguai e algum tempo atrás em Honduras mostra ser a democracia frágil na América Latina como o dizem os autores dos livros de Geografia. Devemos estar vigilantes para que a contaminação reacionária não ocorra por essas bandas de cá, assim, todo fantasma precisa ser urgentemente exorcizado! P.S. Como latino-americano lamento o ocorrido no Paraguai e me solidarizo com o povo paraguaio que tal como o povo brasileiro é melhor do que a média de seus representantes políticos.

A escrita como um campo de lutas – parte 2

O surgimento da escrita ocorreu provavelmente 4 mil anos antes de Cristo, diante da necessidade do homem em se comunicar e passar para as gerações seguintes o conhecimento acumulado. Foi um longo processo em que diferentes povos desenvolveram signos próprios para expressar graficamente aquilo que transmitiam oralmente e do qual muito se perdia com o tempo. Podemos dizer que da necessidade de democratizar o acesso ao conhecimento para as novas gerações os diferentes povos inventaram e aperfeiçoaram a escrita. Passados seis mil anos dos primeiros signos registrados para a história, na era do e-book, o livro de papel, o jornal, a revista ainda não são companheiros das horas vagas para boa parte da humanidade, parte por não ter acesso devido à situação de miséria extrema e parte por não ter o hábito e o gosto pela leitura. Sabemos que a leitura é uma questão cultural e que varia de país para país, de regiões dentro de cada país e de um lar para outro. Se quisermos ter filhos leitores, além do incentivo é bom que mostremos ser este um hábito nosso também. Muitas vezes ouvimos que a história é contada pelos vencedores e ainda que não existe uma história, mas várias histórias e que o historiador apenas narra a sua visão dos acontecimentos históricos que como sabemos está carregada da ideologia que lhe é própria. O fato de olharmos para os acontecimentos históricos e vermos neles uma possibilidade infinita de novas investigações e retirar do quadro mais uma camada de tinta para ver o que se esconde por baixo é algo que fascina a qualquer amante do conhecimento. A escrita é uma forma de poder e como tal os meios para divulgá-la não é acessível a todos, principalmente nos grandes meios de comunicação de massa, ou você reza a cartilha editorial ou está fora, penso que é uma pena isso, pois nada mais interessante do que ler e refletir sobre diferentes pontos de vista de pessoas ideologicamente contrárias para tomar um posicionamento balizado na comparação. Essa autocracia da escrita vai contra o direito democrático de acesso à informação de qualidade e infelizmente é a promoção da censura por quem mais defende a liberdade de expressão, digo isso, pois conheço pessoas que trabalharam em grandes empresas jornalísticas que vetavam seus artigos, por terem eles a identidade dos mesmos, ou seja, a ideologia. É, portanto a escrita um campo de lutas dominado pela elite econômica, assim, a classe trabalhadora muitas vezes não tem como divulgar seu pensamento e assim contribuir para a gestação de uma nova sociedade planetária que esperamos, seja justa, solidária e fraterna.