O leitor destas linhas deve ter
observado que tenho publicado mais resenhas de livros do que artigos de opinião
sobre a situação política e econômica do país. Em conversa com um dos dois únicos
leitores desta coluna, espantei-me ao saber que ele pensava que havia mudado o
tema de meus artigos pelo risco implícito (ameaças, etc.) neste atual momento que
lembra os tempos obscuros de um passado recente que teima em voltar, ou seja, a
ameaça sempre presente de que o autoritarismo do governo Bolsonaro se dispa de
suas máscaras e, mostre a sua real face. É importante observar que Bolsonaro
foi eleito democraticamente, tal como Hitler o foi na Alemanha nazista. Apesar
disso defendo com todas as minhas forças o regime democrático, que em meu ver
pode não ser perfeito (ainda mais em um país com grande desigualdade social
como é o caso do Brasil, pois, onde as injustiças sociais reinam de forma
absoluta, a democracia somente ocorre com baixa intensidade), mas, não há nada
melhor. A grande questão é: como exigir criticidade, consciência de classe e
verdadeiro patriotismo a quem passa fome? E como fazê-lo a quem teve uma
formação estudantil precária ou mesmo diplomado, constitui o rol dos
analfabetos funcionais? Não é natural que o analfabeto funcional se torne o
analfabeto político na definição de Bertolt Brecht?
A Alemanha pagou caro pela experiência do nazismo. Mais
caro ainda pagaram as vítimas do nazismo contadas aos milhões (judeus, negros,
ciganos, sindicalistas, socialistas, comunistas, deficientes físicos, etc.). O
Brasil pagou caro pela aventura militar (1964-1985) na forma do forte
endividamento, inflação galopante, destruição do sistema educacional, censura,
crimes praticados pelo Estado, etc., mais caro pagaram as vítimas que foram
aquelas e aqueles que não se acovardaram e lutaram para que a democracia fosse
restabelecida. Na Alemanha, país símbolo do capitalismo, cujo sistema é pelos
próprios germânicos, denominado de economia social de mercado, muito há que
nestas terras tupiniquins seria denominado de comunismo (políticas afirmativas),
embora poucos dos brasileiros saibam definir exatamente o que o comunismo é,
lutam contra o incipiente Estado de Bem-Estar Social (que aqui se tentou
implantar com a Constituição de 1988), e do qual seriam/são os principais
beneficiados. O grande salto para trás que o Brasil deu com a eleição de
Bolsonaro, que, inclusive na campanha reiterava o seu desejo de que o país
voltasse a ser como era há cinquenta anos atrás demonstra o seu caráter
reacionário. O Brasil de cinquenta anos atrás era o Brasil do AI-5, das prisões
políticas, dos desaparecidos políticos, dos militares na política (bem ao
estilo república bananeira), da fome, do assassinato de indígenas, do descaso
com o meio ambiente, da corrupção que não aparecia na mídia, pois, havia censura.
Penso que a pessoa que defende um regime ditatorial como foi o período
(1964-1985) somente pode ser considerada sob dois aspectos: é uma pessoa mal
informada ou é dotada dos princípios mais baixos que se possa atribuir a um ser
humano.
Não
tenho problema algum em ter amigos que marcham nas fileiras da direita (e os
tenho), porém, recuso ter proximidade com pessoas que defendem ditaduras. O
motivo para tal, explico com um provérbio alemão que postula: “se em uma mesa
estiverem sentados dez alemães e nela se sentar um alemão nazista, se os outros
dez alemães não se retirarem, na mesa estarão onze alemães nazistas”. O mesmo
ditado popular vale para o Brasil e os fascistas. Não se trata, portanto, de uma
mera discordância política, mas, moral. Somos um país que se construiu sob o
regime da escravidão, do genocídio do povo indígena e, de governos via de regra
autoritários, que historicamente se habituaram a suprimir as vozes discordantes
que brotavam/brotam no seio do povo. Concluo dizendo que se muitas vezes
publico resenhas de livros, o faço por que é também minha paixão, mas, neste
momento, principalmente, para preservar minha sanidade mental, pois, não me
conformo em ver um governo com tanta gente despreparada, inconsequente e tola
dirigindo o país e destruindo as possibilidades de sermos um futuro país
soberano. É ainda mais lamentável ver que a ignorância que desfila com pompa em
Brasília tenha quem lhe aplauda. Penso que a eleição de Bolsonaro será
pedagógica, mostrará (e já está mostrando) que eleição é coisa séria e, que o
povo não deve fazer arminha, ainda mais apontando (mesmo que inconscientemente)
contra a própria cabeça, pois, fazer roleta russa é algo inconsequente e
suicida!
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