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domingo, 21 de abril de 2024

Casa velha

 

Este escriba é uma pessoa de grande presença nos espaços que frequenta. Na tentativa de atrair menos olhares, vem frequentando academia e fazendo exercícios diariamente. Confesso, exercitar-me não é a minha atividade predileta, porém, tal como enunciado há quase dois mil anos na célebre frase: "mens sana in corpore sano" do poeta romano Décimo Junio Juvenal, o intelecto não sobrevive sem a saúde do corpo e vice-versa.

            Além da musculação, tenho dedicado-me nos exercícios aeróbicos, e, exercitar-me na esteira (sem sair do lugar) é muito entediante, inicialmente ouvia músicas, até que tive a ideia de ouvir podcast. Encontrei um podcast da booktuber Isabella Lubrano no Spotify com o título "Casa velha", um romance perdido de Machado de Assis (1839-1908). Aqui não apresentarei Machado, pois isso seria algo desnecessário em se tratando do maior escritor brasileiro.

            A pesquisadora Lucia Miguel Pereira (1901-1959) foi uma biógrafa de Machado de Assis que, ao encontrar alguns exemplares de uma revista feminina que continha trechos de Casa velha, não mediu esforços e, obstinadamente reuniu todos os exemplares para ter acesso à novela completa e publicou-a na íntegra. Ninguém sabe dizer por que Machado não publicou a obra no formato de livro. Naquela época, era comum publicar na forma de folhetins, vários escritores faziam isso enquanto continuavam a escrever a trama, inclusive testando a popularidade e podendo mudar os rumos das personagens para capturar a atenção dos leitores. Talvez não tivesse gostado de sua produção ou, estaria guardando-a para publicar em outro momento, caso tivesse necessidade financeira. Como Machado, não está entre nós, nunca saberemos, podemos (como de praxe) apenas supor. Supor se Capitu traiu Bentinho ou não, etc.

            Voltando à esteira, digo, voltando a experiência do podcast para ouvir literatura, senti-me, tal como no início do século XX, não, não sou tão velho, falo das rádionovelas que tanto sucesso fizeram no passado, quando as donas de casa ouviam a novela por meio do rádio, enquanto realizavam as atividades domésticas, eu, por meu turno, concentrava-me em ouvir a narração e não pensar no sofrimento causado pela atividade aeróbica.

            O nome do narrador, não saberemos, nunca, Machado não disse na obra (bem machadiano), sabemos apenas que ele era um padre, não muito apegado aos afazeres religiosos, pois, sempre que possível deixava-os ao encargos de seus colegas sacerdotes. O padre, tinha uma quedinha por política, mas, jamais ingressou nessa seara. Tendo lido um livro de um escritor de nome Luiz Gonçalves Santos considerou-o ridículo e, que ele poderia escrever muito melhor. Decidiu que iria escrever um livro sobre a história do Primeiro Reinado do Brasil.

            O padre tomou conhecimento por meio do reverendo Mascarenhas, que na residência de D.Antônia, viúva de um ex-Ministro do Império, havia uma grande biblioteca que tinha muito material deixado pelo falecido que poderiam reportar a esse período da história nacional. O padre solicita que o reverendo Mascarenhas interceda junto à viúva em seu favor com vistas a fazer pesquisa na biblioteca do casarão conhecido popularmente como Casa Velha.

            Tendo sido aceita sua solicitação, o padre passa a frequentar assiduamente a biblioteca, conhece os familiares de D.Antonia, agregados e escravos. Com ouvidos atentos e mente afiada, passa a descobrir segredos de seus integrantes. Faz-se amigos de todos e de todos tem  a admiração, afinal, um homem de batina não precisa se esforçar muito para ser estimado.

            Conhece Félix, o filho de D. Antônia, que não sabe o que fazer da vida, ora pensa em ser deputado, ora pensa que é melhor se manter perto da mãe, a qual estima muito, para melhor cuidar dela. Há também Lalau (Cláudia), órfã de mãe e que foi criada por D. Antônia, recebendo uma educação acima do que sua classe social lhe reservaria.

            Não demorou para que o padre, que se encantou pela jovem Lalau, percebesse que também Félix era por ela apaixonado. Conversando com os jovens e observando-os, descobriu que Félix era correspondido. Como D. Antônia insistia que o padre viajasse com Félix para a Europa e, por lá ficasse algum tempo. Soube também que D. Antônia estava preocupada em arranjar um casamento para Lalau, propondo que fosse com um jovem livre, porém, pobre.

            O padre, encorajou-se e disse que a moça merecia alguém com maior refinamento, pois era muito educada e bela. Disse ainda que Félix e Lalau se amavam e que ela deveria considerar o casamento de ambos. D. Antônia não concordou, disse que teria constrangimento em anunciar o casamento de seu filho com alguém de uma classe social inferior, mesmo que Lalau fosse bela e muito educada. Casamento, disse ela, é a união de famílias e propriedades.

            O narrador não se deu por vencido e retornou à conversa em outras oportunidades. Dona Antônia, olhando para o retrato do falecido marido, disse que se o padre soubesse o que ela sabe, lhe daria razão e a apoiaria quanto à necessidade de afastar os jovens.

            O padre, então, chegou á conclusão que Lalau era fruto de uma relação extraconjugal do ex-Ministro. E disse o que D. Antônia apenas dera a entender. Isso inclusive explicava um bilhete suspeito que o padre havia encontrado no meio de um livro e não havia revelado a ninguém. Disse que tinham mesmo que afastá-los, não havia outra coisa a se fazer. D. Antônia pede que o Padre convença ambos da impossibilidade de se casarem. Félix aceita o afastamento, não havia outra forma. Passa até mesmo a gostar da ideia de ter uma irmã. Lalau resolve ir embora da casa velha e passa a morar na casa de uma tia pobre onde passa a ajudá-la a fazer trabalhos de costura em busca da sobrevivência. Lalau prefere ter uma vida condizente com a sua classe social.

            Enquanto, Lalau tem a possibilidade de se casar com Vitorino, D. Antônia acena com a possibilidade da união entre Félix e a bela Sinhazinha, filha do Coronel Raimundo e neta da baronesa. O padre vai ter com D. Mafalda, a tia de Lalau e ouve desta que Lalau era uma criança quando sua irmã conheceu o ex-Ministro, portanto, não era filha deste, sendo que a criança que era fruto do relacionamento extra-conjugal do casal havia morrido com poucos meses de vida. Ao contar o fato à D. Antônia, esta estupefata, olha para o retrato do marido e descobre que foi traída, afinal, a vida toda considerou ele um marido leal. Havia enganado o padre, para ter dele o apoio na separação dos jovens. Atirou no que viu, acertou no que não viu.

            Não sou Machado de Assis, mas não vou contar o resto da história, mas, deixo uma dica, Machado sempre desafiou as obviedades.Fica a sugestão de leitura.     

Sugestão de boa leitura:

Título: Casa Velha.

Autor: Machado de Assis.

Editora: Garnier, 1999, 183 p.    

