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sábado, 24 de abril de 2021

O curioso caso de Benjamin Button

 

             


       O que é o tempo? Essa é uma pergunta simples cuja resposta é complexa. Quem a responde de forma simples, certamente não entendeu a profundidade das reflexões que ela traz em seu bojo. Tanto é assim que o tempo é tema constante na pauta das reflexões e discussões de filósofos. Este humilde escriba, adora ler obras de filosofia, mas, jamais se alçaria ao patamar de filósofo, por não ter a formação instrucional para tal, pois, acredita que nem mesmo que fosse "expert em astrologia", poderia assim se considerar. Apesar disso, em março de 2011, publiquei neste espaço uma humilde reflexão sobre o tema intitulado "Em TEMPO, sobre o TEMPO" (o artigo pode ser encontrado no blog A Vista de Meu Ponto!). Nele, de forma proposital, citei 36 vezes a palavra TEMPO, assim mesmo, em caixa alta, para evidenciar sua onipresença a atuar sobre as nossas vidas, ora nos impulsionando, ora nos oprimindo.

            Quando era um jovem professor, os adolescentes se identificavam mais comigo do que atualmente. Era comum, os adolescentes me segurarem no corredor para conversar. Eu pensava que isso ocorria porque eu era um bom professor, mas, hoje vejo, que jovem como era, não muito mais velho do eles, era devido a minha juventude que se identificavam comigo. Hoje, alguns bons invernos depois (nasci nessa estação), os estudantes perguntam a minha idade e eu respondo sempre "25 anos", e, eles riem, dizendo "isso é impossível..., o senhor deu aula para os meus pais". E eu respondo sempre citando o genial advogado, poeta, radialista, compositor e ator brasileiro Mario Lago (1911-2002) quando disse: "Eu fiz um acordo com o tempo...nem ele me persegue, nem eu fujo dele...qualquer dia a gente se encontra... e dessa forma, vou vivendo intensamente cada momento".

            Francis Scott Key Fitzgerald (1896-1940), conhecido no meio literário como F. Scott Fitzgerald foi escritor, romancista, contista, roteirista e poeta. É considerado um dos maiores nomes da literatura estadunidense. Sua obra mais famosa é "O Grande Gatsby", na qual faz uma profunda crítica à sociedade dos anos 1920. A intenção deste artigo é falar sobre uma obra deste autor, que tal como sua obra mais famosa, também virou filme de Hollywood. Trata-se do livro "O curioso caso de Benjamin Button", no qual Benjamin nasce com a aparência e as características de um idoso para o constrangimento de seus pais e a contrariedade do médico da família. A obra faz uma crítica à sociedade que não aceita pessoas ou atitudes que fujam dos padrões de normalidade. É a chamada caixinha em que todo mundo tem que se enquadrar e quem não se enquadra leva pauladas da sociedade "encaixada". Ninguém pode ser diferente daquilo que se espera dele. Tem que ser "normal" embora nem sempre a dita normalidade, seja um bom modelo  a seguir. Na trama de Fitzgerald, Benjamin (o bebê) começa a falar e já trava conversas fundamentadas de quem tem experiência de vida, e ao começar a andar, pede a seu pai uma bengala. Com o passar do tempo vai rejuvenescendo cada vez mais e, juntamente com seu rejuvenescimento, seu espírito, sua mente e seus interesses passam a ficar condizentes com a nova faixa etária. Benjamin tem uma vida de conquistas profissionais e amorosas, mas, sempre com as dificuldades que a "natureza" lhe impôs. Ao casar-se com uma moça mais nova, ela vai envelhecendo enquanto ele fica cada vez mais moço.

            É impossível ler o conto de Fitzgerald sem lembrar do ator, comediante, diretor, compositor, roteirista, cineasta, editor e músico britânico Charles Chaplin (1889-1977) quando disse: "A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está de trás para a frente. Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso. Daí viver num asilo, até ser chutado para fora de lá por estar muito novo. Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar. Então você trabalha 40 anos até ficar novo para poder aproveitar a aposentadoria. Aí você curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara para a faculdade, Você vai para o colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho no colo, volta para o útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando...E termina tudo com um ótimo orgasmo. Não seria perfeito?".

 

Sugestão de boa leitura:

Título: O curioso caso de Benjamin Button.

Autor: F. Scott Fitzgerald.

Editora: L&PM, 2016, 96p.

