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segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Capitães da areia



           
           
Jorge Amado (1912-2001) nascido Jorge Leal Amado de Faria é o segundo escritor brasileiro de maior número de vendas de livros sendo superado apenas por Paulo Coelho. Jorge Amado é o autor mais adaptado do cinema, do teatro e da televisão brasileira. Sua obra é formada por 49 livros, os quais foram publicados em 80 países e traduzidos para 49 idiomas. Ganhou inúmeros prêmios nacionais e internacionais e foi eleito em 1961 para a Academia Brasileira de Letras. Jorge formou-se em Direito, porém, jamais exerceu a advocacia. Tendo estudado na década de 1930 na Universidade Federal do Rio de Janeiro, tomou conhecimento dos ideais do Partido Comunista Brasileiro (PCB), no qual se filiou, tendo sido eleito deputado federal em 1946. Sua atuação como parlamentar esteve entre outras ações pautadas na defesa da garantia da liberdade religiosa para os cidadãos. Ao se postar ideologicamente à esquerda tanto em suas obras como na política foi obrigado a viver exilado na Argentina, no Uruguai, em Paris e em Praga no período em que Vargas esteve no poder. Jorge Amado era vigiado tanto pela CIA quanto pelos serviços de inteligência da ex-União Soviética. Ao tomar conhecimento das atrocidades praticadas por Stalin na União Soviética, as quais foram reveladas pelo Secretário Geral do PCUS Nikita Krushev, desligou-se do Partido Comunista Brasileiro.
            A obra de Jorge Amado é essencialmente dedicada às raízes nacionais e suas máculas. Sendo assim, nela estão presentes os problemas nacionais e as injustiças sociais, mas, também o folclore, a política, as crenças, as tradições e a sensualidade do povo brasileiro. Dentre os grandes sucessos adaptados para a telinha e para a telona estão Dona Flor e seus dois maridos, Tenda dos milagres, Tieta do Agreste, Gabriela, cravo e canela e Tereza Batista cansada de guerra. Jorge Amado era muito estimado pelo povo baiano, especialmente as pessoas adeptas do sincretismo religioso que tão bem caracteriza a cidade de Salvador. Muito bem relacionado, teve a amizade de grandes nomes da literatura nacional como Érico Veríssimo, Rachel de Queiroz, José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Mário de Andrade, Carlos Drummond de Andrade, Monteiro Lobato e Gilberto Freyre. Também trocou correspondências com Pablo Neruda, Gabriel Garcia Marquez e José Saramago.
            Na obra Capitães da Areia (1937) o autor mostra um grupo de meninos de rua que aterroriza Salvador por suas atitudes violentas, brigas de gangue, estupros e principalmente assaltos nas casas e também nas abordagens de cidadãos que tiveram a infelicidade de cruzar seus caminhos. Na trama, o autor repercute ficcionalmente as notícias de jornais acerca destes meninos, mostrando-nos que via de regra a imprensa além de parcial, é também superficial. Nunca discute com profundidade o que levou tais meninos a esta situação e, nem mesmo, qual seria a atitude a ser tomada pelas autoridades para que outras crianças não tenham o mesmo destino. Afinal, na origem, o menor de rua é um algoz ou uma vítima do modelo de sociedade construída? Nesse sentido, Jorge Amado mostra que eles também têm sonhos, muitos ingênuos e, que o grupo acaba por ser a única família verdadeira que tiveram na vida, sendo o líder do grupo uma espécie de pai de todos. A trama conta o destino de seus integrantes, alguns se destacam na sociedade ao serem resgatados e bem encaminhados e, outros têm destinos trágicos. Trata-se de uma excelente obra, por sua criticidade e pela leitura prazerosa que proporciona mesmo tratando de um tema tão complexo. Fica a dica!

Referência:
 
Wikipedia – disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jorge_Amado - acesso em 27 de dezembro de 2019.

Sugestão de boa leitura:

Título: Capitães da Areia.
Autor: Jorge Amado.
Editora/Ano: Companhia de Bolso, 2008.
Preço: R$ 17,06.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Ao mestre, com carinho!



