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segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

O sionismo e o apartheid na Terra Santa: do holocausto judeu ao holocausto palestino - parte VII

 

A ONU criou Israel como compensação ao povo judeu pelo genocídio sofrido ante aos alemães e os líderes sionistas praticam uma espécie de “indústria do holocausto” em benefício próprio e chamam de antissemita quem ousar criticar as ações violentas do Estado de Israel contra a população palestina que se tornaram rotina e para os quais os militares judeus são orientados a agir sem sentimentalismos e com a maior violência possível contra homens, mulheres e crianças o que já constitui um genocídio, desta vez, palestino.

Os líderes sionistas não almejam a paz e se tornaram genocidas, o sionismo tem a intenção clara de promover uma limpeza étnica sistemática, ou seja, impor o medo, torturando e matando sem piedade independentemente de idade ou sexo, destruindo plantações, casas, hospitais e escolas. A intenção é expulsar os palestinos de suas terras e não deixá-los voltar e os que permanecerem eliminar sistematicamente até que se atinja um limite máximo de 15% de população não judaica, ou seja, os judeus sionistas alegam que se defendem de atos de terrorismo, quando, são os invasores de terras alheias cujos donos (os palestinos) têm assegurado pelo direito internacional o recurso da autodefesa, portanto, não são atos de terrorismo, mas de defesa perante um país que age de forma imperialista colonizando território palestino.

O cientista político estadunidense Norman Gary Finkelstein afirma que o Holocausto é uma representação ideológica do holocausto nazista (o fato histórico real). Como a maioria das ideologias, ele tem conexão, embora tênue, com a realidade. O Holocausto não é uma arbitrariedade, mas uma construção coerente. Seus dogmas centrais sustentam interesses políticos e de classes. Na verdade, O Holocausto provou ser uma bomba ideológica. Em seus desdobramentos, um dos maiores poderes militares do mundo, com uma horrenda reputação em direitos humanos, projetou-se como um Estado “vítima”, da mesma forma que o mais bem sucedido agrupamento étnico dos Estados Unidos adquiriu o status de vítima. Dividendos consideráveis resultaram dessa falsa vitimização – em particular, imunidade à crítica, embora justificada. Os que usufruem dessa imunidade, eu poderia acrescentar não escaparam à típica corrupção moral que faz parte dela.

domingo, 17 de dezembro de 2023

O sionismo e o apartheid na Terra Santa: do holocausto judeu ao holocausto palestino - parte VI

 

        O holocausto judeu foi um tema central nas discussões da recém-criada Organização das Nações Unidas (ONU) e destas discussões surgiu a iniciativa da criação de um Estado judeu nas terras palestinas, assim ficou estabelecido que a Cisjordânia e a Faixa de Gaza pertenceriam aos palestinos e outra área seria para a criação do Estado de Israel, e, Jerusalém seria considerada uma cidade internacional sob a administração da ONU por ser considerada sagrada para cristãos, muçulmanos e judeus. Porém, antes mesmo da efetivação do Estado de Israel, e, logo após a criação do movimento sionista, os judeus passaram a tomar as terras dos palestinos por meio da violência, expulsando-os, com o apoio da Inglaterra, milhares de palestinos perderam suas terras e casas.

            No início do século XX, essa continuou sendo a realidade local, os judeus expulsando os palestinos de suas terras, apesar de estes ali residirem a muito tempo e de possuírem documentos de posse das áreas. A criação do Estado de Israel numa parte significativa das terras palestinas não aliviou a ganância sionista por mais terras. Em 1948, ocorre a Primeira Guerra Árabe-Israelense e Israel como seria frequente contaria sempre com o apoio dos Estados Unidos da América e se tornaria o vencedor de todos os confrontos subsequentes tais como a Guerra dos Seis Dias de 1967, a Guerra do Yom Kippur em 1973, e, também promoveria diversos massacres com o claro objetivo sionista de impor o medo à população palestina, expulsar os palestinos de suas terras e promover a criação de novos assentamentos de colonos judeus nestas terras.

            O Sionismo é um movimento que embora em sua propaganda original pregasse a convivência pacífica entre judeus e não judeus promove a discriminação étnica, os palestinos não têm os mesmos direitos que os judeus e a suposta igualdade de direitos não ocorre nem mesmo entre os judeus. O Sionismo pretendia a criação de um estado laico e democrático, no entanto, Israel vem cada vez mais dando espaço em suas fileiras políticas a lideranças fundamentalistas cujo extremismo torna o país cada vez mais um Estado Autocrático, e, isso representa menores possibilidades para a construção da paz na região.

sábado, 9 de dezembro de 2023

O sionismo e o apartheid na Terra Santa: do holocausto judeu ao holocausto palestino - parte V

 

        Acionado o gatilho da Primeira Guerra Mundial com o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando em Sarajevo na Bósnia-Herzegovina, o Império Otomano que dominava as terras da Palestina ficou ao lado da Alemanha e declarou o sionismo ilegal, isso somado às dificuldades da terra árida e a hostilidade da população árabe e turca fez refrearem momentaneamente as esperanças judaicas de ter a sua pátria.

            A Grã-Bretanha com vistas a obter o apoio militar dos árabes durante a campanha contra os otomanos, lhes garantiu a independência no futuro, porém, Em novembro de 1917, o Lorde Artur James Balfour, Ministro do Exterior Britânico, em carta para Lorde Rothschild, um dos patrocinadores da migração para Israel, garantiu textualmente: “O governo de Sua Majestade vê favoravelmente o estabelecimento de um lar nacional para o povo judeu na Palestina”. Essa declaração que ficou conhecida como Declaração Balfour, visava obter o apoio político e financeiro da comunidade judaica dos Estados Unidos ao esforço de Guerra aliado e foi recebida com grande regozijo pelos sionistas do mundo inteiro.

            Terminada a Primeira Guerra Mundial em 1918, houve uma reconfiguração espacial com profundas alterações nos mapas, independentemente disso, os judeus continuavam imigrando para a Palestina, mas, ainda constituíam pequena parcela da população local. Na década seguinte houve um aumento da imigração judaica por meio da aquisição junto aos proprietários árabes de terras palestinas e o aumento da população judaica não passou despercebido e fez surgir movimentos nacionalistas árabes que se opunham à colonização judaica e à possibilidade da instalação de um Estado Judeu na região.

             Na Segunda Guerra Mundial os nazistas perseguiram os judeus e cerca de seis milhões deles foram dizimados, embora após o fim dos conflitos, os líderes do Estado de Israel empreendessem todos os esforços possíveis na caçada aos genocidas nazistas que, levaram a cabo o maior genocídio da história da humanidade, o qual ficou conhecido como o holocausto judeu, ainda, durante a Segunda Guerra Mundial, os líderes sionistas mantiveram contatos com as lideranças nazistas e conseguiram levar em segurança para fora do país, especialmente para a Palestina, empresários ricos e personagens importantes da ciência e da cultura de origem judaica. Nessa ocasião, os sionistas viam nos nazistas e nas atrocidades que estes cometiam um importante aliado para pressionar a população judaica a emigrar para a Palestina, pois, sem uma forte motivação o Estado Judeu não se efetivaria.

 

domingo, 3 de dezembro de 2023

O sionismo e o apartheid na Terra Santa: do holocausto judeu ao holocausto palestino - parte IV

 

            O povo judeu é parte integrante da população de inúmeros países em diferentes continentes e,  a cada episódio de perseguição e preconceito por ele sofrido, reforçava a ideia de que estava chegando a hora do regresso à Terra de Israel, ou Sion, pondo fim a diáspora judaica.

