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sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Não aprendemos!



            Costumamos criticar o quadro atual da política brasileira como se este não tivesse nenhuma relação conosco enquanto sociedade. A verdade é que não encaramos a política com a seriedade e o bom senso necessário. O ato de votar consiste em passar uma procuração para o representante escolhido pelo eleitor, mas, parece que muitos eleitores disso não têm consciência. Você passaria uma procuração para que alguém o representasse inclusive com o poder de negociar seus direitos sem conhecer bem as intenções, o caráter e o passado desta pessoa? Você, por uma paixão extremada indicaria como seu procurador uma pessoa de caráter duvidoso, cujas intenções constituem uma grande incógnita, preterindo dessa forma o outro procurador possível, o qual ostenta credenciais claramente superiores apenas por que ele torce pelo clube de futebol que você aprendeu a detestar e a se opor? O leitor poderia dizer que futebol e política não têm nada a ver, porém, em se tratando do Brasil, digo que está equivocado. Tratamos a política tal como ao futebol, paixão e ódio se misturam. O mundo sabe que nosso futebol está em decadência, como também a nossa democracia, aliás, estamos em franca decadência como sociedade.
            Nas eleições de 2014 elegemos o pior parlamento desde o fim da ditadura militar (grande parte com pendências judiciais). Em 2018, elegemos um ainda pior. Em um momento em que o Brasil figura novamente no mapa da fome da ONU, os eleitores brasileiros ampliaram as representações da Bancada do Boi, da Bala e da Bíblia que representam o que há de mais conservador e avesso ao avanço do país rumo a uma sociedade menos injusta, tendo em vista que figura entre as mais desiguais do planeta. A eleição do ator pornô Alexandre Frota (PSL) e a reeleição de Tiririca (PR) e de Aécio Neves (PSDB) demonstram que a culpa talvez não seja dos políticos, mas, do eleitor, pois, já não é possível falar que foi enganado pela lábia dos candidatos e que não conhecia o passado dos mesmos. Falta seriedade ao eleitor brasileiro, que age como se a política fosse o confronto entre agremiações adversárias num jogo de futebol, porém, quando o jogo de futebol acaba, não traz consequências práticas para a vida dos torcedores, o que não é o caso da política. Com a expansão da bancada da Bíblia no parlamento, o Estado laico, símbolo das sociedades democráticas encontra-se cada vez mais ameaçado. A mistura de religião e política no seio do Estado, sempre gerou historicamente sociedades pouco democráticas, nas quais os fundamentos religiosos de um grupo se impuseram até mesmo às pessoas que deles não compartilhavam tolhendo-lhes seus direitos individuais.
            A eleição também demonstrou que o eleitor brasileiro reelegeu figuras envolvidas em corrupção. Isso demonstra que a corrupção é seletiva. Para muitos eleitores somente é corrupto o político da agremiação adversária. Dessa forma, políticos que tiveram forte atuação favorável ao Golpe de Estado de 2016 foram reeleitos, por sua vez, políticos que tiveram grande destaque na defesa da legalidade, dos direitos trabalhistas e da soberania nacional ante o entreguismo instalado pelo governo golpista foram rejeitados nas urnas. É o caso de Roberto Requião (MDB), um dos parlamentares mais cultos, patriotas e preparados do Parlamento. Em seu lugar assume o Professor Oriovisto Guimarães (Podemos), cuja trajetória, ideologia e classe de origem indica que tomará rumo diverso ao de Requião. Flávio Arns (Rede), por sua vez, carece de capacidade combativa e de constância ideológica. Requião é uma voz em defesa da legalidade, da soberania nacional e dos diretos dos trabalhadores cuja falta se ressentirá a nação e a classe trabalhadora. Outra falta no Senado será a do também legalista e defensor da classe trabalhadora Lindbergh Farias (PT). Eduardo Suplicy e Dilma Rousseff ambos do PT também poderiam contribuir muito com a pauta da classe trabalhadora num parlamento majoritariamente ocupado por representantes da classe dominante. A classe dominante é majoritária na política brasileira com grande ajuda do pobre de direita que constitui o mais importante produto fabricado pelo capitalismo brasileiro. Enquanto houver pobre de direita que por odiar pobres (que ao fim e ao cabo também é) vota sempre contra os seus próprios interesses, a elite agradece e a miséria permanece!

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