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sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

O fundo do poço não é o bastante!

Nenhum outro título me pareceu mais apropriado para o tema que vou tratar nestas linhas e que embora o título lhes caísse bem, não se trata da violência e nem mesmo da corrupção. Falo da crise que atinge o mercado fonográfico cuja origem não se encontra na baixa vendagem de CDs ou na pirataria, verdadeira erva daninha na lavoura dos direitos autorais e sim do esgotamento poético cujas letras com significado se fazem quase que ausentes das paradas de sucesso. Não sou o primeiro a chegar a esta constatação e certamente não serei o último a falar da decadência qualitativa musical nacional. Sou de uma geração privilegiada, em meus tempos de juventude a qualidade da música internacional e principalmente nacional era melhor que nos dias atuais, assim, lamento a sorte de nossos jovens que ouvem música ruim e demonstram mesmo assim dela gostar. Acredito que as letras e as melodias das músicas devem ser alimento para a alma, sendo assim, precisam ter harmonia, poesia, romantismo, criticidade. Aprendi a gostar de música num tempo em que as mulheres, o amor e a paz, eram exaltados em letras escritas por compositores que também eram poetas e intelectuais. Hoje, há canções em cujas letras, mulheres são chamadas de cachorras (me questiono se a intenção é compará-las ao referido animal no cio?), sem que isso cause indignação às mesmas, pois, conversei com várias jovens que afirmaram não haver nada de errado em serem assim tratadas. É a exaltação da aparência das mesmas, as “preparadas”, as “turbinadas”, em detrimento da essência da mulher. A superficialidade das relações é a tônica, o romantismo inexiste. Nas músicas atuais, desaparece o homem cavalheiro, este virou “tigrão”. O amor cantado em verso deu lugar ao sexo coisificado, e a paz à violência verbal. A intelectualidade passa anos-luz distante de parte das letras que estouram nas paradas, cujos sucessos, vão de “egüinha pocotó” ao “créu”! Em grande parte das músicas não há harmonia e nem poesia, somente o caos, a destruição. Sabemos que faz parte da contracultura, admirar o feio, artifício utilizado por muitos de nossos jovens como uma forma de contestação da sociedade e dos valores postos, mas deve haver um limite para isso, a música precisa ser algo cujas notas ao passar por nossos ouvidos nos traga prazer e não os sintomas de uma agressão. Costumo me questionar se aos nossos jovens lhes é imposto este “lixo musical” ou se o mercado fonográfico lhes atende em seus pedidos. Confesso que não sei a resposta! Mudou a música ou mudou a sociedade? Mudou o gosto musical entre os jovens de ontem e os de hoje ou a ideologia que se esconde por trás das letras? Vejamos, as letras atuais ao preterirem a essência e exaltarem a aparência contribuem para a massificação, a alienação. O romantismo dá lugar à superficialidade das relações, mas não é isto a realidade atual do “ficar” de nossos jovens? Não se trata de conflito de gerações, pois, sei que é natural a evolução do pensamento individual e/ou societário, sei que os costumes mudam, mas se espera que haja uma evolução no aprimoramento das relações humanas e não na sua individualização, embora o capitalismo conduza para tal. Talvez essa minha estupefação com a música nacional ocorra porque sou de uma geração que namorava na casa da garota, curtia estar apaixonado e que adorava correr o salão nos sarais e tirar para dançar uma garota com a qual coladinhos dançávamos uma música romântica. Ouvíamos música dentro do carro em volume baixo e cuja letra evocava um significado e não para chamar a atenção como fazem muitos adeptos do “tuche, tuche”, cujos tímpanos não param de vibrar mesmo após o aparelho ser desligado! De tudo isso, penso: Devo estar ficando velho ou exigente demais? Ambos!

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