               
 Em uma rede social, um post se tornou viral. O post relatava que uma empresa privada que operava vários ramais ferroviários no Japão, decidiu manter funcionando uma estação inviável do ponto de vista do lucro, pois, ali somente uma passageira embarcava e desembarcava diariamente. Uma adolescente que se dirigia a escola e retornava no fim do dia. A decisão altruísta, sensata e admirável da empresa privada japonesa emocionou milhares, talvez milhões de pessoas. A empresa cumpriu um preceito que grande parcela dos empresários finge desconhecer, a responsabilidade social. Esse não é um caso isolado, os japoneses já demonstraram várias vezes atitudes que, ora nos causam inveja, ora nos faz corar de vergonha como povo, dada a nossa falta de educação, respeito e baixo nível cultural. O estudante no Japão é muito valorizado, não à toa, as estudantes costumam utilizar uniformes escolares nos feriados em momentos de lazer. Sabe-se que o imperador japonês não se curva perante nenhuma autoridade nacional ou estrangeira, mas, em várias solenidades diferentes imperadores se curvaram ante professores, como forma de reconhecimento.
            Se no Japão e em outros países, ainda há certo glamour no exercício do magistério. O mesmo não ocorre nestas paragens. No passado, professores tinham o reconhecimento dos pais, dos estudantes e, dia dos professores era uma data em que voltavam carregados de flores, cartões, poesias e presentes de pequeno valor, mas, de grande significância. Todo professor sabe que sem seu trabalho o país para, afinal, todas as profissões dependem dos ensinamentos do velho mestre, do auxiliar de escritório ao empresário, do contínuo ao gerente de banco, do enfermeiro ao médico, do advogado ao juiz, do estudante ao professor. Professor é tão necessário que sem ele, sendo professor de si mesmo, nessa luta abnegada de ensinar a si próprio, de jamais desistir de buscar o conhecimento, de se manter atualizado em um mundo que não conhece o ponto morto e nem possui pedal de freio, o curso da história não seria tal como o conhecemos, mesmo que ele não seja como gostaríamos, pois, sem o professor e a escola, tudo o que resta, é a barbárie.
            Se como disse o poeta: “o que mata um jardim é o olhar indiferente de quem por ele passa”, o que mata o professor é muito mais o desrespeito, a vilanização que se faz dos mestres, acusados dos insucessos dos estudantes sem que a sociedade se dê ao trabalho de refletir sobre as condições de trabalho a eles ofertadas e todas as condicionantes que agem direta ou indiretamente sobre a aprendizagem destes. O reconhecimento público da importância dos mestres sempre foi um bálsamo a aliviar o pesado fardo de quem se dispõe a construir o futuro do país formando seus futuros obreiros. Vivemos um momento em que a escola e a universidade pública são atacadas, pois, não são vistas como direito básico da população, mas, como mercadorias e como tal devem estar nas mãos da iniciativa privada. O surreal é ver quem não dispõe de condições financeiras para custear tais serviços defender sua privatização. As autoridades, salvo raras exceções, não vem a educação pública como investimento, mas, como gasto. Gestões na pasta da educação que visam economizar a qualquer custo e, assim, precarizando as condições de trabalho dos mestres, superlotando salas de aula, fechando turmas e escolas (que não tenham o número ideal de estudantes que é o máximo possível que o espaço comporta), pois, via de regra o número máximo se tornou o mínimo. É de tanto economizar em educação que se constitui a receita do fracasso de um país, e a evidência disso é o retorno das salas multisseriadas no Paraná.
            Neste ano minha escola teve nove professores afastados por estarem doentes (os mestres são acometidos de doenças específicas da profissão), outros trabalham mesmo doentes, para não serem prejudicados em futuras distribuições de aulas. Há alguns dias, um clima de velório tomou conta de minha escola. Questionei colegas professores sobre o estado emocional dos mestres noutras escolas, a resposta foi que a tristeza, a revolta e a sensação de demérito predominou. Nas redes sociais, relatos de mestres revoltados e professoras chorando não foram raros. Alguns estavam à beira da aposentadoria e, terão que trabalhar muito tempo mais. Todos tiveram o seu tempo de contribuição aumentado (cinco anos, 10 anos, ou mais). O que grande parcela da sociedade ignora, é que o fundo de previdência dos professores era auto-sustentável e, os seus recursos eram do funcionalismo público e, não do Governo do Estado. Imagine que você tem uma poupança para a sua velhice, seu patrão lhe desconta parte do salário alegando que irá depositar na sua conta, mas, não o faz e sequer paga a parte que lhe cabe. Depois toma o seu dinheiro da conta para cobrir rombos financeiros da empresa, e, consegue, por meios políticos e judiciais, o perdão desta dívida, fazendo-lhe trabalhar mais e ter uma velhice insegura. Foi isso o que aconteceu em 29 de abril de 2015 e, que foi ratificado agora com a reforma da previdência do Paraná. Quem teve o fundo de aposentadoria saqueado, foi o único a pagar a conta. Hoje, os mestres lamentam trabalhar mais tempo, quando o corpo e a mente não mais aguentam (exaustão emocional, síndrome de bournout, depressão, etc.), e, talvez, você seja indiferente. Amanhã lhe retiram a escola, a universidade e a saúde pública, pois, o projeto que embasa a política levada a cabo na esfera federal e estadual é a mesma, e, você não terá como reagir, pois estava distraído! Aos mestres que tive, aos que terei e, aos que compartilham dessa profissão, o meu reconhecimento!

