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sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

A ação e a inação americana no mundo – parte IV - Ou: Os EUA como hipocentro dos terremotos financeiros mundiais de 1929 e 2008/2009

                    Os Estados Unidos da América surgiram como país em 1776 e entre os líderes da Independência estavam importantes personalidades que defendiam os ideais liberais, tais como a defesa da propriedade privada e a pouca ou se possível nenhuma intervenção do Estado na economia. Faz parte da cultura estadunidense essa crença cega no capitalismo e na iniciativa privada como sendo o único e por isso o melhor instrumento para o desenvolvimento nacional. Os estadunidenses acham que qualquer intervenção do Estado na economia traz consigo o risco desse “elefante branco” como costumam se referir ao Estado, tomar gosto pela coisa e aí descambar em socialismo, coisa que os estadunidenses temem tanto quanto o Diabo teme a Cruz. Assim, recentemente, houve uma enorme discussão sobre o plano de saúde que o Governo dos EUA queria ampliar para atender camadas menos favorecidas da população e que não contam com nenhuma assistência médica, pois lá, não há sequer um SUS, pois quem trabalha legalmente (carteira assinada) possui um seguro-saúde e se não possui seguro-saúde, precisa pagar por todo e qualquer atendimento médico. Por serem contrários a intervenções e regulamentações rígidas do Estado na economia é que a crise de 1929 não teve seus efeitos minorados quando ainda havia tempo. Como sabemos, não é de hoje que os mercados financeiros são integrados e que a quebra de um deles repercute em todo o sistema tal como na brincadeira de enfileirar dominós, quando uma peça cai, derruba as outras. Os EUA após a Primeira Grande Guerra Mundial apresentou um período de grande crescimento econômico, com expansão dos bancos e crédito fácil, porém, houve uma crise no sistema oriunda do excesso de produção muito além do potencial do mercado em absorver a oferta, um dos setores mais afetados foi o setor primário, cujos produtos agrícolas devido à redução do consumo e conseqüentemente de suas vendas, fez com que os agricultores não pudessem pagar seus empréstimos, e assim acabavam por perder suas terras para as entidades financiadoras gerando milhões de desempregados no campo. No entanto, as entidades financiadoras também tiveram prejuízos, pois recebiam terras desvalorizadas como pagamento e tinham dificuldades em transformá-las no dinheiro de que tanto necessitavam para saldar seus compromissos. Como a crise era de superprodução, muitas indústrias reduziram a produção e demitiram funcionários, outras tantas foram à falência, milhões de trabalhadores desempregados na cidade se juntavam aos milhões de trabalhadores desempregados do campo e só lhes restava pedir um prato de comida diário que era oferecido pelo Governo e por entidades beneficentes. Naqueles primeiros momentos, os trabalhadores que não perderam o emprego tiveram seus salários reduzidos. A quebra da bolsa de Nova Iorque ocorreu, porque naquele tempo não havia mecanismos e nem a “malandragem ou esperteza” de fechar o pregão ou tirar o sistema do ar como hoje se faz quando a bolsa cai fortemente. Como os EUA é há muito tempo o motor do capitalismo mundial, a quebra da bolsa de Nova Iorque afetou todas as empresas e países que tinham negócios com os mesmos e, por conseguinte os trabalhadores e consumidores das empresas e respectivos países. Naquele momento do “Salve-se quem puder” os governos liberais de EUA, Inglaterra, etc. pouco fizeram, pois acreditavam que o Mercado conseguiria se safar da crise, mas ela se aprofundou, fortunas viraram pó em poucos dias nos EUA e o mundo todo foi afetado. No Brasil fazendeiros de café tiveram amargos prejuízos, muitos foram à falência. Em 1933, Roosevelt é empossado e cria o New Deal, com medidas intervencionistas do Estado na economia acaba com o liberalismo e adota o chamado Estado de Bem Estar Social (Welfare State), cria mecanismos regulatórios para a economia, estabelece através de recursos do Banco Central Americano (FED) a liquidez do mercado, o lento e sucessivo aumento do valor real dos salários (aumento do poder aquisitivo) e auxílio desemprego para aqueles que não conseguiam encontrar empregos. A economia americana sai da recessão, mas volta a crescer com força com o esforço de guerra, causado pela II Guerra Mundial que já acontecia na Europa (1939-1945) e da qual os EUA eram fornecedores de armas, munições e alimentos, haja vista, que somente entraram numa segunda fase da mesma e não tiveram seu território bombardeado (exceto o território do Havaí – Pearl Harbor). Assim a Segunda Guerra Mundial apaga definitivamente qualquer vestígio ainda restante dos anos sombrios pelos quais os EUA passaram. Na década de 1970, os EUA retornam ao liberalismo (agora chamado neoliberalismo) e Ronald Reagan (EUA) e Margareth Thatcher (Inglaterra) são os grandes defensores dessa ideologia ao aplicaram largamente suas ferramentas (Estado mínimo, não intervenção e não regulamentação estatal) na economia dos dois países. Após o fim da Guerra Fria o Neoliberalismo se espalha pelo mundo e é adotado por imposição de órgãos como o FMI e o Banco Mundial junto aos países subdesenvolvidos (Fernando Collor de Mello introduziu o neoliberalismo no Brasil e Fernando Henrique Cardoso o aprofundou), com o objetivo de alcançar a estabilidade monetária, uma necessidade para o Capital poder atuar sem fronteiras, os efeitos colaterais da receita ditada pelo FMI e Banco Mundial foram: privatizações de empresas estatais que revelaram-se danosas para a sociedade, arrochos salariais para a classe trabalhadora, aumento da concentração da riqueza no centro do sistema e o aumento da desigualdade social nos países periféricos, no mundo todo trabalhadores perdem direitos trabalhistas e têm salários reduzidos. O capital desconhece nacionalidades e não é patriota, vai onde puder gerar maior acúmulo de mais-valia, ou seja, onde os sindicatos não são atuantes; onde exista farto exército de mão-de-obra de reserva que pressione para baixo os salários; onde a matéria-prima seja próxima do preço de custo e não existam rígidas regulações quanto à poluição ambiental. Sobre a crise atual só havia uma dúvida, qual seria a dimensão do estrago que causaria, pois analistas já haviam identificado a bolha financeira e que o estouro da mesma aconteceu mais tarde até do que se esperava. A falta de regulação sobre o Mercado foi à causa e não olhar para o passado fez com que os EUA novamente quase ocasionassem o fim do mundo. Disso tudo, tiramos a seguinte conclusão: O Estado novamente vai regular a Economia, algum tempo depois os capitalistas novamente confiantes solicitarão a sua retirada e passado mais algum tempo (algumas décadas) começa tudo de novo. Isto tudo porque o Mercado é como aquele filho rebelde que o pai costumeiramente é chamado para tirá-lo das enrascadas que ele se meteu e como tal se acostumou afinal o Estado sempre estará lá para salvar os seus ativos, mesmo que à custa do suado dinheirinho que o Pai (Estado) poderia dividir com os filhos que se comportaram bem (Povo). Enfim, como li certa vez: “o problema não está no capitalismo em si, mas em deixá-lo à mercê dos capitalistas”.

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