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quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Lula é antes de tudo um forte! Parte 3



Na política externa o país ocupou uma posição de destaque com uma postura mais assertiva e independente em relação aos Estados Unidos da América e à Europa. Lula liderou esforços na construção do G20 e do BRICS, sendo que também priorizou as relações econômicas com o MERCOSUL e no âmbito Sul-Sul. Em seu governo houve crises políticas e denúncias de corrupção como aquelas ventiladas na AP 470, na qual houve a utilização da teoria do domínio do fato de forma equivocada, fato denunciado até pelo seu autor, o jurista alemão Claus Roxin. Diante disso, todos contavam Lula como carta fora do baralho e, ele conseguiu o que muitos não acreditavam, se reelegeu e em seu segundo mandato fez sua melhor gestão. Diante da crise de 2008, afirmou que ela era um Tsunami lá fora e que no país chegaria como uma marolinha. De fato, por ter reduzido fortemente a divida em dólares, inclusive quitando os débitos com o FMI, e por ter feito uma grande reserva cambial, o país suportou bem a crise, a economia cresceu bastante e, ele terminou o segundo mandato com aprovação recorde (80,5% de ótimo/bom segundo a CNT/Sensus). Até um de seus opositores, o político mineiro Aécio Neves (PSDB) afirmou em entrevista que não se comparava a Lula que em seu ver era alguém fora do comum e que um dia seria objeto de estudos. De fato, o então presidente Lula seduziu a brasileiros e estrangeiros, seu pouco estudo não o impediu de desenvolver uma poderosa oratória que cativava desde trabalhadores pobres a reis e rainhas. O presidente estadunidense Obama disse certa vez: “Lula é o cara! O presidente mais popular da Terra! Adoro esse cara”.
            Quando a Operação Lava Jato foi deflagrada e passou a aceitar delações premiadas sem comprovações materiais, e utilizando práticas tidas como pouco ou nada ortodoxas, ficou evidente que a cereja do bolo era enquadrar Lula. Diante de conduções coercitivas ilegais e grampos até da Presidente da República (um crime gravíssimo) houve quem o aconselhasse a deixar o país ou a pedir asilo numa embaixada. Lula se recusou. Contrariando a Constituição Federal que dita que ninguém pode ser preso antes do trânsito em julgado, Lula foi preso quando estava na liderança nas pesquisas de opinião para a eleição de 2018. Na ocasião estava na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, o qual se encontrava cercado por dez mil apoiadores dispostos a defendê-lo contra a prisão, porém, resolveu se entregar, contrariando-os. Sua prisão direta ou indiretamente entregou as chaves do Planalto ao segundo colocado (Bolsonaro) deixando na população uma forte sensação de golpe, sensação esta que se fez maior quando o juiz Moro aceitou o convite para ocupar o cargo de Ministro da Justiça no governo de Bolsonaro, o principal beneficiado com a retirada de Lula da disputa eleitoral.
            Preso há mais de quinhentos dias, Lula que nunca deixou de afirmar a ilegalidade e a arbitrariedade do processo que o condenou, afirmou que não barganha sua absolvição, não quer a progressão para o regime semi-aberto e que deseja sair apenas quando o processo for anulado, sua inocência reconhecida e que ao sair seus acusadores adentrem a prisão pelos atos arbitrários praticados. Lula nunca esteve sozinho, pois, nas imediações da Polícia Federal foi montado o acampamento Lula Livre, e, todos os dias, faça sol ou chuva, o ex-presidente recebe saudações de seus simpatizantes, os quais afirmam que somente sairão do local quando Lula for libertado. Na prisão, o ex-presidente recebeu inúmeras visitas de grandes personalidades nacionais e estrangeiras. Recentemente Lula ganhou mais um prêmio, foi agraciado com o título de Cidadão de Honra de Paris, título concedido a dezessete pessoas entre elas Nelson Mandela. Lula ganhou esse título por sua luta pela democracia, contra a miséria e, principalmente por ser considerado um preso político. Em grande parte dos países desenvolvidos há a convicção de que Lula não teve direito a um julgamento imparcial e que sua defesa foi cerceada. O ex-presidente é um dos brasileiros com mais honrarias acumuladas dentre eles trinta e cinco títulos Honoris Causa. Atualmente concorre ao premio Jabuti por seu livro “A verdade vencerá” e chegou a ser indicado ao prêmio Nobel da Paz. Lula que já chorou muitas perdas, dentre elas as das esposas Maria de Lourdes da Silva (1969-1971) e Marisa Letícia Lula da Silva (1974-2017), e outros entes queridos como o seu irmão Vavá e o neto Arthur de apenas sete anos (na prisão), somente não perde a esperança. Parafraseando Euclides da Cunha, Lula é antes de tudo um forte!