sábado, 7 de dezembro de 2019

O Brasil não é para principiantes – parte 2




                O leitor destas linhas deve ter observado que tenho publicado mais resenhas de livros do que artigos de opinião sobre a situação política e econômica do país. Em conversa com um dos dois únicos leitores desta coluna, espantei-me ao saber que ele pensava que havia mudado o tema de meus artigos pelo risco implícito (ameaças, etc.) neste atual momento que lembra os tempos obscuros de um passado recente que teima em voltar, ou seja, a ameaça sempre presente de que o autoritarismo do governo Bolsonaro se dispa de suas máscaras e, mostre a sua real face. É importante observar que Bolsonaro foi eleito democraticamente, tal como Hitler o foi na Alemanha nazista. Apesar disso defendo com todas as minhas forças o regime democrático, que em meu ver pode não ser perfeito (ainda mais em um país com grande desigualdade social como é o caso do Brasil, pois, onde as injustiças sociais reinam de forma absoluta, a democracia somente ocorre com baixa intensidade), mas, não há nada melhor. A grande questão é: como exigir criticidade, consciência de classe e verdadeiro patriotismo a quem passa fome? E como fazê-lo a quem teve uma formação estudantil precária ou mesmo diplomado, constitui o rol dos analfabetos funcionais? Não é natural que o analfabeto funcional se torne o analfabeto político na definição de Bertolt Brecht?
            A Alemanha pagou caro pela experiência do nazismo. Mais caro ainda pagaram as vítimas do nazismo contadas aos milhões (judeus, negros, ciganos, sindicalistas, socialistas, comunistas, deficientes físicos, etc.). O Brasil pagou caro pela aventura militar (1964-1985) na forma do forte endividamento, inflação galopante, destruição do sistema educacional, censura, crimes praticados pelo Estado, etc., mais caro pagaram as vítimas que foram aquelas e aqueles que não se acovardaram e lutaram para que a democracia fosse restabelecida. Na Alemanha, país símbolo do capitalismo, cujo sistema é pelos próprios germânicos, denominado de economia social de mercado, muito há que nestas terras tupiniquins seria denominado de comunismo (políticas afirmativas), embora poucos dos brasileiros saibam definir exatamente o que o comunismo é, lutam contra o incipiente Estado de Bem-Estar Social (que aqui se tentou implantar com a Constituição de 1988), e do qual seriam/são os principais beneficiados. O grande salto para trás que o Brasil deu com a eleição de Bolsonaro, que, inclusive na campanha reiterava o seu desejo de que o país voltasse a ser como era há cinquenta anos atrás demonstra o seu caráter reacionário. O Brasil de cinquenta anos atrás era o Brasil do AI-5, das prisões políticas, dos desaparecidos políticos, dos militares na política (bem ao estilo república bananeira), da fome, do assassinato de indígenas, do descaso com o meio ambiente, da corrupção que não aparecia na mídia, pois, havia censura. Penso que a pessoa que defende um regime ditatorial como foi o período (1964-1985) somente pode ser considerada sob dois aspectos: é uma pessoa mal informada ou é dotada dos princípios mais baixos que se possa atribuir a um ser humano.
Não tenho problema algum em ter amigos que marcham nas fileiras da direita (e os tenho), porém, recuso ter proximidade com pessoas que defendem ditaduras. O motivo para tal, explico com um provérbio alemão que postula: “se em uma mesa estiverem sentados dez alemães e nela se sentar um alemão nazista, se os outros dez alemães não se retirarem, na mesa estarão onze alemães nazistas”. O mesmo ditado popular vale para o Brasil e os fascistas. Não se trata, portanto, de uma mera discordância política, mas, moral. Somos um país que se construiu sob o regime da escravidão, do genocídio do povo indígena e, de governos via de regra autoritários, que historicamente se habituaram a suprimir as vozes discordantes que brotavam/brotam no seio do povo. Concluo dizendo que se muitas vezes publico resenhas de livros, o faço por que é também minha paixão, mas, neste momento, principalmente, para preservar minha sanidade mental, pois, não me conformo em ver um governo com tanta gente despreparada, inconsequente e tola dirigindo o país e destruindo as possibilidades de sermos um futuro país soberano. É ainda mais lamentável ver que a ignorância que desfila com pompa em Brasília tenha quem lhe aplauda. Penso que a eleição de Bolsonaro será pedagógica, mostrará (e já está mostrando) que eleição é coisa séria e, que o povo não deve fazer arminha, ainda mais apontando (mesmo que inconscientemente) contra a própria cabeça, pois, fazer roleta russa é algo inconsequente e suicida!