 


domingo, 14 de abril de 2024

O avesso da pele

 

Jeferson Tenório (1977) é um escritor, professor e pesquisador brasileiro, radicado em Porto Alegre. Em 2021, recebeu o prêmio Jabuti referente à obra aqui resenhada e publicada no ano anterior. Trata-se da maior honraria a uma publicação literária nacional. O autor, então ganhou notoriedade e passou a ser chamado para entrevistas, no entanto, tornou-se alvo de haters, sendo inclusive ameaçado de morte. Em 2022 (último ano do governo Bolsonaro), seu livro passou pela seleção do PNLD - Programa Nacional do Livro Didático, escolhido que foi por uma equipe de analistas professores a serviço do Ministério da Educação e da Cultura (MEC), para fazer parte do acervo das bibliotecas de escolas públicas.

            Recentemente, algumas vozes (conservadoras) se levantaram e acusaram a obra de possuir vocabulário de baixo nível e de incitar à promiscuidade. Não demorou e os governos de Goiás, Mato Grosso do Sul e Paraná, de lideranças igualmente conservadoras, retiraram tal livro das bibliotecas. Este escriba, apenas sabia que o referido livro denunciava o racismo estrutural de nosso país, mas, diante da polêmica, resolveu adquiri-lo, para ler na íntegra e não ser mais um a julgar sem verdadeiramente conhecer a obra. Após a censura por parte do trio governamental, a venda do livro aumentou em 1400%. No entanto, esse incremento de vendas é algo que perturba o próprio autor que gostaria que o livro vendesse por si mesmo, não por reação a uma censura. Eu, por meu turno, penso que, após tantas noites escuras que o fascismo trouxe para a humanidade, reagir à censura de um livro, é combater com luz a escuridão daqueles que propagam o medo e o ódio.

            O livro de Jeferson Tenório faz a denúncia do racismo de nossa sociedade, que se faz presente nas piadas, nos comentários em tom jocoso sobre as pessoas negras, ou ainda, na desaprovação ou desconfiança contra estas, etc. Relata de forma ficcional, ou nem tão ficcional assim, pois é difícil saber na obra, o que é fruto da imaginação do autor, ou o que é dele experiência vivida, que as pessoas que não possuem a pele negra, não conseguem, por mais empatia que tenham, sentir a dor do racismo. O escritor insere no papel de narrador, Pedro, um rapaz negro, estudante de arquitetura, filho de Henrique, um professor de literatura de escola pública, também negro e de sua mãe, Martha, uma mulher negra.

            O narrador (Pedro) relata a relação familiar, de seus pais e dele com estes. Pedro revisita os traumas de seus pais, contando a forma como eles lidavam com o racismo numa Porto Alegre racista, algo, que é do conhecimento de todos. Pedro relata as constantes abordagens policiais e o tratamento diferenciado dado em desfavor das pessoas de pele negra. O livro denuncia também a violência policial que vitima principalmente os jovens negros. Na trama, seu pai Henrique, é morto numa abordagem policial. Lembro de ter assistido pela TV, uma abordagem policial ocorrida nessa cidade, mas, poderia ter ocorrido em qualquer lugar do Brasil, afinal o racismo não é exclusividade de Porto Alegre ou do Rio Grande do Sul, na qual, uma vítima negra é presa enquanto seu agressor branco escapa impune, apesar das pessoas que viram o fato, alertarem os policiais sobre o engano, isso foi há cerca de um mês.

            A  pergunta que não quer calar é, por que tal obra incomodou/incomoda tanto? Tendo lido a obra, discordo que seja, pela tal linguagem de baixo nível, pois, a obra é muito bem escrita, e prazerosa ao ler, embora pesada pelo tema retratado. Há algumas poucas falas, se referindo aos órgãos genitais masculino e feminino de forma vulgar, mas, sabemos que isso não é algo que faça corar nossos adolescentes e jovens, pois também as utilizam. Além disso, utilizar essas poucas linhas para caracterizar a obra como um todo, é algo próprio da indústria de fake news ou de desinformação tão cara a alguns grupos políticos de nosso país. É importante lembrar que, a pouco tempo, muitas falas de autoridades de nosso país, em reuniões de governo ou em entrevistas, se fizeram com linguagem até mais chula. Lembro ainda que alguns autores consagrados como Jorge Amado e Darcy Ribeiro também incluíram expressões vulgares em obras suas, nem por isso foram atacados. Seria um caso de "pau que bate em Chico não bate em Francisco"?

            A obra, em alguns momentos trata do tema da paixão e da sexualidade, de forma coloquial, afinal, não se trata de uma aula formal de biologia, mas, de literatura, sendo que ao literatos é concedida a liberdade para criar, portanto, literatura e literatos não cabem na caixinha padrão que os moralistas de plantão querem impor aos demais. O livro faz menção a forma erotizada como a branquitude vê os corpos negros e, isso está relatado até mesmo em música, lembro da marchinha de carnaval "Teu cabelo não nega" de Lamartine Babo. Reitero, no entanto que o tema do livro, não é o sexo, afinal ele faz parte do livro, como faz parte da vida, porém, de forma secundária. A promiscuidade está na mente alienada daqueles que, ou não leram a obra, ou foram incapazes de perceber que o tema central é o racismo estrutural e o trauma que ele causa na vida das pessoas negras.

            Penso que é uma hipocrisia esse ataque ao livro de Jeferson Tenório, afinal, ele não é destinado à crianças, e sim aos estudantes do Ensino Médio, os quais dispõem de celulares ligados à Internet, que lhes foram presenteados por seus próprios pais, e, sabemos, na Internet há de tudo, e nela o adolescente busca tudo aquilo que lhe desperta a curiosidade, e essa nem sempre é relacionada à aula que teve hoje na escola. O livro faz menção aos olhares de estranheza, perante intelectuais e empresários negros bem sucedidos afirmando serem comuns, mas, não deveriam. Sobre isso, o saudoso intelectual Milton Santos (1926 - 2001) assim se expressou "a chamada boa sociedade acredita que está permanentemente reservado um lugar predeterminado, lá em baixo, para os negros e assim tranquilamente se comporta". Milton Santos, afirmou ainda, que é muito difícil ser um intelectual negro no Brasil. O racismo não é algo exclusivo do Brasil e, na Europa, para citar um exemplo, torcedores nos estádios entoam impunemente cânticos e provocações racistas contra jogadores negros. A Europa dos finos europeus, não é tão evoluída socialmente, também não somos. Lá a mente colonial, racista e xenófoba, cá a mente escravocrata que pariu o preconceito, a ditadura e a censura para evitar que o menor arremedo de justiça social aconteça nestas paragens, afinal, para que nada mude, é necessário que se imponha o silêncio às vítimas.

P.S. Os governadores, sabemos, quiseram jogar para a torcida. Perderam feio!

Sugestão de boa leitura:

Título: O avesso da pele.

Autor: Jeferson Tenório.

Editora: Companhia das Letras, 2020, 192 p.

 

           

 

 

 


sexta-feira, 12 de abril de 2024

Cuidado com o senso comum!

 

            Sou admirador do filósofo Sócrates, o qual sabemos há dúvidas se de fato existiu ou se é uma criação do filósofo Platão, enfim, real ou ficção, Sócrates adorava conversar com as pessoas e dizia que aprendia muito com elas independentemente da condição social a que estas pertenciam, assim, penso que podemos aprender muito e também ensinar as pessoas com as quais convivemos.