            O movimento sionista teve no jornalista e pensador austríaco Theodor Herlz (1860-1904) seu criador, e, pretendia criar um Estado Nacional para os judeus em algum lugar do mundo, cogitando entre outros lugares, os Estados Unidos da América, a Argentina (Patagônia), e a Palestina, sendo que esta última sempre teve grande simpatia dos sionistas por razões históricas, voltar à Terra Prometida, terra à qual Moisés liderou o povo judeu após a libertação da escravidão no Egito. Em 1897, Herlz organizou uma conferência internacional de judeus que foi um enorme sucesso e deu origem à Organização Sionista Mundial. Herlz, agora encabeçava um movimento internacional para a criação da pátria judaica”.

            Os líderes sionistas no anseio de tornar realidade o Estado Judeu criaram um Fundo para a aquisição de terras na Palestina e os imigrantes judeus foram bem recebidos pelos palestinos, no entanto, entre a aquisição de terrenos para que judeus lá morassem e a formação de um Estado judeu havia uma grande distância e os sionistas tentavam convencer os judeus a se mudarem para aquela região contando com a resistência de grande parte da população judaica que, embora não estivessem em sua própria pátria, e, mesmo sofrendo discriminação por parte dos antissemitas, julgavam a vida na Alemanha, na Polônia, na Rússia, nos Estados Unidos, etc., mesmo assim, melhor do que a realidade que encontrariam na Palestina onde precisariam construir um país a partir do zero. Mesmo assim, aos poucos imigrantes judeus iam chegando à Palestina.

            Grande parte dessa imigração seria financiada pelo Barão Edmond de Rothschild, aborrecido com o antissemitismo da Rússia, terra na qual sua família se associara com a Royal Dutch que agora se chamava Royal Dutch-Shell. Os Rothschild haviam vendido sua parte no empreendimento petrolífero com os sócios holandeses.         

 

domingo, 26 de novembro de 2023

O sionismo e o apartheid na Terra Santa: do holocausto judeu ao holocausto palestino - parte III

 

A origem do povo judeu remonta a cerca de quatro mil anos, quando em meados da Idade do Bronze, grupos tribais seguiram para o Oeste e cruzaram o Rio Eufrates, entre eles havia um chefe de clã, Abrão e sua esposa Sara. A Bíblia explica a origem comum do povo árabe que tem em Ismael o seu patriarca, o qual seria filho de Abrão e sua serva Agar, e, o povo judeu, por sua vez, seria descendente de Isaac, filho de Abrão e de sua esposa Sara, sendo, portanto tais povos litigantes, meio-irmãos de sangue e oriundos da região do atual Iraque.

Canaã foi o destino migratório de tal povo e constituía, à época, uma encruzilhada que ligava a Ásia à África e à Europa, usada pelos exércitos em busca de glória e pelos comerciantes em busca de fortuna”. A Canaã bíblica é a antiga denominação da região posteriormente conhecida como Palestina e que incluía territórios atualmente do Estado de Israel, a Faixa de Gaza e a Cisjordânia (territórios palestinos ocupados por Israel), parte dos Estados da Jordânia, do Líbano e da Síria.

A tradição judaica registra que Abrahão e Sara, tiveram, como dissemos, um filho de nome Isaac, este, com sua esposa Rebeca, teve um filho denominado Jacob. Jacob teve doze filhos, cujas famílias se espalharam, tomando conta das tribos locais. A origem histórica das doze tribos judaicas, portanto, se refere à conquista por parte dos herdeiros de Jacob sobre os grupos locais que já habitavam a região.

 Desse período até o século II de nossa era, os judeus estiveram envolvidos em conflitos locais e na emigração de parte de sua população para outros países, devido às difíceis condições de vida no local. A região foi várias vezes conquistada por potências estrangeiras até que, no século II, os judeus foram expulsos da Judeia, migrando para vários países do mundo. No final da década de 1940, foi quando tiveram liberdade para voltar de vez para suas terras ancestrais. Os judeus foram um dos povos mais perseguidos do mundo. Esse sofrimento provavelmente contribuiu para mantê-los unidos.

 

domingo, 19 de novembro de 2023

O sionismo e o apartheid na Terra Santa: do holocausto judeu ao holocausto palestino - parte II

 

            A minha intenção com este artigo é trazer um pouco de luz sobre a questão Israel-palestina que, tal como o holocausto nazista, encontra-se encoberta pela névoa resultante dos filtros ideológicos impostos pela Grande Mídia e pela propaganda sionista efetivada principalmente após a ocupação dos territórios palestinos na Guerra de 1967. Tal propaganda, desde então, utiliza o martírio sofrido pelo povo judeu ante os algozes nazistas na segunda Guerra Mundial com o objetivo de justificar um regime de segregação étnica que traz em seu bojo violações da legislação internacional e dos direitos humanos, sendo que os palestinos expropriados de seu território, conforme fora estabelecido pelo processo de partilha da Organização das Nações Unidas (em fins de 1947) são discriminados ante o povo judeu.

             A ONU e a sociedade internacional, não podem tolerar mais a existência de um regime de apartheid e a prática do genocídio na região da Palestina histórica.

            A humanidade olha com atenção para o Oriente Médio, região que irriga de petróleo as veias da economia mundial fazendo o planeta pulsar, pois, detém cerca de 60% das reservas mundiais de petróleo. Essa região do planeta é considerada um barril de pólvora, pois, a diversidade étnica e religiosa, regimes autoritários e disputas territoriais já deram origem a inúmeras guerras e estão sempre no centro das atenções mundiais, pois, tudo o que acontece nessa região afeta o planeta. No entanto, nem sempre quem acendeu o pavio estava no local, pois, houve ocasiões em que interesses externos motivaram guerras locais, como na época da Guerra Fria, ocasião em que as superpotências, Estados Unidos da América (líder do bloco capitalista) apoiava um lado e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) apoiava o outro lado.

            A Palestina é uma terra milenar considerada sagrada para os cristãos, os muçulmanos e os judeus. Também é para a população mundial que, através de relatos registrados nos livros sagrados de suas religiões, dela tomaram e tomam conhecimento, independentemente do nível de estudo a que as pessoas tiveram acesso. É uma região em que o sangue é derramado há milhares de anos e, também um local em que a paz é efêmera, ou seja, quando ocorre dura pouco.

            Um acordo de paz definitivo é considerado por muitos estudiosos como algo impossível, pois, não há como selar a paz sem que ocorram cessões de ambos os lados, propiciando dessa forma, um diálogo verdadeiro na construção de uma convivência que se pretenda harmônica.

 

 

 

segunda-feira, 13 de novembro de 2023

O sionismo e o apartheid na Terra Santa: do holocausto judeu ao holocausto palestino - parte I

 

     Há alguns anos cursei uma pós-graduação em Geopolítica e Relações Internacionais. Meu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) foi sobre a eterna questão árabe-israelense. Sempre tive um gosto todo especial pela geopolítica, tanto que devoro tudo que encontro sobre tal área (reportagens, artigos científicos, documentários e entrevistas com especialistas impressas ou gravadas). Ainda quando cursava a faculdade de geografia, lembro de ter lido todos os livros da biblioteca da Unicentro que discorriam sobre o tema das guerras árabe-israelenses. Dessa forma, enquanto cursava as primeiras disciplinas do curso de especialização já tinha o tema de meu TCC definido. Aproveitei o tempo para ir adquirindo livros que versassem sobre a temática. O resultado foi que adquiri um grande número de livros, do qual não dei conta de ler tudo, dada a exiguidade do tempo e a necessidade imperiosa de escrever.

            Inicio dizendo que escrever sobre tal tema demandaria um espaço que não disponho neste artigo (que precisa ser breve), dessa forma optei por iniciar uma série de artigos sobre o tema que serão publicadas neste espaço semanalmente. Também quero dizer que o que aqui escrevo é fruto de minha ampla leitura (quando da escrita do TCC), o qual obrigatoriamente foi ditada pelo método científico, não sendo portanto, mera opinião embasada no senso comum ditado pela velha mídia ou por canais de youtubers nem sempre fieis à veracidade dos fatos. A questão israelo-palestina não é um Fla-Flu ou um Gre-Nal, do qual se possa simplesmente escolher um lado para torcer, embora muita gente o faça alienado pela ideologia que suas lideranças políticas ou religiosas lhes impõe. É necessário ver o que há além da cortina de fumaça que a mídia ocidental e as potências econômicas e militares hegemônicas utilizam para esconder a realidade daquilo que realmente ocorre na Terra Santa e quais são as intencionalidades ocultas.