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

O Morro dos Ventos Uivantes (com spoiler)



               
Emily Jane Brontë (1818-1848) foi uma escritora e poetisa britânica. Quinta filha de Patrick Brontë, pastor da Igreja Anglicana, tinha como irmãs Maria e Elizabeth (que faleceram devido à febre tifóide), Charlotte e Anne. Seu único irmão, Patrick Branwell, foi estimulado a desenvolver seus talentos artísticos na pintura. É dele a única pintura que retrata Emily Brontë e suas irmãs Anne e Charlotte. Nesta pintura sobre tela, Branwell também aparecia, porém, dela removeu sua imagem. O irmão de Emily sofria perturbações psicológicas e, acabou por se entregar ao alcoolismo, frustrando as expectativas do pai que desejava vê-lo na Academia de Belas Artes. Charlotte, Emily e Anne escreveram e publicaram romances numa sociedade vitoriana que considerava que a carreira literária era algo destinado aos homens. As irmãs Brontë, a contragosto, tiveram que utilizar pseudônimos masculinos, dessa forma, a publicação original de O Morro dos Ventos Uivantes teve em sua capa o nome de Ellis Bell na autoria. As três irmãs publicaram seus livros utilizando o mesmo sobrenome (Bell).
            Emily, devido à tuberculose, teve sua vida ceifada precocemente (30 anos de idade), porém, isso não a impediu de ter seu único romance publicado incluído na lista dos maiores clássicos da literatura mundial. O livro vendeu relativamente bem desde sua primeira edição, porém, com o passar do tempo suas vendas aumentaram progressivamente. A obra causou grande polêmica na sociedade inglesa, pois, mostrava personagens cujas personalidades eram dúbias, ora gentis, ora perversas. Não foram poucas as vozes a sugerir que todos os exemplares do livro deveriam ser incinerados. Talvez isso se deva ao fato de que a autora, por meio das personagens que criou em sua obra, desmistificou a hipocrisia da sociedade inglesa, ao mostrar que vistos de perto, ninguém ou quase ninguém, tem um espírito realmente bondoso e desinteressado. É ainda mais interessante observar que Emily era reclusa e muito tímida, pouco afeita a dialogar com as pessoas, porém, era autodidata e muito observadora, sendo capaz de traçar um perfil do caráter das pessoas que conhecia e de ler as entrelinhas das suas falas.
O romance “O Morro dos Ventos Uivantes” teve várias adaptações para o cinema e para a TV. O autor destas linhas assistiu a adaptação televisiva de 2009, que, embora razoável, com poucas alterações em relação a trama original, peca na escolha de um ator branco para a personagem principal (Heathcliff) que não condiz com a descrição feita pela autora (pele morena, aparência de cigano). A trama é contada por dois narradores, o inquilino Lockwood da Granja de Thrushcross e a governanta Nelly Dean. Lockwood resolve visitar Heathcliff, que lhe alugou o imóvel e que mora na propriedade vizinha conhecida como o Morro dos Ventos Uivantes. Pretende com tal ato estabelecer relações de amizade, porém, observa que as pessoas da casa são esquisitas e embrutecidas. Uma forte nevasca ocorre e o obriga a ficar na casa, para o desprazer