            Há muitas qualidades a admirar em Sócrates, destaco entre elas a humildade no trato com as pessoas em que demonstrava não ter preconceito de classe e o seu compromisso inquebrantável com aquilo em que acreditava, uma vez que sua sentença foi a morte por envenenamento, pois ao dizer verdades incomodava o status quo estabelecido. No entanto, é impossível deixar de notar o “senso comum” que predomina nas conversas entre as pessoas ao tratar de temas que merecem estudo e reflexão aprofundada. Por senso comum, entenda-se a interpretação espontânea acerca de um fato e que nasce da experiência cotidiana das pessoas podendo esta forma de pensar e agir ser passada de geração em geração e tornar-se tradição. O senso comum carece de investigação e reflexão aprofundada e pode muitas vezes conduzir a interpretações equivocadas da realidade e isso é algo que pode trazer prejuízo para uns e benefícios para outros.

            Certa vez li que duvidar de tudo ou acreditar em tudo, são atitudes igualmente cômodas, pois, nos dispensam do ato de pensar, nada mais verdadeiro! Instituiu-se em nosso país a crença (senso comum) que todo político é desonesto e somente quer fazer o seu “pé de meia” à custa do erário público, verdade seja dita, que muitos de nossos representantes não contribuem para melhorar a imagem da classe política, no entanto, por trás dessa “verdade” aceita por boa parte da população se esconde o fato de que aos maus políticos interessa que a sociedade pense assim, pois esta não vai procurar separar o joio do trigo escolhendo entre os candidatos aqueles que são ficha-limpa e que têm de fato o interesse em fazer algo pelo bem da coletividade acima dos interesses individuais. Também é senso comum que se propaga aos quatro cantos desse país que pessoa de bem não pode ingressar na política, pois se não entrar no “esquema” não consegue vencer, isso também interessa aos maus políticos, pois assim, muitas pessoas bem intencionadas deixam de disputar cargos políticos favorecendo aos mau intencionados que nadam de braçadas na carreira.

            Também já ouvi críticas a respeito de algumas mulheres feministas pelo fato de as mesmas se produzirem com maquiagem e roupas provocantes. Há uma crença que pelo fato de a mulher ser feminista ela deva abolir o sutiã e de preferência queimá-lo, usar roupas de homem, não cuidar da aparência e principalmente, não gostar de homem. Nada mais absurdo, o movimento feminista tem como objetivo a igualdade entre homens e mulheres no que se refere aos salários, à dignidade, à valorização, às oportunidades (no trabalho e na política), e pelo fim do machismo que também é mais um comportamento arraigado na sociedade baseado no senso comum. O movimento feminista existe também para que a mulher não seja refém do seu próprio corpo e para que possa se vestir como se sentir melhor, com roupa de homem ou com roupas que evidenciem a beleza de seu corpo, com o rosto lavado ou maquiado, se deixarmos o senso comum prevalecer não será difícil algum “fundamentalista” religioso (e há vários) em nossa sociedade propor que as mulheres devam usar a burca em terras tupiniquins.

            Outra fala “senso comum” é a de que se o sujeito é defensor do socialismo, ele deve viver na miséria, não possuir bens e não consumir produtos de marca. Se possuir algum bem, ou utilizar algum produto fabricado por multinacional, está então em contradição. Ora, vivemos num mundo capitalista, o Brasil é um país capitalista, não existe uma redoma de vidro para proteger a pessoa do contato com o capitalismo, até afirmei certa vez a um sobrinho, a única solução é ir embora para Marte e este me avisou que é melhor pensar num plano “B”, pois a NASA a agência espacial do país mais capitalista do mundo (EUA) já tem planos para colonizar o planeta vermelho.

            Ocorre que muitas pessoas já chegaram à conclusão que não é possível resolver as contradições do capitalismo com mais capitalismo (neoliberalismo), pois o capitalismo é o veneno que intoxica a sociedade através da acumulação excessiva e da exclusão em massa, dessa forma, a economia capitalista tal como um organismo moribundo vive de crise em crise, sendo estas cada vez mais duradouras. O objetivo do socialismo não é distribuir a miséria e sim a riqueza, pois pretende o melhor dos mundos, um mundo sem miséria, sem fome, uma irmandade de homens. Utopia? Convencionou-se (senso comum) chamar de utópica qualquer pessoa que deseje um mundo melhor para todos e não apenas para a minoria da qual faz parte.

domingo, 7 de abril de 2024

A indefensável defesa da ditadura militar

 

          Qualquer pessoa que tenha um mínimo de estudo e espírito humanitário jamais defenderia uma ditadura que matou e torturou milhares de pessoas. A escravidão e a ditadura militar são as maiores manchas na história deste país. As realizações da ditadura foram importantes para o país, mas também seriam concretizadas por um governo civil.

            Ao contrário do que afirmam alguns, havia corrupção, obras superfaturadas e/ou desnecessárias, (a Transamazônica foi mal planejada e superfaturada, dinheiro desperdiçado, sendo que a maior parte desta estrada foi retomada pela floresta), a construção das usinas nucleares de Angra teve o preço quadruplicado em relação ao valor real e o equipamento comprado da Alemanha era obsoleto. Itaipu custou o dobro da previsão; a BR 277 foi duplicada de Foz a Paranaguá durante o Governo militar (pelo menos é o que dizem os documentos dos empréstimos feitos pelo governo militar lá nos EUA), é isto que você vê quando viaja pelo Paraná? 

            Corrupção havia e muita, mas se a imprensa ou qualquer pessoa denunciasse o risco de ser preso e  torturado era muito grande (leia "Brasil nunca mais!" de Dom Paulo Evaristo Arns), pois, os escândalos eram acobertados pela censura então vigente. Não há entre o povo rico e culto dos países desenvolvidos, o mesmo percentual de pessoas existentes no Brasil a defender uma ditadura sanguinária como a que aqui tivemos. Estes preferem que o dinheiro do governo federal sirva à manutenção dos privilégios de alguns e não para a retirada de pessoas abaixo da linha  da miséria. Caso não saibam não foi os governos civis pós abertura política que colocaram o Brasil entre as piores distribuições de renda do mundo, foi a ditadura que preconizava "é preciso fazer o bolo crescer para depois dividir", o bolo cresceu e a divisão nunca houve!

            As obras dos governos militares foram executadas por meio de empréstimos externos e foram eles que colocaram o Brasil de joelhos perante o FMI e os EUA. Durante o Governo militar a dívida externa cresceu quase 3500%. O salário mínimo perdeu valor, conhecemos a hiperinflação, artistas e intelectuais tiveram que fugir do país, greves eram reprimidas (tentativa de atentado a bomba no Rio-Centro, ou seja, terrorismo de Estado). Criou-se uma mentalidade que fazer protestos e lutar por melhores condições de trabalho é coisa de desordeiros. Temos até hoje um povo apático, não por sua natureza, mas pelo medo e o método educacional imposto pelo regime.