P.S. O título dessa série que hoje se inicia é o título de meu Trabalho de Conclusão de Curso em Geopolítica e Relações Internacionais. O título em si, já adianta bastante do que tratarei neste espaço nas próximas publicações.

           

 

segunda-feira, 6 de novembro de 2023

Nova Era: a civilização planetária

 

Nos anos 1990, quando cursava a Universidade, tive contato com um pequeno livro azul, uma obra elucidativa sobre o mundo que estava sendo gestado e que veio a ser confirmado com o passar do tempo. O livro “Nova Era: A civilização Planetária” de Leonardo Boff (cujas várias obras mais tarde se tornariam minhas leituras frequentes) discorria sobre os novos tempos que a humanidade estava inaugurando sob a hegemonia do Capitalismo Neoliberal imposto ao mundo pelas lideranças globais (representantes dos países centrais e de poderosos grupos transnacionais) através do processo de mundialização ou globalização pela via do mercado, da política, da estratégia militar, da tecnociência, da comunicação e da espiritualidade.

            O autor também discorreu na obra sobre os grandiosos avanços científicos na área da Tecnologia, da Biotecnologia (Genoma Humano), da Informática e da Robótica e sobre a forma como tais avanços científicos estavam mudando o processo de produção industrial com uma produtividade crescente à custa da redução progressiva dos postos de trabalho. O autor não faz oposição na obra à mundialização em si, mas ao caminho percorrido para se chegar a ela, ou seja, a via do mercado concorrencial, cujo egocentrismo das nações mais poderosas não lhes permite enxergar a possibilidade de levar a humanidade para outro patamar, o da dignidade humana para todos independentemente da origem étnica ou de gênero.

            Para Boff, outra mundialização seria possível. A mundialização da solidariedade, da compaixão com os pobres e famintos, e, sobretudo de esforços das nações desenvolvidas para assegurar o desenvolvimento para toda a população mundial. Criar uma sociedade planetária que garantisse a todos a dignidade humana para que o básico a ninguém faltasse, ao contrário do que Leonardo já observava nos anos 1990 e hoje temos certeza absoluta, um mundo de exclusão sempre crescente em que apenas 85 pessoas são donas de 1% da riqueza global (uma fatia equivalente à que caberia para uma população de setenta milhões de habitantes caso a divisão da riqueza fosse equânime).

            No mundo que temos hoje, a fatia que cabe à parcela que forma os 1% mais ricos da humanidade equivale a 50% de toda a riqueza global e na outra ponta temos cerca de um bilhão de pessoas provando a fome, a miséria, o analfabetismo, etc. como vítimas do egocentrismo humano levada a cabo pelas principais lideranças políticas e empresariais globais, pois, como o autor afirmou na obra “quem não interessa ao mercado, não existe”. Uma parte interessantíssima da obra é quando Leonardo relata a injustiça que o processo de informatização/robotização está fazendo ao aumentar os lucros do patrão e diminuir os postos de trabalho, e, que em seu ver deveria ser uma oportunidade de reduzir a jornada de trabalho em 50% com a manutenção de pelo menos 75% do antigo salário e dos postos de trabalho, ou ainda, a criação de um salário tecnológico (participação nos lucros da empresa com alta utilização de tecnologia no processo produtivo) que seria recolhido pelo Estado e repassado às pessoas que perderam seus postos de trabalho em virtude do avanço tecnológico que dispensou o trabalho humano.

            O autor defende ainda “a criação de um salário de sobrevivência humana para todos os bilhões de desamparados da Terra e, que possibilitasse a todos, a dignidade humana como um dever ético exigido aos países ricos outrora colonizadores e que à base da exploração colonial conseguiram obter a acumulação primitiva que lhes possibilitou o salto para a modernidade e a industrialização”. Boff afirma que ao “conceder um salário de sobrevivência aos hoje pobres e colonizados de outrora seria um imperativo de justiça e não de caridade social”, afirma ainda que seriam necessárias algumas reorientações globais da economia mundial, mas, que isso é tecnicamente viável, caso uma visão da dignidade humana para todos fosse se impondo e houvesse vontade política para tal.

             A obra apesar das poucas páginas é densa, e, caso fosse aqui esmiuçá-la resultaria numa monografia, pois, Leonardo disse muito com poucas palavras, com sua sensibilidade e intelectualidade ímpar sempre traz mais luz à humanidade que vive na escuridão de um mundo imagético, artificial e cada vez mais desprovido de espiritualidade. Leonardo Boff é no mundo atual, em que o capitalismo global veste novas roupas para continuar a fazer aquilo que sempre o caracterizou (a apropriação de mais-valia da classe proletária e a exploração das riquezas naturais e do mercado de nações do Sul) uma leitura necessária e urgente!

Sugestão de boa leitura:

 Título: Nova Era: a civilização planetária.

Autor: Leonardo Boff.

Editora:  Ática: 1994, 87 p.

domingo, 22 de outubro de 2023

Resenhar é viver - Parte III

 

Rosinha Futebol Clube

 

            Quando piás, eu e meus amigos (com os quais compartilhava a "fome de bola") resolvemos montar um time de futebol. Juntamos dinheiro contado (éramos muito pobres) para comprar as camisas. Nas lojas da cidade só encontramos camisas brancas em número suficiente, ocorre que times com camisas brancas era o que mais havia, o que se constituía um problema. Um de nossos amigos veio com a solução, havia falado com a mãe sobre o problema e ela sugeriu comprar as camisas brancas e tingi-las. Resolvido o problema, compramos as camisas e as entregamos para a mãe de nosso amigo que se prontificou em fazer o tingimento destas. Entregamos também dinheiro para que comprasse as tintas para tingimento e pedimos a ela que escolhesse uma "cor bem bonita". Dias depois fomos buscar as camisas, ocasião em que alguns caíram na risada, outros por sua vez, ficaram muito bravos. A prestativa mãe escolheu a cor mais bonita dentre as tintas que havia e, em seu ver esta era a cor de rosa. Como a febre por jogar futebol era grande, vestimos as camisas e ficamos muito populares, nem tanto por nosso talento nas quatro linhas, mas, pelo nosso belíssimo uniforme, o que nos rendeu o apelido de Rosinha Futebol Clube! Até hoje rio dessa passagem!

 

O sermão que ouvi na sala do diretor

 

            Cursei o Ensino de 2º Grau (atual Ensino Médio) no Colégio Estadual Gildo Aloísio Schuck em Laranjeiras do Sul. Trabalhava em uma loja de peças automotivas durante o dia e frequentava o curso Técnico em Contabilidade à noite. Era estudioso, porém muito quieto. Evitava me pronunciar na sala de aula, mesmo quando sabia as respostas aos questionamentos que os professores dirigiam à turma. Em certa ocasião, alguns colegas no lado direito da sala conversavam, eu sempre me postei à esquerda, na política, inclusive (risos). A professora explicava a matéria e interagia com algumas colegas que sentavam nas carteiras próximas à mesa dela. Eu mantinha-me quieto, prestava atenção à aula, mas também observava a algazarra dos colegas.

            Um dos colegas que participavam da algazarra, resolveu interessar-se pela aula e perguntou à mestra algo que não havia entendido. A professora respondeu que não ia explicar novamente, pois ele  não estava prestando atenção na aula, uma vez que estava no grupo da bagunça. O colega levantou da carteira e, em voz ríspida, disse que ela tinha a obrigação de explicar novamente, pois era paga para isso e, ele como aluno, tinha o direito de ter sua dúvida sanada. A mestra saiu da sala chorando e  não voltou à sala. Alguns minutos depois, o inspetor de alunos me chamou pelo nome e sobrenome. Como naqueles dias, minha mãe andava doente, temi por alguma notícia ruim.