dos seus anfitriões. No dia seguinte, após uma noite mal dormida, Lockwood retorna à casa da granja e começa a questionar a governanta Nelly sobre os estranhos sujeitos da casa do Morro dos Ventos Uivantes. Ela lhe conta que aquela propriedade originalmente era do Casal Earnshaw que tinha como filhos Hindley e Catherine. O Sr. Earnshaw ao voltar de uma viagem trouxe um garoto que vagava pelas ruas sem ter ninguém por ele e resolveu adotá-lo. Deu ao garoto o nome de Heathcliff. O irmão adotivo nunca o aceitou e passou a importuná-lo de todas as formas humilhando-o. Porém, sua irmã Catherine se identificou com ele e tornaram-se excelentes companheiros de travessuras. Quando os irmãos entram na juventude, o Sr. Earnshaw morre, e, Heathcliff perde o seu protetor.
A propriedade passa a ser administrada pelo filho Hindley que passa a tratar o irmão adotivo como um serviçal. Hindley casado com Frances tem um filho chamado Hareton. Catherine e Heathcliff se descobrem apaixonados e ele planeja inúmeras vezes a fuga do casal, porém, ela apesar de amá-lo, tem o sonho de um casamento que lhe faça rica e Heathcliff nada possui, além de que não vê nele o marido que idealiza. Na propriedade vizinha, a Granja Thrushcross mora a rica família Linton. Ao espionar a casa, Catherine é mordida pelo cão de guarda e é atendida por Edgar Linton. Algum tempo depois, Edgar lhe pede em casamento e Catherine pede tempo para pensar. Ao saber disso, Heathcliff fica indignado e vai embora do Morro dos Ventos Uivantes. Algum tempo depois, Heathcliff transformado, retorna com o firme propósito de se vingar de todos que o maltrataram e reaver seu amor, porém, encontra Catherine casada com Edgar Linton, algo com que ele não se conforma.
A volta de Heathcliff mexe com os sentimentos de Catherine que jamais deixou de amá-lo. Heathcliff adquire a propriedade do Morro dos Ventos Uivantes e, se vinga humilhando Hindley e seu filho Hareton de igual forma como fora no passado. Ao perceber que Isabella, irmã de Edgar Linton está por ele apaixonada, convence-a a fugir com ele. Não a ama, mas, deseja ferir Edgar e Catherine, e, se possível, esquecer Catherine. Não consegue e passa a maltratar Isabella que foge de casa, e, diante da recusa de seu irmão em aceitá-la de volta na Granja Thrushcross, muda-se da região. Catherine dá a luz a uma filha de Edgar e morre. A Filha chama-se Catherine (Cathy). Isabella descobre que está grávida de Heathcliff, tem o filho ao qual é dado o nome de Linton e, morre algum tempo depois. Edgar manda buscar o sobrinho, mas, Heathcliff exige que seu filho lhe seja entregue. Edgar Linton, doente, vê Heathcliff estimulando os jovens a se apaixonarem e tenta afastá-los. Edgar morre e Heathcliff planeja se apossar da Granja Thrushcross. Os jovens pressionados por Heathcliff se casam, mas, logo o jovem e doente noivo morre. O testamento estabelece que seu pai Heathcliff é o único herdeiro. Paro por aqui, já dei spoiler demais! Recomendo fortemente a obra!

Sugestão de boa leitura:

Título: O Morro dos Ventos Uivantes.
Autora: Emily Brontë.
Editora: Principis, 2019, 444 p.
Preço: R$ 15,92.

