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sábado, 11 de maio de 2024

A grande degeneração

 

Niall Ferguson é um renomado historiador inglês. É dele o livro “a grande degeneração”, obra na qual discorre sobre a decadência do mundo ocidental. É importante que eu diga que não concordo plenamente com o autor que em sua análise do papel do Estado utiliza uma concepção neoliberal. Mas, a obra nem por isso deve ser desconsiderada, tendo em vista que Ferguson traz importantes questionamentos e apontamentos acerca da degenerescência atual da civilização ocidental.

            O historiador inglês sustenta sua tese ao abordar aquilo que chamou de “as quatro caixas pretas” da civilização ocidental: a democracia, o capitalismo, o Estado de direito e a sociedade civil. Na obra, Ferguson discorre acerca do estado estacionário em que se encontram as economias ocidentais, cujo PIB imóvel assiste o galope da China, um país do Oriente. O autor lembra que Adam Smith fez uma análise no século XVIII sobre o estado estacionário chinês comparando sua falta de crescimento com o ocidente que navegava com vento em popa.

            O autor afirma que se Adam Smith hoje vivesse, veria que os ventos da história passaram a soprar em outra direção. Cita a desalavancagem, ou seja, a iniciativa de redução das dívidas públicas que tende a ser um fator inibidor do crescimento econômico, pois, os Estados buscam acumular superávits primários e reduzem seus investimentos na infraestrutura e também nas áreas sociais. A geração atual paga pelos arroubos da geração passada e a geração futura fica com as duplicatas a serem pagas pelos desvarios de nossos governantes atuais.

            Nos estados estacionários, os assalariados são chamados a pagar a conta dos excessos da jogatina do mercado financeiro por meio da redução do poder aquisitivo de seus salários com o objetivo de preservar os lucros do patronato e manter a competitividade das empresas. Niall reclama da rigidez dos organismos reguladores cujos processos retardam a colocação no mercado de novos produtos e inovações, mas, concorda que certo grau de regulação é necessário para que tragédias não sejam efetivadas como a colocação no mercado de produtos maléficos à saúde humana.

            Na obra também discorre sobre o envelhecimento da população ocidental com a baixa taxa de fertilidade resultante da opção de muitos casais por não terem filhos ou ter apenas um. A não renovação da população traz o problema da falta de mão-de-obra para o mercado de trabalho e uma difícil equação para a Previdência Social em que um número decrescente de trabalhadores contribui para o financiamento de um número crescente de aposentados. O autor também relata o comportamento anti-social da sociedade ocidental, que, em seu ver está cada vez mais doente e imbecilizada com a perda dos valores culturais e religiosos. 

            O autor tem posicionamento contrário ao Estado de bem-estar social e afirma que a sociedade espera que o Estado resolva tudo quando deveria ela agir, seja, ajudando na preservação do meio ambiente, na limpeza pública ou na assistência às pessoas pobres da sociedade. Relata ainda que o desconhecimento ou ignorância acerca da essência das questões fundamentais de nosso tempo leva muitas pessoas imbuídas da ilusão do conhecimento trocar insultos e pensar que com isso estão realizando um debate.

            O historiador inglês reconhece que o liberalismo econômico é atualmente uma marca denegrida e que Francis Fukuyama errou quando escreveu a obra “O fim da história” em que apontava a vitória definitiva do capitalismo sobre o socialismo. Ferguson reconhece também que o capitalismo neoliberal implantado no mundo a partir de Washington (Ronald Reagan) e Londres (Margareth Thatcher) aprofundou o fosso das desigualdades sociais ao concentrar excessivamente a renda nas mãos dos 10% mais ricos da sociedade pauperizando ainda mais os miseráveis.

            Afirma que a discussão sobre as causas desse fenômeno costumam apontar: a globalização econômica, as mudanças tecnológicas, a falta de investimentos em uma educação pública de qualidade e a política fiscal. Ferguson afirma que o Estado de direito está sendo substituído por um Estado de juristas cuja relativização da interpretação das leis por magistrados (que agem com seletividade) causa grande insegurança jurídica, pois, estes deveriam unicamente aplicar o direito. Relata que parte significativa dos membros dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário dos estados ocidentais está imiscuída no que há de mais podre na sociedade. 