            Fico indignado quando ouço pessoas afirmarem serem terroristas àqueles que lutaram em meio a uma população apática e amedrontada para que você hoje, bem ou mal, pudesse escolher os governantes, escrever e dizer o que pensa. A verdade é que boa parte dos políticos tem projeto de poder e não projetos para o desenvolvimento do país, assim, resta um saudosismo de quando possuíam o total controle do povo brasileiro pelo uso da força e, saudade principalmente do jogo que nunca mudava (sempre estavam no poder).

            Quem defende a ditadura presta um desserviço à história, à nação e ao povo brasileiro, pois apesar de alguns acertos, o saldo daquele período é catastrófico. Além disso, tais pessoas desrespeitam as famílias das vítimas (políticos, jornalistas, professores, estudantes, etc.). Se hoje o Brasil é um país melhor e que está aprendendo a ser democrático, devemos isto a um pequeno, mas valoroso grupo de brasileiros que ousaram lutar pela Democracia, muitas vezes derramando o próprio sangue!

 

sábado, 30 de março de 2024

De que lado você está?

 


            O grande intelectual socialista italiano Antonio Gramsci (1891-1937) viveu apenas 46 anos e mesmo assim, parte desse curto tempo de vida como preso político. No cárcere registrou suas reflexões que mais tarde foram revisadas e publicadas formando uma imprescindível contribuição para o intelecto humano. Sua obra aponta caminhos a serem trilhados por todos aqueles que desejam uma educação crítica e formadora de lideranças prontas a desempenhar o protagonismo num mundo pensado e organizado pela burguesia e para a burguesia, sendo que esta reserva ao andar de baixo da sociedade, papel meramente figurativo.

            Gramsci em sua poesia “Odeio os indiferentes” afirmava que viver é tomar partido. Em nossa sociedade existem pessoas que procuram ser palatáveis aos diversos segmentos ideológicos. Eu, porém, não ligo a mínima em ter a aceitação de grupos e pessoas cujos ideais não comungo e quero ser lembrado como uma pessoa que sempre deixou claro aquilo em que acreditava, e, que jamais surfou a onda do oportunismo.

            Há alguns dias, como sempre faço, quando me encontro em centros maiores, percorri as livrarias em busca de livros, e eis que me vejo diante de um título sugestivo “De que lado você está?” de autoria de Guilherme Boulos e, na contracapa li a seguinte frase extraída de um de seus artigos no livro: “Jesus, se vivesse hoje, estaria ao lado dos direitos sociais e humanos. Estaria com os sem-teto e os sem-terra, com os negros, os imigrantes, as mulheres violentadas e os homossexuais vítimas de preconceito”.

            Em seguida, nova frase: “a corrupção no atacado é o verdadeiro problema. A burguesia brasileira pede um Estado mínimo e enxuto para o povo, mas, desde sempre teve para si um Estado máximo. Privatizar os lucros e socializar o prejuízo, esta é a sua diretriz”. E penso: Impossível deixar a obra na estante dessa livraria!

             O livro é uma coletânea de vários artigos de Boulos para a sua coluna semanal na Folha de São Paulo. A obra é impecável e assim como ataca a direita entreguista também aponta as falhas dos governos petistas e sua inoperância quanto à realização de reforma estruturais tais como: a reforma urbana, a reforma agrária, a reforma política, a reforma tributária, a reforma dos meios de comunicação e a reforma do sistema financeiro.

            Boulos que contava apenas 33 anos, era dirigente do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), militante da Frente de Resistência Urbana, professor de filosofia formado pela Universidade de São Paulo, especialista em psicanálise e atualmente faz pós-graduação em psiquiatria. Seus artigos empolgam pela lucidez, criticidade e independência.

            Vários de seus artigos poderiam ser aqui mencionados, porém, isto é inviável, volto então ao artigo “Natal sem hipocrisia” em que fala sobre os motivos que fizeram Jesus ser tão odiado pelos poderosos da época: “[...] Jesus defendeu a igualdade e os mais pobres, condenando aqueles que se apegavam demais às riquezas. [...] Defendeu a divisão dos bens, como signo da igualdade social. [...] Partilhou o pão e os peixes entre todos. [...] Enfrentou os preconceitos. [...] Acolheu os marginalizados. [...] Foi misericordioso com as prostitutas. [...] Combateu o ódio e a intolerância”.

            Boulos questiona a profunda desigualdade do mundo atual em que 2% da população mundial detêm mais da metade de todas as riquezas, enquanto os 50% mais pobres detêm apenas 1%. E termina o artigo afirmando que “Se Jesus vivesse hoje, talvez fosse preso e torturado, do mesmo modo que milhares de brasileiros que não há muito lutaram por igualdade e justiça e, que seria sem dúvida crucificado, não por autoridades romanas e sacerdotes judeus, mas, moralmente por muitos dos cristãos que, em seu nome, insistem em combater tudo aquilo que ele defendeu”.

 

Sugestão de boa leitura:

Título: De que lado você está?

Autor: Guilherme Boulos.

Editora: Boitempo Editorial, 2015, 144 p.

sábado, 23 de março de 2024

Um artista da fome

         

 


           

No conto "Um artista da fome" do escritor tcheco Franz Kafka (1883-1924) não há nomes, apenas o relato do ofício de cada personagem, tais como os açougueiros, os vigilantes, o inspetor, as moças, as crianças e, claro, o artista da fome e seu empresário. Kafka relata que, antigamente havia um artista que era muito reconhecido, porém, a popularidade de sua arte se perdeu no tempo, o artista da fome. O leitor certamente já ouviu, leu ou assistiu na TV que, no passado eram comuns atrações como mulheres barbadas, anões, etc.

            O artista da fome formava uma dupla com seu empresário, que o impedia de jejuar por mais de quarenta dias. O artista considerava que o jejum era uma arte e se lamentava por não estender o prazo além do que o empresário permitia. Sempre que chegavam em uma cidade, o artista dentro de uma jaula, atraía muitos curiosos que lhe vigiavam noite e dia, procurando desmascarar a "fraude" e, eram incentivados a fazê-lo, inclusive com a oferta de lanches pagos pelo empresário para os "fiscais". No entanto, ele tomava apenas água.

            O empresário cuidava do artista e o artista possibilitava ao empresário seu ganha-pão. Quando o interesse da população caía e não mais rendia algum dinheiro, eles mudavam para outra cidade. O tempo passou e a arte do artista da fome passou a não mais atrair a atenção das pessoas. O artista da fome dispensou o seu empresário e se juntou a um circo, pois lá teria acesso ao público.

            No circo teve direito a uma jaula junto aos animais e, pensava que era incompreendido, que não havia reconhecimento a bela arte de jejuar que tão bem executava. As pessoas passavam por ele no intervalo, liam a placa da jaula que o apresentava, mas, passavam direto para ver os animais. Com o tempo, foi esquecido pelos próprios integrantes do circo.

            O dono do circo viu a jaula com um cartaz cujo letreiro encontrava-se apagado e perguntou aos funcionários, por que aquela jaula estava vazia, eles não sabiam, abriu a porta, mexeu na palhada e encontrou um corpo inerte, cutucou-o e o artista da fome respondeu. O dono do circo perguntou se ainda estava fazendo o jejum, sendo que ele respondeu afirmativamente. Disse que fazia o jejum para que as pessoas o admirassem e, também por que não sabia fazer outra coisa, além disso, nunca encontrou alimento algum que ele gostasse, afinal se alimento assim houvesse, ele se fartaria até ficar pançudo como os demais. Após dizer isso, perdeu a consciência e morreu. O dono do circo pediu que providenciassem um enterro para o cadáver que era tão somente pele e ossos.