Referências:

A outra história do mensalão. Geração Editorial (2013) - Paulo Moreira Leite.
A outra história da Lava-Jato. Geração Editorial (2015) - Paulo Moreira Leite.
Lula: o filho do Brasil. Editora Fundação Perseu Abramo (2004) - Denise Paraná.
Viagens com o presidente: dois repórteres no encalço de lula do Planalto ao exterior. Editora Record (2006) – Eduardo Scolese e Leonencio Nossa.
Wikipédia. Luiz Inácio Lula da Silva. Disponível em:  https://pt.wikipedia.org/wiki/Luiz_In%C3%A1cio_Lula_da_Silva – acesso em 06 de outubro de 2019.

Lula é antes de tudo um forte! Parte 2



Na condição de parlamentar, Lula percebeu que as mudanças que a classe trabalhadora precisava somente viriam quando esta chegasse ao Planalto. Candidatou-se em 1989 e foi derrotado por Fernando Collor numa das eleições mais sujas da história. Collor foi apoiado pela grande mídia capitaneada pela Rede Globo. E o império midiático não hesitou em utilizar de todas as artimanhas possíveis, mesmo as mais grotescas com vistas a derrotá-lo e eleger o seu candidato. A chantagem da elite capitalista ameaçando fechar empresas e retirar o capital do país também teve grande importância. Mas a estratégia mais sórdida sempre foi causar medo na população menos culta da sociedade, lançando o que hoje chamamos de “fake news” de que as pessoas teriam que dividir seus bens com os que nada possuem. A Globo editou o último debate entre os contendores, levando ao ar os melhores momentos de Collor e os piores de Lula. Como se não bastasse, o programa eleitoral de Collor levou uma fake news ao ar na sua última edição e este contando com a participação de sua ex-namorada (com quem teve a filha Luriam) que afirmava que Lula queria que ela fizesse aborto. Lula somente conseguiu desmentir essa versão após a eleição, porém, o estrago já estava feito. Após a derrota, Lula foi chamado a dar palestra na França, sendo que recebeu passagem de primeira classe para a viagem. No avião, a aeromoça lhe ofereceu o cardápio e, dentre as opções, ele pediu caviar. A aeromoça, então disse: Seu Lula, se o povo brasileiro visse o senhor pedindo caviar, queria ver como o senhor iria explicar..., Lula irritado, interrompeu e disse: escuta aqui aeromoça, tem virado de feijão? E ela respondeu que não, e Lula disse: então traga o caviar e pára de encher o saco!
Nas eleições de 1994 e 1998 Lula perdeu a eleição para FHC que se auto-intitulou de forma farsesca como o pai do Plano Real e como a única garantia de sua manutenção. Como a Constituição Federal não permitia a reeleição, FHC conseguiu aprovar em benefício próprio uma emenda constitucional para permitir sua candidatura à reeleição em 1998. Houve denúncias, inclusive com fartas provas da compra de votos de parlamentares, mas, com a maioria no Congresso ficou por isso mesmo, o Judiciário também não se moveu em direção ao que dele sempre se espera e nem sempre se logra conseguir. O povo exausto da hiperinflação herdada do regime militar e dos fracassos anteriores em domá-la sentiu-se refém do medo e concedeu a FHC outra vitória. Após três derrotas consecutivas, não faltavam pessoas a aconselhar Lula a candidatar-se a outro cargo. E a estes respondia que somente se candidataria a presidente. E em 2002, após redigir a Carta ao Povo Brasileiro, Lula se elegeu no dia do seu aniversário de 57 anos (27/10/2002). Não sem muitas demonstrações de ódio e preconceito quanto a sua origem humilde por parte da grande mídia e de parcela da classe média, porém, sua posse foi em tom festivo e com grande participação popular como jamais visto no país. Sua eleição se deveu em grande parte à péssima gestão de FHC em seu segundo mandato que começou com a maxidesvalorização do real, o baixo crescimento econômico, a submissão ao FMI e culminou com o apagão energético de 2001, pois, no afã de tudo privatizar, seu governo não fez o dever de casa planejando o aumento da oferta de energia com novas unidades geradoras. O pífio segundo mandato de FHC levou o povo a desejar mudança e Lula representava essa mudança. Tendo sido muito criticado por sua aliança com partidos e políticos conservadores durante seu governo afirmou: “se Jesus viesse para cá, e Judas tivesse votação num partido qualquer, Jesus teria de chamar Judas para fazer coalizão”. No seu discurso de diplomação fortemente emocionado disse: “E eu, que durante tantas vezes fui acusado de não ter um diploma superior, ganho o meu primeiro diploma, o diploma de presidente da República de meu país”.
            Seu governo obteve sucesso na área econômica, porém, foi criticado pelo excessivo conservadorismo, houve quem o considerasse um traidor da classe trabalhadora ao não romper com o sistema neoliberal que, sabemos tem no sistema financeiro sua ponta de lança, embora em sua “Carta ao Povo Brasileiro” já deixasse evidente que não romperia. Sua política econômica ficou conhecida como “ganha-ganha”, pois acreditava que todos poderiam ganhar juntos. Sua ingenuidade se demonstrou ao acreditar nessa utópica conciliação de classes, pois, ignorou a mentalidade escravocrata de nossas elites, segundo a qual ganhar dinheiro é importante, porém, manter a separação entre a Casa Grande e a Senzala é ainda mais. Mesmo assim, na área social criou importantes programas como o Fome Zero e o Bolsa Família (que retiraram o Brasil do Mapa da Fome da ONU) sendo que este último nada tem a ver com os programas sociais de FHC no que concerne ao montante de recursos e de famílias beneficiadas.

