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sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Os caminhos que levam à Brasília

Em período eleitoral, nada melhor que um pouco de história sobre Brasília, a nossa capital planejada e patrimônio cultural da humanidade. Salvador foi nossa primeira capital entre os anos de 1549 a 1763, o Nordeste vivia um declínio econômico e o Sudeste estava em ascensão, por isso, o Marquês de Pombal transferiu a capital para o Rio de Janeiro deixando os cariocas felizes e causando contrariedade aos nordestinos. Em 1808 a Corte Portuguesa evitou ter com Napoleão Bonaparte e mudou-se para o Rio de Janeiro. Tal mudança foi boa para o país que ganhou infraestrutura, status político e teve o processo de independência nacional acelerado. Em 1821, José Bonifácio de Andrada e Silva o Patriarca da Independência já havia se pronunciado sobre a necessidade de mudar a capital do país para o interior, e considerava que o planalto central deveria ser este lugar e indicava inclusive a localidade de Paracatu em Minas Gerais (Triângulo Mineiro). Em 1883, Dom Bosco sonhou que a capital do Brasil (a terra prometida) seria erguida entre os paralelos 15º e 20º à margem de um lago e cercado por montanhas. A Constituição Federal de 1891 fixou um quadrilátero no Planalto Central no Estado de Goiás para a futura instalação da capital do país, da mesma forma as Constituições de 1934 e 1946 também determinavam procedimentos para a mudança da sede do Governo Federal. Mas apesar do tema ser abordado nas Cartas Constituintes, poucos acreditavam que o Rio deixaria de ser a sede do Governo Federal. A discussão acerca da mudança ganhou ímpeto durante o governo de Getúlio Vargas que cria a política governamental de ocupação e integração dos vazios demográficos em que se constituíam o sertão brasileiro (Marcha para o Oeste) e que resultou na criação dos Territórios Federais nas áreas de fronteira (dentre os quais o T. F. do Iguaçu com sede em Iguassú, atual Laranjeiras do Sul). No entanto, em sua segunda passagem pelo Palácio do Catete, sob forte pressão opositora Getúlio não reúne condições políticas para sequer aventar uma empreitada de tal envergadura e de acordo com a história oficial se suicida. Café Filho assumiu a presidência e sob pressão das autoridades de Goiás ratificou uma das cinco áreas escolhidas pela Comissão Cruls que percorreu a região em 1910. Em 1955, Juscelino Kubitschek em campanha presidencial na cidade de Jataí é questionado por um de seus ouvintes se cumpriria o dispositivo constitucional que determinava a mudança da capital e JK que tinha como slogan de campanha 50 anos em 5, ou seja, pretendia fazer o país avançar 50 anos durante seu mandato e tinha 30 metas em seu plano de ação, não se intimida e afirma: “Acabo de prometer que sim. Se eleito for, construirei a nova capital e farei a mudança da sede do Governo” e saiu de Jataí com 31 metas sendo esta última a maior de todas. Apesar da promessa de campanha, poucos acreditavam que JK a cumpriria se viesse a ser eleito uma vez que contava com forte oposição, da mídia inclusive, mas, contava com a simpatia dos eleitores órfãos de Getúlio Vargas. Os motivos considerados para a mudança da capital era que o Rio de Janeiro era exposto demais a um ataque por forças navais estrangeiras e o clima tropical favorecia a disseminação de doenças, além disso, o Rio de Janeiro era palco frequente de inúmeras revoltas e desordens. Havia também a intenção de integrar o litoral ao resto do país no espírito do projeto getulista da Marcha para o Oeste o que consideravam crucial para o avanço do país. A verdade é que além de tornar a Capital mais segura contra um ataque de uma nação hostil pelo Oceano Atlântico, também a Capital estaria mais distante das revoltas e insurreições populares. Tendo o governo de JK a marca da democracia causa no mínimo estranheza a mudança da capital de acordo com este último prisma. Naquela época o Brasil também vivia um momento de modernização política e econômica e a capital nacional deveria traduzir esse espírito do futuro grandioso reservado ao país. O arquiteto escolhido Oscar Niemeyer com quem JK já havia feito parceria em Belo Horizonte na construção do complexo da Pampulha. Faltava o projeto urbanístico o qual foi escolhido através de concurso sendo vencedor Lucio Costa que curiosamente fez a apresentação visual mais simples do projeto, mas que foi considerado o melhor. Os moradores de Goiás estavam cheios de expectativas, porém, muitos se frustraram, a construção trouxe o fim da vida pacata nas cercanias, a especulação imobiliária, a inflação, a violência, a instalação de zonas de prostituição, etc. Lógico, houve quem ganhasse muito dinheiro, mas estes foram poucos privilegiados. No Rio de Janeiro, os antimudancistas eram muitos, a mídia afirmava que JK estava punindo a sociedade carioca pelo baixo desempenho em votos que o presidente ali teve. A campanha contra Brasília durou todo o mandato de JK, porém, subiu de tom em 1960, por conta das eleições presidenciais. Os jornais afirmavam o que não viam, pois, poucos tinham correspondentes em Brasília, assim, não faziam uso da imparcialidade. Afirmavam que Brasília era cara, de mau gosto, construída num lugar selvagem e representava um escoadouro de verbas públicas; que era uma obra faraônica; que os operários trabalhavam em regime de escravidão para cumprir os prazos, pois, JK no início das obras já havia determinado a data de 21 de Abril de 1960 para a inauguração. Havia denúncias que os trabalhadores não recebiam horas-extras; Também havia críticas ao endividamento externo, pois, para dar conta da construção JK tomou empréstimos junto aos EUA. JK também era criticado pela mídia porque gastava fábulas na construção de Brasília, mas negava reajustes aos funcionários públicos. A mídia também tecia críticas de que às vésperas da inauguração Brasília estava inacabada e que os prédios eram mal projetados e que os parlamentares iriam trabalhar em meio à poeira vermelha e que havia o risco de quem para lá migrasse ser alvo de flechas indígenas além do desconforto de ter que se deslocar vários quilômetros para fazer a compra de víveres, tamanha a improvisação reinante na cidade. As matérias falavam do custo de manter os parlamentares em Brasília e que eles iriam se ausentar muito da cidade preferindo ficar no Rio de Janeiro. E denunciavam a corrupção reinante na construção da capital sem necessariamente comprová-la. JK inaugurou Brasília na data pretendida, a capital somente ficou totalmente pronta nos anos seguintes. Certamente Brasília era cara e ainda o é, pois temos segundo uma pesquisa os parlamentares mais caros do mundo. E se naquele tempo, muita gente não queria ir para Brasília, diante do número de candidatos da última eleição vemos que hoje isso não corresponde à realidade, até porque, os parlamentares se acostumam facilmente com o fuso horário em Brasília cuja semana se inicia as terças-feiras e termina as quintas-feiras. Referências: LOPES, C. A. A loucura de Brasília: o antimudancismo nas páginas do Jornal Tribuna da Imprensa (1956-1960). OLIVEIRA. J. A. Construção de Brasília: Expectativa e frustração para o povo goiano (1957-1962).

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