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domingo, 28 de outubro de 2018

Um canalha à porta do Planalto


Um canalha à porta do Planalto

POR FRANCISCO ASSIS - EURODEPUTADO DO PS PARA O JORNAL PÚBLICO (PORTUGAL)

Carlos Alberto Brilhante Ustra foi um dos maiores, senão mesmo o maior torcionário, no tempo da ditadura militar que vigorou no Brasil entre 1964 e 1985. Em 2008 foi o primeiro oficial condenado por sequestro e tortura. Comprovadamente, maltratou física e psicologicamente centenas de pessoas e chegou ao limite de obrigar crianças a presenciarem o dilacerante espectáculo do espancamento dos respectivos progenitores. Nunca reconheceu os seus crimes nem manifestou o mais leve arrependimento pelos seus actos desumanos. Era um canalha. Morreu em 2015, em Brasília, na cama de um hospital. Foi precisamente este torcionário miserável que o então deputado federal Jair Bolsonaro homenageou no momento em que votou a favor do impeachment da Presidente Dilma Rousseff. Nessa ocasião, Bolsonaro pronunciou uma declaração que o define integralmente: dedicou o seu voto à “memória do Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff”. É impossível imaginar, naquele contexto, uma afirmação mais vil, um comportamento mais indigno, uma atitude mais asquerosa. Bolsonaro revelou-se ali o que ele verdadeiramente é: um canalha em estado puro.
O que é um canalha em estado puro? É alguém que contraria qualquer tipo de critério moral e se coloca num plano comportamental pré ou anticivilizacional. Quem elogia o torturador de uma jovem mulher absolutamente indefesa atribui-se a si próprio um estatuto praticamente sub-humano. Bolsonaro é dessa estirpe, desse rol de gente que leva à interrogação sobre o que subsiste de humano no homem que literalmente se desumaniza. [...] A barbárie tem muitos rostos: é estúpida, boçal, intolerante, sectária, fanática, simplista, racista, xenófoba, homofóbica, sexista, classista, irremediavelmente preconceituosa, inevitavelmente primária. Jair Bolsonaro é um dos rostos perfeitos dessa barbárie em versão actual. Tudo nele aponta para a pequenez: é um ser intelectualmente medíocre, eticamente execrável, politicamente vulgar. Nele observa-se uma prodigiosa ausência de qualquer tipo de grandeza e uma assustadora presença de tudo quanto invalida um cidadão para o desempenho da mais humilde função pública. Por isso mesmo ele é extraordinariamente perigoso: é a expressão quase exemplar do homem sem qualidades subitamente erigido a um papel de liderança.
[...] Alguns analistas políticos, uns por ignorância, outros por má-fé, tentam convencer-nos que os brasileiros terão de escolher nas eleições presidenciais entre a cólera e a peste. Isso não corresponde minimamente à verdade. Equiparar Haddad a Bolsonaro constitui um acto moral e politicamente inqualificável. Quem o faz torna-se cúmplice de Bolsonaro, da sua vertigem proto-fascista, da sua propensão para o culto da violência. É por isso que não pode haver hesitações neste momento da história do Brasil e, de uma certa maneira, da própria história da Humanidade. Haddad é um intelectual sofisticado, um democrata respeitador dos princípios fundamentais das sociedades abertas e pluralistas, um homem de reconhecida integridade cívica e moral.
[...] Uma vitória de Bolsonaro significaria um retrocesso civilizacional para o Brasil e para o mundo. Não estamos, por isso, a falar de um confronto político e ideológico normal. Estamos perante um verdadeiro confronto entre a civilização, por mais ténue que esta seja, e a barbárie. Haddad é hoje mais do que Haddad, é mais do que o PT, é mesmo mais do que o Brasil. Haddad é o símbolo da luta da razão crítica contra o obscurantismo, da liberdade face ao despotismo, da aspiração igualitária diante do culto das hierarquias de base biológica ou social. É por isso que este combate nos interpela a todos. Estamos perante um momento de divisão clara entre o que no Homem há de apelo à razão, ao culto da liberdade, ao sentido da fraternidade, e o que no mesmo Homem há de impulso básico para o autoritarismo, a servidão e a anulação da inteligência crítica. Há horas na história em que tudo se reconduz a uma dicotomia simples que é ela própria o oposto de uma redução ao simplismo. Sejamos claros, no Brasil, hoje, a opção é evidente: Haddad significa a civilização, Bolsonaro representa a barbárie [...].

