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quinta-feira, 29 de março de 2018

Os cães ladram e a caravana passa



            O sábio adágio árabe que intitula estas linhas que ora escrevo afirma que apesar dos cães ladrarem, a caravana segue seu rumo, imperturbável, porque uma caravana é feita de sonhos e os cães são os obstáculos impostos aos que ousam sonhar. Os cães, ou seriam, as cadelas do fascismo sempre no cio, no dizer de Bertolt Brecht, ganharam um impulso enorme quando Aécio Neves e o seu partido (PSDB) ao perder as eleições de 2014, não souberam respeitar o jogo democrático e jogaram o país numa fogueira e como não faltam fascistas, estes servem de “combustível fóssil” para aumentar ainda mais o fogo que transforma em ruínas a democracia de baixa intensidade do nosso país. A Grande Mídia tem grande culpa na fabricação desse clima de ódio hoje reinante, pois, desinforma, omite e manipula e dessa forma joga fermento na massa do fascismo que toma as ruas de nossas cidades. De 2014 para cá, principalmente após a tomada do poder pelos golpistas Temer (MDB) e seus asseclas do PSDB, DEM e partidos nanicos (grandes apenas no ódio que fomentam) houve uma escalada de violência e pessoas ligadas aos movimentos sociais têm tombado mortas.
            Ao passar pela região Sul, a caravana de Lula tem deixado ensandecidas as cadelas do fascismo que reagem de forma criminosa atacando-a. Os fascistas, a quem chamei de “combustíveis fósseis” são pessoas que incendeiam os locais por onde passam e cujo caráter ficou fossilizado num longo processo de milhares ou milhões de anos, e, portanto não evoluiu. Não são abertos ao diálogo, pois odeiam o discurso divergente. Não lêem, não fazem a reflexão, são pessoas cujos cérebros fossilizados pela preguiça intelectual não lhes permite mais que repetir velhas bobagens, tais como: “direitos humanos para humanos direitos” e mitificar certo deputado federal cujo desempenho no trabalho legislativo a vários mandatos é pífio. A atração que Bolsonaro causa em seus fãs deve-se ao seu discurso de ódio, nele a inteligência argumentativa é supérflua. Penso que Bolsonaro sabe que não tem chances de ser presidente, mas, vai negociar seu apoio ao candidato da direita que for ao segundo turno. Bolsonaro instruído por assessores competentes fará eficientes falas decoradas no horário eleitoral gratuito. O problema reside quando precisa falar de improviso como em entrevistas ou futuros debates (aos quais certamente faltará por compromissos da agenda), aí só Jesus na causa, porém, não há como apoiar Bolsonaro e ser também cristão, pois, Jesus foi torturado e morto e Bolsonaro defende a tortura e os torturadores como fez ao homenagear o Coronel Ustra (torturador de Dilma) quando de seu voto no golpe travestido de impeachment de Dilma. Um ato vil contra a democracia e os Direitos Humanos, um desrespeito ultrajante com os familiares das vítimas e com a própria sociedade formada por pessoas civilizadas. Bolsonaro chegou a dizer: “quem procura ossos enterrados é cachorro” (ao se referir à Comissão da Verdade e às famílias que desejam saber que fim teve seus familiares e se possível enterrar seus restos mortais de forma digna).
            No Governo Lula, Laranjeiras do Sul foi contemplada com um campus da UFFS. Um campus universitário é sempre um fator de geração de desenvolvimento e muitos empresários locais reconhecem isso. Qualquer pessoa honesta sabe que a possibilidade de um governo de direita trazer tal campus para esta região que possui o segundo pior IDH do Paraná seria de uma probabilidade inferior a acertar sozinho na mega-sena. No entanto, alguns vereadores resolveram criar e tentar aprovar uma fascista moção de repúdio à vinda de Lula à Laranjeiras do Sul para visitar a Universidade que criou. Tais vereadores demonstraram com este ato não estar à altura do cargo que ocupam por não ter o equilíbrio, a inteligência e a consciência democrática necessária para bem representar a sociedade como um todo. Parabenizo os vereadores, cuja maioria, não deixou que essa Casa do Povo fosse enxovalhada ao avalizar atitudes birrentas de vereadores (que cegos pela paixão partidária) não condizem com o espírito democrático e com a tradicional hospitalidade do povo laranjeirense.
Enquanto os cães ladram, a caravana passa!


