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quinta-feira, 25 de maio de 2017

República Federativa Plutocleptocrata do Brasil

Há alguns dias um professor veio contar-me as novidades acerca da triste e vexaminosa realidade política nacional. Chamou-me a atenção o fato de ele afirmar que o fazia porque eu “quase não gostava de política” dando a entender haver certo exagero de minha parte no interesse que tenho por esta. Vivemos um momento em que não conseguimos olhar para nossos países vizinhos da América Latina sem um olhar acabrunhado, que dirá para as grandes nações democráticas do Norte. O gigante da América Latina se tornou um anão. É bom que se diga que nunca tivemos uma democracia consolidada em nosso país. A desigualdade social, uma das maiores do planeta somada a uma elite arcaica, ignorante e violenta não permitem que a democracia floresça nesta terra. Contribui para a falta de democracia em solo pátrio a extrema concentração da mídia nas mãos de apenas seis famílias. Estas seis famílias, por meio de seus comandados, selecionam, editam, manipulam e ocultam as notícias de acordo com os interesses do grupo empresarial ou da classe dominante que representam e fazem do povo, uma multidão de teleguiados. Não há em nenhum país do mundo, um grupo de mídia de massa com o poder da Rede Globo. E isso ocorre porque é indecente e ultrajante demais para qualquer país que se pretenda democrático. O Brasil, um país de mais de duzentos milhões de habitantes, constitui uma população gigantesca de subcidadãos, pessoas que não exercem sua cidadania plena porque não são suficientemente conscientizados e politizados para tal, e isto ocorre provavelmente pelo baixo nível instrucional formal, e pelas carências programadas da educação pública, que não consegue desenvolver no educando, o espírito crítico e cidadão tão necessário a que deixemos de ser uma republiqueta de bananas. Não somos um país com tradição democrata. Em nossa história, apenas três presidentes no regime democrático conseguiram levar a cabo seus mandatos: JK, FHC e Lula. Temos uma grande desigualdade social, e o número de desempregados e subempregados não para de crescer. Além de pobre, nossa população tem um grande número de analfabetos funcionais que apesar de portarem diplomas de graduação são incapazes de fazer uma interpretação crítica e contextualizada de artigos mais densos. Pretender então que essas pessoas consigam fazer uma leitura crítica da realidade em seus âmbitos local, estadual, nacional ou mundial e nele saibam compreender o papel que desempenham e o que deveriam representar é esperar demais. Tanto é assim, que nesse país rico, cuja maior parcela do povo é pobre, o trabalhador defende encarniçadamente o patrão que lhe explora, e vota nos candidatos da direita que uma vez instalados no poder, defendem os interesses da plutocracia, da qual fazem parte. E o resultado está na composição do parlamento federal em que 90% dos integrantes são latifundiários, empresários, banqueiros, etc. São oriundos da Casa Grande e dela são verdadeiros representantes, e, portanto jamais defenderão os interesses antagônicos da Senzala, da qual 90% da população brasileira faz parte, embora muitos disso ignorem, voluntariamente ou não. A baixa escolaridade e o analfabetismo funcional, salvo raras e valiosas exceções, geram o analfabetismo político, e este cobra um alto preço da sociedade. Isso se observa quando constatamos que um país gigantesco, com uma população igualmente gigantesca é refém desde sempre de oligarquias antipatrióticas que confundem, também desde sempre, o interesse público com o interesse privado agindo geralmente em benefício do último. No poder, instalada por boa parcela da classe trabalhadora e da pequena burguesia, a plutocracia cleptocrata age retirando direitos da população (reforma da Previdência, Reforma Trabalhista, etc.) para beneficiar 1% das famílias brasileiras que formam a verdadeira elite nacional, da qual a classe média (pequena burguesia) sonha utopicamente fazer parte e, portanto a defende, e cujo maior pesadelo é tornar-se parte da classe baixa. Unidos, pequena burguesia e classe trabalhadora poderiam virar o jogo, elegendo políticos comprometidos com os setores populares do qual a classe média é também parte, embora prefira ignorar essa realidade. Enquanto o analfabetismo político impera, as oligarquias se perpetuam e a Casa Grande irriga seus interesses privados com recursos públicos. O povo e o país empobrecem a custa de uma elite que parasita o país, e suga a real possibilidade de sermos uma grande nação, e não apenas uma nação grande. Voltando ao início do artigo: Se soa estranho gostar de política na realidade que vivemos em nosso país, esse interesse pela política nunca foi tão necessário. O marinheiro gosta do mar, apesar de suas tempestades e é nelas que precisa mostrar o seu valor. Nesses tempos de exceção e de triunfo da elite parasitária, ousemos lutar. Ousemos construir a democracia. Ousemos construir a nação que sonhamos!

