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segunda-feira, 11 de novembro de 2013

[...] De cada roceiro ganhar sua área!

A reforma agrária é o esteio do desenvolvimento socioeconômico, é condição necessária para se implantar no país a justiça social, pois, não se combate a desigualdade social sem reformar a estrutura fundiária que neste país foi configurada de forma a privilegiar poucos e como tal continua. Mas é tarefa árdua, o latifúndio detém o poder econômico e tem forte representação política no Congresso Nacional, além disso, o latifúndio mata, e suas vítimas são aqueles que ousam contestar a injusta distribuição da terra, e, que tentam fazer algo para mudar essa triste realidade, e, nisso não há nada de novo, pois, nos primórdios da história os irmãos Tibério e Caio Graco tombaram por terra ao tentar impor a reforma agrária em Roma respectivamente nos anos 133 A.C. e 121 A.C.. João Cabral de Melo Neto teve sensibilidade ímpar ao compor a música “Funeral de um lavrador”, eternizada no talento de Chico Buarque cuja letra reproduzo um trecho: Esta cova em que estás com palmos medida / É a conta menor que tiraste em vida / É de bom tamanho nem largo nem fundo / É a parte que te cabe deste latifúndio / Não é cova grande, é cova medida / É a terra que querias ver dividida[...]. Essa música retrata a questão da violência que se desenvolve no campo, cujos solos estão manchados de sangue, são muitos os massacres: Eldorado dos Carajás (PA); Corumbiara (RO); Felisburgo (MG), apenas para citar alguns dos inúmeros casos de assassinatos no campo (realizados pelo Estado (polícia) ou por jagunços contratados pelos latifundiários) e que na maioria das vezes terminam impunes. O Brasil possui uma das maiores áreas agricultáveis do mundo, trata-se de uma vastidão enorme de terras férteis (peço ao leitor que desculpe a redundância, pois, a achei necessária!) e grande parte delas é subaproveitada, com tanta terra, parece absurdo pensar que neste país hajam tantas pessoas reivindicando um pedaço de chão, no entanto, o estudo da história nacional explica porque nunca é desatado o nó que impede a realização da reforma da estrutura fundiária brasileira. O país, desde suas origens foi pensado e construído de cima para baixo para atender aos interesses da elite e prestar serviços para as potências estrangeiras exportando produtos, os quais, Eduardo Galeano em “As veias abertas da América Latina” afirmou que os compradores lucram mais (consumindo-os), do que aqueles que os vendem ganham (produzindo-os). O Congresso Nacional como já dissemos, conta com forte representação da bancada ruralista (proprietária), além disso, o Governo Federal ao longo da história privilegiou a agricultura comercial de exportação que traz divisas (dólares) para o país auxiliando a combalida economia nacional a equilibrar a balança comercial em detrimento dos produtores dos alimentos que abastecem a mesa dos brasileiros, os pequenos proprietários, que foram muitas vezes forçados a deixar o campo devido à impossibilidade de continuar trabalhando a terra por causa da cegueira e inoperância dos governos no que concerne à agricultura familiar, algo que somente agora começa a mudar, mas cujo caminho há muito que percorrer. Tenho grande admiração pelo MST, por sua organização, por sua luta incansável pela realização da reforma agrária e pela construção de um país onde a justiça social não seja mera falácia, me emociono quando vejo os militantes de tal movimento fazendo suas marchas e entoando seus cânticos e palavras de ordem, evidenciando, a politização (e a consequente união) de seus membros numa sociedade onde a alienação impera. Já li/ouvi muitas críticas quanto à metodologia utilizada pelo MST, no entanto, há um desvio de foco da questão que é a tradicional inércia governamental na realização da reforma agrária, dessa forma, o MST sabe que o governo é como feijão velho (só funciona na base da pressão). Parte da sociedade critica o MST, por julgar que tal movimento social tem interesses (políticos) que vão além da reforma agrária e em parte estão certos, pois, a reforma agrária dá acesso à terra, mas, a permanência nela depende uma nova política de Estado para a agricultura, é portanto necessário um novo país, para um novo produtor rural, ou seja, o movimento social busca não apenas a realização da reforma agrária, mas, também, uma nova política de Estado para uma agricultura mais sustentável ecologicamente e de forte apoio ao pequeno produtor. O MST é um exemplo de união e de luta em torno de um ideal para toda a classe trabalhadora, e, nós professores, militantes no sindicato ou não, mas devidamente politizados, sabemos que o Brasil somente será de todos, quando deixar de ser de poucos.

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