sexta-feira, 23 de março de 2018

Em tempos de pós-verdade


            Raul Seixas foi um fenômeno do rock nacional, tanto que muitos jovens nascidos após sua morte apreciam suas músicas, muitas feitas em sentido figurado para passar pelo crivo do nem sempre inteligente censor para assim poder ser gravada e passar seu recado às ruas. Em Cowboy fora-da-lei, no entanto, ele foi direto, pois a democracia havia sido restabelecida após 21 anos de ditadura. Na letra o cantor e compositor afirma [...] eu não preciso ler jornais, mentir sozinho eu sou capaz! E este é o drama da sociedade que vivemos em que os grandes grupos de comunicação televisiva e escrita culpam a Internet pela disseminação de notícias falsas, no que estão parcialmente corretos. Pois, considerar que apenas com o advento da Internet, as notícias falsas começaram a atrapalhar a vida de quem busca informação de qualidade é uma mentira ainda maior, basta lembrar as campanhas eleitorais passadas em que candidatos lançaram mão de boatos como verdadeiras bombas atômicas para anular seu adversário sem que este tivesse tempo hábil para desmentir ou acionar a justiça eleitoral tendo em vista ser véspera da eleição. O ex-ceo da Globo José Bonifácio de Oliveira Sobrinho (o Boni) admitiu que a Globo trabalhou ativamente para eleger Collor. Conta que manipulou o último debate entre Collor e Lula ocorrido durante a madrugada e levado ao ar no dia seguinte editando os melhores momentos de Collor e os piores momentos de Lula. Nesta eleição, o último programa de Collor na antevéspera da eleição lançou mão de um boato acerca de Lurian (filha de Lula). E Collor ganhou a eleição que muitos já apontavam a vitória de Lula.
            O saudoso Umberto Eco afirmou: “a Internet deu voz a uma legião de imbecis”, mas, acreditar que a mídia tradicional é imparcial, incolor, insípida, inodora, portanto desprovida dos interesses da classe dominante que ao fim e ao cabo representa, inclusive por dela fazer parte, é ser mais imbecil ainda. O intelectual estadunidense Noam Chomsky que possui várias dezenas de livros publicados e inúmeros prêmios internacionais, afirma com exatidão “o papel da mídia não é informar o que acontece, mas moldar a opinião pública de acordo com a vontade do poder corporativo dominante”. A palavra “pós-verdade” surgida em 1992 tem em 2016 seu boom. Passa a ser citada em artigos e palestras de pesquisadores renomados, bem como se torna tema de livros. A expressão pós-verdade não se refere à mentira em si, mas, a ilações que obscurecem a verdade tornando-a desimportante ou indiferente. “Não importa o que seja a verdade, opinião por opinião eu tenho a minha ou escolho aquela que mais me agrada”. Não há a busca, a leitura, a investigação reflexiva. O sujeito vai à prateleira do “supermercado midiático” e escolhe o produto que mais lhe agrada sem analisar se aquele produto é falso ou original, se cumpre o que promete, ou vai lhe fazer ter vergonha de um dia tê-lo comprado mesmo que num mea culpa solitário e que a sociedade jamais vai saber tê-lo feito, pois, caráter segundo alguns é nunca reconhecer o erro, mesmo que isso se torne evidente. Embora a pós-verdade seja utilizada também pela esquerda, é na direita o campo fértil da boataria, da indiferença à realidade dos fatos, até porque o público da direita não é muito afeito à leitura, à reflexão. Os boatos envolvendo o filho de Lula que seria o dono da JBS-Friboi, da Havan, etc. estão aí para comprovar e muitos acreditam, não por serem ingênuos, mas, de má-fé mesmo, lhes faz bem pensar maldosamente e propagar a maldade. São almas tortas e de suas bocas sai apenas o ódio, a maldade.
            Em momento oportuno, o livro “Ética e Pós-verdade” que conta com artigos de Christian Dunker, Cristovão Tezza, Julián Fuks, Marcia Tiburi e Vladimir Safatle lançado em 2017 pela editora Dublinense aprofunda a discussão sobre a pós-verdade e temas conexos. Trata-se de uma obra essencial para entender a sociedade pós-moderna, principalmente para pessoas como eu, que possuem as raízes firmemente plantadas no século XX e em tudo o que ele representou e representa na ordem atual do mundo. Li e recomendo!