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

O Brasil não é para principiantes – parte 1



               
A frase título deste artigo, atribuída ao maestro Tom Jobim (1927-1994) dá a tônica do que é este país. Como entender este país e seu povo? Uma terra rica em recursos nacionais, a oitava economia mundial, um verdadeiro titã na produção de riquezas e de injustiças sociais. O general francês Charles de Gaulle certa vez afirmou: o Brasil não é um país sério. Tenho que concordar: não é mesmo! Em vários países do mundo a elite econômica local conduziu os esforços da população no caminho da prosperidade, não digo com isso que essas elites eram/sejam altruístas e desprovidas do egoísmo que caracteriza a alma liberal no campo econômico. Digo que essas elites tinham/têm a sensatez para não fazer furos no casco do próprio navio de modo que este afundasse/afunde, dessa forma, o alvo de suas pilhagens eram/são aqueles navios cujas bandeiras denotam a sua realidade periférica no capitalismo internacional. Nem por isso se pretende negar o notório fato da falta de patriotismo das gigantes transnacionais e do caráter vadio do capital especulativo, mas, evidenciar a falta de patriotismo, ou, de espírito revolucionário de nossas elites que preferem ver o Brasil no atraso social e econômico a perder o controle sobre a senzala.
O Estado encontra-se em disputa no mundo todo, o Brasil não é exceção. Alguns o querem mínimo, pois, entendem que educação, saúde, assistência e previdência social não são direitos básicos do cidadão como outros defendem, mas, produtos a serem comercializados pela iniciativa privada para quem puder pagar. O surreal é ver trabalhadores, portanto, pobres que não podem pagar pela educação básica ou superior no sistema de ensino privado defendendo o fim da educação pública gratuita. Outros reclamam dos serviços do SUS e defendem o seu fim quando deveriam exigir mais investimentos públicos e melhores condições de trabalho aos profissionais e com isso melhor qualidade de atendimento. Grande parte dessas pessoas não tem condições de pagar por procedimentos caros e não possuem planos de saúde privados. Não dá para chamar de sensata uma pessoa que assim age.
Neste estranho país em que há um projeto para taxar as grandes fortunas que se encontra engavetado no Congresso Nacional há mais de trinta anos, pois, se entende que a elite econômica nacional (a parcela de 1% mais rico do país) já paga impostos demais, o que não corresponde à verdade, pois, a tributação é regressiva haja vista que ocorre sobre o consumo, o que atinge majoritariamente a classe trabalhadora e isenta de tributação os dividendos da parcela abastada da sociedade. O que soa como uma piada, um escárnio, é a mais triste e infame realidade, o governo pretende taxar o seguro-desemprego e com isso criar uma espécie de “Imposto Sobre Grandes Pobrezas”. O cidadão perdeu o emprego e o governo vai confiscar uma parte do mísero valor que este recebe na forma de seguro-desemprego para bancar mais empregos precarizados aos jovens. Aliás, a precarização é a marca deste governo, não à toa, Bolsonaro disse que sua missão é destruir o que o PT construiu. É verdade que os governos petistas cometeram erros, mas, não se pode a guisa de ser anti-PT, ser anti-Brasil e anti-si próprio, há que se conservar (ou deveria) os avanços conquistados no período e que não foram poucos.
Nestes tempos de pós-verdade, em que os fatos já não importam, as pessoas buscam no supermercado midiático, a verdade que lhes convém, a que lhes dá razão, embora a palavra razão, neste caso, nada tenha de racional. A política se tornou um Fla-Flu, um Gre-Nal, pois, não há racionalidade. Quem até ontem defendia a bandeira de mais investimentos em educação, saúde, etc. hoje, assiste calado ou defende as iniciativas governamentais de redução de investimentos no setor público. É preciso lembrar que países com grande parcela da população em estado de pobreza são os que mais necessitam da ação do Estado, e defender isso não faz de alguém um comunista, mas, uma pessoa verdadeiramente humana. Também é interessante observar que quem empunhava a bandeira da luta contra a corrupção, hoje se cala ante os escândalos de personagens públicas do governo ou de sua base de apoio. Neste país surreal, muitos cristãos falam de Deus, mas, não vivem os ensinamentos de Jesus Cristo. Para muita gente, pensar além do próprio umbigo, ou se preferir, além de seu próprio bolso parece ser uma tarefa equivalente a escalar o Monte Everest. Há pessoas que até gostam de fazer doações em épocas natalinas, mas, trabalham e votam com o intuito de que a justiça social jamais ocorra! E isso vai contra o que o mestre Paulo Freire (1921-1997) nos ensinou: “a justiça social precisa vir antes da caridade”.