Lula é antes de tudo um forte! Parte 1




Costuma-se dizer que as adversidades forçam as pessoas a se superarem. Nada é mais verdadeiro quando se fala de Lula. Luís Inácio “Lula” da Silva nasceu a 27 de outubro de 1945 em Caetés (então distrito de Garanhuns em Pernambuco). A localidade conhecida nacionalmente como uma das mais pobres do Brasil. Sétimo filho de um total de oito do casal Aristides Inácio da Silva e Eurídice Ferreira de Melo. A poucos dias do nascimento de Lula, seu pai deixou dona Eurídice e migrou para a região sudeste para trabalhar como estivador no Porto de Santos. Porém, levou uma prima de Eurídice com quem constituiu nova família. Contando as duas famílias, Lula teve mais de vinte irmãos (alguns já morreram).
            Dona Lindu (apelido de dona Eurídice) sozinha segurou o rojão, cuidou dos filhos e estimulado por seu filho Jaime que tinha ido morar com o pai no litoral paulista resolveu embarcar num “pau de arara” com os filhos e deixar a seca e a miséria de Caetés para trás. No início as duas famílias conviveram juntas, mas, a agressividade com que o pai de Lula tratava seus filhos levou Dona Lindu a mudar-se para uma casa que de tão precária, o telhado desabou. Aos sete anos Lula vendia laranjas e retirava lenha, mariscos e caranguejos do mangue. Alfabetizado por insistência de sua mãe, pois, seu pai não queria que os filhos estudassem, na opinião dele os filhos deveriam trabalhar. Quando a família mudou-se para São Paulo perderam o contato com o pai. Em São Paulo foi engraxate e auxiliar de escritório. Na escola do SENAI fez o curso de tornearia mecânica e quando trabalhava numa siderúrgica que produzia parafusos esmagou seu dedo mínimo que precisou ser amputado. O seguro contra acidentes de trabalho da empresa lhe possibilitou comprar móveis e um terreno para sua mãe, mas não o livrou de desenvolver complexo psicológico que após alguns anos superou.
            Em 1965 ficou muito tempo desempregado e para sobreviver teve que fazer “bicos” (trabalhos eventuais). Adorava jogar futebol, mas, era resistente a participar de sindicatos. Seu irmão Frei Chico queria que entrasse para a militância sindical e também para o “partidão” como era chamado o PCB (Partido Comunista Brasileiro). Lula resistia, pois, tinha uma visão negativa do sindicato e da política. No entanto, apesar de sua inexperiência sindical todos notavam o carisma e o espírito de liderança de Lula. Como diz o adágio: “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”, Frei Chico o convenceu a participar da chapa, eleito, foi picado pelo "bichinho da militância” e passou a disputar novas eleições, sendo que a cada eleição galgava novas posições dentro do sindicato até o dia em que chegou à presidência do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Como presidente do sindicato foi orientado a esperar o fim da ditadura militar para promover greves, discordou, afirmando que a greve não podia esperar até que o país voltasse à democracia. Em certa feita, agentes da ditadura cortaram o som e Lula no alto de um palanque improvisado falava frases curtas que eram repetidas pelos grevistas para os que se encontravam mais distante dele. Por liderar greves no final dos anos 1970 e início dos anos 1980 foi processado e preso com base na Lei de Segurança Nacional. Ao receber o comunicado de prisão acendeu um cigarro e entrou resignadamente na viatura. Foi condenado a três anos e meio de prisão por incitação à desordem coletiva (como o governo da ditadura entendia as greves), recorreu e foi absolvido no ano seguinte. Nessa época tomou conhecimento da morte de seu pai que, no entanto, já havia sido enterrado como indigente há vários dias.
            Na condição de sindicalista percebeu que o poder do sindicato não era suficiente para melhorar as condições de vida da classe trabalhadora, era necessário disputar o poder político e, a pré-condição era criar um partido político comprometido com a classe trabalhadora. Líderes do MDB (Movimento Democrático Brasileiro) dentre eles, Ulysses Guimarães o convidaram para filiar-se, mas, ele resistiu afirmando que desejava criar um partido da classe trabalhadora. Ulysses lhe disse que fundar um partido era trabalhoso e fazê-lo ter alcance nacional era muito difícil, porém, Lula não desistiu da ideia e junto a sindicalistas, intelectuais, representantes dos movimentos sociais e católicos militantes da Teologia da Libertação fundou o Partido dos Trabalhadores, hoje o partido brasileiro com o maior número de filiados e o segundo maior do mundo.  Como dirigente sindical, Lula ganhou projeção nacional e foi um dos personagens centrais na campanha pelas Diretas Já, cuja Emenda Constitucional Dante de Oliveira acabou sendo derrotada pela máquina da ditadura militar. A eleição seria novamente indireta. Em 1986, Lula foi à época o deputado federal mais votado e trabalhou na construção da Carta Magna.
           

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Lula é antes de tudo um forte! - Edição Especial PERSONALIDADES



Costuma-se dizer que as adversidades forçam as pessoas a se superarem. Nada é mais verdadeiro quando se fala de Lula. Luís Inácio “Lula” da Silva nasceu a 27 de outubro de 1945 em Caetés (então distrito de Garanhuns em Pernambuco).Na foto ao lado, Lula aos quatro anos de idade com sua irmã Maria (1949) - Crédito da foto: Wikipédia.