Sugestão de boa leitura:
Ética e pós-verdade. Christian Dunker [et all], Ed. Dublinense, 2017.

quinta-feira, 15 de março de 2018

O país da desfaçatez




            Não é tarefa fácil escrever acerca destes “tristes trópicos” como foi batizado nosso país por Claude Lévi-Strauss, especialmente nestes tempos turbulentos que vivemos. Nos idos de 1970, o General Presidente Emílio Garrastazu Médici (cujo governo foi marcado pela massiva violação aos direitos humanos), acerca do Jornal Nacional da TV Globo disse: “Sinto-me feliz todas as noites quando ligo a televisão para assistir ao jornal. Enquanto as notícias dão conta de greves, agitações, atentados e conflitos em várias partes do mundo, o Brasil marcha em paz, rumo ao desenvolvimento. É como se eu tomasse um tranquilizante após um dia de trabalho”. E enquanto a Rede Globo aperfeiçoou suas habilidades em omitir e manipular as notícias desinformando a população e assim prestando um desserviço à nação e à democracia apesar de sua concessão ser pública, há cidadãos que se prestam ao papel de analfabetos políticos, parte de forma ingênua, parte por gostar de viver numa bolha incolor, inodora e insípida de ilusão televisiva. Costumo dizer aos meus educandos que ao ligar a TV é obrigatório ligar também o cérebro e isso não é diferente com relação a qualquer mídia.
            No país da desfaçatez, grande parte da imprensa age como um partido político e redobra seus esforços na manutenção da hegemonia do discurso da Casa Grande, e seus esforços têm sido profícuos. Temos em nosso país uma grande quantidade de trabalhadores assalariados que votam de acordo com os interesses das oligarquias que representam o regime plutocrata e corruptocrata em que vivemos, o qual, obviamente governa e legisla em prejuízo aos interesses imediatos e futuros da parcela de trabalhadores. Na Europa, a classe média tem ojeriza à alta burguesia, pois são cônscios de que a ganância acumulativa destes vai à contramão do desenvolvimento econômico e social, e assim sendo se unem às classes mais populares nas eleições e nas manifestações. No Brasil, a classe alta terceiriza o ódio, e é a classe média que faz manifestações ruidosas para defender os interesses daqueles cujos privilégios jamais compartilharão e que nunca lhes convidarão a sentar-se à suas mesas. Os pobres de direita (classe média) não se sentem injustiçados por isso, o que lhes apavora é ver pobre em aeroporto, utilizando perfume importado, adquirindo automóveis e “atravancando” as vias públicas, e o horror do horror, pobre se recusando a trabalhar por salário mínimo.
 Durante os governos Lula e Dilma ficou evidente quão estúpida e fascista é a nossa elite. Ela não convive bem com a democracia, tanto que operou o seu fim com o golpe de 2016 a guisa de 1964. A classe média novamente apoiou. E isso é algo surreal para os cidadãos esclarecidos dos países desenvolvidos, mas, aqui considerado normal desde Nelson Rodrigues que já havia tipificado como um comportamento vira-latas de parcela dos brasileiros.  Os pobres de direita se mantêm calados com a destruição do incipiente projeto de país soberano, herança de Vargas e Lula reduzido à ruínas por Temer (MDB) e asseclas do PSDB/DEM com a clara intenção de posicionar o Brasil na condição de colônia fornecedora de matérias-primas e produtos agrícolas e mão de obra semi-escrava em atendimento aos interesses do grande capital internacional. O saudoso Darcy Ribeiro, que merecia ter sido presidente do Brasil, embora, o Brasil nunca mereceu ter Darcy Ribeiro como presidente, certa vez afirmou: "O Brasil tem uma classe dominante ranzinza, azeda, medíocre, cobiçosa, que não deixa o país ir pra frente!".  Talvez alguns dos leitores pensem que as palavras que digo são mágoas de perdedor, e como resposta deixo outra frase de Darcy Ribeiro: “Fracassei em tudo o que tentei na vida. Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui. Tentei salvar os índios, não consegui. Tentei fazer uma universidade séria e fracassei. Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei. Mas os fracassos são minhas vitórias. Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu”!

quinta-feira, 8 de março de 2018

Pedro Celestino: "Sem Embraer, acaba emprego, acaba tudo"


Pedro Celestino: "Sem Embraer, acaba emprego, acaba tudo"
Por Eleonora Lucena e Rodolfo Lucena

