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segunda-feira, 7 de novembro de 2022

Uma confissão


 O escritor russo Liev Tolstói (1828-1910) autor de Guerra e Paz e Anna Kariênina é presença constante neste espaço. Não poderia ser diferente, sua literatura é mundialmente reconhecida e conquista novos adeptos a cada nova geração de leitores. Tolstói teve duas fases em sua obra, sendo a primeira quando escreveu os calhamaços Guerra e Paz e Anna Kariênina, além de novelas e contos diversos. Em sua segunda fase, o escritor que nasceu em uma aristocrática família rural russa e, que nunca teve problemas com a falta de dinheiro, voltou-se para a espiritualidade. Nesta fase escreveu obras de cunho moral, espiritual e mesmo filosófico. Tolstói que havia adentrado a meia idade começa a se questionar sobre o sentido de sua existência, queria encontrar algo que desse sentido ao viver.

            O título "Uma confissão" mostra exatamente o sentido da obra. O autor relembra as várias fases de sua vida, a infância que é o momento em que é apresentado à Igreja Ortodoxa Russa, mesma religião que mais tarde o excomungou em 1901. Tal excomunhão ocorreu por suas críticas aos preceitos da referida igreja e é mantida até hoje. Enquanto criança recebia os ensinamentos religiosos e não os questionava, mas ao completar dezoito anos já não acreditava em nada. Nessa fase o autor russo ingressa na Universidade e dá início à sua vida boêmia na qual passa madrugadas jogando baralho (ganhando e perdendo dinheiro), bebendo muito e buscando o prazer sem compromisso com as mulheres. Não obteve êxito na Universidade, pois jamais se dedicou a ela, exceto no momento de seu ingresso. Tolstói lembra desses momentos e se recrimina por assim ter agido. Arrepende-se também das pessoas que matou, seja na guerra ou em duelos.

            Tolstói relembra quando amadureceu, abandonou a Universidade e voltou para Yasnaya Polyana, a fazenda que recebeu em herança de seus pais (que morreram quando ele era muito jovem). Nessa ocasião, Tolstói se casou, teve filhos, escreveu suas grandes obras (as quais recebeu a revisão de sua esposa). O autor russo sempre teve pensamentos de grandeza, desejou ser o maior escritor russo e estar no topo da literatura mundial superando Shakespeare e outros. Tolstói observa os servos (mujiques) de sua propriedade e percebe que eles levam uma vida muito sofrida, seu trabalho é pesado, no entanto, parecem ser mais felizes do que os ricos cuja vida confortável é constituída de muitas festas e, quase nenhum trabalho. No entanto, são os ricos que vivem entediados a reclamar da vida. Tolstói observa que os servos em seus últimos dias possuem uma leveza de espírito que torna a morte um acontecimento quase feliz. Ele não observa isso entre os ricos.

            A crise existencial pela qual Tolstói passou e que relatou nesta obra não constitui algo extraordinário. O leitor poderá ao ler, observar (caso seja jovem há mais tempo) que as indagações e inquietações são semelhantes as por ele(a) também vivenciadas. Tolstói que não vê sentido na vida, chega à conclusão que a fé é o que dá sentido à existência, nem por isso deixa de tecer críticas à Igreja Ortodoxa Russa e aos cristãos que vão à Igreja e, que no entanto têm sua prática muito diferente de suas falas. Ele também critica a rivalidade existente entre as religiões e, afirma que no ato em que cada uma destas igrejas se antagonizam afirmando ser a verdadeira Igreja de Deus atribuindo a falsidade a outra , provam justamente o contrário. Tolstói afirma que sempre buscou a verdade, porém para isso precisou separar a mentira e a verdade presentes no discurso da Igreja. O autor "confessa" na obra que por várias vezes pensou no suicídio, porém, encontrou na fé o sentido de sua existência. Ele acreditava que devia haver algo mais, e por isso valia a pena viver!

Sugestão de boa leitura:

Título: Uma confissão.

Autor: Liev Tolstói.

Editora: Mundo Cristão, 2017, 128 pág.

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