Leia o artigo completo acessando o link abaixo:

FONTE: Disponível em: https://www.publico.pt/2018/10/11/mundo/opiniao/um-canalha-a-porta-do-planalto-1847097 - Acesso em 14 de outubro de 2018.


quinta-feira, 18 de outubro de 2018

A democracia acima de tudo!



            Há algumas semanas publiquei neste espaço o artigo “o pior dos mundos” afirmando ser um (improvável) confronto entre Alckmin (PSDB) x Bolsonaro (PSL). Reitero que há muito tempo sou opositor ferrenho ao que o PSDB representa na política brasileira. Porém, as leituras e o tempo de reflexão me esclareceram sobre o que faria neste embate que não se realizou. No Rio, ferrenhos opositores de Eduardo Paes (DEM) estão declarando voto nele, pois consideram Wilson Witzel (PSC) ainda pior. Eu, mesmo que a contragosto, votaria em Alckmin para evitar que um político fascista e tudo o que ele representa suba a rampa do Palácio do Planalto. Logicamente faria isso por não haver alternativa, com Alckmin perderíamos os anéis (aprofundamento do neoliberalismo, desmonte de direitos trabalhistas, reforma previdenciária, privatizações entreguistas, corte de gastos sociais, aumento da desigualdade social, etc.), mas, manteríamos os dedos (a democracia). Com Bolsonaro perderíamos os anéis e também os dedos, basta verificar todas as suas falas fascistas que evidenciam o seu pensamento, que infelizmente seduz milhões de seguidores que se vêm nele representados.
            Apesar das orientações de que era necessário dialogar com os bolsonaristas, esclarecer o perigo que Bolsonaro representa para a nação, excluí mais de duzentos seguidores de Bolsonaro da minha rede de amigos virtuais do Facebook. Porém, nem isso me livra da decepção que com eles tive, pois, não se trata de mera divergência ideológica, mas, moral. Na Alemanha, berço do nazismo, há um adágio que explica o que penso: “se em uma mesa estão sentadas dez pessoas, e nela um nazista vem se sentar. Se as dez pessoas não se retirarem, na mesa estarão onze nazistas”. Sei que nada demove os bolsonaristas de sua intenção, o fascismo está em seu DNA. De igual forma, na Alemanha pré-nazista, nada foi capaz de mudar a opinião dos judeus que pretendiam votar em Hitler, apesar dos esforços dos judeus opositores do líder nazista em esclarecer o perigo que ele representava para o povo judeu. Sempre disse que sou avesso a qualquer tipo de ditadura seja de direita ou de esquerda e defendo sempre a democracia, que pode não ser perfeita, mas ainda é o que há de melhor.
A história demonstra que temos uma tradição autocrática, a democracia ocorre nos intervalos de períodos autoritários. Esse apego de grande parcela do povo brasileiro aos regimes autoritários tem sua raiz no sistema escravagista, que em nosso país persistiu por tanto tempo que fez dele o último a extinguí-lo. Li que na época da escravidão, havia uma parcela de trabalhadores livres (imigrantes europeus) que eram contrários à libertação dos escravos. Sentiam-se superiores, pois, embora miseráveis, não eram escravos. Da mesma forma, há na atualidade, trabalhadores que se dizem de classe média (equívoco conceitual) que são opositores de qualquer programa que vise melhorar a situação da parcela miserável da sociedade. Gostam de se sentir especiais devido às qualidades pseudo meritocráticas que atribuem a si próprios.
O único lado positivo do Golpe de Estado de 2016 e de tudo que se seguiu a ele foi o fato de desnudar a sociedade brasileira evidenciando perante o mundo que se Deus é brasileiro, não é muito popular nestas bandas. Aqui há grande possibilidade de um político que já afirmou ser defensor da tortura e da morte se eleger com o apoio de religiosos cristãos que esquecem que Cristo foi torturado e morto. Estes religiosos apóiam a “política do bandido bom é bandido morto” tal como os religiosos que pediram a morte de Cristo. Enfim, o Brasil demonstra não ser um pais sério como diz a célebre frase. A eleição está sendo e poderá ser decidida por fake news em grupos de Whatsapp. Será por vontade do povo se Bolsonaro for eleito, mas, não sem importantíssima contribuição da Mídia, do Poder Legislativo e Judiciário que chocaram o ovo da serpente desde 2013 (guerra híbrida). Resta pedir ao eleitor indeciso que reflita sobre qual Brasil quer para si, seus filhos e netos, pois, a arma (Bolsonaro) que muitos desejam ver liberada pode se voltar contra você e sua descendência! A democracia pode não ser perfeita, mas, ainda não se criou nada melhor! A democracia acima de tudo!