Se a Embraer for vendida para a Boeing, “acaba a indústria, vai embora emprego, vai embora tudo”. O alerta é de Pedro Celestino, presidente do Clube de Engenharia. Para ele, a proposta de venda da empresa brasileira aos norte-americanos demonstra mais uma vez que o governo Temer quer “destruir o que se construiu neste país nos últimos 80 anos”.
Na sua visão, essa sanha destruidora ocorre porque “o governo Temer foi capturado pelo mercado financeiro”. Ele pergunta: “Cadê a indústria, cadê a agricultura, cadê o comércio que não reagem à destruição? O que me faz pensar que o umbigo deles já tenha passado para Miami. Eles não terão condição de produzir com tudo na mão de estrangeiros”, afirma. Outro motivo para a falta de reação é a ausência de debate dessas questões na sociedade: “O mundo inteiro hoje assiste ao que eu chamo de goebbelização da mídia. Se nós formos a qualquer lugar do planeta, o que a mídia publica é a mesma versão dos fatos, a mesma versão”, assinala. De acordo com ele, há um “monopólio da mídia capturada pelo capital financeiro internacional”, que não abre espaço para discussão dos assuntos econômicos. “É esse monopólio da desinformação que dificulta a formação de consciências que resistam a esse processo de alienação”. Celestino afirma essa questão passou a ser muito presente no Brasil em razão da transformação do país em protagonista. “Essa crise decorre não das nossas debilidades, mas do que nós conseguimos fazer”. Ele lembra do salto que o país deu nos últimos 80 anos, deixando de ser um mero exportador de café e se tornando uma economia industrial complexa. Foi a partir dos anos 1930, com Getúlio Vargas, que o país se transformou, com a criação da Companhia Siderúrgica Nacional, a Petrobras, a Eletrobrás, o BNDES.
Nessa trajetória, diz, “o Brasil enfrentou muitos interesses contrariados. A visão contrária aos interesses nacionais esteve presente na crise que levou ao suicídio de Getúlio, na instalação do regime militar em 64”. Na década de 1960, o país era a 56ª economia mundial; hoje é uma das 10 maiores. Naquela época, o café representava 70% das receitas cambiais; hoje significa 2% – e o país segue liderando o mercado. “Esse processo tem um corte a partir da ascensão de Temer ao poder. É uma ruptura com o que se fez no Brasil dos anos 30 até agora. É uma ruptura traumática e dramática. Porque está destruindo todas as conquistas da nossa sociedade, do ponto de vista econômico, social, ao longo de oito décadas. O Brasil está em processo de destruição de seu sistema econômico, nos tornando mais uma vez dependentes da importação de produtos industrializados e exportadores de produtos primários”, declara. Essa destruição atinge a Petrobras, o BNDES, a Eletrobrás, a Embraer – todos os ícones do desenvolvimento brasileiro construídos por oito décadas graças à atuação forte do Estado. “A Petrobras está sendo esfolhada como se fosse uma alcachofra”, resume Celestino. Ele ressalta que a estatal é a âncora do desenvolvimento industrial brasileiro, responsável por uma cadeia de mais de cinco mil empresas nacionais e estrangeiras, 800 mil empregos especializados. Para ele, caso a esfolhação continue, dentro de três anos, no máximo, a Petrobras será apenas uma pequena produtora de petróleo.
O caso da Eletrobras também é dramático. O engenheiro lembra-se da construção do inovador sistema hidrelétrico no país. Único no mundo, ao interligar amplas regiões e administrar regimes hídricos diferentes, proporcionou um modelo seguro de energia barata, o que é vital para o desenvolvimento industrial, entre tantos outros benefícios à população. “Hoje, temos uma das maiores tarifas de energia elétrica no mundo. E o governo pensa em privatizar a Eletrobrás, que é responsável pela integração de todas as nossas bacias hidrográficas, tirando partido de nossa dimensão continental. Hoje está sendo proposto destruir, privatizar, para que passemos a consumir energia como se fosse mercadoria qualquer. Essa visão satânica de querer privatizar tudo chega à água”. Celestino afirma que a decisão de Temer vai à contramão da tendência mundial. “Todas as experiências de décadas de privatização de serviços de abastecimento estão sendo revertidas. Porque os grandes grupos que se apossam não têm compromisso com tarifa módica, com a universalização do serviço e com qualidade”. O presidente do Clube de engenharia coloca o debate sobre a venda da Embraer para a Boeing na mesma quadra de destruição promovido por Temer. Enfatiza a base tecnológica da empresa sediada em São José dos Campos: dos seus 18 mil funcionários, 7 mil são engenheiros. E recorda seu crescimento em vários setores da aviação, “fruto da dedicação e idealismo de gerações de oficiais da aeronáutica”.
