Powered By Blogger

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

As Guerras Híbridas: das Revoluções Coloridas aos Golpes




            A Internet surgiu no contexto da Guerra Fria (Arpanet) e tinha como objetivo conectar computadores militares dos Estados Unidos da América. Porém, é após o fim da Guerra Fria que ocorre seu boom. Na atualidade, em que a Guerra Fria oficialmente não mais existe, mas, as tensões entre os velhos protagonistas persistem, a Internet é onipresente e tornou-se uma arma de guerra e o ciberespaço, juntamente com o espaço, a terra, o ar e o mar contam com doutrinas militares específicas da superpotência estadunidense para propagar o seu poderio. As pessoas se expõem na Internet e apesar de ser possível apagar o histórico de navegação nos celulares ou nos computadores, isto não ocorre de forma plena, pois, toda a navegação (páginas visitadas e postagens) permanece registrada nos Data Center de empresas como o Google, Facebook, etc. que sabem mais sobre as pessoas do que elas próprias.
            De posse dos dados de navegação na Internet e postagens nas redes sociais, agências especializadas estadunidenses como a Agência de Segurança Nacional (NSA) contam com um conhecimento profundo das sociedades de quase todo o planeta. Entendem a fundo a psique das sociedades alvo e conseguem explorar os seus problemas identitários. Andrew Korybko é o autor do livro “Guerras Híbridas: das Revoluções Coloridas aos Golpes” lançado no Brasil no mês de Outubro de 2018. A obra originalmente publicada em 2015 tem atualizações que visam deixar ainda mais explícito o mecanismo de funcionamento das Guerras Híbridas. O conceito de Revolução Colorida consiste em utilizar as redes sociais (Facebook, Whatsapp, etc.) para estimular e organizar campanhas de desestabilização de governos que contrariam os interesses estadunidenses. No livro, o autor discorre sobre a Primavera Árabe de 2011, que consistiu numa onda de protestos e revoluções populares no Oriente Médio, o barril de pólvora era a crise econômica e a falta de democracia, mas, cujo gatilho foi acionado por agentes ligados ao governo estadunidense e robots (programas de inteligência artificial) que interagem e estimulam os protestos fazendo inclusive postagens (muitas vezes “fake news”) nas redes sociais, multiplicando as mensagens e empoderando os revolucionários virtuais.  O autor faz uma dissecação dos casos que envolveram a Síria e a Ucrânia e que ocorreram no contexto da desestabilização do eixo Rússia, China e Irã, alvo estratégico da geopolítica dos EUA, ou seja, impedir a concretização da nova Rota da Seda que é estratégica para a China; desestabilizar a periferia da Rússia para tornar mais próximo o dia da derrocada desta; isolar e enfraquecer o Irã com vista à deposição do regime e a substituição por um governo fiel aos interesses estadunidenses.
Quando a Revolução Colorida fracassa, os EUA lançam mão da Guerra Não Convencional, ou seja, estimulam e financiam grupos locais a pegar em armas com vistas a derrubar o governo alvo. Os EUA não toleram que países estratégicos aos seus interesses mantenham relações próximas com a China, a Rússia e o Irã. A superpotência ianque também se utiliza da Guerra Híbrida que pode ser a Revolução Colorida e/ou a Guerra Não convencional para derrubar governos que impeçam seu acesso a recursos estratégicos importantes como o petróleo. O autor afirma que a defesa contra as Guerras Híbridas é difícil. O país pode restringir ou monitorar as mídias sociais, mas, isso pode soar como censura e irritar a população. O cidadão, por sua vez, precisa desenvolver sua criticidade e criar o hábito de checar a veracidade das informações. Os partidos políticos e lideranças atingidas precisam entender o mecanismo das Guerras Híbridas para saber delas se defender, de preferência utilizando-se da verdade, pois, embora os ataques sofridos visem à destruição de suas reputações com o uso de fake news, caso as vítimas também recorram ao mesmo expediente, podem ser desmentidas, e com isso terão sua credibilidade destruída. As Guerras Híbridas e as fake news vieram para ficar. É uma forma de guerra mais barata e causa menos desgaste junto à opinião pública mundial do que as guerras convencionais, além disso, o país promotor, no caso, os EUA, pode fazer à surdina. A opinião pública mundial pode desconfiar dos EUA, mas, não terá sua confissão. O Ciberespaço é palco de guerra. Matrix é aqui!

Sugestão de boa leitura: 

Guerras Híbridas: das Revoluções Coloridas aos Golpes – Andrew Korybko – Editora Expressão Popular, 2018 – R$25,00

Nenhum comentário:

Postar um comentário