Em uma rede social, um post se tornou viral. O
post relatava que uma empresa privada que operava vários ramais ferroviários no
Japão, decidiu manter funcionando uma estação inviável do ponto de vista do
lucro, pois, ali somente uma passageira embarcava e desembarcava diariamente.
Uma adolescente que se dirigia a escola e retornava no fim do dia. A decisão
altruísta, sensata e admirável da empresa privada japonesa emocionou milhares,
talvez milhões de pessoas. A empresa cumpriu um preceito que grande parcela dos
empresários finge desconhecer, a responsabilidade social. Esse não é um caso
isolado, os japoneses já demonstraram várias vezes atitudes que, ora nos causam
inveja, ora nos faz corar de vergonha como povo, dada a nossa falta de
educação, respeito e baixo nível cultural. O estudante no Japão é muito
valorizado, não à toa, as estudantes costumam utilizar uniformes escolares nos
feriados em momentos de lazer. Sabe-se que o imperador japonês não se curva
perante nenhuma autoridade nacional ou estrangeira, mas, em várias solenidades
diferentes imperadores se curvaram ante professores, como forma de
reconhecimento.
Se no Japão e em outros países, ainda há certo glamour no
exercício do magistério. O mesmo não ocorre nestas paragens. No passado,
professores tinham o reconhecimento dos pais, dos estudantes e, dia dos
professores era uma data em que voltavam carregados de flores, cartões, poesias
e presentes de pequeno valor, mas, de grande significância. Todo professor sabe
que sem seu trabalho o país para, afinal, todas as profissões dependem dos
ensinamentos do velho mestre, do auxiliar de escritório ao empresário, do
contínuo ao gerente de banco, do enfermeiro ao médico, do advogado ao juiz, do
estudante ao professor. Professor é tão necessário que sem ele, sendo professor
de si mesmo, nessa luta abnegada de ensinar a si próprio, de jamais desistir de
buscar o conhecimento, de se manter atualizado em um mundo que não conhece o
ponto morto e nem possui pedal de freio, o curso da história não seria tal como
o conhecemos, mesmo que ele não seja como gostaríamos, pois, sem o professor e a
escola, tudo o que resta, é a barbárie.
Se como disse o poeta: “o que mata um jardim é o olhar
indiferente de quem por ele passa”, o que mata o professor é muito mais o
desrespeito, a vilanização que se faz dos mestres, acusados dos insucessos dos
estudantes sem que a sociedade se dê ao trabalho de refletir sobre as condições
de trabalho a eles ofertadas e todas as condicionantes que agem direta ou indiretamente
sobre a aprendizagem destes. O reconhecimento público da importância dos
mestres sempre foi um bálsamo a aliviar o pesado fardo de quem se dispõe a
construir o futuro do país formando seus futuros obreiros. Vivemos um momento
em que a escola e a universidade pública são atacadas, pois, não são vistas
como direito básico da população, mas, como mercadorias e como tal devem estar
nas mãos da iniciativa privada. O surreal é ver quem não dispõe de condições
financeiras para custear tais serviços defender sua privatização. As
autoridades, salvo raras exceções, não vem a educação pública como
investimento, mas, como gasto. Gestões na pasta da educação que visam economizar
a qualquer custo e, assim, precarizando as condições de trabalho dos mestres,
superlotando salas de aula, fechando turmas e escolas (que não tenham o número
ideal de estudantes que é o máximo possível que o espaço comporta), pois, via
de regra o número máximo se tornou o mínimo. É de tanto economizar em educação
que se constitui a receita do fracasso de um país, e a evidência disso é o
retorno das salas multisseriadas no Paraná.
Neste ano minha escola teve nove professores afastados
por estarem doentes (os mestres são acometidos de doenças específicas da
profissão), outros trabalham mesmo doentes, para não serem prejudicados em futuras
distribuições de aulas. Há alguns dias, um clima de velório tomou conta de minha
escola. Questionei colegas professores sobre o estado emocional dos mestres noutras
escolas, a resposta foi que a tristeza, a revolta e a sensação de demérito
predominou. Nas redes sociais, relatos de mestres revoltados e professoras
chorando não foram raros. Alguns estavam à beira da aposentadoria e, terão que
trabalhar muito tempo mais. Todos tiveram o seu tempo de contribuição aumentado
(cinco anos, 10 anos, ou mais). O que grande parcela da sociedade ignora, é que
o fundo de previdência dos professores era auto-sustentável e, os seus recursos
eram do funcionalismo público e, não do Governo do Estado. Imagine que você tem
uma poupança para a sua velhice, seu patrão lhe desconta parte do salário
alegando que irá depositar na sua conta, mas, não o faz e sequer paga a parte
que lhe cabe. Depois toma o seu dinheiro da conta para cobrir rombos
financeiros da empresa, e, consegue, por meios políticos e judiciais, o perdão
desta dívida, fazendo-lhe trabalhar mais e ter uma velhice insegura. Foi isso o
que aconteceu em 29 de abril de 2015 e, que foi ratificado agora com a reforma
da previdência do Paraná. Quem teve o fundo de aposentadoria saqueado, foi o
único a pagar a conta. Hoje, os mestres lamentam trabalhar mais tempo, quando o
corpo e a mente não mais aguentam (exaustão emocional, síndrome de bournout,
depressão, etc.), e, talvez, você seja indiferente. Amanhã lhe retiram a escola,
a universidade e a saúde pública, pois, o projeto que embasa a política levada
a cabo na esfera federal e estadual é a mesma, e, você não terá como reagir,
pois estava distraído! Aos mestres que tive, aos que terei e, aos que
compartilham dessa profissão, o meu reconhecimento!
Nenhum comentário:
Postar um comentário