            Perguntei de que se tratava, o inspetor disse que o diretor queria falar comigo. Minha angústia aumentou e, só pensava em minha mãe. Entrei na sala do diretor (não o conhecia pessoalmente), ele tinha sido nomeado interventor no colégio pela Secretaria Estadual de Educação e veio de Curitiba com a missão de colocar ordem no colégio. Problemas muito graves haviam ocorrido naquele tempo. Pedi licença e ele mandou-me sentar. Perguntei do que se tratava e ele disse: "cala a boca e espera" enquanto escrevia algo em um livro-ata (livro negro). Como ele não falou nada de pronto, imaginei que nada tinha a ver com minha mãe, questionei-o novamente sobre o que se tratava e ele disse: "cala a boca e espera eu terminar aqui".

            Passados alguns minutos, ele começou a falar: "então você é o Osnélio Vailati, que é apenas aluno e pensa que é professor...", eu tentei argumentar e ele disse: Cala a boca e escuta! Ouvi incontáveis minutos de sermão (em tom ríspido), não sei dizer quantos, mas, para mim, pareceu meia hora. Até que ele disse: "agora assina aqui, está suspenso por três dias". Foi quando pude falar: "Mas, não fui eu...", e ele perguntou: "você não é Osnélio Vailati?" Respondi: "Sou! Mas não fui eu...foi um colega"! Quem foi? Respondi que não ia contar, mas, que poderia trazer a professora para confirmar que não era eu. O diretor mandou chamar a professora, ela chegou à sala da direção e disse: Nãããooo! Não é eleeeee! O diretor (visivelmente irritado) me liberou (sem pedir desculpas) enquanto eu voltava para a sala todo molhado (da mijada homérica e indevida que recebi), encontrei a professora, o inspetor de alunos e o colega que certamente ouviria o sermão que ele já havia ensaiado comigo.

            Na aula seguinte, a professora me pediu desculpas, o diretor jamais! À época, fiquei chateado! Paguei por um crime que não cometi! Superado o trauma, conto rindo para as pessoas que se o livro-ata não foi extraviado ou incinerado, deve ter uma ata não assinada contra mim, provavelmente com a afirmação: "Nula" ou "Sem efeito"!


sábado, 7 de outubro de 2023

Resenhar é viver - Parte II

 

Piá do Diabo!

 

            Em minha infância, grande parte das ruas de Laranjeiras do Sul, eram ainda sem pavimentação, isso não era nenhum impedimento para as nossas peripécias em carrinhos de rolimã. Um problema era o travamento dos rolamentos que se enchiam de terra. Visando solucionar tal problema, construíamos em nossos carrinho um compartimento atrás do assento para levar um litro de água, com o qual destravávamos os mesmos. Naquela época, não havia tanto automóveis como hoje e, ficávamos nas ruas praticamente o tempo todo em que não estávamos na escola. Isso me leva a pensar que naquela época não havia tantos perigos ou os nossos pais eram mais despreocupados que os atuais.

            Um amigo era filho de um torneiro mecânico muito conhecido na sociedade laranjeirense. Seu pai resolveu fazer um carrinho para ele, o que fez com grande esmero. Fez o carrinho com chassi de barras de metal e pneus maciços de carrinho de mão, aqueles utilizados pelos pedreiros. Colocou nele um banco de plástico rígido, um volante esportivo de carro e pintou toda a estrutura do carrinho. O carrinho não contava com um sistema de freios, dessa forma colocávamos nossos pés (devidamente calçados) com Congas ou Kichutes nos pneus dianteiros para reduzir a velocidade. O carrinho saiu com um erro de projeto, pois, ao esterçar para a direita, o carrinho ia para a esquerda e vice-versa. O carrinho também ficou um tanto pesado, ao menos, para a idade em que estávamos. Escolhíamos ruas bastante íngremes para brincar, mas, havia um problema, descer em grande velocidade era prazeroso, mas carregar o carrinho até o alto da rua era um sacrifício. 

            Combinamos que quem iria descer, levava o carrinho até em cima. Uma vez na parte mais alta da rua, olho, nenhum carro, nenhuma pessoa e solto o carrinho que pega cada vez mais velocidade. Quando chego no terço final do trajeto, eis que cinco mulheres que suponho, eram evangélicas, pois, estavam todas de saias, cabelos compridos e carregando bíblias, saíram da rua lateral e entraram na rua em que eu descia à grande velocidade. Elas ocupavam praticamente a rua toda, deixando um pequeno espaço do lado esquerdo. Foi tudo tão rápido, que nem pensei em tentar frear com os pés, acho que nem conseguiria. Eu era menino, mas, já era dotado do reflexo de um futuro campeão das pistas de fórmula 1, e, como tal,  estercei com toda a rapidez o volante para o lado esquerdo da rua (que estava livre) esquecendo-me que devia fazer o inverso. A manobra me levou para cima das senhoras e, só não foi strike porque elas pularam em meio aos gritos. Eu, após passar por elas  consertei a direção, trazendo o carrinho de volta para o centro da rua, ao mesmo tempo em que ouvi impropérios contra mim. Dentre outros xingamentos, ouvi um com voz tonitruante"Piá do Diabo".  Penso que com os xingamentos, foi para elas de pouca valia o culto!

P.S. O pai do meu amigo, após tomar conhecimento do incidente, recolheu o carrinho (no mesmo dia) e, somente permitiu que brincássemos com ele, após fazer a correção do problema!

 

domingo, 1 de outubro de 2023

Resenhar é viver

 

        Fora dos muros que cercam os prédios escolares e universitários, resenhar e ouvir resenhas é viver. Não se pode dizer o mesmo no espaço entre tais muros, pois, receber a incumbência de fazer uma resenha é algo que todo estudante gostaria de não ter. "Resenha é um gênero textual que traz levantamentos de alguma obra (livro, filme, etc.) sob o ponto de vista de um leitor, podendo apresentar um viés crítico ou não"¹. Há regras para a elaboração de uma resenha, mas não entrarei nesta seara.

            Este escriba, costuma trazer neste espaço, resenhas de obras literárias. Sei que as pessoas não afeitas à leitura de livros, não costumam deitar seus olhos nesta coluna. Também publico artigos de opinião política, econômica e social, os quais também passam ao largo do interesse de muitas pessoas. Escrevo para um público cada vez mais restrito, que, em pleno século XXI, ainda ousa ler, se informar, enfim, refletir.

            Há alguns anos, encontrei um professor dos tempos do Ensino Fundamental - séries finais (1º Grau), que afirmou gostar de meus artigos, mas, fez uma ressalva, disse que a juventude não lê artigos longos e que eu deveria escrever no padrão Tweeter (140 caracteres). Disse ao professor que não era para esse tipo de pessoa que eu escrevia, pois, meus artigos demandam espaço para a fundamentação e reflexão, algo não possível em artigos curtos, e que tal leitor não seria do tipo reflexivo que é para quem escrevo. No dia em que tal leitor não existir mais, aposento a "caneta".

            Há ocasiões, e não são poucas, em que buscamos acrescentar mais leveza aos nossos dias, isso é compreensível ante a aridez das relações humanas, seja no trabalho ou no círculo social que frequentamos. Essa é a proposta desse artigo. A definição de resenha aqui adotada passa longe dos muros das instituições escolares e universitárias, ou seja, é aquela de caráter informal e que costuma ser adotada por jogadores de futebol, jovens da periferia, ou ainda, nas rodas de chimarrão ou nos grupos de churrasco.

