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quinta-feira, 30 de março de 2017

O diálogo como antídoto ao fascismo – Parte 2

Alienados e ineptos, seja por uma formação precária ou não competente em lhes abrir a mente para a pluralidade cultural e intelectual, os fascistas não pensam, despejam falas prontas oriundas da audiência aos telejornais como se estes fossem emissários incontestes da verdade. E ante a falta de argumentos, não deixam o interlocutor falar ou o xingam, pois, odeiam ser contrariados. Se a pessoa em questão tem um discurso progressista, ela é “desqualificada”, pois, é comunista, é petista, mesmo que não seja. Parecem afirmar que não há inteligência fora da sua forma de pensar, portanto, socialistas, sindicalistas, petistas, não são seres inteligentes. Se ter uma atitude avessa ao fascismo é ser petista ou comunista, toda pessoa progressista deve tomar isso como elogio. Para o fascista, um debate de ideias em que seu senso comum se vê frente aos argumentos científicos de seu interlocutor, vira uma questão pessoal. A pessoa diferente ou que tem um discurso diverso ao seu é um inimigo a ser combatido. O simples fato de vê-lo (a) na rua é algo que estraga seu humor. Ninguém pode pensar diferente, pois, em seu entender só há uma verdade, a sua verdade. O fascista é antes de tudo um autoritário, cuja alienação e apego exagerado a si mesmo o torna um mentecapto. O fascista deseja a volta da ditadura porque é incapaz de conviver com pessoas de outras classes sociais ou etnias e com elas compartilhar os mesmos direitos. O fascista se incomoda com o progresso do status social dos estratos inferiores da sociedade. Dessa forma é aviltante dividir um voo com pessoas oriundas de classe baixa (trabalhadores), como também o é constatar que o trabalhador assalariado (seu conhecido) comprou um carro 0 km. A madame por sua vez sobe nas tamancas ao perceber que a empregada doméstica usa perfume igual ao seu para ir trabalhar em sua casa. Ver a empregada doméstica chegar de carro para faxinar sua casa lhe causa estranheza. O fascista é aquela pessoa que devido à forma como o Brasil foi colonizado e governado acostumou-se aos privilégios de sucessivos governantes que administraram o país sempre em benefício da elite. O Brasil nasceu latifúndio, as terras foram divididas em capitanias hereditárias e sesmarias, dessa forma, os amigos do Rei de Portugal, seus descendentes e os familiares tiveram acesso a grandes nacos de terra. Existem grandes latifúndios no país cuja origem remonta a essa época. Honoré de Balzac afirmou: “Por detrás de uma grande fortuna há sempre um crime”. Não podia estar mais certo. E grande parcela dos latifundiários é fascista, saudosa da ditadura militar. A lida bruta no campo embruteceu suas almas. É verdade que pequena parcela dessas pessoas sejam diamantes brutos, porém, desses, a maioria não se deixa lapidar, pois, prefere se misturar ao cascalho fascista que costuma eleger a bancada da bala e do boi, que juntamente com a bancada da Bíblia está levando o país de volta ao obscurantismo. O fascista quer a volta da ditadura e principalmente da tortura, para que dessa forma as pessoas pensem antes de falar ou escrever aquilo que em seu ver constitui “barbaridades”. O fascista quer a volta da censura. Quer que o país volte a ser “maravilhoso” por meio de um novo AI-5 e que a classe trabalhadora seja reprimida em sua luta por manutenção ou conquista de direitos, pois, em sua mente (ainda escravocrata), assim como o escravo somente obedecia sob pena do açoite no pelourinho, o trabalhador tem que ser silenciado senão pelo pelourinho, por leis que impeçam o exercício cidadão da greve. Nesse sentido, o edifício do STF e do Congresso Nacional se converteu tal qual o Palácio do Planalto, em “Casas Grandes oficiais”. Nem todos que apóiam medidas antipopulares são “Senhores da Casa Grande”, tem também muitos “Capitães do Mato”, além de “Escravos de Confiança” que para preservar seu interesse pessoal, de uma vida sem liberdade, porém, menos sofrida, se voltam contra os seus semelhantes. Isso fica evidente na fala de Rosa Luxemburgo: “Quem não se movimenta, não sente as correntes que lhe prendem”. Os fascistas defendem o projeto da mordaça, a censura da escola pública. Escola pública que na verdade é uma instituição conservadora, pois, mais se presta a conservar as injustiças presentes na sociedade do que a modificá-la. Obviamente nem a escola e nem seus mestres sozinhos, têm capacidade para transformar a sociedade. Os fascistas falam sobre algo que desconhecem. Não sabem que a maioria dos professores são conservadores e que dentre estes, pasmem, se encontram até admiradores de Bolsonaro. O fascismo também existe entre os professores, pois, estes são reflexos da família e da sociedade e o fascismo está em todo lugar, até nas igrejas. Márcia Tiburi escreveu uma obra seminal de estrema importância nestes tempos sombrios que vivemos, e a sua proposta é de dialogar com o fascista. É contrapor-se ao seu discurso. Mostrar-lhe que ele não encerra em si a verdade. Que sua teoria é inconsistente e que ele precisa evoluir intelectualmente e como ser humano.  