 A localidade conhecida nacionalmente como uma das mais pobres do Brasil. Sétimo filho de um total de oito do casal Aristides Inácio da Silva e Eurídice Ferreira de Melo. A poucos dias do nascimento de Lula, seu pai deixou dona Eurídice e migrou para a região sudeste para trabalhar como estivador no Porto de Santos. Porém, levou uma prima de Eurídice com quem constituiu nova família. Contando as duas famílias, Lula teve mais de vinte irmãos (alguns já morreram). Dona Lindu (apelido de dona Eurídice) sozinha segurou o rojão, cuidou dos filhos e estimulado por seu filho Jaime que tinha ido morar com o pai no litoral paulista resolveu embarcar num “pau de arara” com os filhos e deixar a seca e a miséria de Caetés para trás. 


Fotografia do Memorial aos retirantes no Parque Dona
 Lindu  em Recife representando  Dona Eurídice e seus oito filhos
(crédito: Wikipédia)

No início as duas famílias conviveram juntas, mas, a agressividade com que o pai de Lula tratava seus filhos levou Dona Lindu a mudar-se para uma casa que de tão precária, o telhado desabou. Aos sete anos Lula vendia laranjas e retirava lenha, mariscos e caranguejos do mangue. Alfabetizado por insistência de sua mãe, pois, seu pai não queria que os filhos estudassem, na opinião dele os filhos deveriam trabalhar. Quando a família mudou-se para São Paulo perderam o contato com o pai. Em São Paulo foi engraxate e auxiliar de escritório. Na escola do SENAI fez o curso de tornearia mecânica e quando trabalhava numa siderúrgica que produzia parafusos esmagou seu dedo mínimo que precisou ser amputado. O seguro contra acidentes de trabalho da empresa lhe possibilitou comprar móveis e um terreno para sua mãe, mas não o livrou de desenvolver complexo psicológico que após alguns anos superou.
            Em 1965 ficou muito tempo desempregado e para sobreviver teve que fazer “bicos” (trabalhos eventuais). Adorava jogar futebol, mas, era resistente a participar de sindicatos. Seu irmão Frei Chico queria que entrasse para a militância sindical e também para o “partidão” como era chamado o PCB (Partido Comunista Brasileiro). Lula resistia, pois, tinha uma visão negativa do sindicato e da política. No entanto, apesar de sua inexperiência sindical todos notavam o carisma e o espírito de liderança de Lula. Como diz o adágio: “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”, Frei Chico o convenceu a participar da chapa, eleito, foi picado pelo "bichinho da militância” e passou a disputar novas eleições, sendo que a cada eleição galgava novas posições dentro do sindicato até o dia em que chegou à presidência do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Como presidente do sindicato foi orientado a esperar o fim da ditadura militar para promover greves, discordou, afirmando que a greve não podia esperar até que o país voltasse à democracia. Em certa feita, agentes da ditadura cortaram o som e Lula no alto de um palanque improvisado falava frases curtas que eram repetidas pelos grevistas para os que se encontravam mais distante dele.
(Crédito da fotografia: Rede Brasil Atual).