            Na jaula, o dono do circo mandou que colocassem uma pantera, que andava agitada pelo pequeno espaço que nela havia e, devorava vorazmente a carne que lhe era destinada para o deleite das pessoas que iam vê-la.

            Conto "contado", fica a interpretação a seu encargo, caro leitor. O conto é curto, mas a discussão do tema dá uma monografia!

 

Sugestão de boa leitura:

 

Título: Um artista da fome.

Autor: Franz Kafka.

Editora: Companhia das Letras, 1998, 120 p. 

sexta-feira, 15 de março de 2024

Lavoura arcaica

 


            O escritor, jornalista e agricultor Raduan Nasser nasceu em Pindorama (SP) em 1935, tem uma obra considerada pequena se considerada a quantidade de seus escritos. Porém, essa obra pequena agiganta-se tendo em vista a qualidade literária que apresenta. O autor foi várias vezes premiado, inclusive com o prêmio Camões, o mais importante da língua portuguesa concedido por Portugal e Brasil.

            A cerimônia de premiação (em 17/02/2017) foi motivo de vergonha nacional, pois, o Ministro da Cultura Roberto Freire (PPS) no então governo Temer, descontrolou-se emocionalmente ao ouvir o discurso de Raduan Nasser, que denunciava o golpe de Estado de 2016 ao mundo. Na verdade, Roberto Freire agiu de forma premeditada, e quebrando o protocolo pediu para falar depois de Raduan e o resultado foi um discurso de ódio, combatido pela platéia que buscava dar a Raduan o seu merecido dia de homenagem ante o desequilíbrio do Ministro da Cultura. Enquanto a situação vexaminosa se desenrolava, Raduan serenamente assistia ao triste espetáculo de horror protagonizado por Freire.

A obra “Lavoura Arcaica” (1975) chama a atenção pelo sentido poético e pela descrição minuciosa dos fatos vividos pela personagem André, que ora, apresenta-se quase como um narrador, noutras como o protagonista de uma história que mostra uma família presa a tradições culturais arraigadas no tempo, e a contestação adolescente a esta. A ansiedade como este busca seu lugar na vida saindo de casa, e a ela retornando, com a não resolução de um problema crucial: o amor recíproco que alimenta por sua própria irmã.

            Há quem considere a leitura de Lavoura Arcaica, difícil e até mesmo cansativa, pois, a escrita de Raduan foge do lugar-comum, cada palavra foi meticulosamente escolhida pelo autor para deslumbrar o leitor. Eis um “tira-gosto”: “Os olhos no teto, a nudez dentro do quarto; róseo, azul, violáceo, o quarto é inviolável; o quarto é individual, é um mundo, o quarto catedral, onde nos intervalos da angústia, se colhe, de um áspero caule, na palma da mão, a rosa branca do desespero, pois entre os objetos que o quarto consagra estão primeiro os objetos do corpo”.

 

Sugestão de boa leitura: 

Título: Lavoura arcaica.

Autor: Raduan Nassar.

Editora: Companhia das Letras, 1989, 200 p.

 

 

domingo, 3 de março de 2024

A metamorfose

 

          


       Franz Kafka nasceu aos três de junho de 1883 em Praga (atual capital da República Tcheca) em terras do então Império Austro-Húngaro. Viveu apenas 40 anos, pois faleceu em três de junho de 1924. Uma existência curta, em que teve várias namoradas, noivou algumas vezes, porém jamais se casou. Em seu leito de morte solicitou que seus manuscritos fossem destruídos, mas, graças ao bom senso da pessoa encarregada, seu último desejo não foi atendido.

            Os escritos literários de Kafka influenciaram vários pensadores entre eles: Jean Paul Sartre, Gabriel Garcia Marquez, Albert Camus, entre outros. A originalidade de sua obra deu origem ao termo kafkiano, empregado sempre que alguém descreve algo como surreal ou que confunde o real com a ficção. Também é utilizado tal termo quando a imaginação deste sobre si ou da sociedade sobre o indivíduo, se sobrepõe à realidade atormentando-o.

            Dentre as várias obras de Kafka, “A Metamorfose” (1912) conta a história de um caixeiro viajante solteiro, cujo trabalho exaustivo quase não lhe possibilita tempo para passar com a família. É do fruto de sua labuta que vive o pai, a mãe e a irmã. E todos o valorizam muito, reconhecem seu empenho e lhe são gratos até o momento em que Gregor Samsa sofre uma estranha metamorfose transformando-se num animal medonho.

            A sua família, esconde-o da sociedade confinando-o ao seu quarto, alimenta-o por algum tempo, e, como a situação não se resolve vêm-se forçados a procurar emprego (eles que eram sustentados por Gregor). Começam a falar mal do animal em que Gregor se transformou sem saber que este preservou sua capacidade de audição apesar da perda da capacidade de comunicação.

            O autor mostra por meio desta obra, como as pessoas são amistosas com outrem enquanto podem desfrutar de alguma vantagem material por ela oferecida. Alterada esta situação vantajosa, afastam-se, buscando substituir a pessoa por outra, que lhe dê um melhor retorno. Ler Kafka é adentrar o mundo do surreal para entender melhor as relações humanas que permeiam a realidade societária.

 

Sugestão de boa leitura:

Título: A metamorfose.

Autor: Franz Kafka.

Editora: Companhia das Letras, 1997, 96 p.

 

sábado, 24 de fevereiro de 2024

Vidas palestinas importam!

 

        Retorno a este tema, apesar da série de artigos aqui publicados com o título "O sionismo e o apartheid na Terra Santa: do holocausto judeu ao holocausto palestino". Sou chamado pela minha consciência a fazê-lo, tendo em vista a continuidade do massacre de vítimas inocentes em Gaza e a polêmica gerada em torno da fala do presidente Lula. A polarização que dividiu o país em "Nós" e "Eles" fez com que a sociedade brasileira ficasse dividida entre os que aplaudem Lula por sua fala corajosa e, aqueles que acreditam que o Brasil se tornou um pária internacional, por não apoiar Israel em sua campanha militar na Faixa de Gaza.

            Li, reli a fala do presidente Lula e, não vi nela nada mais que a verdade. Lula fez o que as lideranças do mundo desenvolvido, por covardia e conveniência, se omitiram. Nenhuma das grandes lideranças mundiais criticou Lula, mas, romperam o silêncio e exigiram que cessem os assassinatos de civis inocentes. Lembro que o apartheid na África do Sul somente acabou com forte pressão internacional e, que os Estados Unidos, o Reino Unido e o Estado de Israel apoiavam o governo segregacionista de minoria branca. A então primeira ministra do Reino Unido Margaret Thatcher (1925-2013) se recusou a adotar sanções contra a África do Sul e fez pronunciamentos nos quais acusava Nelson Mandela (1918-2013) de ser um terrorista. A história colocou Mandela num patamar muito acima de Thatcher dentre as grandes personalidades mundiais.