quinta-feira, 11 de maio de 2017

Sobre condecorações em tempos de exceção

Há alguns dias encontrava-me em uma grande livraria na capital de nosso estado, quando solicitei o auxílio de uma atendente afirmando-lhe estar procurando um livro cujo autor, Raduan Nassar, foi duramente criticado pelo Ministro da Cultura Roberto Freire (PPS), o que me dava razões de sobra para acreditar que sua obra era excelente. Freire demonstra nada entender do conteúdo de sua pasta, menos ainda de socialismo, democracia e ética na política, uma vez que se uniu ao grupo que representa o que há de maior atraso e indecência na política brasileira, junto ao qual promoveu um estupro à jovem democracia brasileira ao levar a cabo o golpe de Estado de 2016. Roberto Freire que se acostumou a agir como um coronel em sua carreira política, de forma premeditada, e quebrando o protocolo, pediu para falar após o discurso do premiado escritor que acusou o golpe patrocinado no Brasil. Em sua fala, Freire agiu com profunda descompostura pensando que o microfone em suas mãos lhe dava o poder de calar a platéia e colocar Nassar em seu lugar. Raduan, educadamente assistiu o Ministro mostrar a sua pequenez de espírito e a sua pouca cultura. Porém, a platéia reagiu em defesa do homenageado e da necessidade de preservar aquele momento, afinal, o prêmio Camões era dos países de língua portuguesa e não exclusivo do Brasil do golpe, e Raduan Nassar era o homenageado. O Ministro golpista da Cultura Roberto Freire foi calado pela platéia, e não conseguiu terminar seu discurso de ódio, mas, teve tempo suficiente para envergonhar o país aos olhos do mundo. No entanto, Raduan deve ter conquistado inúmeros novos leitores, como eu, que saí da livraria com sua obra mais conhecida internacionalmente: “Lavoura arcaica”. Também há alguns dias o presidente golpista Michel Temer (PMDB) que tem imposto ao país uma política econômica e social promotora do retrocesso por meio do projeto “ponte para o futuro”, mas, que deveria se chamar ponte para o atraso fez uma cerimônia de entrega de condecorações. Na ocasião, Beto Richa (PSDB), governador do Paraná, cuja imagem sofre o inevitável desgaste resultante das investigações promovidas pelo Grupo de Atuação Especial de combate ao Crime Organizado (GAECO) contra a corrupção pela operação Publicano (acerca da corrupção no âmbito da Receita Estadual) e a Operação Quadro Negro (concernente à corrupção em obras públicas na construção de prédios escolares), sem falar que foi delatado na operação Lava-Jato com dois apelidos “brigão” e “piloto”, foi um dos homenageados com a comenda Ordem de Rio Branco (pobre José Maria da Silva Paranhos Júnior!). Beto Richa é o governador que em 29 de Abril de 2015, por ação e/ou omissão, patrocinou um dos mais tristes e lamentáveis episódios da história nacional, ocasião em que educadores foram massacrados num ataque brutal das forças policiais quando protestavam e tentavam impedir que o governo lhes retirasse direitos e também se apoderasse de seu bilionário fundo de aposentadoria. No episódio, centenas de trabalhadores da educação sofreram lesões, porém, a agressão moral, dada a humilhação imposta, atingiu a todos os profissionais da Educação do estado, do país e do mundo. No Brasil do golpe, faz todo sentido que Temer condecore aliados como Beto Richa. É que homenagear quem de fato merece sem olhar suas cores ideológicas pode ser um “tiro no pé”, afinal, homenageados têm direito a aparecer ante os holofotes das redes de TV e pronunciar seu breve discurso, que apesar de breve, pode ser interminável, além de indigesto para a plutocracia golpista. Beto Richa perante as câmeras de TV se gaba de sua excelente gestão, mas, esta não condiz com aquela da vida real, cujo ajuste fiscal foi realizado à custa do sacrifício do contribuinte paranaense que teve sua carga de imposto fortemente aumentada (ICMS, IPVA, etc.), e, também do funcionário público estadual cujo fundo previdenciário que visa garantir as aposentadorias, tem perdas estimadas em cerca de 3,5 bilhões com as retiradas feitas pelo executivo estadual. Num futuro não muito distante, o fundo irá se tornar insolvente. E o Paraná, falido, não terá como pagar a folha de pagamento do pessoal da ativa, a folha de aposentados, as parcelas da dívida pública e da realização de obras públicas, tal como hoje ocorre no Rio Grande do Sul. Beto Richa joga o problema para os futuros gestores. O eterno e saudoso John Lennon afirmou: “Não posso acreditar que me condecorem. Sempre pensei que para ser condecorado era necessário dirigir tanques e ganhar guerras”. Parafraseando Lennon, afirmo que faz sentido, Temer condecorar seus semelhantes, pois, em seu governo de exceção, faz jus a condecorações quem usa “rolos compressores” e vence batalhas passando por cima das vítimas que defendem seus direitos trabalhistas, civis e constitucionais, a democracia e a lisura na vida pública!