             Por liderar greves no final dos anos 1970 e início dos anos 1980 foi processado e preso com base na Lei de Segurança Nacional. Ao receber o comunicado de prisão acendeu um cigarro e entrou resignadamente na viatura. Foi condenado a três anos e meio de prisão por incitação à desordem coletiva (como o governo da ditadura entendia as greves), recorreu e foi absolvido no ano seguinte. Nessa época tomou conhecimento da morte de seu pai que, no entanto, já havia sido enterrado como indigente há vários dias.
            Na condição de sindicalista percebeu que o poder do sindicato não era suficiente para melhorar as condições de vida da classe trabalhadora, era necessário disputar o poder político e, a pré-condição era criar um partido político comprometido com a classe trabalhadora. Líderes do MDB (Movimento Democrático Brasileiro) dentre eles, Ulysses Guimarães o convidaram para filiar-se, mas, ele resistiu afirmando que desejava criar um partido da classe trabalhadora. Ulysses lhe disse que fundar um partido era trabalhoso e fazê-lo ter alcance nacional era muito difícil, porém, Lula não desistiu da ideia e junto a sindicalistas, intelectuais, representantes dos movimentos sociais e católicos militantes da Teologia da Libertação fundou o Partido dos Trabalhadores, hoje o partido brasileiro com o maior número de filiados e o segundo maior do mundo.  Como dirigente sindical, Lula ganhou projeção nacional e foi um dos personagens centrais na campanha pelas Diretas Já, cuja Emenda Constitucional Dante de Oliveira acabou sendo derrotada pela máquina da ditadura militar. A eleição seria novamente indireta. Em 1986, Lula foi à época o deputado federal mais votado e trabalhou na construção da Carta Magna.
            Na condição de parlamentar, Lula percebeu que as mudanças que a classe trabalhadora precisava somente viriam quando esta chegasse ao Planalto. Candidatou-se em 1989 e foi derrotado por Fernando Collor numa das eleições mais sujas da história. Collor foi apoiado pela grande mídia capitaneada pela Rede Globo. E o império midiático não hesitou em utilizar de todas as artimanhas possíveis, mesmo as mais grotescas com vistas a derrotá-lo e eleger o seu candidato. A chantagem da elite capitalista ameaçando fechar empresas e retirar o capital do país também teve grande importância. Mas a estratégia mais sórdida sempre foi causar medo na população menos culta da sociedade, lançando o que hoje chamamos de “fake news” de que as pessoas teriam que dividir seus bens com os que nada possuem. A Globo editou o último debate entre os contendores, levando ao ar os melhores momentos de Collor e os piores de Lula. Como se não bastasse, o programa eleitoral de Collor levou uma fake news ao ar na sua última edição e este contando com a participação de sua ex-namorada (com quem teve a filha Luriam) que afirmava que Lula queria que