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quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Democracia: a minha, a tua e a deles!

Lembro que adolescente, em 1984, lamentei a não aprovação da emenda Dante de Oliveira que instituiria a volta das eleições diretas para a Presidência da República, pois, a ditadura numa derradeira demonstração de força mobilizou sua base e decidiu que a escolha do primeiro presidente civil pós-ditadura seria por meio do colégio eleitoral. A maioria do povo ansiava pela democracia, mas, jamais a unanimidade. Ainda hoje, há quem defenda a volta da ditadura militar e sinta profundo ódio à democracia e tudo o que ela representa, ainda mais, num momento em que a democracia brasileira demonstra sua maturidade com a eleição de um presidente metalúrgico, ex-flagelado da seca, e, como tal, retirante do sertão no tradicional “pau de arara” e a primeira mulher a governar o país, uma ex-presa política torturada nos porões da ditadura militar. Porém, o machismo e a misoginia não dão trégua à Presidenta Dilma e a velha questão do berço, herança dos tempos oligárquicos que nunca se foram jamais poupou Lula, pois, ao não ser oriundo da elite e nem amealhado fortuna por herança não podia nunca ter sido alçado ao cargo de presidente do Brasil. Enganam-se todos que pensam que o sistema representativo surgiu devido ao crescimento populacional e à consequente inviabilidade de consultar a grande população, nem mesmo na Grécia Antiga todos eram cidadãos e tinham poder de decisão. A democracia representativa e o sistema republicano flertam e sempre flertaram com as oligarquias e atualmente com a intelligentsia, ou seja, os especialistas na área da economia, da administração, etc. As elites sempre se consideraram as únicas qualificadas para conduzir o cego rebanho que no entender delas é ignorante e não sabe dirigir o destino do país, e, assim, o “gado” faria melhor aceitando seu papel predeterminado pelo berço. Não causa estranheza, que uma gente caucasiana bem nascida e que jamais passou a incerteza de ter ou não o que comer no dia seguinte, bata panelas e peça por mais democracia, quando na verdade deseja o oposto dela, ou seja, que a fome volte a reinar nos lares dos “incompetentes”, pois, no entender dessas pessoas, o país era melhor quando era de poucos, pois, hoje, essa “gente sem pedigree” congestiona as rodovias com seus carros populares financiados, e, pior, lota até mesmo os aeroportos. Para esse pessoal, todo político que atua no sentido de atenuar as injustiças sociais é populista e quem nele vota é ignorante, apegado ao passado de ideais revolucionários que há muito se mostraram equivocados ante a única verdade universal, a do “deus mercado”. No mundo todo, o que existe são sistemas mistos que integram oligarquias estatais e econômicas e tentam reduzir o apetite insaciável destas por meio da participação do povo que não é mera vítima, mas, responsável pelo sistema global de dominação por meio do fetiche da mercadoria e do consumismo. Se a democracia fosse plena, os mandatários não poderiam se perpetuar no Poder, os mandatos seriam curtos, não renováveis e a ingerência do capital financeiro sobre o processo eletivo não se faria presente. O que temos é justamente o contrário, um sistema que beneficia as elites e dá a impressão ao povo de que tem no voto o poder de decidir quem governará e isso é ilusório, pois, mudam os nomes, mas as oligarquias permanecem com o apoio da conservadora classe média e da juventude que afirma querer mais democracia, mas, fortalece as oligarquias que a combatem e obtém assim, não o que declara, mas, o que deseja profundamente, uma sociedade excludente e que concede aos mesmos tão somente a liberdade de consumir. Sugestão de boa leitura: O ódio à democracia – autor: Jacques Rancière. Boitempo, 2014.

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