            Há um Estado de apartheid em Israel, no qual os palestinos estão confinados em seu próprio território (tal como os bantustões sul-africanos) sem a liberdade de ir e vir, pois passam por constrangimentos e humilhações diárias nos vários checkpoints instalados nas terras palestinas ocupadas por Israel. A África do Sul, cuja ferida do apartheid ainda não cicatrizou, foi certeira em denunciar Israel ao Tribunal Penal Internacional. Em pleno século XXI, Israel, que desrespeita e desobedece a ONU, é um dos países onde mais se descumpre os direitos humanos. O holocausto não pode servir de salvo-conduto para o Estado de Israel impunemente cometer crimes contra a humanidade.

            Criticar o governo Netanyahu por sua política de genocídio contra o povo palestino, não é desrespeitar a memória das vítimas do holocausto judeu, nem mesmo o presidente Lula fez a comparação quanto à magnitude do genocídio praticado pelos nazistas alemães com o genocídio que Israel pratica contra o povo palestino, afirmar o contrário é cometer desonestidade intelectual. Toda reação a um ato hostil deve ser balizado na proporcionalidade. Israel já passou longe da resposta equivalente que lhe caberia dar, e ataca civis inocentes, pois cerca de trinta mil civis (grande parte formada por mulheres e crianças) já foram mortos desde sete de outubro de 2023.

            Genocídios não deveriam ocorrer e comparar genocídios é absurdo! Mas, quantas pessoas devem morrer para que seja considerado um genocídio? Precisa chegar a seis milhões? Nesse caso, o genocídio contra os povos indígenas supera em muito tal número, 57 milhões, mas Benjamin Netanyahu insiste que o ocorrido com os judeus não tem comparação com nada na história mundial. A vida dos indígenas vale menos? A vida dos africanos escravizados, torturados e mortos no cativeiro em terras distantes valem menos? Toda vida humana importa! As vidas indígenas e negras importam! As vidas palestinas importam! Genocídio não é assim qualificado por um número absoluto de vítimas, mas pela sua natureza, ou seja,por ser uma política sistemática de limpeza étnica, de extermínio total ou parcial de um povo em situação de fragilidade. Lula acertou quando disse que em Gaza há o ataque de um dos mais preparados exércitos do mundo contra civis inocentes, vitimando em grande parte mulheres e crianças indefesas.

            Concordo com o assessor chefe da Presidência do Brasil Celso Amorin, quando disse "Israel não deve desculpas ao Brasil, mas que as deve à humanidade". Penso também que Netanyahu deve pedir desculpas à memória das vítimas do holocausto, pois, tenho certeza que elas, não gostariam que seus líderes fizessem com outras pessoas aquilo que lhes impuseram. Benjamin Netanyahu se irrita quando é acusado de praticar uma política de genocídio, porém, não há como classificar de forma diferente sua política de governo. Lembro do saudoso político Leonel Brizola (1922-2004) quando afirmou "tem focinho de jacaré, rabo de jacaré, patas de jacaré, corpo de jacaré...então como que não é jacaré? Essa frase cabe bem na caracterização do governo de Netanyahu e sua política genocida.

            É bizarro que um povo que sofreu nas mãos da extrema-direita nazista alemã tenha em sua história vários governos de extrema-direita. Penso que em memória às vítimas do holocausto, o povo judeu não deveria permitir que isso acontecesse. Ter a direita no poder é do jogo político, mas não a extrema-direita. Um exemplo disso é a Alemanha que repudia tal ideologia e vigia de perto os atos de grupos de extrema-direita no país, afinal, o nazismo deixou profundas cicatrizes na sociedade alemã. Infelizmente, uma das maiores infâmias da história mundial, colocou os judeus como vítimas, o holocausto. A ONU sob a liderança do Brasil (Oswaldo Aranha) na sessão da ONU (1947), criou o Estado de Israel e, na atualidade, a liderança sionista de Israel coloca o quarto exército mais poderoso do mundo como algoz de um povo, os palestinos. No entanto, sou sabedor que, assim como vacas às vezes vão parar em telhados e, nos perguntamos como isso aconteceu, tragédias também ocorrem na política, e sei que grande parte do povo judeu não compartilha do pensamento das lideranças que governam o país, dadas as notícias sobre os protestos de judeus contra a política de extermínio levada a cabo por Netanyahu.

            Em 1948, os judeus, Albert Einstein (1879-1955) e Hannah Arendt (1906-1975) que dispensam apresentações e, na companhia de uma centena de proeminentes personalidades judaicas em uma carta publicada no jornal estadunidense The New York Times já denunciavam que a extrema-direita (Partido da Liberdade) de Israel que mais tarde veio a formar o Likud, o partido de Benjamin Netanyahu, tinha por sua organização e metodologia, caráter semelhante ao nazifascismo. Sob a luz do sol, há muito pouco no planeta que se pareça tanto com o nazismo quanto a atual política governamental da liderança sionista de Israel para com a questão palestina. Netanyahu em uma fala até "passou pano" para Hitler quando disse que o líder nazista apenas queria expulsar os judeus e não pretendia fazer o Holocausto. O presidente da Turquia já havia comparado Netanyahu a Hitler e, não teve a mesma resposta irada dada a fala de Lula. É que Netanyahu sabe que a posição do Brasil perante o mundo e a fala de Lula tem um grande peso internacional, capaz de constranger as lideranças do mundo desenvolvido, tirando-as da omissão covarde ante o genocídio contra a população palestina em que se encontram. 

            Reafirmo o que disse em meu artigo, essa liderança sionista de Israel é o principal entrave para a paz na palestina, pois, jamais permitirá a criação do Estado Palestino independente, afinal os sionistas anseiam pela criação do Grande Israel (Eretz Israel) e, para isso é necessária a ampliação das fronteiras até alcançar os limites históricos e bíblicos. Para atingir tal objetivo, muitas guerras para ampliação do território e de limpeza étnica serão promovidas. Aproveito o ensejo, para explicar o subtítulo do artigo científico que produzi, "[...] do holocausto judeu ao holocausto palestino", afinal, alguém disse "vivemos um tempo em que afirmar o óbvio é necessário"! Estudioso da questão, jamais quis comparar a magnitude do holocausto judeu ao genocídio praticado sistematicamente desde 1948 e, mais especificamente após 1967 contra o povo palestino, mas, chamar a atenção para a natureza que é a mesma, uma guerra de limpeza étnica, de genocídio.

             A ONU e as lideranças internacionais não podem ficar omissas ante o genocídio contra a população palestina, nem por simpatias religiosas ou ideológicas, nem mesmo por conveniências estratégicas. A sociedade mundial não pode se furtar ao dever moral e humanitário de chamar as lideranças israelenses à razão, pois Israel rapidamente está se convertendo em um Estado pária. Vidas palestinas importam!

Internacionalismo ou extinção

 

                Avram Noam Chomsky (1928) é um linguista, filósofo, sociólogo, cientista cognitivo, comentarista e ativista político estadunidense. Noam Chomsky é também uma das mais renomadas figuras no campo da filosofia analítica (Wikipedia). Este escriba sempre que tem a possibilidade de ler um livro da lavra deste que é considerado um dos maiores intelectuais vivos da sociedade contemporânea, não se furta a tal tarefa, pois o resultado é sempre prazeroso. Noam cumpre o papel que é atribuído por "Deus" ou pela "energia cósmica do Universo" (como preferir) a algumas pessoas muito especiais, de serem luz para a humanidade, que caminha na escuridão.

