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sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

O OUTRO LADO DA GUERRA DO GOLFO – 2.ª PARTE – ou “11 anos depois”

            Onze anos se passaram desde que escrevemos este texto, na época (1992) ainda cursando a universidade. O acadêmico, hoje um professor de Geografia com alguns anos de magistério, surpreso encontra um texto amarelo e constata que nesses onze anos o mundo mudou muito, outras vezes nem tanto. O texto escrito ainda é atual.
Naquele momento a nossa preocupação era a visão ocidental do conflito apresentada e aceita como a única e verdadeira, a dos aliados (28) liderados pelos EUA, sendo este aclamado como o “defensor da paz mundial”. Não se tratava de defender este ou aquele lado do conflito, mas sim a indignação com o tratamento ocidental dado às notícias do conflito e uma tentativa de uma leitura mais crítica das entrelinhas daquele momento histórico e o posicionamento americano.
            A atual guerra contra o Iraque, denominada pelos americanos de “libertação do Iraque” e pelos árabes como “invasão do Iraque”, tem outras motivações. O Iraque não invadiu e nem mesmo ameaçou outros países. Não há nenhuma prova concreta relacionando o Iraque com o atentado de 11 de setembro de 2001 ao World Trade Center.
1. A destruição de armas proibidas é uma das possibilidades pelas quais os EUA tenha se envolvido em tal conflito, porém, a ONU não encontrou provas da existência de armas de destruição em massa, sejam químicas, biológicas ou nucleares e caberia a ela (ONU) continuar a inspeção e desarmamento se fosse o caso, evitando assim a morte de inocentes.
2. Achar que os EUA têm razão em atacar preventivamente países ou povos que segundo a sua imaginação ou loucura, possam oferecer algum risco  de atentado no futuro é o mesmo que concordar com os atiradores do massacre da Candelária dando a eles razão, pois segundo os mesmos aqueles meninos de rua poderiam vir a se tornar bandidos no futuro.
            3. Outra possibilidade seria o fato do presidente Bush estar tentando arrancar sua reeleição, já que está fazendo um péssimo governo e o país se encontra em recessão, com a campanha vitoriosa sua popularidade aumentaria. A campanha vitoriosa traria contratos lucrativos para empreiteiras americanas para a reconstrução do Iraque, algo como 100 bilhões de dólares; a reposição das armas utilizadas no conflito renderia algo entre 300 a 500 bilhões de dólares para as indústrias de armas americanas, isto sem falar nos contratos de exploração dos campos petrolíferos iraquianos que seriam repartidos entre as empresas americanas deixando algumas migalhas para os britânicos. Com certeza há uma minoria muito feliz, enquanto outros choram seus mortos.
            4.  Tudo leva a crer que o real interesse dos EUA é de fato o petróleo iraquiano, sabe-se que as reservas mundiais existentes devem durar até o ano 2030. E como todos sabem os EUA consomem 25% de todo o óleo produzido no mundo, apesar de seus poços serem contados aos milhares, estes, porém, estão com uma produtividade baixíssima, o que irá aumentar ainda mais a dependência americana das importações. Com a ocupação do Iraque os EUA estaria garantindo por cerca de 20 anos o seu suprimento de petróleo.
5. A deposição de Saddam Hussein e do partido Baath. Neste caso, os EUA, ao pensar ser fácil implantar um regime à moda americana, democrático ou nem tão democrático assim, mas sobretudo com um líder amigo de Washington, não estaria levando em conta as questões culturais e assim sendo não lograria êxito. Esta possibilidade é difícil, pois a região conta com a rivalidade de Xiitas e Sunitas, além disso, os curdos reivindicam um território independente. Mesmo que os EUA tivessem tal intenção levariam anos para conseguir devolver o Iraque para que seu próprio povo o administrasse. É de se supor que os americanos sabem de tais dificuldades, os custos anuais da administração e reconstrução do Iraque já foram projetados e o petróleo iraquiano ajudará no ressarcimento das atividades dos bondosos americanos. O governante do Iraque após guerra também já foi escolhido, trata-se do General Tommy Franks, veterano do Vietnã e texano de origem como boa parte da equipe de Bush e das empresas de petróleo dos EUA. Quando julgarem que o Iraque está pronto, os EUA devolveriam o Iraque para seu povo administrar. A paciência se bem intencionados (duvido!) ou o esgotamento das reservas de petróleo ditarão o tempo em que isso acontecerá!
6. Ocupação geoestratégica, neste caso, além da posse da segunda maior reserva de petróleo do mundo, a primeira é da Arábia Saudita aliada dos EUA por isto livre de ataques, os americanos poderiam instalar bases militares no Iraque, ali manter soldados, enfim, todo um aparato de guerra pronto para constranger e atacar qualquer país vizinho que ousar sonhar desobedecer as ordens de Washington, pois a máquina de guerra estaria sempre pronta. E estes ataques com certeza ocorreriam pois já foi amplamente noticiado que Irã, Síria e Coréia do Norte estão na alça de mira dos EUA. Apenas com a Coréia do Norte, os EUA afirmaram que pretendem resolver diplomaticamente o impasse, talvez por que a mesma anunciou já possuir a bomba atômica, bravata ou não dos norte-coreanos é melhor não arriscar! Se os Estados Unidos têm tal intenção, a de ocupação definitiva, não encontrarão facilidades, o povo árabe, com o tempo poderá se unir e promover atentados contra soldados americanos. Além disso, há a possibilidade de afinamento do discurso entre França e Rússia, os maiores prejudicados além é claro do povo iraquiano, devido a não continuidade dos contratos que mantinham com o Iraque, podendo ainda contar com a colaboração de Alemanha e China. Então caberá aos EUA negociar ou teremos dias ainda mais obscuros na história mundial.
Tudo leva a crer que a possibilidade de ocupação definitiva ou pelo menos enquanto o petróleo não for substituído por outra fonte energética não deve ser descartada. Desde 1992 os EUA fazem planos para o Iraque. Paul Wolfowitz atual subsecretário de defesa conhecido como “velociraptor” um dos autores de estudos sobre a necessidade americana da ocupação do Iraque afirmou: ”a liderança militar americana deve comprovar que nossos amigos serão protegidos; nossos inimigos serão punidos e quem não nos apoiar vai se arrepender” (revista Época – 24/03/2003 – pág.45)
A verdade é que os EUA estão alimentando o ódio contra si próprios, aumentando assim as chances de atentados. É imoral, um completo absurdo que gaste-se algo  em torno de 3 trilhões de reais em armamentos pelos mais diversos países (44% apenas os EUA) quando 1 bilhão de pessoas passam fome no mundo. Se os países ricos liderados pelos EUA usassem uma parcela desta quantia para auxiliar países pobres quanto à saúde, alimentos e repasse de tecnologia, certamente teríamos avanços notáveis.
O que está em andamento é mais um crime contra a humanidade, inocentes sejam pais e principalmente crianças as maiores vítimas sendo mortas por bombas, numa guerra não autorizada pela ONU. Os mandatários desta guerra, pela lei internacional deveriam ser processados pelo Tribunal Internacional. Isto porém, jamais ocorrerá pois “a lei é igual para todos, porém, alguns são mais iguais que os outros”. Bush e Blair desceram ao nível do presidente iraquiano, também matam inocentes!
Para encerrar cito o comandante das tropas americanas na Guerra do Golfo em 1991, Norman Schwarzkopf: “Nenhuma pessoa sendo verdadeiramente inteligente pode ser a favor de uma guerra”.
Paz para todos! Sempre!

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