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sexta-feira, 24 de julho de 2015

Vá para Cuba, Francisco!

Lembro que no início de minha carreira trabalhava numa escola particular e utilizei o filme “Irmão Sol, Irmã Lua” de Franco Zeffirelli como contraponto aos valores hegemônicos do materialismo consumista e individualista da sociedade, e, diante da inspiradora história de São Francisco de Assis e Santa Clara retratada de forma tão magistral, não pude conter a emoção. Lembro-me de duas cenas memoráveis da obra que ocorre quando Francisco de Assis renuncia a vida confortável proporcionada pela riqueza de seu pai que o ameaça deserdá-lo e ele em resposta despe-se e nu abandona a casa do pai e passa a viver na pobreza e na humildade, e a outra cena, quando ocorre o encontro do Papa envergonhado com a ostentação e riqueza do Vaticano perante um Francisco de Assis (decepcionado pelo mesmo motivo) que recebe a autorização papal para continuar sua obra. Quando soube a alguns anos do anúncio de um novo Papa e que ele era argentino, imediatamente comecei a fazer pesquisas, e, tive o receio de que a escolha do nome Francisco em referência a São Francisco de Assis era uma empreitada de envergadura tal que o novo Papa não fosse capaz de honrar sem causar arranhões na imagem do santo protetor dos pobres e dos animais. Mas, Jorge Mario Bergoglio tem sido uma boa nova não apenas para os católicos, mas, para toda a sociedade humana. O Papa Francisco em seus discursos tem chamado a atenção para os cuidados com o planeta fazendo críticas ao modelo consumista e a busca sempre crescente de produtividade com o auxílio da ciência, cujos métodos empregados resultam na exaustão e poluição da natureza. Há alguns dias, o Papa esteve na Bolívia por ocasião do 2º Encontro Mundial dos Movimentos Populares e recebeu do Presidente boliviano um crucifixo em que Cristo estava sustentado por uma foice e um martelo, e, a tal ato foi dado mais destaque do que ao importante conteúdo da fala de Francisco. A foice o martelo retratados no crucifixo serviram para críticas explícitas e veladas à Evo Morales e ao Papa respectivamente, por lembrar o símbolo socialista. No entanto, boa parte da imprensa não se deu ao trabalho de divulgar a fala de Evo explicando ao Papa que tal crucifixo é uma réplica do que pertenceu ao padre jesuíta espanhol Luis Espinal (um sacerdote de vasta cultura, escritor, cineasta que dedicou sua vida aos pobres e às vítimas da injustiça e da perseguição, e, que foi assassinado pela ditadura boliviana em 1980). Para o padre Luis Espinal, o martelo e a foice significavam respectivamente o trabalho operário e camponês. Do discurso do Papa Francisco na Bolívia, destaco a seguinte frase que considerei extremamente lúcida e necessária: “Quando o capital se torna um ídolo e direciona as escolhas dos seres humanos, quando a avidez do dinheiro domina o sistema socioeconômico, ele arruína a sociedade, condena o homem, tornando-o escravo, e destrói a fraternidade entre os povos”. Na ocasião, o Papa também reafirmou o direito de todos à terra, ao trabalho e à habitação e pediu desculpas pelos crimes cometidos contra a população indígena por ocasião da conquista da América. Não me causa surpresa que Francisco não tenha a simpatia dos oligopólios capitalistas e dos monopólios midiáticos, mas, o que estranho mesmo é o silêncio de algumas pessoas que se dizem “religiosas” que em meu ver deviam estar divulgando as falas extremamente necessárias do Papa. Lembro a estes “religiosos” que Jesus falava o que julgava que a sociedade precisava ouvir e nem sempre o que ela queria ouvir. E antes que estas pessoas o mandem ir para Cuba, o Papa mais uma vez se antecipou e em Setembro estará visitando nossos hermanos latino-americanos da paradisíaca e histórica ilha caribenha que sonho conhecer.

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