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sábado, 7 de dezembro de 2019

O Brasil não é para principiantes – parte 2




                O leitor destas linhas deve ter observado que tenho publicado mais resenhas de livros do que artigos de opinião sobre a situação política e econômica do país. Em conversa com um dos dois únicos leitores desta coluna, espantei-me ao saber que ele pensava que havia mudado o tema de meus artigos pelo risco implícito (ameaças, etc.) neste atual momento que lembra os tempos obscuros de um passado recente que teima em voltar, ou seja, a ameaça sempre presente de que o autoritarismo do governo Bolsonaro se dispa de suas máscaras e, mostre a sua real face. É importante observar que Bolsonaro foi eleito democraticamente, tal como Hitler o foi na Alemanha nazista. Apesar disso defendo com todas as minhas forças o regime democrático, que em meu ver pode não ser perfeito (ainda mais em um país com grande desigualdade social como é o caso do Brasil, pois, onde as injustiças sociais reinam de forma absoluta, a democracia somente ocorre com baixa intensidade), mas, não há nada melhor. A grande questão é: como exigir criticidade, consciência de classe e verdadeiro patriotismo a quem passa fome? E como fazê-lo a quem teve uma formação estudantil precária ou mesmo diplomado, constitui o rol dos analfabetos funcionais? Não é natural que o analfabeto funcional se torne o analfabeto político na definição de Bertolt Brecht?
            A Alemanha pagou caro pela experiência do nazismo. Mais caro ainda pagaram as vítimas do nazismo contadas aos milhões (judeus, negros, ciganos, sindicalistas, socialistas, comunistas, deficientes físicos, etc.). O Brasil pagou caro pela aventura militar (1964-1985) na forma do forte endividamento, inflação galopante, destruição do sistema educacional, censura, crimes praticados pelo Estado, etc., mais caro pagaram as vítimas que foram aquelas e aqueles que não se acovardaram e lutaram para que a democracia fosse restabelecida. Na Alemanha, país símbolo do capitalismo, cujo sistema é pelos próprios germânicos, denominado de economia social de mercado, muito há que nestas terras tupiniquins seria denominado de comunismo (políticas afirmativas), embora poucos dos brasileiros saibam definir exatamente o que o comunismo é, lutam contra o incipiente Estado de Bem-Estar Social (que aqui se tentou implantar com a Constituição de 1988), e do qual seriam/são os principais beneficiados. O grande salto para trás que o Brasil deu com a eleição de Bolsonaro, que, inclusive na campanha reiterava o seu desejo de que o país voltasse a ser como era há cinquenta anos atrás demonstra o seu caráter reacionário. O Brasil de cinquenta anos atrás era o Brasil do AI-5, das prisões políticas, dos desaparecidos políticos, dos militares na política (bem ao estilo república bananeira), da fome, do assassinato de indígenas, do descaso com o meio ambiente, da corrupção que não aparecia na mídia, pois, havia censura. Penso que a pessoa que defende um regime ditatorial como foi o período (1964-1985) somente pode ser considerada sob dois aspectos: é uma pessoa mal informada ou é dotada dos princípios mais baixos que se possa atribuir a um ser humano.
Não tenho problema algum em ter amigos que marcham nas fileiras da direita (e os tenho), porém, recuso ter proximidade com pessoas que defendem ditaduras. O motivo para tal, explico com um provérbio alemão que postula: “se em uma mesa estiverem sentados dez alemães e nela se sentar um alemão nazista, se os outros dez alemães não se retirarem, na mesa estarão onze alemães nazistas”. O mesmo ditado popular vale para o Brasil e os fascistas. Não se trata, portanto, de uma mera discordância política, mas, moral. Somos um país que se construiu sob o regime da escravidão, do genocídio do povo indígena e, de governos via de regra autoritários, que historicamente se habituaram a suprimir as vozes discordantes que brotavam/brotam no seio do povo. Concluo dizendo que se muitas vezes publico resenhas de livros, o faço por que é também minha paixão, mas, neste momento, principalmente, para preservar minha sanidade mental, pois, não me conformo em ver um governo com tanta gente despreparada, inconsequente e tola dirigindo o país e destruindo as possibilidades de sermos um futuro país soberano. É ainda mais lamentável ver que a ignorância que desfila com pompa em Brasília tenha quem lhe aplauda. Penso que a eleição de Bolsonaro será pedagógica, mostrará (e já está mostrando) que eleição é coisa séria e, que o povo não deve fazer arminha, ainda mais apontando (mesmo que inconscientemente) contra a própria cabeça, pois, fazer roleta russa é algo inconsequente e suicida!

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