ela fizesse aborto. Lula somente conseguiu desmentir essa versão após a eleição, porém, o estrago já estava feito. Após a derrota, Lula foi chamado a dar palestra na França, sendo que recebeu passagem de primeira classe para a viagem. No avião, a aeromoça lhe ofereceu o cardápio e, dentre as opções, ele pediu caviar. A aeromoça, então disse: Seu Lula, se o povo brasileiro visse o senhor pedindo caviar, queria ver como o senhor iria explicar..., Lula irritado, interrompeu e disse: escuta aqui aeromoça, tem virado de feijão? E ela respondeu que não, e Lula disse: então traga o caviar e pára de encher o saco!
Nas eleições de 1994 e 1998 Lula perdeu a eleição para FHC que se auto-intitulou de forma farsesca como o pai do Plano Real e como a única garantia de sua manutenção. Como a Constituição Federal não permitia a reeleição, FHC conseguiu aprovar em benefício próprio uma emenda constitucional para permitir sua candidatura à reeleição em 1998. Houve denúncias, inclusive com fartas provas da compra de votos de parlamentares, mas, com a maioria no Congresso ficou por isso mesmo, o Judiciário também não se moveu em direção ao que dele sempre se espera e nem sempre se logra conseguir. O povo exausto da hiperinflação herdada do regime militar e dos fracassos anteriores em domá-la sentiu-se refém do medo e concedeu a FHC outra vitória. Após três derrotas consecutivas, não faltavam pessoas a aconselhar Lula a candidatar-se a outro cargo. E a estes respondia que somente se candidataria a presidente. E em 2002, após redigir a Carta ao Povo Brasileiro, Lula se elegeu no dia do seu aniversário de 57 anos (27/10/2002). Não sem muitas demonstrações de ódio e preconceito quanto a sua origem humilde por parte da grande mídia e de parcela da classe média, porém, sua posse foi em tom festivo e com grande participação popular como jamais visto no país. Sua eleição se deveu em grande parte à péssima gestão de FHC em seu segundo mandato que começou com a maxidesvalorização do real, o baixo crescimento econômico, a submissão ao FMI e culminou com o apagão energético de 2001, pois, no afã de tudo privatizar, seu governo não fez o dever de casa planejando o aumento da oferta de energia com novas unidades geradoras. O pífio segundo mandato de FHC levou o povo a desejar mudança e Lula representava essa mudança. Tendo sido muito criticado por sua aliança com partidos e políticos conservadores durante seu governo afirmou: “se Jesus viesse para cá, e Judas tivesse votação num partido qualquer, Jesus teria de chamar Judas para fazer coalizão”. No seu discurso de diplomação fortemente emocionado disse: “E eu, que durante tantas vezes fui acusado de não ter um diploma superior, ganho o meu primeiro diploma, o diploma de presidente da República de meu país”.
Resultado de imagem para Lula presidente do Brasil"
            (Crédito da fotografia: Wikipédia)