Sugestão de boa leitura: 

Como conversar com um fascista. Márcia Tiburi. Ed. Record. 2016.

quinta-feira, 16 de março de 2017

O diálogo como antídoto ao fascismo – Parte I

Há uma frase do intelectual italiano Antonio Gramsci (1891-1937) que considero emblemática: “o velho mundo agoniza, o novo mundo tarda nascer. E nesse claro-escuro irrompem os monstros”. Essa frase define muito bem o momento atual em que direitos trabalhistas, sociais e constitucionais são relativizados ou extintos. Estamos num período que alguns intelectuais estão chamando de “desdemocratização” da sociedade humana com a criminalização de movimentos sociais e perseguição a lideranças sindicais e políticas ligadas à classe trabalhadora. Os meios de comunicação em massa são utilizados para propagar o ódio ao diferente, seja este o político ou eleitor da esquerda, os sindicalistas, os intelectuais progressistas, os ativistas defensores dos direitos humanos, as pessoas engajadas nos movimentos feministas ou LGBT. Na Alemanha o governo do Partido do Nacional Socialismo (NAZI) teve em Joseph Goebbels, Ministro da Propaganda, importante obreiro na construção da hegemonia do discurso nazista, sem isto, Hitler e o partido Nazi não teriam durado muito no poder. O povo foi doutrinado pela mídia e pelos políticos nazistas a odiar judeus acusando-os de serem responsáveis por quase todos os problemas que afligiam a sociedade alemã e, dessa forma, pessoas pacatas e cumpridoras da lei nenhum mal viam nos assassinatos em massa de judeus, ciganos, negros, deficientes físicos e socialistas. A indiferença e até a colaboração de cidadãos cumpridores da lei ante ao monstruoso genocídio foi por Hannah Arendt denominada como a “banalidade do mal”. O resultado é do conhecimento de todos: mais de seis milhões de judeus mortos pelo regime nazista em total consonância com as leis, pois, o Legislativo e o Judiciário, partícipes do regime, estabeleceram a legalidade do processo de limpeza étnica no interior da Alemanha e dos territórios conquistados. O partido Nazi era socialista apenas no nome (tal como o PSDB, social democrata na denominação, porém, defensor do liberalismo econômico em seu estatuto), pois combatia o socialismo e fez guerra à socialista União Soviética. Esse erro de Hitler levou a Alemanha nazista a capitular ante as tropas do Exército Vermelho que libertou o leste europeu e promoveu o vitorioso cerco final a Berlim. Portanto, fazer limpeza étnica era considerado legal, como também foi escravizar pessoas, inclusive no Brasil, ou o regime de segregação racial conhecido como apartheid na República da África do Sul. O que quero dizer é que apesar da suposta independência dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, estes formam uma só máquina, cujas engrenagens movimentam-se apoiadas e atuam de acordo com interesses que raramente são os dos estratos mais baixos da sociedade. A mídia brasileira de tradição golpista (tome-se 1964 como exemplo) mancomunada com políticos fascistas impôs à nação, o golpe de Estado de 2016 e coloca toda a culpa da crise atual nos governos anteriores, apesar de que esta foi aprofundada pela incompetência administrativa de Temer e sua equipe. E isto é facilmente verificável com uma análise acurada dos dados econômicos do IBGE. O Judiciário por sua ação direta ou indireta colaborou com o golpe e há integrantes desse poder que frente aos quadros da direita agem com tamanha leniência que é fácil compará-los a dóceis gatinhos, porém rugem como leões em perseguição aos quadros da esquerda. A prática do uso de interpretações bipolares e esquizofrênicas das leis para prejudicar partidos ou lideranças defenestradas por oligarcas ou pela elite capitalista nacional ou estrangeira constitui um desvio de finalidade do Direito, conhecida como Lawfare. Um ministro do STF afirmou que: “a Constituição Federal não era aquilo que estava escrito, mas, o que ELE afirmava que a Constituição era”, ou seja, danem-se as jurisprudências, daqui para frente vale o que ele interpreta, mesmo que isso seja o contrário do que ele mesmo disse anteriormente. Essa prática é chamada decisionismo e o problema dela pode ser explicitado na frase de François Guizot: “quando a política penetra no recinto dos Tribunais, a Justiça se retira por outra porta”. E temos uma Justiça claramente partidarizada e ávida por holofotes e que nem mesmo esconde o sistema dois pesos e duas medidas que aplica, observe-se a forma como foram tratados os mensalões (tucano x petista); as pedaladas fiscais (Dilma x Temer), ou ainda, a nomeação negada de Lula para Ministro do Governo Dilma e consentida para Moreira Franco para Ministro do Governo Temer. A crise das instituições no Brasil é de percepção geral pela sociedade esclarecida, porém, a população com baixa escolaridade e pouco afeita à leitura e à necessária reflexão não consegue exercer sua cidadania, pois se torna facilmente refém da Grande Mídia que possui clara inspiração em Goebbels e da manipulação por parte de políticos desonestos.

sexta-feira, 3 de março de 2017

A questão é: Estado Mínimo para quem?

Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer e Sergio Britto compuseram uma música cuja letra genial dispensaria até mesmo estas linhas, pois, bastaria publicá-la. Trata-se da letra de “Comida” gravada pela banda Titãs. Nela os autores discorrem sobre a necessidade do alimento para o corpo e principalmente para a alma como se verifica no trecho: “Bebida é água/ comida é pasto/você tem sede de quê?/você tem fome de quê?/ a gente não quer só comida/ a gente quer comida, diversão e arte” e em outra estrofe continua: “a gente não quer só dinheiro/a gente quer dinheiro e felicidade/a gente não quer só dinheiro/a gente quer inteiro e não pela metade”. Vivemos tempos sombrios no país que alguns insistem em dizer democrático e cuja história o coloca nu ante a realidade de frequentes golpes de Estado chamados de revoluções e de ditaduras aqui denominadas “ditabrandas”. A história mostra que os períodos democráticos em nosso país são hiatos relativamente curtos, pois, a elite que comanda o país não suporta a democracia embora desenvolva um discurso baseado nela para contestar qualquer liderança política contrária ao seu projeto de vida que consiste em parasitar o Estado em busca de privilégios cuja origem remonta à chegada dos invasores portugueses ao Brasil. Não faltam intelectuais a comentar que a elite nacional é antipatriótica, violenta, cruel, reacionária e mesquinha. Também não faltam aqueles que expõem a baixa capacidade intelectual dessa pseudo-elite e a consideram uma das piores do planeta senão a pior. A suposta “herança maldita” dos governos progressistas de Lula e Dilma está servindo de pretexto para o governo ilegítimo de Mi-Shell Temer doar o patrimônio nacional do Pré-Sal às petroleiras estrangeiras, destruir a legislação de amparo ao trabalhador (CLT) e assim fazer o Brasil retornar aos anos 1930. O mais novo e forte ataque é contra a Previdência Social que é superavitária, mas, cuja propaganda governamental nos meios de comunicação busca e consegue convencer as pessoas desinformadas da necessidade de tal reforma que vai tornar o Brasil num país de milhões de idosos mendicantes, pois, o mesmo empresário que apóia a aposentadoria aos 70 anos é aquele que demite seu funcionário de 50 anos e contrata um jovem. Tal iniciativa aumentará enormemente o exército de mão de obra de reserva, e a mercadoria trabalho com a maior oferta, e menor procura devido à modernização/mecanização do processo produtivo tende a ser subvalorizada. Também é verdade que grande parte das pessoas morrerá antes da aposentadoria ou a ela terão curta sobrevida. O Estado do mínimo que Temer e seus asseclas do PMDB/PSDB/DEM estão implantando só é mínimo para os pobres, para a classe trabalhadora, que perde seus direitos trabalhistas e se aposentarão no eclipsar de suas existências para que a pseudo-elite mantenha os privilégios que sempre desfrutou, dessa forma, o governo ilegítimo desse país quebrado está concedendo um trilhão de reais (em renúncias fiscais, perdão integral ou parcial de dívidas, benesses com dinheiro público) para latifundiários, empresas transnacionais de telecomunicações e de energia. Na outra ponta, o salário mínimo não terá mais valorização real ante a inflação, benefícios da previdência não acompanharão os reajustes do salário mínimo e políticas sociais de auxílio à população pobre amparadas na Constituição Federal estão sendo reduzidas e os programas desfigurados para sobrar mais recursos para o Estado Neoliberal que é o Estado Mínimo para a classe trabalhadora e Estado Máximo para os Capitalistas. Sobre essa questão até o Banco Mundial criticou o Brasil afirmando que a dezenas de países recomendou os programas brasileiros de combate à miséria e viu no país criador desses programas a destruição deles e cujo resultado leva a expectativa de que 3,7 milhões de pessoas voltarão à pobreza extrema em 2017. A reforma ditatorial do Ensino Médio, pois, não foi amplamente debatida e construída com a comunidade escolar e a partir desta é tão boa que não será seguida pela rede privada de ensino. Os filhos da classe trabalhadora terão um ensino fragmentado e caótico, o que contribuirá para a manutenção senão aumento da desigualdade social. Da mesma forma, a fé inquebrantável no Estado do mínimo levou os governantes paulistas Alckmin e Beto Richa ambos do PSDB a extinguirem as Orquestras Sinfônicas de seus estados. Além de legar ao povo mais pobre a humilhação do prato vazio, os neoliberais legam à classe trabalhadora à qual grande parte da classe média pertence, a fome da educação humana plena e da cultura. Enquanto tudo isso ocorre, a população permanece inerte, apática, anestesiada. O que explica tamanha apatia e indiferença do povo com seus algozes? Trata-se da Síndrome de Estocolmo? Trata-se da doutrinação de tantas ditaduras? Alienação midiática? Alguma droga é colocada na água servida à população para que fique neste estado vegetativo de consciência e de ação? Penso que o povo brasileiro deveria ser estudado pela comunidade científica internacional.