Powered By Blogger

segunda-feira, 22 de março de 2021

A peste

 


A obra A peste de Albert Camus (1913-1960) bem como outras (de ficção ou não ficção) retratando epidemias e pandemias tiveram grande acréscimo de vendas. É interessante observar que Camus era amigo do filósofo existencialista Jean Paul Sartre (1905-1980) e também não encontrava significado na existência humana. O livro publicado em 1947, logo após a Segunda Guerra Mundial é uma alegoria ao nazismo. É importante ter isso em mente, pois, o leitor poderá terminar a leitura sem entender a real intenção do autor. A trama do livro se passa em Oran (Argélia), uma cidade pequena e pacata. Os cidadãos de Oran levam a vida numa rotina que torna um dia igual ao outro. A pequena cidade desprovida de árvores, não possui grandes atrativos, mas, ainda assim, seus habitantes se consideram felizes.Um estranho fenômeno começa a intrigar a população, ratos começam a aparecer mortos e, com o passar dos dias, em quantidades cada vez maiores.

             A população vê com estranheza o fato, mas, não se preocupa até que pessoas começam a adoecer de uma doença cujos sintomas são gânglios inchados e erupções cutâneas acompanhada de muita dor e morte repentina. O Dr. Rieux afirma que é preciso nomear a doença e enfrentá-la de frente, porém, muitas são as pessoas que negam a existência da doença e desobedecem/ignoram suas orientações agravando o quadro. O prefeito de Oran titubeia em tomar medidas rígidas e acaba prejudicando o controle rápido da situação. Os jornalistas, tal como parte da população, a princípio são céticos e, inclusive criticam as decisões tomadas como o lockdown e o uso de forças policiais para impedir o ingresso ou saída de pessoas da cidade para evitar que o contágio se propague para outras cidades. Também a imprensa (estimulada pelos capitalistas) critica o estrago que as medidas tomadas fazem sobre a economia. Um dos jornalistas (Tarroud) tem uma namorada em outra cidade e tenta escapar de Oran sem sucesso. Tarroud toma conhecimento que um capitalista estava enriquecendo trazendo produtos contrabandeados para a cidade e vendendo a preços estratosféricos. Tarroud oferece dinheiro para que o contrabandista que consegue furar o bloqueio (por meio de policiais corruptos) o coloque fora da cidade.

            Nesse ínterim, as mortes aumentam de tal forma que os  hospitais lotam e, estádios de futebol são utilizados como hospitais de campanha com a utilização de barracas para abrigar (e isolar) centenas de doentes. As equipes de saúde não dão conta de atender os doentes e, muitas pessoas são recrutadas dentre a população para auxiliar nos esforços de contenção e tratamento da doença. O Juiz de Direito Othon perde seu filho para a doença, o que evidencia que ninguém independentemente de seu status social, está a salvo da peste. O próprio Dr. Rieux que salva várias vidas, perde sua esposa. Na igreja, o padre Paneloux dá sermões afirmando que a doença foi enviada por Deus como castigo para seus pecados, o que não traz nenhum conforto psicológico/espiritual para as pessoas. Ele muda de atitude quando vê o sofrimento de uma criança inocente ao morrer, quando, então cala-se e se isola. O aumento assustador do número diário de mortes leva os jornalistas a mudarem o tom de suas reportagens. O agravamento da crise sanitária mostra as pessoas da cidade como de fato são, livres de suas máscaras evidenciando seu verdadeiro caráter, mostrando-se egoístas, ignorantes e arrogantes. Outras surpreendem com espírito de solidariedade e cooperação. O Dr. Castel pesquisa e desenvolve um soro (vacina) que começa a curar pessoas, porém, devido a falta de recursos seu desenvolvimento é lento. A chegada da vacina em quantidade suficiente para atender toda a população é tardia, pois, muitos já haviam morrido, para a tristeza de seus familiares. Na obra são contabilizadas e nomeadas as últimas vítimas da doença, algo muito triste, quando se traça um paralelo com os últimos mortos antes do futuro controle da atual pandemia de Covid 19.

            Camus fez uma importante pesquisa sobre epidemias que atingiram a humanidade no passado e, embora a mente do leitor esteja propensa a fazer comparações com a atual pandemia (Covid 19), é preciso reiterar que a obra é uma alegoria ao nazismo, dessa forma, as personagens e a trama têm que ser interpretadas com um viés filosófico à luz da história. Algo que, por motivos óbvios, não fiz aqui.

Sugestão de boa leitura:

Título: A peste.

Autor: Albert Camus.

Editora: Record, 2017, 288 p.

Nenhum comentário:

Postar um comentário