           Seu governo obteve sucesso na área econômica, porém, foi criticado pelo excessivo conservadorismo, houve quem o considerasse um traidor da classe trabalhadora ao não romper com o sistema neoliberal que, sabemos tem no sistema financeiro sua ponta de lança, embora em sua “Carta ao Povo Brasileiro” já deixasse evidente que não romperia. Sua política econômica ficou conhecida como “ganha-ganha”, pois acreditava que todos poderiam ganhar juntos. Sua ingenuidade se demonstrou ao acreditar nessa utópica conciliação de classes, pois, ignorou a mentalidade escravocrata de nossas elites, segundo a qual ganhar dinheiro é importante, porém, manter a separação entre a Casa Grande e a Senzala é ainda mais. Mesmo assim, na área social criou importantes programas como o Fome Zero e o Bolsa Família (que retiraram o Brasil do Mapa da Fome da ONU) sendo que este último nada tem a ver com os programas sociais de FHC no que concerne ao montante de recursos e de famílias beneficiadas.
Na política externa o país ocupou uma posição de destaque com uma postura mais assertiva e independente em relação aos Estados Unidos da América e à Europa. Lula liderou esforços na construção do G20 e do BRICS, sendo que também priorizou as relações econômicas com o MERCOSUL e no âmbito Sul-Sul. Em seu governo houve crises políticas e denúncias de corrupção como aquelas ventiladas na AP 470, na qual houve a utilização da teoria do domínio do fato de forma equivocada, fato denunciado até pelo seu autor, o jurista alemão Claus Roxin. Diante disso, todos contavam Lula como carta fora do baralho e, ele conseguiu o que muitos não acreditavam, se reelegeu e em seu segundo mandato fez sua melhor gestão. Diante da crise de 2008, afirmou que ela era um Tsunami lá fora e que no país chegaria como uma marolinha. De fato, por ter reduzido fortemente a divida em dólares, inclusive quitando os débitos com o FMI, e por ter feito uma grande reserva cambial, o país suportou bem a crise, a economia cresceu bastante e, ele terminou o segundo mandato com aprovação recorde (80,5% de ótimo/bom segundo a CNT/Sensus). Até um de seus opositores, o político mineiro Aécio Neves (PSDB) afirmou em entrevista que não se comparava a Lula que em seu ver era alguém fora do comum e que um dia seria objeto de estudos. De fato, o então presidente Lula seduziu a brasileiros e estrangeiros, seu pouco estudo não o impediu de desenvolver uma poderosa oratória que cativava desde trabalhadores pobres a reis e rainhas.
   Lula e o povo humilde - (crédito da fotografia: Carta Capital)

Lula e Rainha Sonja em castelo norueguês -
cerimônia em  sua homenagem no castelo real  
(crédito da fotografia: caras.uol.com.br)

Resultado de imagem para Obama e Lula"
O presidente estadunidense Obama quando
disse“Lula é o cara! 
O presidente mais popular da Terra! 
Adoro esse cara”
(Crédito da fotografia: BBC)