Sugestão de boa leitura: 

Título:  A grande degeneração.

Autor:  Niall Ferguson.

Editora: Planeta, 2012, 128 p.

 


segunda-feira, 6 de maio de 2024

O nobre deputado

 

O Juiz de Direito Márlon Reis publicou um livro indispensável para todos aqueles que de fato, se indignam com a corrupção existente em nosso país e não fazem desta, mera retórica. Digo isso porque vejo pessoas que denunciam os fatos envolvendo políticos da esquerda, mas, se calam perante a corrupção de importantes figuras da direita. De forma surreal, existem críticos da corrupção política que praticam pequenas corrupções cotidianas, furando filas, subornando policiais ou agentes públicos, sonegando impostos, colando na prova, plagiando artigos científicos ou trabalhos escolares, vendendo o voto em troca de benefícios particulares, ou, fazendo “gato” para ter acesso gratuito à TV por assinatura.

            Alguns poderão dizer que isso é nada se comparado ao que fazem os políticos, porém, a natureza é a mesma, pois, corrupto é todo aquele que se desvia da ética, não importa, se com pouco, ou com muito. Guimarães Rosa genialmente afirmou: “Eu quase nada sei, mas desconfio de muita coisa” e foi com este pensamento que iniciei a leitura do pequeno livro e ao ler coisas que, a bem da verdade, não constituem novidades, senti profunda decepção ao confirmar minhas suspeitas.

            Márlon Reis entrevistou deputados federais e estaduais de diversas unidades federativas aos quais se comprometeu mantê-los em anonimato. Os deputados depoentes esclareceram o modus operandi da corrupção inclusive afirmando que “a pessoa que entra na política precisa entrar no sistema ou dele será cuspido fora”. Há relatos de que as eleições são decididas pelo montante de dinheiro empregado e que é o voto comprado e não o voto idealista que decide quem será eleito.

            Os deputados são caracterizados como vaidosos e que gostam de afirmar serem trabalhadores a serviço do povo, mas, na realidade não é assim que vêem de fato a situação. O autor afirma também que há deputados que lutam ferozmente por emendas para obras públicas para os seus redutos eleitorais, pois, além de fortalecerem-se perante o eleitorado para a próxima campanha levam uma porcentagem em torno de 20% referente ao butim de praxe.

            Relatou que muitas vezes, as obras são feitas com materiais de pior qualidade visando economizar para que seja possível fazer os repasses da comissão do deputado que conseguiu a verba, e, um maior lucro para o empresário “parceiro” sem esquecer-se dos fiscais cujo parecer favorável é necessário para a entrega da obra.

            As campanhas são realizadas com o reforço do Caixa 2, que é constituído por dinheiro público (via corrupção) ou de doações ilegais de empresários que “financiam não somente o potencial vencedor como o possível perdedor, pois, o perdedor de hoje é o vencedor de amanhã”. E, além disso, no caso de uma traição do vencedor, o perdedor ficará na oposição e poderá vir a ser muito útil. Após as eleições, o empresário doador de campanha cobra a fatura e esta é paga na forma de licitações viciadas com participantes e orçamentos combinados cujo vencedor está predeterminado. O preço é superfaturado, e, quando o valor alcançado não é considerado suficiente a solução é a economia de materiais (baixa qualidade) para propiciar o pagamento das comissões.

            Apesar da frustração de ver confirmadas no pequeno livro tudo aquilo que o leitor abomina, a obra é imprescindível para entender melhor os meandros da política por cujos labirintos o dinheiro público se esvai na forma de corrupção. Também é importante afirmar que não podemos desistir, desinteressarmo-nos pela política, pensando que nesta seara tudo é joio, pois, há também o trigo, portanto, importa retirar o joio, que não é pouco, mas, do esforço de todos virá o pão que sacia a fome de desenvolvimento da população.

Sugestão de boa leitura:

Título: O Nobre Deputado – Relato chocante (e verdadeiro) de como nasce, cresce e se perpetua um corrupto na política brasileira.

Autor: Márlon Reis.

Editora: LeYa, 2014, 120 p.