            O livro "Internacionalismo ou extinção: reflexões sobre as grandes ameaças à existência humana" tem um prefácio sobre a pandemia de Covid 19. A obra é a transcrição de uma entrevista com Noam Chomsky, conversa esta realizada anualmente. Noam, à época da pandemia de Covid 19, disse que ela iria passar e que as ameaças à sobrevivência humana são outras. Cita o Relógio do Juízo Final, então ajustado para dois minutos para a meia-noite, sendo a meia-noite, o horário da extinção da espécie humana do planeta. Agora, em 2024, o relógio está marcando noventa segundos para a meia-noite. Nunca o fim da humanidade esteve tão próximo.

            Chomsky afirma que há três graves ameaças sobre a continuidade da vida no planeta, tal como a conhecemos hoje, são: 1. A ameaça da Guerra Nuclear Total; 2. A ameaça do Aquecimento Global; 3. A deterioração da democracia. O intelectual afirma que há dúvidas entre os cientistas sobre quando teve início o Antropoceno, sendo este o período das grandes alterações na natureza ocasionadas pelo ser humano. Chomsky afirma que não há como separar a Era Nuclear e o Antropoceno, pois se as grandes transformações da natureza iniciaram com a Revolução Industrial em meados do século XVIII, foi por meio do trágico evento das bombas atômicas, criadas e lançadas pelos Estados Unidos da América em 06 e 09 de Agosto de 1945, sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagazaki, que o ser humano demonstrou ser capaz de ser o agente causador de sua auto-aniquilação, e de provocar a sexta extinção em massa da vida na Terra. A quinta extinção em massa foi o asteróide de 65 milhões de anos atrás que vitimou os grandes dinossauros. Noam diz que não é inacreditável  pensar que uma guerra nuclear acabe com a espécie humana, mas de que essa guerra nuclear não tenha acontecido ainda. As armas nucleares precisam ser eliminadas da face da Terra, enquanto existirem poderão ser usadas, até de forma equivocada, tais como os incidentes ocorridos durante a Guerra Fria (1945-1991).

            O aquecimento global é um fato, apesar do negacionismo neoliberal, o cenário apocalíptico está se  confirmando, tal como os cientistas há décadas alertavam. As mudanças climáticas ocasionadas pelo atual modelo de desenvolvimento econômico, baseado na queima de combustíveis fósseis, no consumismo e na alteração brutal do ecossistema terrestre, está dando origem a graves tragédias climáticas em todo o planeta. Secas e enchentes históricas, aumento da incidência de furacões e tornados, desertificação, derretimento de geleiras nas montanhas e nos pólos, o aumento do nível do mar e a inundação de cidades litorâneas e ilhas, fazem com que as Nações Unidas passem a atender e contabilizar um novo tipo de refugiado, o refugiado ambiental.

            Noam Chomsky afirma que a erosão da democracia com a ascensão da extrema-direita em vários países do mundo completa o quadro catastrófico. A ultra-direita se utiliza de fake news e da desinformação quanto à questão ambiental e, também para desmontar o Estado de Bem-Estar Social (onde ele existe), para colocar o Estado a serviço do Capital e não da sociedade carente de serviços públicos. Chomsky vê no neoliberalismo, que é um extremismo do capitalismo, ou seja, o fundamentalismo capitalista, uma séria ameaça à sobrevivência da humanidade, pois nega o Estado para quem dele mais precisa, as parcelas empobrecidas da sociedade e, acumula a riqueza em poucas mãos, além de ser a causa do desastre ecológico global, por sua irracionalidade ambiental, econômica e social.

            O intelectual estadunidense afirma que somente o internacionalismo pode salvar o planeta e a humanidade. A superação da crise ambiental, econômica e social precisa passar pelo engajamento da toda a sociedade mundial. Tal engajamento é difícil, mas é necessário crer nela, mesmo, com o negacionismo, as fake news, a ignorância de parcelas significativas da sociedade mundial acerca do risco pelo qual passa a humanidade. Acredita que é necessário criar a consciência social quanto a preservação do meio ambiente e que instrumentos tais como: a desobediência civil; o apoio aos movimentos sociais progressistas e também a formação da consciência social em massa quanto à necessidade do abandono do neoliberalismo como sistema econômico e de reforçar a democracia. Noam encerra afirmando que a história não se repete, mas que ela rima.

Sugestão de boa leitura:

Título: Internacionalismo ou extinção: reflexões sobre as grandes ameaças à existência humana.

Autor: Noam Chomsky.

Editora: Crítica, 2020, 128 p.

domingo, 18 de fevereiro de 2024

A importância da leitura e da análise do que se lê (2023)

 

            O ano de 2023 foi ainda mais tenso que 2022, a geopolítica mundial cada vez mais complexa, a continuidade da guerra entre a Rússia e a Ucrânia se soma a guerra de Israel contra a Palestina ocupada e o risco de escalada das tensões no barril de pólvora também conhecido como Oriente Médio. O ano de 2023, tal como o ano anterior, foi extremamente desgastante do ponto de vista físico, mental e emocional. Sendo a leitura algo que me proporciona relaxamento e prazer, foi na leitura que consegui um pouco de paz ante o atribulado e exaustivo ano que passou.

            O trabalho como professor da rede pública estadual e suas exigências majoradas a cada ano, tiraram de mim e de meus colegas professores(as), um tempo cada vez maior para a elaboração e execução de tarefas do ofício, dessa forma, com o tempo e energia cada vez mais escassos, li apenas trinta e dois livros no ano passado (nos bons tempos lia cerca de setenta livros/ano).

            A iniciativa deste artigo não é a de se gabar, mas, a de inspirar. Algumas pessoas já me disseram que se iniciaram no hábito da leitura (ou a ele regressaram) ao ler as resenhas de livros que publico. Digo que também fui influenciado em tal sentido por mestres(as) que tive em toda a minha vida estudantil. Também foi assim quanto ao ato de escrever. A vida é uma troca entre gerações, apenas repasso as boas energias que recebi. No ano que passou, não fui muito criterioso na escolha das leituras, em relação a autoria/continentes, assim foram as minhas leituras: Oceania: 0,0%; Ásia: 0,0%; África: 0,0%; Europa: 22,0%; América: 78,0%. Das leituras de obras de autores americanos, a América Latina aparece com 78,2% e a América Anglo-Saxônica com 21,8%. Quanto a leitura de obras latino-americanas por país: Brasil: 95% (56,0% da leitura global) e Cuba 5%. Quanto a autoria/gênero das leituras realizadas: 87,5% sexo masculino e 12,5% sexo feminino. Dezembro foi o mês que li mais (6 livros) e, Janeiro, Setembro e Outubro, os meses que li menos (1 livro/mês). A partir desta análise, desejo ler em 2024 mais obras de autores latino-americanos (além do Brasil), africanos, asiáticos e, também mais obras de mulheres.

