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segunda-feira, 6 de maio de 2024

O nobre deputado

 

O Juiz de Direito Márlon Reis publicou um livro indispensável para todos aqueles que de fato, se indignam com a corrupção existente em nosso país e não fazem desta, mera retórica. Digo isso porque vejo pessoas que denunciam os fatos envolvendo políticos da esquerda, mas, se calam perante a corrupção de importantes figuras da direita. De forma surreal, existem críticos da corrupção política que praticam pequenas corrupções cotidianas, furando filas, subornando policiais ou agentes públicos, sonegando impostos, colando na prova, plagiando artigos científicos ou trabalhos escolares, vendendo o voto em troca de benefícios particulares, ou, fazendo “gato” para ter acesso gratuito à TV por assinatura.

            Alguns poderão dizer que isso é nada se comparado ao que fazem os políticos, porém, a natureza é a mesma, pois, corrupto é todo aquele que se desvia da ética, não importa, se com pouco, ou com muito. Guimarães Rosa genialmente afirmou: “Eu quase nada sei, mas desconfio de muita coisa” e foi com este pensamento que iniciei a leitura do pequeno livro e ao ler coisas que, a bem da verdade, não constituem novidades, senti profunda decepção ao confirmar minhas suspeitas.

            Márlon Reis entrevistou deputados federais e estaduais de diversas unidades federativas aos quais se comprometeu mantê-los em anonimato. Os deputados depoentes esclareceram o modus operandi da corrupção inclusive afirmando que “a pessoa que entra na política precisa entrar no sistema ou dele será cuspido fora”. Há relatos de que as eleições são decididas pelo montante de dinheiro empregado e que é o voto comprado e não o voto idealista que decide quem será eleito.

            Os deputados são caracterizados como vaidosos e que gostam de afirmar serem trabalhadores a serviço do povo, mas, na realidade não é assim que vêem de fato a situação. O autor afirma também que há deputados que lutam ferozmente por emendas para obras públicas para os seus redutos eleitorais, pois, além de fortalecerem-se perante o eleitorado para a próxima campanha levam uma porcentagem em torno de 20% referente ao butim de praxe.

            Relatou que muitas vezes, as obras são feitas com materiais de pior qualidade visando economizar para que seja possível fazer os repasses da comissão do deputado que conseguiu a verba, e, um maior lucro para o empresário “parceiro” sem esquecer-se dos fiscais cujo parecer favorável é necessário para a entrega da obra.

            As campanhas são realizadas com o reforço do Caixa 2, que é constituído por dinheiro público (via corrupção) ou de doações ilegais de empresários que “financiam não somente o potencial vencedor como o possível perdedor, pois, o perdedor de hoje é o vencedor de amanhã”. E, além disso, no caso de uma traição do vencedor, o perdedor ficará na oposição e poderá vir a ser muito útil. Após as eleições, o empresário doador de campanha cobra a fatura e esta é paga na forma de licitações viciadas com participantes e orçamentos combinados cujo vencedor está predeterminado. O preço é superfaturado, e, quando o valor alcançado não é considerado suficiente a solução é a economia de materiais (baixa qualidade) para propiciar o pagamento das comissões.

            Apesar da frustração de ver confirmadas no pequeno livro tudo aquilo que o leitor abomina, a obra é imprescindível para entender melhor os meandros da política por cujos labirintos o dinheiro público se esvai na forma de corrupção. Também é importante afirmar que não podemos desistir, desinteressarmo-nos pela política, pensando que nesta seara tudo é joio, pois, há também o trigo, portanto, importa retirar o joio, que não é pouco, mas, do esforço de todos virá o pão que sacia a fome de desenvolvimento da população.

Sugestão de boa leitura:

Título: O Nobre Deputado – Relato chocante (e verdadeiro) de como nasce, cresce e se perpetua um corrupto na política brasileira.

Autor: Márlon Reis.

Editora: LeYa, 2014, 120 p.


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