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domingo, 5 de março de 2023

Bartleby, o escrivão


               Herman Melville (1819-1891), foi um escritor, poeta e ensaísta estadunidense. Embora tenha obtido grande sucesso no início de sua carreira, sua popularidade foi decaindo ao longo dos anos. Faleceu quase completamente esquecido, sem conhecer o sucesso que sua mais importante obra, o romance Moby Dick alcançaria no século XX. (WIKIPÉDIA).

             Na obra "Bartleby, o escrivão" o narrador é um advogado de sessenta anos que, embora não tenha tido grande êxito profissional a ponto de entre seus pares alcançar grande destaque, nem por isso lhe faltava trabalho. Dessa forma, o advogado contava com dois escrivães que tinham como suas tarefas fazer cópias manuais (naquele tempo não havia fotocopiadoras, etc.) de documentos e pareceres. Após a tarefa de fazer uma ou várias cópias manuais de tais documentos, estes precisavam ser verificados quanto a possíveis lapsos no processo de transcrição, trabalho que era feito em conjunto para ter maior segurança quanto a fidedignidade da cópia.

            O advogado resolveu contratar mais um escrivão, Bartleby era o seu nome. Devido as modestas dimensões do escritório que contava com apenas duas salas. O advogado resolveu, por não ter outra solução, colocar a escrivaninha de Bartleby em sua sala, mas, colocou entre a escrivaninha deste e a sua um biombo. Bartleby ficou próximo a uma janela cuja vista era o muro/parede de um prédio alto. O escritório ficava na rua Wall Street, famoso centro financeiro de Nova Iorque (EUA).

            O novo empregado demonstrou ser muito eficiente, porém, muito calado. O advogado não conseguiu arrancar dele nenhuma informação quanto ao seu passado profissional, menos ainda sobre sua família. No entanto, o funcionário era excelente e isso era o que importava. E os outros dois funcionários também tinham suas manias, cada um com uma personalidade diferente, um deles, inclusive era ranzinza, e ele tinha que aturar o seu mau humor. Ser calado era a menor das manias.

            Passado alguns meses, após concluir um trabalho, o advogado chama Bartleby para que juntos façam a conferência de um documento e ele polidamente, fala: "Eu preferia não fazê-lo". O advogado pergunta novamente e ele repete a resposta. O advogado fica perplexo, pensa em gritar com ele, mas, a forma educada como o funcionário respondeu o impede. Pensa então em demití-lo, mas, de alguma forma sente compaixão por ele. Solicita a ajuda de outro funcionário para o trabalho.

            No dia seguinte solicita a Bartleby que se dirija aos correios para entregar um documento e ele responde: "preferia não fazê-lo". O advogado vai então aos correios e depois para a casa, incomodado com a situação, na qual se sente impotente pois, não consegue convencê-lo a trabalhar e tem dó em demití-lo ao conjecturar sobre o que aconteceu em sua vida que o deixou assim. Bartleby fica o tempo todo olhando para o muro que vê a partir de sua janela. A situação começa a ficar exasperante para o advogado que descobre que o funcionário dorme no próprio local de trabalho utilizando-se da chave reserva. Tenta convencê-lo a mudar para a sua casa até encontrar outro lugar para ele, mas, Bartleby responde: "Eu preferia não fazê-lo". Os outros funcionários começam a se irritar com a situação, pois têm que fazer o trabalho do colega e o advogado precisa intervir para evitar possíveis rusgas. Clientes fazem solicitações ao escrivão e este se recusa (educadamente) a fazer ante o próprio patrão. O advogado cria coragem e demite Bartleby, dando a ele um valor bem superior ao que ele tinha direito na rescisão. E pede para que ele não venha mais ao escritório, ele não pega o dinheiro e responde: "Eu preferia não fazê-lo". No dia seguinte o advogado vai ao escritório e encontra Bartleby e o dinheiro intocado sobre a mesa. Pensa em chamar a polícia, mas, de alguma forma tem pena dele.

            O advogado tem uma ideia, encontra um novo local para o seu escritório, entrega o imóvel para o senhorio (locador) e avisa Bartleby que entregou o imóvel e que ele precisa sair e ele responde: "Eu preferia não fazê-lo". Passam-se alguns dias e o advogado tem a sensação que a situação está resolvida, porém, o antigo locador e o novo inquilino cobram que o advogado retire Bartleby do imóvel, colocando nele a culpa por ter deixado ele no local. Com o intuito de evitar complicações, o advogado pede para que Bartleby se retire e até que vá morar em sua casa até arranjar um lugar para ele, mas, Bartleby responde: "Eu preferia não fazê-lo". O advogado, furioso, se retira sem falar com ninguém.

            Passados alguns dias, o advogado é informado que Bartleby fora preso e, como não tem conhecimento de que ele tenha parentes resolve visitá-lo na cadeia. O escrivão tem uma certa liberdade na cadeia, deixam-no circular dentro de algumas repartições, porém, ele fica o dia todo sentado olhando para o muro que o mantém preso. O advogado tenta conversar com Bartleby, que pouco fala, mas que afirma ter consciência de onde se encontra. Fala então com alguns funcionários da cadeia, inclusive com o cozinheiro e paga a este para que ele tenha a melhor alimentação possível. O cozinheiro pergunta a ele sugestões para a janta e ele responde: "Eu preferia não fazê-lo". O advogado volta a seus afazeres, mas passado algum tempo, é avisado que Bartleby morreu de inanição, mesmo com a insistência do cozinheiro e demais funcionários da cadeia para que se alimentasse e, ato contínuo, afirmava: "Eu preferia não fazê-lo".

            O advogado relata que do pouco que se soube sobre Bartleby é que ele tinha como trabalho anterior, um emprego no qual lhe cabia destruir cartas que não foram entregues devido a não localização dos destinatários/remetentes. Resolvi escrever esta resenha com spoiler porque concluí que o mais precioso neste conto é a reflexão sobre Bartleby, seu trabalho e sua vida e, essa é a sua missão!

Sugestão de boa leitura:

Título: Bartleby, o escrivão.

Autor: Herman Melville.

Editora: José Olympio, 2017, 96 p.