             As dez melhores leituras foram: 1. Uma breve história dos tratores em ucraniano (Marina Lewicka); 2. Bartleby: o escrivão (Herman Melville); 3. Beije-me onde o sol não alcança (Mary Del Priore); 4. Memórias da casa dos mortos (Fiódor Dostoievski); 5. Triste fim de Policarpo Quaresma (Lima Barreto); 6. O último dos moicanos (James Fenimore Cooper); 7. Walden ou a vida nos bosques (Henry David Thoreau); 8. O neocolonialismo à espreita: mudanças estruturais na sociedade brasileira (Marcio Pochmann); 9. Coleção Brasilis box 4 livros (Eduardo Bueno); 10. 0 diário de um homem supérfluo (Ivan Turguêniev). Atribuo menções honrosas às seguintes leituras: *O melhor de Nelson Rodrigues: teatro, contos e crônicas (Nelson Rodrigues); *A megera domada (William Shakespeare); *A história me absolverá e o Movimento 26 de Julho: 70 anos do assalto ao Quartel Moncada (Fidel Castro et. ali.); *Globalização, democracia e terrorismo (Eric Hobsbawn); * A retirada (Noam Chomski e Vijay Prashad); *Lava-jato: uma conspiração contra o Brasil (Milton Alves); *Os engenheiros do caos: como as fake news, as teorias da conspiração e os algoritmos estão sendo utilizados para disseminar ódio, medo e influenciar eleições (Giuliano Da Empoli). A minha decepção literária do ano foi com a obra Brasil: país do futuro do renomado escritor austríaco Stefan Zweig (1881-1942), a qual considerei por vezes panfletária, noutras ingênua quanto ao perfil traçado sobre o Brasil e seu povo. Sei que o autor fugia do nazismo e se ressentia com as constantes guerras nas quais a Europa era palco, porém, a frustração se deve ao fato de já ter lido outros livros seus, dessa forma, minha expectativa era muito alta e não foi correspondida. 

                   O ano que passou deixou um sentimento de frustração, pois, penso que minhas leituras além de serem em número menor, a qualidade das leituras também ficou abaixo da média de anos anteriores. Enfim, encerro desejando um ano repleto de boas leituras!    

 

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

O sionismo e o apartheid na Terra Santa: do holocausto judeu ao holocausto palestino - parte final

 

            O holocausto nazista foi alvo de uma publicidade enorme, segundo, a bibliografia consultada, principalmente após a Guerra de 1967 e utilizada de forma veemente para conquistar a omissão das nações perante o genocídio que se passou a praticar contra os palestinos. Há um forte receio das pessoas em escrever ou fazer alguma fala em tom de crítica às ações do Estado de Israel, pois, os líderes sionistas acusam de antissemita qualquer pessoa que o faça. Tal atitude não é ingênua, mas, premeditadamente pensada.

            O Estado de Israel nunca será um estado totalmente judeu, pois, dentro de suas fronteiras há uma população palestina cujo crescimento demográfico é superior ao do povo judeu e os esforços dos líderes sionistas em trazer imigrantes judeus de várias partes do mundo não será suficiente para manter a maioria judaica em seu território. Por outro lado, adotar uma política segregacionista concedendo menos direitos aos palestinos israelenses é algo que soa como uma ofensa a qualquer cidadão esclarecido no mundo atual e uma política de limpeza étnica é inadmissível.

            Existe também a possibilidade de Israel sob o pretexto de assegurar sua segurança continuar a minar todas as possibilidades de desenvolvimento do novo país (Palestina), inclusive, dificultando o acesso à circulação, às fontes de água e de outros recursos naturais, etc. também será necessária a presença permanente das tropas de Paz da ONU, pois, Israel não permitirá que o Estado Palestino crie Forças de Defesa.

            O povo judeu já contribuiu muito para a humanidade na área das ciências e da cultura, e constitui um povo que foi duramente perseguido e discriminado em todos os locais por onde passou. Defender uma pátria para os judeus é legítimo e não o fazê-lo também para os palestinos é um absurdo. O povo palestino é em sua maioria árabe e sob o manto dos árabes na Europa, os judeus tiveram seu período áureo. Os palestinos não têm problema em conviver com os judeus e há dentre os judeus milhares que defendem os direitos civis dos palestinos por meio de Organizações Não Governamentais (ONGs).

            A possibilidade da construção de um estado democrático e laico para a convivência pacífica e harmoniosa dos dois povos meio-irmãos de sangue é muito difícil, porém, não existem soluções fáceis no Oriente Médio, menos ainda na Palestina. O grande obstáculo para a construção desse país para judeus e palestinos não são os militantes do Hamas ou do Al Fatah, mas, sim os líderes sionistas e seus eleitores que olham para o futuro com desprezo, pois, preferem ficar presos ao passado atravancando as iniciativas de paz no presente cientes de que a mais justa paz não lhes traz os benefícios particulares da mais injusta guerra.

 

sábado, 10 de fevereiro de 2024

O sionismo e o apartheid na Terra Santa: do holocausto judeu ao holocausto palestino - parte XI

 

            Israel é uma potência ocupacionista que descumpre resoluções da ONU e que viola o direito internacional e mesmo os mais elementares direitos humanos. Sob o manto da política de boa vizinhança com os Estados Unidos da América e também pelo hábito de colocar as relações comerciais e a economia como prioridade, a União Europeia, a China e a Rússia, bem como as demais nações têm sido coniventes com as arbitrariedades cometidas pelos líderes sionistas em Israel e territórios ocupados após a Guerra de 1967 contra o povo palestino. Tais potências precisam ter um papel proativo e cobrar perante a ONU e a Organização Mundial do Comércio (OMC) o cumprimento das resoluções da ONU e a observação aos direitos humanos por Israel.

            Podemos dizer que o regime de Apartheid desmoronou na África do Sul porque feria os olhos e os ouvidos das pessoas que em pleno século XX não toleravam mais flagrantes violações aos direitos humanos e exigiram das lideranças de seus países um posicionamento coerente e sensato junto à ONU visando à reprovação do regime de Apartheid na África do Sul, bem como das lideranças que o defendiam. Em pleno século XXI, há um Estado de apartheid em Israel e nos territórios ocupados em que pequenas frações deste foram transformadas em “bantustões”, áreas tais como aquelas em que a população negra era confinada na África do Sul, privada dos direitos civis e dos mais elementares serviços de urbanismo necessários para a sobrevivência digna da população, neles vivem os palestinos.

            Se o povo judeu tem o direito de retornar à sua terra ancestral, também o tem tal direito, os palestinos, que foram expulsos quando da criação do Estado de Israel e da ocupação dos territórios palestinos além da linha verde concernente à linha de divisa anterior à Guerra de 1967. O direito à propriedade, tão defendido pelos capitalistas, judeus inclusive, é negado a vários milhares de palestinos que perderam suas casas e suas terras. Na Internet é possível encontrar imagens do genocídio palestino promovido pelas lideranças sionistas que a grande mídia de massa omite do olhar da população mundial, tais, imagens mostram velhos, mulheres e crianças assassinadas pelo exército e força aérea israelense, além, da destruição da infra-estrutura palestina em que nem mesmo escolas, hospitais e mesquitas são poupados.