No contexto mundial de hoje, com a compra da divisão de aeronáutica da canadense Bombardier pela Airbus, “o adversário da Embraer passou a ser a Airbus. É David e Golias. A Embraer tem que buscar uma parceria com algum gigante para poder enfrentar a Airbus. Ou com a Boeing, ou com uma empresa russa ou com uma chinesa. EUA, Rússia e China são três países que tem mercado interno, e indústria aeronáutica forte”, declara. Celestino diz não ter “nada contra buscar entendimento com um gigante. O que não pode é ter participação acionária. Se tiver participação, o gigante come”. Ele lembra que a Dassault teve participação minoritária na Embraer (20%), o que foi suficiente para impedir que a companhia brasileira se desenvolvesse na área de aviação executiva. “Não pode ser sócio, mas pode ser parceiro”, diz Celestino. Para ele, sem mexer na composição acionária, a Embraer poderia discutir acordos de parceria com a Boeing que seriam vantajosos para as duas companhias. Por exemplo, ele sugere acordos de comercialização de aviões da Embraer pela Boeing, de utilização de bases de manutenção  etc. “Se tiver um governo sério, vai conduzir negociação dessa maneira. E a Boeing vai topar, porque ela não tem outro jeito. Ou ela vai levar 10 anos para substituir o Hércules”. A Embraer já desenvolveu o KC-390 para entrar nesse mercado de transporte militar.
Celestino enfatiza que mesmo com parcerias, que seriam bem-vindas, é necessário manter como está a estrutura da Embraer. “A área militar só sobrevive com os ganhos da área civil; se separar, mata”. Ele advoga que o BNDES tenha uma política para financiar jatos para o mercado interno. E informa que no entorno da Embraer existem outras 100 empresas de base tecnológica. A defesa que Celestino faz do setor industrial não implica crítica à agropecuária. “Não tenho nada contra o Brasil ser o celeiro do mundo”, diz. Para ele, o essencial é que “a comercialização seja controlada por nós”. Na sua análise, o grande objetivo em afetar a JBS era justamente atingir “o único setor do agronegócio em que a formação de preços era feita no Brasil”, pois ela controlava os mercados brasileiro, argentino, australiano, norte-americano.“Tinha que se quebrar essa estrutura, para que nosso produtor de carne passasse a depender da Bolsa de Chicago. No dia em que Brasil e Argentina decidirem comandar a política de formação de preços da soja e do milho, muda a relação de poder no mundo”.
O presidente do Clube de Engenharia lamenta, nesta entrevista ao TUTAMÉIA, a falta que fazem grandes industriais do passado, como Roberto Simonsen, José Mindlin, Antônio Ermírio de Moraes. Einar Kok. “Eram expoentes do interesse nacional, pensavam o país, iam além do seu faturamento. Hoje esse empresariado se encontra acuado”, declara.Celestino salienta também a importância vital do BNDES para o desenvolvimento do país nessas oito décadas. Agora, sem falar em privatização, o governo Temer esvazia o papel do banco público. “Estão liquidando com o BNDES. Não é privatizar o BNDES. É deixar definhar”, aponta.Com a toda essa destruição atingindo os pilares da economia brasileira, Celestino teme pelo pior:“Estamos quebrando as cadeias produtivas, o que faz de nosso pais novamente uma colônia. Uma nação com mais de 200 milhões de pessoas não sobrevive se não tiver um projeto de desenvolvimento. Que é o que assegura a paz social. Sem um projeto de desenvolvimento, explode o pais. Tenho medo de nós nos mantermos como país sem um projeto de desenvolvimento. A Nigéria é um barril de pólvora, explodiu. Não há polícia, Exército que dê conta da revolta popular. Nós corremos o risco decorrente de não haver no país uma proposta de desenvolvimento. O caminho é eleição, buscar apoiar candidatos que tenham compromisso com o desenvolvimento. É o que assegura a paz social”.
 
