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sábado, 7 de outubro de 2023

Resenhar é viver - Parte II

 

Piá do Diabo!

 

            Em minha infância, grande parte das ruas de Laranjeiras do Sul, eram ainda sem pavimentação, isso não era nenhum impedimento para as nossas peripécias em carrinhos de rolimã. Um problema era o travamento dos rolamentos que se enchiam de terra. Visando solucionar tal problema, construíamos em nossos carrinho um compartimento atrás do assento para levar um litro de água, com o qual destravávamos os mesmos. Naquela época, não havia tanto automóveis como hoje e, ficávamos nas ruas praticamente o tempo todo em que não estávamos na escola. Isso me leva a pensar que naquela época não havia tantos perigos ou os nossos pais eram mais despreocupados que os atuais.

            Um amigo era filho de um torneiro mecânico muito conhecido na sociedade laranjeirense. Seu pai resolveu fazer um carrinho para ele, o que fez com grande esmero. Fez o carrinho com chassi de barras de metal e pneus maciços de carrinho de mão, aqueles utilizados pelos pedreiros. Colocou nele um banco de plástico rígido, um volante esportivo de carro e pintou toda a estrutura do carrinho. O carrinho não contava com um sistema de freios, dessa forma colocávamos nossos pés (devidamente calçados) com Congas ou Kichutes nos pneus dianteiros para reduzir a velocidade. O carrinho saiu com um erro de projeto, pois, ao esterçar para a direita, o carrinho ia para a esquerda e vice-versa. O carrinho também ficou um tanto pesado, ao menos, para a idade em que estávamos. Escolhíamos ruas bastante íngremes para brincar, mas, havia um problema, descer em grande velocidade era prazeroso, mas carregar o carrinho até o alto da rua era um sacrifício. 

            Combinamos que quem iria descer, levava o carrinho até em cima. Uma vez na parte mais alta da rua, olho, nenhum carro, nenhuma pessoa e solto o carrinho que pega cada vez mais velocidade. Quando chego no terço final do trajeto, eis que cinco mulheres que suponho, eram evangélicas, pois, estavam todas de saias, cabelos compridos e carregando bíblias, saíram da rua lateral e entraram na rua em que eu descia à grande velocidade. Elas ocupavam praticamente a rua toda, deixando um pequeno espaço do lado esquerdo. Foi tudo tão rápido, que nem pensei em tentar frear com os pés, acho que nem conseguiria. Eu era menino, mas, já era dotado do reflexo de um futuro campeão das pistas de fórmula 1, e, como tal,  estercei com toda a rapidez o volante para o lado esquerdo da rua (que estava livre) esquecendo-me que devia fazer o inverso. A manobra me levou para cima das senhoras e, só não foi strike porque elas pularam em meio aos gritos. Eu, após passar por elas  consertei a direção, trazendo o carrinho de volta para o centro da rua, ao mesmo tempo em que ouvi impropérios contra mim. Dentre outros xingamentos, ouvi um com voz tonitruante"Piá do Diabo".  Penso que com os xingamentos, foi para elas de pouca valia o culto!

P.S. O pai do meu amigo, após tomar conhecimento do incidente, recolheu o carrinho (no mesmo dia) e, somente permitiu que brincássemos com ele, após fazer a correção do problema!

 

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