 

sábado, 17 de abril de 2021

Sobre o Estado burguês e a ditadura do proletariado

                  A comunicação é algo de suprema importância para a sociedade humana. Dela depende a democracia para o seu pleno funcionamento. Não há democracia sem imprensa livre e, não há imprensa livre sem o direito à liberdade de expressão de seus profissionais. O povo precisa estar bem informado sobre os fatos que afetam a sociedade, porém, nem sempre isso interessa aos governantes. Quando ditadores se instalam no poder, costumam atribuir à imprensa e aos seus profissionais, todas as ofensas possíveis. Nada que a imprensa publica é verdadeiro, tudo é manipulação com fins políticos, dizem. É verdade que em muitas empresas de comunicação há uma minoria de profissionais que não prezam pela ética no jornalismo, os quais, ao ter pela frente personagens públicas que não professam da sua "fé", agem como inquisidores numa cruzada aos "hereges", destruindo-lhes suas reputações na fogueira das convicções (desprovidas de provas), para satisfazer a seu público e patrocinadores, quando não para meramente regozijar (no ataque) a quem lhe desperta ódio por pensar diferente ou representar algo que defenestra. Sobre isso a ex-presidenta Dilma disse: "prefiro o barulho da imprensa livre ao silêncio das ditaduras".

            A imprensa faz barulho e, precisa ter cada vez mais, todas as tonalidades. Neste espaço de divulgação de ideias, digito minhas letras "vermelhas" e  que representam o sangue derramado pela classe trabalhadora ao longo de sua luta histórica por direitos. Os espaços de escrita e publicação de ideias costumeiramente são negados aos trabalhadores. Todo espaço precisa ser ocupado, pois, parafraseando Neil Armstrong (1930-2012) quando esteve na lua, representa "um pequeno passo na direção da democracia plena e um grande salto conquistado para a classe trabalhadora" dado o seu simbolismo. Isto posto, digo que muitos escritos brilhantes se produziu para a divulgação em jornais e revistas visando sua popularização, ou seja, alcançar os diversos estratos sociais e de formação instrucional da população. Digo isso, porque já li artigos publicados com tal intenção, mas, que constituíam verdadeiros tratados científicos, dada sua linguagem academicista. Há que se saber, que ao escrever, deve-se ter em mente o perfil do  público alvo. Dessa forma, o academicismo deve dar lugar à inteligibilidade, ou seja, a capacidade de expressar (de forma clara) o tema para o público geral e não apenas aos intelectuais.

            É nessa intenção, que tento trazer uma explicação sobre algo não compreendido por grande parcela das pessoas e, que costuma ser objeto de manipulação por parte de alguns. Na obra de Karl Marx (1818-1883) há a alusão a uma "ditadura do proletariado". E muito se fala que os simpatizantes do socialismo desejam, tal como seu ideólogo maior, a implantação de uma ditadura. Ocorre que para Marx, o termo ditadura, não tinha o significado que hoje conhecemos como designador de regimes autoritários (de exceção). Marx entendia que o Estado moderno, ou seja, o conjunto de instituições que o formam (governo, forças armadas, Justiça, etc.) foram criados pelo capitalismo e para o capitalismo, ou seja, o Estado Moderno é uma ditadura da burguesia, pois, está a serviço dos ricos. Sobre isso, muitos autores marxianos afirmam que, alcançar o poder e não derrubar os pilares do Estado burguês, implica em apenas administrar melhor o capitalismo (algo que a esquerda fez, quando no poder esteve). É de uma grande ingenuidade pensar que obter o poder político é deter o poder de fato. O Estado está nas mãos da burguesia (especialmente, a do setor financeiro - bancos) ela detém o poder de fato. A eleição é para dar ao povo a ilusória impressão de poder escolher o destino de suas vidas. O grande capital, com seu dinheiro, governa, e elege a maioria da bancada parlamentar, e esta  no parlamento atua de acordo a satisfazer seus patrocinadores. Para tornar ainda mais claro, podemos dizer que o Estado moderno, tal como o conhecemos, existe sob a hegemonia da burguesia (sob as ordens do grande capital). Marx quando falou em ditadura do proletariado, afirmava, que o socialismo se constituiria no fato de impor a hegemonia da classe trabalhadora sobre o Estado, ou seja, colocá-lo a serviço da classe trabalhadora. Em nenhum momento Marx falou em implantar um regime de exceção (de opressão). Inclusive, em sua obra, Marx afirmou que no comunismo, ou seja, no estágio posterior ao socialismo (que representaria mera fase transitória), o próprio Estado (e suas instituições) seria extinto para que se chegasse enfim, à sociedade sem opressores e oprimidos.