            Lembro que, há alguns anos, alertado por meus médicos, sobre a necessidade de cuidar da saúde, resolvi começar treinos em uma academia de musculação. Nestes locais, é muito comum encontrar estudantes para os quais lecionamos. Em certa ocasião, ainda nos meus primeiros dias de treinos, encontrei dois estudantes do terceiro ano do Ensino Médio que passaram a observar o meu treino. Eu estava fazendo um percurso aleatório, não havia uma ordem pré-determinada para a escolha dos equipamentos. Dessa forma, eu ia num equipamento e colocava uma carga (peso) condizente com a minha condição de iniciante.

            Os dois estudantes, logo em seguida, pegavam o mesmo equipamento e colocavam a carga (peso) dobrada e riam muito. A cada equipamento que escolhia, eles vinham e faziam troça. Não me irritei e nem me expliquei quanto ao fato de ser iniciante na atividade. Também não os repreendi. Mas, pensei que deveria dar troco. Fui para a casa e, verifiquei que no dia seguinte teria aula com a turma deles. No Ensino Fundamental e Médio, nós professores trabalhamos com o conhecimento básico, muito aquém de nossa capacidade e formação.

            Preparei a aula deles (como se estivesse lecionando para estudantes universitários) de forma fundamentada, referenciada e evitei substituir as palavras "difíceis" (na verdade, abusei delas) por outras de uso comum na faixa etária/série deles. Lecionei a aula que, em meu ver, foi maravilhosa, no nível que gostaria de sempre trabalhar, pois me trouxe prazer ao mesmo tempo que me desafiou. No entanto, como professores da educação básica, nosso esforço constante deve ser na inteligibilidade, fazer com que o estudante do nível/etapa em que se encontra, compreender o conhecimento científico. Algo que na ocasião, não fiz, pois passei a régua pelo alto. Na hora do intervalo, comentei com alguns professores que havia dado uma aula padrão universitária, para mostrar aos estudantes que se "eles malhavam os músculos, eu malhava o cérebro". Os professores riram, mas, um dentre eles (entre risos) disse: eles não entenderam a lição (revide) que eu quis dar e também não entenderam nada da aula! (risos). Penso que ele tem razão!

Referência:

1. Brasil Escola. Disponível em https://brasilescola.uol.com.br/redacao/a-resenhauma-forma-recriacao-textual.htm - acesso em 26 de setembro de 2023.

terça-feira, 26 de setembro de 2023

A monoleitura e o monossaber

 

        

            Há alguns meses estávamos debatendo num grupo de estudos questões que afligem a Educação como um todo, ou seja, o Ensino Básico e também o Ensino Superior, na ocasião afirmei que os professores universitários se superespecializavam num determinado tema para o qual direcionavam seus estudos e pesquisas e também todo o tempo de que dispunham, dessa forma, se tornavam sabedores de tudo sobre pouco e ao mesmo tempo sabedores de pouco sobre tudo. E falei também que nós docentes do Ensino Básico por não termos as mesmas condições, pois temos nossa carga horária principalmente em classe e por termos dependendo da disciplina até 15 turmas com cerca de 40 alunos cada e a especificidade de nosso trabalho faz com que sejamos sabedores de um pouco sobre tudo e tudo de coisa nenhuma.

            Penso que o sistema educacional, tal como enunciado inúmeras vezes por diversos educadores, parece ser formado por gavetas e, em cada uma delas uma disciplina. Cada gaveta parece hermeticamente fechada para evitar o contágio que o contato com as demais poderia ocasionar. Esse contágio tem nome chama-se interdisciplinaridade e que embora necessária, muitas vezes acaba por não ocorrer, tornando o processo Ensino-Aprendizagem fragmentado.

            É bom que se diga que a culpa não pode ser assumida unicamente pelo(a) professor(a) e, nem mesmo pela escola, pois, existem vários fatores que fogem à alçada da mesma e que impedem ou dificultam o trabalho interdisciplinar, preocupadas com isso, as equipes pedagógicas das escolas, visando amenizar tal falha, incentivam o desenvolvimento de projetos interdisciplinares, que são importantes, porém, pontuais.

            Penso que parte dos(as) professores(as) do Ensino Básico e também do Ensino Superior, devido à necessidade que a profissão impõe, se encastela e realiza uma monoleitura, ou seja, lê principalmente aquilo que faz parte da sua área de atuação ou de pesquisa e adquire assim um monossaber. Embora dessa forma se possa conseguir grande reconhecimento pelo notório saber adquirido e construído, o qual habilita tal profissional a dar cursos e palestras “país adentro ou afora”, acaba por privá-lo de possuir uma visão mais abrangente do mundo e da humanidade. Isto acaba por prejudicar a formação política (aqui não falo no sentido partidário) de seus educandos.

            Não faço crítica à especialização do(a) professor(a), apenas, penso que ele(a) deve às vezes sair um pouco do seu “quadrado”, se inteirar das questões políticas, econômicas e sociais, ou seja, ser um especialista, mas também, um profissional politizado e com consciência de classe, digo isso, porque percebo que em qualquer dos níveis de ensino, básico ou superior a falta de politização de parcela dos(as) educadores(as). Não raro, vejo profissionais agindo contra os interesses da classe e/ou atacando propostas de cunho social que deveriam defender, tais como as cotas nas universidades para alunos(as) de escola pública, afrodescendentes, etc., e também os programas de transferência de renda direta como o Bolsa-Família, a política de valorização do salário mínimo, etc.. Tais programas devem ser defendidos como políticas de Estado independentemente do grupo político no Poder.

            Como todos(as) sabem, a Educação vive uma crise, porém, essa crise não se iniciou dentro do prédio escolar, mas veio do seu entorno, ou seja, da sociedade que a cerca adentrando os muros escolares. Os fatores que afligem a escola e fogem ao controle dos(as) professores(as) é a desestruturação familiar, a miséria, a violência, a falta de sonhos, as culturas do prazer imediato, de não valorização do estudo e do conhecimento, e, principalmente, a da Pós-Modernidade, que se torna visível em parcela dos(as) alunos(as), pais/mães, professores(as) e pessoas da sociedade.

            É muito fácil e cômodo culpar os(as) professores, porque não ensinam direito ou os/as alunos(as) porque não aprendem, mas, como várias vezes discutimos entre nós docentes, cada vez mais percebemos a impossibilidade de se ensinar, de trabalhar o conteúdo de forma eficiente, que, não é a eficiência empresarial, pois, educandos são seres humanos e neles não é possível colocar um selo de “qualidade total” e, em se falando de qualidade total, qualidade para quê? Qualidade para quem? Uma formação de qualidade total para a Vida ou para o Mercado?

            Uma formação integral e humana é necessária, que prepare para a vida, para o ingresso na universidade e, consequentemente forme para a cidadania. O estudante formado deve ser esclarecido, crítico e atuante contribuindo para tornar melhor a sociedade em que vive. Isso somente é possível por meio da assimilação do conhecimento científico que embasa tal agir, e, é por isto que trabalhamos também conteúdos que algumas pessoas consideram desnecessários e/ou refutáveis, pois, a escola é um lugar onde se tira vendas, não o contrário!

 

sábado, 16 de setembro de 2023

Diana: sua verdadeira história


 

Uma de minhas lembranças do tempo de criança é o fato de ter assistido pela TV (ao vivo), a transmissão do casamento da Princesa Diana com o Príncipe Charles. Lembro que ficamos admirados com a grandiosidade do evento que, segundo estimativas teria sido assistido por cerca de 750 milhões de pessoas ao redor do planeta. Eu, minha família e a quase totalidade dos espectadores do planeta, não podíamos imaginar os ruidosos bastidores desse romance e, levados pela beleza da celebração e de Lady Dy, que, era então alçada ao título de Princesa de Gales, acreditamos que o casal estava selando uma união duradoura e que um dia os veríamos desempenhando os papeis para os quais estavam destinados no trono da Inglaterra. No entanto, como todos sabem, nos contos, a princesa prova do veneno e dorme eternamente, porém, é acordada, Diana, em vida, provou o veneno, mas, jamais acordou.