Fonte: Tutaméia – disponível em http://tutameia.jor.br/sem-embraer-acaba-emprego-acaba-tudo-diz-celestino/ - acesso em 06 de março de 2018.


domingo, 4 de março de 2018

Ler e pensar é só começar!


Resultado de imagem para vamos pensar um pouco


            Um momento constrangedor para mim é quando uma pessoa pede um livro emprestado. Tenho grande ciúme de meus livros. Já emprestei livros que nunca recebi de volta, e, outros me foram devolvidos com manchas de café, amassados e com “orelhas de burro”. Como tenho consciência da importância do livro no aperfeiçoamento do ser humano, tornei-me um leitor voraz. Tenho uma leitura eclética: história, geopolítica, sociologia, filosofia, geografia, economia, política, psicologia, psiquiatria, biologia, literatura, etc. Tenho dois filhos e professor que sou, há muito observo que apesar dos esforços dos (as) professores (as) em estimular o apego à leitura, as chances de sucesso se tornam ainda maiores quando há incentivo dos pais. Sempre que compro livros, e devido a pouca oferta de títulos em minha cidade, geralmente o faço por sites da Internet, adquiro também livros para meus filhos. Recentemente adquiri um livro para minha filha de sete anos, o qual minha esposa que habitualmente lê histórias para ela no momento de dormir contou-me o quanto o livro era bom, mas, com a ressalva de que precisava do acompanhamento de um adulto para explicar à criança as lições de forma que esta as compreendesse. Logo pensei em emprestar o livro de minha filha, e, após as minhas reflexões acerca do mesmo, indicá-lo para os pais e mães que se preocupam com que seus filhos e filhas adquiram o hábito da boa leitura. Minha surpresa foi quando ela me disse “Não! eu tenho ciúmes de meus livros. Eu puxei você”. Não pude ficar irritado, apenas ri! E após uma longa conversa, com a intermediação da mãe, e um tempo para pensar de dois dias, ela enfim concordou desde que devolvesse o livro até o fim da tarde daquele domingo.
            A obra possui ilustrações da Turma da Mônica e é uma parceria entre o famoso professor e palestrista Mario Sergio Cortella e o desenhista Mauricio de Sousa. As lições são curtas, uma página e acompanhadas de ilustrações pertinentes. Grandes pensadores são citados nas lições destinadas às crianças e não se trata de textos maçantes, mas, alguns aforismos discutidos e direcionados a estimular o ato da reflexão entre os/as pensadores (as) mirins. Logo de início o autor mostra que a palavra “um” faz toda diferença entre pensar pouco e pensar um pouco. E que é sinal de grande sabedoria buscar o conhecimento mesmo sabendo que jamais se saberá tudo. Afirma também que mudar de opinião é algo razoável e não denota com isso submissividade. Cortella diz: “há quatro espécies de pessoas: as que sabem que sabem, são sábias e podes consultá-las; as que sabem e não sabem que sabem, faze as se lembrarem e ajuda-as a não esquecerem; as que não sabem que não sabem, ensina-as; e as que não sabem e proclamam que sabem, evita-as”! Mario Sergio ensina que as pessoas não devem ter medo de livro grande, pois, desde que não tratemos como tarefa, muitas páginas podem significar mais tempo de prazer na leitura. Numa das lições o autor cita um professor de filosofia numa escola dos Estados Unidos que solicitou aos educandos que fizessem uma redação de forma a retratar verdadeiramente a coragem. Uma menina, um minuto depois de começada a avaliação entregou-a ao professor e nela estava escrito somente: “coragem é isto”! O professor foi obrigado a reconhecer que ela havia retratado muito bem a coragem, ao correr tão grande risco e deu-lhe a nota máxima!
            Cortella também evidencia a sabedoria estradeira quando cita uma frase de pára-choque de caminhão: “na subida “cê” aperta, na descida “nóis” acerta” e discorre sobre a humildade na fase de status elevado da pessoa, pois, a vida tem altos e baixos. Explica também que a origem do termo “puxa-saco” deve-se ao marinheiro encarregado de carregar o saco de roupas do comandante do navio e que o termo bajular vem de “bajulus” que era o carregador de objetos e de pessoas na época do imperador romano Otávio Augusto”. Enfim, é impossível escrever neste limitado espaço, a variedade e a profundidade das lições retratadas de forma leve na obra. Fica a dica!

Sugestão de boa leitura:
Vamos pensar um pouco? Mauricio de Sousa & Mario Sergio Cortella. Ed.Cortez, 2017.