 

sábado, 10 de abril de 2021

31 de Março não se comemora, se repudia!

             Inicio este artigo lembrando o genial escritor, jornalista e ensaísta político inglês George Orwell (1903-1950) quando disse "Quem controla o passado, controla o futuro". Na obra 1984, que inspirou o Big Brother, numa sociedade totalitária do futuro, o "Grande Irmão" vigia a tudo e a todos e mesmo nas residências há câmeras e microfones espiões. Ninguém está seguro para falar, planejar e realizar atos contestatórios ao governo do "Grande Irmão". A história é a todo momento reescrita por funcionários públicos contratados para tal fim. Eles recebem ordens "vindas de cima" e procedem as alterações de todos os registros sobre fatos e personagens dando a eles a interpretação desejada pelo establishment e, para tal, jornais são reescritos, de forma que ao ler microfilmes de jornais, as notícias estão diferentes do que as pessoas haviam visto, lido ou assistido pela teletela (espécie de TV bidirecional). As pessoas eram induzidas a pensar que tinham uma falsa memória (um engano) e dessa forma, a história era recontada e personagens desapareciam da história e da sociedade. Com o passar do tempo e, com a morte das pessoas (que vivenciaram os fatos) as dúvidas desapareciam e a história "oficializada" era a única existente.  Parece algo exclusivo de obras literárias como a de Orwell ou de Blake Crouch, mas, é fato comum em países que tiveram ou têm regimes autoritários.

            O Brasil não fez as pazes com o seu passado. É por isso que muito dele permanece na atualidade. O país nunca puniu aqueles que romperam a hierarquia, violentaram a Constituição Federal e tomaram de assalto o poder, cancelando a democracia e suspendendo os direitos individuais. Contra tal estado de coisas, estudantes, jornalistas, professores, operários, camponeses, políticos e militares idealistas que ousaram defender a democracia e o respeito à ordem legal estabelecida pela Constituição Federal tombaram vítimas da ditadura (1964-1985) sendo arbitrariamente presos, torturados e mortos. Nos países vizinhos, nos quais houve ditaduras sanguinárias como a vivida em nosso país, as autoridades criminosas foram levadas a julgamento, aqui não. Nossas instituições e nossa democracia nunca chegaram a tal nível de amadurecimento. Sob a alegação da anistia geral e irrestrita, todos os crimes e criminosos foram perdoados. A suposta generosidade dos generais para com os rebeldes subversivos, tidos como "terroristas" e que lutavam contra a ditadura militar, era na verdade, um salvo-conduto para que militares criminosos pudessem colocar o pijama em suas casas e, não em celas. A criação da Lei da Anistia se impunha pela necessidade que despontava no horizonte. Os militares precisavam abandonar a condução do país, dado o caos econômico e social que produziram (hiperinflação, endividamento externo e aprofundamento da desigualdade social).

            Segundo o filósofo, escritor e músico brasileiro Vladimir Safatle, em sua obra (Do uso da violência contra o Estado ilegal), "a violência praticada pelo Estado ilegal (ditadura militar) contra o povo organizado e, a deste em seus esforços de resistência não pode ser comparada equivalente. Resistir, inclusive se utilizando da violência é algo garantido pelo Direito Internacional e reconhecido pela ONU como direito dos povos na resistência à ilegalidade do Estado. Não há que comparar, portanto, dada a desproporção, dada a motivação, que, no caso da ditadura era oprimir para manter a situação de ilegalidade". As forças armadas brasileiras historicamente se arvoram representantes do quarto poder, o Poder Moderador, algo que não está previsto em nossa Constituição, menos ainda de sua incumbência ou de sua capacidade para tal. Se prestam a ser ferramentas da direita conservadora (e fascista) que, ao fracassar nas urnas, sempre clama pelo seu retorno ao poder. Várias vezes se prestaram a esse vergonhoso papel, rasgando a Constituição Federal, desobedecendo a hierarquia e prestando desserviços à nação. Algumas autoridades resolveram comemorar o dia 31 de Março às claras (veladamente sempre fizeram isso) tentando normalizar e reescrever a história nacional. Comemorar o 31 de Março é pisar nas poças de sangue das vítimas. É torturar as mentes dos familiares que perderam seus entes queridos. É violentar novamente quem sofreu a violência do Estado ilegal. É depreciar a democracia, a dignidade humana e renunciar a qualquer espírito cristão.  Enfim, 31 de Março não se comemora, se repudia!

sábado, 3 de abril de 2021

Bolívar, o libertador da América

         