            A ideia desse artigo é oriunda do fato de haver assistido a série "The Crown" da Netflix e em dado episódio, tomar conhecimento do livro "Diana: sua verdadeira história" do jornalista e escritor britânico Andrew Morton (1953) que abalou as estruturas da monarquia inglesa. Curioso, baixei o livro em formato digital no meu e-reader para tomar conhecimento da famosa obra que tanto gerou polêmica no ano de 1993. Concluída a leitura, penso que a necessidade de uma reflexão acerca do ser humano Diana Frances Spencer e das demais personagens envolvidas na trágica história, não pode ser feita sob o signo da emoção. Também, o distanciamento acerca de nosso posicionamento crítico ao papel historicamente representado pelo Império Inglês e de sua monarquia à luz do século XXI, se faz preciso. De qualquer forma, resultaria algo grande demais para o objetivo aqui pretendido, é necessário simplificar.

            Diana Frances Spencer (1961-1997) foi uma aristocrata e filantropa nascida no Reino Unido. Diana teve sua infância marcada pela separação dos pais, algo que impactou em sua vida. Tendo ficado (juntamente com seus irmãos) sob a guarda de seu pai Conde John Spencer após disputa judicial entre o casal. Tanto sua mãe, como seu pai contraíram novos matrimônios (algo que não agradou os irmãos Spencer). Diana, nunca foi brilhante nos estudos, tal papel era desempenhado por seu irmão, Charles. No entanto, Diana frequentou boas escolas e, apesar de ser filha de uma família abastada, trabalhou como faxineira e professora de jardim de infância. A questão envolvida é cultural, entre os ingleses, não há nada de errado ou reprovável em alguém nascido de bom berço, exercer um trabalho humilde. O trabalho, em si, é para eles dignificante, algo que não condiz com o imaginário coletivo brasileiro, cuja mentalidade colonial e escravocrata vê em tal fato uma humilhação desnecessária. Diana não via assim, adorava crianças e gostava muito de fazer faxina.

            A obra, mostra uma Diana apaixonada, mas, que percebe a existência de uma sombra naquele relacionamento, Camila Parker Bowles. Diana, às vésperas do casamento, sendo tratada com descaso pelo Príncipe, que vê no casamento o cumprimento de seu papel na linha sucessória, mas, cujo amor era devotado a uma mulher casada, tenta sem sucesso argumentar quanto a necessidade de cancelar aquele casamento. É convencida pelo Príncipe que com o casamento, o passado ficará para trás. Não ficou. Diana, nunca teve apoio e o carinho que desejava da família real. De Charles, nunca teve o amor e o companheirismo que esperava. Diana beijou o príncipe e, ele num passe de mágica se transformou num sapo ao longo de todo o casamento. Os dias se passaram e o casal perfeito era algo do imaginário popular alimentado por belas fotos e aparições em eventos públicos programadas para simular uma harmonia inexistente entre o casal.

            Diana conseguia sorrir perante as câmeras, apesar de estar com sua vida e emocional destroçados com as informações que coletava quanto a continuidade do relacionamento de Charles com Camila. Diana dedicava-se aos filhos e à filantropia. Fazia aparições e arrecadava recursos para entidade filantrópicas que apoiava. Ia a hospitais e abraçava os doentes, conversava com eles e o fazia sem a intenção de ganhar publicidade, pois, não chamava os repórteres. Na verdade, tinha dificuldades com os jornalistas, pois, não lhe davam o direito a privacidade. Muitas reportagens ácidas foram feitas quanto à princesa, especialmente quando se divorciou e deixou de ter a proteção da família real. A perseguição dos paparazzi ao carro (dirigido em alta velocidade por um motorista embriagado)  em que estava com seu namorado, o milionário Dodi Al-Fayed resultou num trágico acidente que vitimou o casal e o motorista.

            Em seu funeral, seu irmão, o Conde Charles disse que Diana não precisava do título de Princesa (que lhe foi retirado pela família real com a separação) e nem ser tomada como uma santa, ela brilhava por si mesma. No Palácio de Kensington, onde morava, junto à cerca, quantidades colossais de flores e mensagens foram depositadas. Uma dessas mensagens dizia: "Não morre aquela que estará eternamente em nossos corações". A popularidade de Diana, sempre incomodou a família real, especialmente o príncipe Charles.

            "Diana, a princesa de Gales escreveu poesia em nossas almas. E nos deixou maravilhados" (Andrew Morton).

Sugestão de boa leitura:

Título: Diana: sua verdadeira história.

Autor: Andrew Morton.

Editora: Best Seller, 2013, 350 p.

domingo, 10 de setembro de 2023

Brasil: um país do futuro


O leitor, jovem a mais tempo, certamente conhece a frase que dá título a este artigo, afinal, desde nossa mais tenra infância, ouvimos que o Brasil é o país do futuro. Os mais jovens, a conhecem também, porém, munida de um complemento: Brasil: o país do futuro... "que nunca chega". Essa frase que virou quase que um sobrenome do Brasil, foi cunhada pelo escritor, romancista, poeta, dramaturgo, jornalista e biógrafo austríaco de origem judaica Stefan Zweig (1881-1942). (Wikipedia)

            Stefan Zweig foi um renomado escritor de classe internacional, sendo em sua época, aquele cujas obras eram as mais publicadas e traduzidas e, como tal, viajava o mundo dando palestras e lançando seus livros. A paixão que tinha pela literatura e seu hábito cosmopolita tornavam seu trabalho mais fácil. Passava longos tempos fora de casa e aprendia muito com cada nova cultura que conhecia. Esteve na América do Sul por três vezes, sendo que em 1936, quando estava a caminho de Buenos Aires, fez uma visita ao Brasil e foi recebido pelo então presidente Getúlio Vargas. Em 1941, ele e sua esposa Charlotte resolveram se instalar no Brasil para se manterem distantes do palco da guerra que consumia a Europa que tanto amava. Stefan Zweig havia prometido que escreveria um livro sobre o Brasil e anunciou que sua vinda ao país, tinha também esse propósito.

            Ao lermos a obra "Brasil: um país do futuro", nos questionamos se ela é o resultado de uma visão superficial de um país que nada tinha de paraíso ou modelo para o mundo no que tange às relações sociais ou tentativa de agradar o presidente Getúlio Vargas, país no qual ele estava se exilando e buscando conquistar o visto de residência. Pode-se alegar que Zweig era grande demais para escrever um livro meramente propagandístico para o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) da ditadura Vargas (1930-1945), contudo, há registros de viagens feitas pelo escritor pelo país e que foram pagas pelo governo federal. No entanto, há cópias dos contratos que fez com as editoras para a venda dos direitos de sua obra, na qual foi adequadamente remunerado. Ao ler temos a impressão que em alguns momentos ele passa pano para a ditadura brasileira quando a compara com aquilo que ocorria na Europa, mas, obviamente o grau de ódio racial e violência no velho continente era incomparável.

            É importante lembrar que o autor teve grande parte de sua vida atribulada pelos conflitos que varriam a Europa, sendo a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e Segunda Guerra Mundial (1939-1945), sendo que esta última foi o motivo que o levou a suicidar-se juntamente com sua esposa em Petrópolis no ano de 1942, seis dias após submarinos alemães atacarem e afundarem navios brasileiros em nossa costa, como se constata no trecho de sua nota de despedida: "Deixo saudações a todos os meus amigos: talvez vivam para ver nascer o sol depois desta longa noite. Eu, mais impaciente, vou embora antes deles". Zweig, ao vir para o Brasil, já se encontrava deprimido, era um crítico do materialismo estadunidense, havia se decepcionado com a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e estava horrorizado com o terror racial nazista. Tinha no Brasil e na América do Sul, a sua esperança de um novo amanhã, do nascer de uma nova civilização.