P.S. A frase “o Brasil acima de tudo” denota a origem, pois, na Alemanha Nazista se utilizava a expressão: “Deutschland über alles”, ou seja, A Alemanha acima de tudo!

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Não aprendemos!



            Costumamos criticar o quadro atual da política brasileira como se este não tivesse nenhuma relação conosco enquanto sociedade. A verdade é que não encaramos a política com a seriedade e o bom senso necessário. O ato de votar consiste em passar uma procuração para o representante escolhido pelo eleitor, mas, parece que muitos eleitores disso não têm consciência. Você passaria uma procuração para que alguém o representasse inclusive com o poder de negociar seus direitos sem conhecer bem as intenções, o caráter e o passado desta pessoa? Você, por uma paixão extremada indicaria como seu procurador uma pessoa de caráter duvidoso, cujas intenções constituem uma grande incógnita, preterindo dessa forma o outro procurador possível, o qual ostenta credenciais claramente superiores apenas por que ele torce pelo clube de futebol que você aprendeu a detestar e a se opor? O leitor poderia dizer que futebol e política não têm nada a ver, porém, em se tratando do Brasil, digo que está equivocado. Tratamos a política tal como ao futebol, paixão e ódio se misturam. O mundo sabe que nosso futebol está em decadência, como também a nossa democracia, aliás, estamos em franca decadência como sociedade.
            Nas eleições de 2014 elegemos o pior parlamento desde o fim da ditadura militar (grande parte com pendências judiciais). Em 2018, elegemos um ainda pior. Em um momento em que o Brasil figura novamente no mapa da fome da ONU, os eleitores brasileiros ampliaram as representações da Bancada do Boi, da Bala e da Bíblia que representam o que há de mais conservador e avesso ao avanço do país rumo a uma sociedade menos injusta, tendo em vista que figura entre as mais desiguais do planeta. A eleição do ator pornô Alexandre Frota (PSL) e a reeleição de Tiririca (PR) e de Aécio Neves (PSDB) demonstram que a culpa talvez não seja dos políticos, mas, do eleitor, pois, já não é possível falar que foi enganado pela lábia dos candidatos e que não conhecia o passado dos mesmos. Falta seriedade ao eleitor brasileiro, que age como se a política fosse o confronto entre agremiações adversárias num jogo de futebol, porém, quando o jogo de futebol acaba, não traz consequências práticas para a vida dos torcedores, o que não é o caso da política. Com a expansão da bancada da Bíblia no parlamento, o Estado laico, símbolo das sociedades democráticas encontra-se cada vez mais ameaçado. A mistura de religião e política no seio do Estado, sempre gerou historicamente sociedades pouco democráticas, nas quais os fundamentos religiosos de um grupo se impuseram até mesmo às pessoas que deles não compartilhavam tolhendo-lhes seus direitos individuais.
            A eleição também demonstrou que o eleitor brasileiro reelegeu figuras envolvidas em corrupção. Isso demonstra que a corrupção é seletiva. Para muitos eleitores somente é corrupto o político da agremiação adversária. Dessa forma, políticos que tiveram forte atuação favorável ao Golpe de Estado de 2016 foram reeleitos, por sua vez, políticos que tiveram grande destaque na defesa da legalidade, dos direitos trabalhistas e da soberania nacional ante o entreguismo instalado pelo governo golpista foram rejeitados nas urnas. É o caso de Roberto Requião (MDB), um dos parlamentares mais cultos, patriotas e preparados do Parlamento. Em seu lugar assume o Professor Oriovisto Guimarães (Podemos), cuja trajetória, ideologia e classe de origem indica que tomará rumo diverso ao de Requião. Flávio Arns (Rede), por sua vez, carece de capacidade combativa e de constância ideológica. Requião é uma voz em defesa da legalidade, da soberania nacional e dos diretos dos trabalhadores cuja falta se ressentirá a nação e a classe trabalhadora. Outra falta no Senado será a do também legalista e defensor da classe trabalhadora Lindbergh Farias (PT). Eduardo Suplicy e Dilma Rousseff ambos do PT também poderiam contribuir muito com a pauta da classe trabalhadora num parlamento majoritariamente ocupado por representantes da classe dominante. A classe dominante é majoritária na política brasileira com grande ajuda do pobre de direita que constitui o mais importante produto fabricado pelo capitalismo brasileiro. Enquanto houver pobre de direita que por odiar pobres (que ao fim e ao cabo também é) vota sempre contra os seus próprios interesses, a elite agradece e a miséria permanece!