           O leitor provavelmente já sofreu muito assistindo as partidas de seu time na Copa Libertadores da América, cujo nome, obviamente, é uma homenagem aos principais líderes que dedicaram suas vidas à causa da independência da América, em especial, a América do Sul, são eles: José Artigas, Simón Bolívar, José de San Martín, José Bonifácio de Andrada e Silva, D. Pedro I (do Brasil), Antonio José de Sucre e Bernard O'Higgins. O processo de Independência das colônias sul-americanas no que concerne ao enfrentamento com a Espanha foi muito difícil, prolongado e sangrento. Dessa forma, temos que reconhecer o gigantesco patamar heróico ao qual se alçaram os líderes libertadores dos países  de nossos "hermanos". Não há comparação com o Brasil, até porque a independência aqui se fez sem a participação do povo, apenas das elites.

                   O leitor certamente já ouviu falar de Simón Bolívar(1783-1830), por conta do falecido presidente venezuelano Hugo Chávez (1954-2013) que fazia seus discursos com uma tela do libertador ao fundo da imagem. Por iniciativa presidencial e com aprovação parlamentar, o nome do país foi alterado para República Bolivariana da Venezuela. Não demorou e começaram a dizer que Bolívar era marxista, o detalhe é que quando Bolívar morreu, Karl Marx (1818-1883) tinha apenas 12 anos e, mais curioso ainda, o próprio Karl Marx mais tarde estudou a trajetória de Bolívar e a ele teceu duras críticas. Nos países libertados por Simón Bolívar (Venezuela, Colômbia, Panamá, Equador, Peru e Bolívia) ele é um herói universal, não se considera ser ele de esquerda ou direita. Inclusive o nome oficial da Bolívia é em sua homenagem. Bolívar, nascido em Caracas, era descendente de espanhóis, porém, "criollo" (nascido em colônia), o que era motivo de depreciação ante os espanhóis. Bolívar ainda muito jovem, perdeu seus pais e herdou uma gigantesca fortuna em fazendas, escravos, minas, imóveis residenciais, etc. porém, somente após atingir a maioridade e se casar teve acesso a seus bens. O jovem e rebelde Bolívar foi enviado a Madrid, onde estudava e buscava recuperar um título nobiliárquico. Lá conheceu Maria Tereza Rodriguez del Toro y Alayza (1781-1803) com quem se casou em 1802. De volta à sua terra natal, sua felicidade foi curta, pois, sua esposa faleceu de febre amarela.

              Bolívar prometeu e cumpriu nunca mais se casar, porém, galanteador, estava sempre acompanhado de namoradas e "amigas" nos locais aonde a guerra o levava. Tal fato não contribuía para a boa imagem do Libertador que, também era tido como autoritário. Ainda na Europa, havia jurado que usaria todas as suas energias para libertar a América da Espanha. E usou não só toda a sua energia, mas, todo o seu capital como contribuição para as dispendiosas batalhas. Genial estrategista e cavaleiro incansável, conseguiu vitórias assombrosas (dada a desproporção de forças em seu desfavor) e suas conquistas épicas somente podem ser comparadas a do líder mongol Genghis Khan (1162-1227) em área territorial. Bolívar foi um homem a frente de seu tempo. Seu sonho da integração da América espanhola em uma federação à semelhança dos Estados Unidos da América não vingou. Senhor de escravos, não teve dúvidas em proclamar a abolição da escravatura. Autodidata, conseguia cativar a população e conquistar braços para as batalhas. Preferia guerrear a governar. Provou o gosto amargo das traições e das derrotas e ao final de sua curta vida, proibido de voltar à sua Venezuela e doente, morreu pobre e foi enterrado em Santa Marta (Colômbia) com roupas que lhe foram doadas, na presença dos poucos amigos que restaram. Após sua morte, mesmo quem lhe traiu, mandou que se erigissem bustos e estátuas em sua homenagem. O presidente venezuelano que proibiu seu retorno, anos mais tarde, fez um acordo com a Colômbia, ficando em Santa Marta o coração embalsamado de Bolívar e, sendo seu corpo transladado à Caracas, onde repousa em um panteão. Simón Bolívar é uma personagem mundialmente reconhecida à esquerda e à direita do espectro político-ideológico, então, chamar alguém de "bolivariano" não constitui xingamento, mas, elogio. Fica a dica!

P.S. Na Netflix há uma série imperdível intitulada Bolívar que conta a sua vida, amores e batalhas.

Sugestão de boa leitura:

Título: Bolívar, o libertador da América.

Autora: Marie Arana.

Editora: Três Estrelas, 2015, 607 p.