            A desesperança de Stefan Zweig, com a Europa, na qual a guerra vitimara muitos de seus notórios amigos (intelectuais, literatos, etc.), talvez tenha levado o autor a ter uma esperança no Brasil que beirava à utopia. Zweig projetou mentalmente um Brasil em que as favelas não mais existiriam, pois a miséria seria combatida e, pensou que a miscigenação de nossa sociedade tinha condições de impedir o avanço do ódio racial que viu se agigantar na Europa. Talvez por isto, tenha exagerado na louvação a um país que sempre esteve entre os mais desiguais do mundo, que aceita facilmente o progresso técnico, mas refuta governos e iniciativas de reformas sociais, de redução da desigualdade social e, sabemos, nenhum país progride sem o combate à miséria, sem políticas de distribuição de renda e de eliminação dos privilégios hereditariamente obtidos.

            A imprensa, censurada por Vargas, não podia criticar o governo como gostaria, mas, nada a impedia de criticar a obra do famoso autor que escrevera um livro de louvação ao país. O linchamento da obra de Zweig foi diária e brutal com artigos ácidos escritos sobre "um estrangeiro que não entendia nada do país", mas, que denotava a ânsia da imprensa em poder mirar Vargas, algo totalmente inalcançável naquele momento, dada a repressão oficial. Há quem veja na reação dos jornalistas e intelectuais brasileiros, uma atitude provinciana, em não reconhecer a opinião de um estrangeiro, mesmo sendo este, o renomado e mundialmente aclamado Stefan Zweig.

            Também não podemos criticar Zweig, quanto a "ingenuidade" com que olhou para a nossa sociedade, afinal, foi preciso que governantes e governos que ousassem mexer no status quo do "eterno fazendão governado a partir da Casa Grande" se instalassem no poder, para que o que há de mais reacionário, odioso e violento mostrasse a sua cara e, enfim realmente conhecêssemos o nosso vizinho, o nosso amigo, o nosso parente.

            Não devemos descrer da utopia de sermos um país com um grande futuro, mas, para isso precisamos cortar o que nos prende ao passado, à colonização imperialista, à escravidão, ao genocídio, às sesmarias, à política de branqueamento (do topo da pirâmide social), ao fascismo. Na atualidade, ver o Brasil, como um país do futuro, soa à utopia, mas, de que vale viver, sem ter uma utopia?

Sugestão de boa leitura:

Título: Brasil: um país do futuro.

Autor: Stefan Zweig.

Editora: L&PM, 2008, 264 pág.

 

           

sábado, 2 de setembro de 2023

Mais Platão, menos Prozac & Pergunte a Platão

 

        


Quando acadêmico este escriba imaginava como deveriam ser os diálogos entre os professores na hora do recreio e pensava serem momentos de discussões filosóficas e também dos grandes problemas locais, nacionais e mundiais, no entanto, quando me tornei professor não tardei a descobrir que tal momento era utilizado para a necessária descontração e que nem sempre puxar um “papo-cabeça” era uma atitude vista com simpatia por parte de alguns colegas. Mas, como para toda a regra há a exceção, não demorei a descobrir que as pessoas são diferentes entre si e que havia aquelas que não torciam o nariz para uma conversa mais fundamentada.

            Num desses dias estava conversando com uma colega que é professora de Filosofia e contei-lhe que li dois livros sobre a aplicação terapêutica da Filosofia em consultas com pacientes que desejam conseguir ajuda para resolver os problemas da vida que se acumulam e os/as colocam em becos sem saídas. Comentei que essa tendência se observa mais fortemente fora do Brasil, principalmente nos Estados Unidos da América e também na Europa. Afirmei que existe muita gente da área da Psicologia que não está gostando dessa invasão dos filósofos em sua área de atuação e que os consideram despreparados para exercer tal função, enquanto, outros que já são psicólogos estão indo atrás dos ensinamentos de Filosofia para ao se especializar, oferecer um algo a mais para os seus “clientes”, uma vez que os psicólogos, segundo li, não chamam as pessoas que atendem como pacientes. Comentei com a minha colega que os filósofos clínicos auxiliam seus clientes a desatar os nós que a vida lhes apresentou através de sugestões embasadas na teoria de filósofos tais como Platão, ou seja, como Platão pensaria e resolveria o imbróglio em questão apresentado pelo(a) cliente.


           Particularmente gostei muito dos livros abaixo referenciados, porém, sou bastante eclético nas leituras e assim quem não aprecia filosofia e detesta livros de autoajuda talvez não goste das referidas obras. Aproveitei o ensejo e perguntei a minha interlocutora se conhecia o significado da palavra “resiliência” ao que afirmou não saber, expliquei-lhe que resiliência era a capacidade de transformar um trauma, uma situação estressante da vida em algo edificante de forma que a pessoa sai da situação vivida um alguém mais forte e competente, ou seja, mais resistente a situações de destruição da vida pessoal e/ou profissional.

            Todos conhecemos pessoas que passaram por uma situação traumática que dividiu sua vida ao meio com “um antes e um depois” que pode ser a morte de entes queridos ou a queda vertiginosa do padrão de vida e do status social, porém, a forma como as pessoas lidam com isso é sempre particular, algumas “tiram de letra”, outras demoram a se adaptar à nova situação, outras jamais conseguem superar e tornam-se consumidoras de calmantes e antidepressivos, inclusive, é digno de nota que o consumo de tais medicamentos em nosso país só faz aumentar. A minha colega perguntou-me se conhecia o termo “ataraxia” e afirmei que não, ela então me apresentou um texto e explicou-me que por ataraxia entende-se “o estado do homem em que ele se encontra imperturbável frente às emoções, uma condição de tranquilidade, na qual, independentemente dos fatos, o indivíduo permanece inabalável, sem se deixar arrastar por alegrias e prazeres, nem por dores e tristezas”.

            Ela afirmou que gostaria de atingir tal estágio que era considerado pelos filósofos gregos “uma conquista possível e equivalente à própria felicidade humana”. Quem não queria, não é mesmo? Para encerrar, nada melhor que citar o gênio da psicanálise Freud quando disse “somos feitos de carne, mas temos de viver como se fôssemos de ferro”, assim, caro(a) leitor(a) mantenha sempre em sua “farmácia caseira” doses de resiliência e de ataraxia, pois, desejo que nunca precises, mas, se precisares, que a superação seja rápida e o(a) torne um alguém mais forte.

Sugestão de boa leitura:

MARINOFF, L. Mais Platão e menos Prozac: A Filosofia aplicada ao cotidiano. 2002, Editora Record. __________. Pergunte a Platão. Terapia para quem não precisa de terapia ou como a Filosofia pode mudar sua vida. 2005, Editora Record.

sábado, 26 de agosto de 2023

Deixa que digam que pensem que falem...

 


Impossível ler o título deste artigo e não lembrar imediatamente do “vovô garotão” Jair Rodrigues (1939-2014). Jair, que de tanto cantar e encantar a todos por onde passava, encantou a si mesmo e não pode mais chorar. Condenado a sempre sorrir, sorrindo viveu. Desfilou pela vida e quando pensávamos que seu sorriso era eterno, repentinamente se foi.

            Por mais que sua obra e seu talento sejam considerados completos, Jair foi um daqueles gênios da música que ouvir cantar nunca era o bastante e, lamentavelmente a cortina do espetáculo baixou e por mais que peçamos bis com aplausos ininterruptos ele não voltará para dar uma palinha, nos deixando a impressão que alguma coisa faltou e também que em termos de música de boa qualidade estamos ficando cada vez mais sós. O andar de cima está cada dia mais reforçado e, muitos dos grandes ícones da música de boa qualidade já estão vivendo o quarto final de suas vidas, penso que não devemos perder oportunidades de assistir seus shows, pois, embora o show deva continuar, o artista inevitavelmente um dia deixa o palco vazio.