Quando a Operação Lava Jato foi deflagrada e passou a aceitar delações premiadas sem comprovações materiais, e utilizando práticas tidas como pouco ou nada ortodoxas, ficou evidente que a cereja do bolo era enquadrar Lula. Diante de conduções coercitivas ilegais e grampos até da Presidente da República (um crime gravíssimo) houve quem o aconselhasse a deixar o país ou a pedir asilo numa embaixada. Lula se recusou. Contrariando a Constituição Federal que dita que ninguém pode ser preso antes do trânsito em julgado, Lula foi preso quando estava na liderança nas pesquisas de opinião para a eleição de 2018. Na ocasião estava na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, o qual se encontrava cercado por dez mil apoiadores dispostos a defendê-lo contra a prisão, porém, resolveu se entregar, contrariando-os. Sua prisão direta ou indiretamente entregou as chaves do Planalto ao segundo colocado (Bolsonaro) deixando na população uma forte sensação de golpe, sensação esta que se fez maior quando o juiz Moro aceitou o convite para ocupar o cargo de Ministro da Justiça no governo de Bolsonaro, o principal beneficiado com a retirada de Lula da disputa eleitoral.
            Preso há mais de quinhentos dias, Lula que nunca deixou de afirmar a ilegalidade e a arbitrariedade do processo que o condenou, afirmou que não barganha sua absolvição, não quer a progressão para o regime semi-aberto e que deseja sair apenas quando o processo for anulado, sua inocência reconhecida e que ao sair seus acusadores adentrem a prisão pelos atos arbitrários praticados. Lula nunca esteve sozinho, pois, nas imediações da Polícia Federal foi montado o acampamento Lula Livre, e, todos os dias, faça sol ou chuva, o ex-presidente recebe saudações de seus simpatizantes, os quais afirmam que somente sairão do local quando Lula for libertado.
 O povo de Lula nunca o abandona - PF Curitiba 07.04.2019
(crédito da fotografia: Osnélio Vailati)

Povo de Lula: Nem a distância os impede de estar perto 
de Lula! Do Nordeste para Curitiba! 07.04.2019
(Crédito da fotografia: Osnélio Vailati) 

    
 Lula deixou de ser uma pessoa, tornou-se uma causa!
   (Crédito da fotografia: Osnélio Vailati) 

       Na prisão, o ex-presidente recebeu inúmeras visitas de grandes personalidades nacionais e estrangeiras. Recentemente Lula ganhou mais um prêmio, foi agraciado com o título de Cidadão de Honra de Paris, título concedido a dezessete pessoas entre elas Nelson Mandela. Lula ganhou esse título por sua luta pela democracia, contra a miséria e, principalmente por ser considerado um preso político. Em grande parte dos países desenvolvidos há a convicção de que Lula não teve direito a um julgamento imparcial e que sua defesa foi cerceada. O ex-presidente é um dos brasileiros com mais honrarias acumuladas dentre eles trinta e cinco títulos Honoris Causa. Atualmente concorre ao premio Jabuti por seu livro “A verdade vencerá” e chegou a ser indicado ao prêmio Nobel da Paz. Lula que já chorou muitas perdas, dentre elas as das esposas Maria de Lourdes da Silva (1969-1971) e Marisa Letícia Lula da Silva (1974-2017), e outros entes queridos como o seu irmão Vavá e o neto Arthur de apenas sete anos (na prisão), somente não perde a esperança. Parafraseando Euclides da Cunha, Lula é antes de tudo um forte!

O autor da coluna presenteando Lula com seu livro 
A Vista de Meu Ponto na UFFS em 27/03/2018 
 (crédito da fotografia: Osnélio Vailati)


  
Referências:

A outra história do mensalão. Geração Editorial (2013) - Paulo Moreira Leite.
A outra história da Lava-Jato. Geração Editorial (2015) - Paulo Moreira Leite.
Lula: o filho do Brasil. Editora Fundação Perseu Abramo (2004) - Denise Paraná.
Viagens com o presidente: dois repórteres no encalço de lula do Planalto ao exterior. Editora Record (2006) – Eduardo Scolese e Leonencio Nossa.
Wikipédia. Luiz Inácio Lula da Silva. Disponível em:  https://pt.wikipedia.org/wiki/Luiz_In%C3%A1cio_Lula_da_Silva – acesso em 06 de outubro de 2019.

                                   "Odeio os indiferentes, viver é tomar partido" (Gramsci)
                                                                       Curitiba 07.04.2019 
                                                           (Crédito da fotografia: Osnélio Vailati)