            Emociono-me quando assisto a apresentação de Jair Rodrigues no festival de 1966 interpretando “disparada”, genial letra de Geraldo Vandré, o autor da não menos genial “Prá não dizer que não falei das flores”. Ambas as letras tornaram-se hinos cantados pelas multidões, assaltadas que foram, do direito de expressar sua opinião pelos usurpadores da democracia que se instalaram no poder num certo dia 1º de Abril e que fizeram do terrorismo de Estado a ordem do dia. Contra toda a dor e desencanto que um grupo de lunáticos estabelecidos no Poder estavam causando, Jair seguiu cantando, sorrindo e amenizando o sofrimento presente em todo lugar.

            É tarefa difícil escolher uma estrofe de “disparada” para citar neste artigo, pois, “disparada” é toda genialidade e ganhou a eternidade na interpretação inigualável de Jair Rodrigues, pois, embora outros cantores a interpretassem maravilhosamente após 1966, ninguém colocou tanto a alma e o coração nessa letra quanto ele. A música começa pedindo para prepararmos o coração, justamente o coração que levou Jair embora: “Prepare o seu coração pras coisas que eu vou contar / Eu venho lá do sertão, eu venho lá do sertão / Eu venho lá do sertão e posso não lhe agradar / Aprendi a dizer não, ver a morte sem chorar / E a morte, o destino, tudo, a morte e o destino, tudo / Estava fora do lugar, eu vivo prá consertar” e em outra estrofe: “Então não pude seguir valente em lugar tenente / E dono de gado e gente, porque gado a gente marca / Tange, ferra, engorda e mata, mas com gente é diferente / Se você não concordar não posso me desculpar / Não canto prá enganar, vou pegar minha viola / Vou deixar você de lado, vou cantar noutro lugar”.

            Jair, não teve vida fácil, ralou muito, foi engraxate, mecânico e pedreiro, serviu também o Exército, foi cantor de boate e artista completo desfilou nos palcos da MPB, do samba e até da música sertaneja em que interpretou brilhantemente a música “A Majestade, o Sabiá” cuja composição é de Roberta Miranda.

            Vivemos num tempo em que não são poucas as pessoas que se ocupam mais da vida alheia do que de seus próprios interesses, o que faz com que as pessoas que menos apreciam-nos serem as que mais prestam atenção a tudo o que fazemos, escrevemos e dizemos. É uma triste época, ninguém escapa aos rótulos, se faz algo bom, tem algum interesse embutido nessa boa ação ou quer se aparecer, pois, na mentalidade mercenária que domina a cabeça de muitos, não se concebe que outras pessoas possam pensar diferentemente e agir visando algo que não a satisfação própria. Se defender vigorosamente os fundamentos que balizam o seu pensamento é um radical, e se pensa diferente é um revoltado, mesmo quando aqueles que criticam ingerem senso comum e vomitam reacionarismos fascistoides.

            Para todas as pessoas que sofrem com os rótulos deixo como dica a estrofe inicial de “Deixa isso prá lá” interpretada por Jair Rodrigues. “Deixa que digam / Que pensem que falem / Deixa isso prá lá / Vem pra cá / O que é que tem? / Eu não tô fazendo nada / Nem você também / Faz mal bater um papo / Assim gostoso com alguém?”

 

domingo, 20 de agosto de 2023

Einstein: Sua vida, seu Universo


 Alguns leitores gostam das sugestões de livros que faço neste espaço, então, como acabo de fazer uma leitura muito aprazível, indico a obra “Einstein: Sua vida, seu universo” de Walter Isaacson. Trata-se de uma leitura agradável que conduz a um passeio entre a vida particular e a carreira científica daquele que é considerado o maior gênio da história. Isaacson consegue com grande sensibilidade retratar um Einstein humano com seus problemas de ordem pessoal (familiar e financeira), suas dificuldades para ingressar no meio acadêmico e desenvolver ciência, descreve sua carreira, os acertos e erros e os erros que se converteram em acertos, pois, mesmo quando esteve equivocado Einstein contribuiu para o avanço da Ciência. Com a leitura da obra é possível avistar uma tênue luz no fim do túnel que leva ao entendimento dessa revolução na história da Ciência chamada Teoria da Relatividade.

            O gênio que assombrou o mundo nasceu a 14 de Março de 1879 em Ulm, alemão de nascimento, porém de ascendência judaica, quando criança demorou a falar, foi considerado um garoto idiota por algumas pessoas próximas, mas, quando iniciou seus estudos esteve sempre entre os melhores da turma (ao contrário do que muito se fala a seu respeito). Sempre teve ojeriza à autoridade e dessa forma muitas vezes seu comportamento como acadêmico não era exatamente adequado, por conta disso, adquiriu a antipatia de alguns mestres que dificultaram sua inserção no meio acadêmico como professor universitário.

            Einstein mergulhava cada vez mais na ciência conforme os problemas de ordem pessoal se avolumavam, e apesar de seus esforços desenvolvendo artigos científicos teve que se contentar com o emprego de examinador de patentes do Escritório Federal de Propriedade Intelectual de Berna (Suíça), trabalho no qual, durante as horas vagas em 1905 desenvolveu quatro artigos que se complementavam e davam a certidão de nascimento à teoria da Relatividade Especial afirmando que o tempo e o espaço não eram absolutos colocou a ciência de cabeça para baixo.

            Mudou-se para Berlim, e em 1915 desenvolveu a Teoria da Relatividade Geral, com a confirmação da veracidade de suas teorias em experiências desenvolvidas por outros cientistas tornou-se celebridade mundial, e, realizou palestras itinerantes por vários países cujos ingressos eram disputados e contados aos milhares. Em 1933, o Nazismo ascendeu ao poder na Alemanha e o gênio resolveu aceitar o convite para trabalhar nos Estados Unidos, país no qual viveu o resto de seus dias, foi muito investigado pela CIA, por ser simpatizante do socialismo em plena época da “caça às bruxas” do Macarthismo. Era contra qualquer tipo de opressão e não aceitava o cerceamento da liberdade de expressão e por isso não poupava críticas referente ações dos EUA neste sentido e nem mesmo ao stalinismo soviético, líder pacifista, pregava a desobediência civil quando da convocação para as Forças Armadas, por tudo isso foi muito criticado, sendo considerado um asno por políticos e populares, sendo assim, falou: “Grandes espíritos sempre encontram forte oposição de mentes medíocres”.

            O receio que os nazistas desenvolvessem a bomba levou-o a escrever uma carta para o Governo Estadunidense sobre a necessidade de fabricar a bomba atômica que a ciência por ele desenvolvida tornava possível, porém, nunca participou diretamente do desenvolvimento da arma, por não ser considerado confiável pelas autoridades militares. Após a explosão das bombas em Hiroshima e Nagazaki, fato que considerou lamentável foi questionado por um repórter sobre como seria a Terceira Guerra Mundial, afirmou que “sabia apenas como seria a Quarta Guerra Mundial: com pedras”.

            Até o último dia de sua vida esteve às voltas com as equações buscando entender o Universo e tentando resolver o problema que a criação da bomba atômica ocasionou, defendia a criação de um Governo Mundial para evitar as guerras (o único a ter posse das armas atômicas). O “passageiro do raio de luz” finalizou sua viagem por esta dimensão espaço-tempo de forma absoluta em 18 de Abril de 1955 aos 76 anos, no entanto, sua partida será sempre relativa, imortalizado em sua ciência, seu corpo foi cremado e suas cinzas liberadas no Rio Delaware conforme seu pedido, pois não queria que seu túmulo fosse local de peregrinação. Embora o gênio tivesse algumas vezes falado que não gostava de sua popularidade, isso não correspondia ao seu comportamento, ele adorava repórteres e os repórteres o adoravam. Einstein era pop e gostava disso!

Sugestão de boa leitura:

Título: Einstein: sua vida, seu universo.

Autor: ISAACSON, Walter.

Editora: Companhia das Letras, 2007, 696 pág.