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terça-feira, 19 de abril de 2022

A Rússia na Guerra Fria 2.0 - parte 5

            

            O genial escritor irlandês Oscar Wilde (1854-1900) afirmava que sempre que alguém tenta esgotar um assunto, esgota também a paciência do leitor. Ciente disso, peço desculpas por uma vez mais trazer a temática retratada no título. Peço que considere o fato de ser este humilde escriba sofredor de distúrbios psicológicos que o cobrariam pela omissão de aspectos relevantes. Prometo também que na próxima edição mudarei o tema de nossa conversa. Como aqui já disse, "em uma guerra, a primeira vítima é a verdade". A guerra entre Rússia e Ucrânia segue o script, ou seja, é uma guerra de narrativas. Denúncias de crimes de guerra contra a Rússia foram feitas e, com uma agilidade imprudente, pelo Ocidente foram chanceladas como verdadeiras, apesar de carecerem de investigação. A Rússia, por sua vez, acusa a Ucrânia de montar cenários e produzir provas falsas com o intuito de posar como vítima e conseguir apoio internacional. Afirma ainda que a Ucrânia utiliza a população civil como escudo de proteção de alvos militares daquele país.

            A Rússia acusou os EUA de  colaborar com a Ucrânia em experimentos de armas biológicas conforme vestígios encontrados nesta última. A Rússia também acusa a Ucrânia pela forte presença de grupos nazistas no aparato estatal, especialmente no setor militar após o golpe de 2014. O que chama atenção é como as denúncias ucranianas sobre crimes de guerra da Rússia são logo acatadas como verdade incontestável pelo Ocidente. Engana-se quem pensa que essa guerra de narrativas tem como origem apenas os países beligerantes. A mídia ocidental está engajada como sempre na disputa da hegemonia do discurso, algo que faz eficientemente. A Rússia reclama de uma campanha ocidental na semeadura da russofobia nas mentes da humanidade. É impossível se chegar à verdade sem ouvir os dois lados de uma contenda. Não por acaso, a mídia russa foi banida das redes sociais do mundo ocidental.

            Nunca um país sofreu tantas sanções econômicas como a Rússia. O que estranha é que outros países que promoveram conflitos (internos ou externos) e comprovadamente cometeram crimes de guerra passaram incólumes. A OTAN, em especial, os Estados Unidos da América são exemplos disso, porém, acusam a Rússia de atos que também praticaram nos conflitos onde se envolveram. Como popularmente se fala: "é o sujo falando do mal lavado". Os EUA tem uma longa lista de crimes de guerra, podemos citar como exemplos, o bombardeio de inocentes com as bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki (ato impiedoso ímpar na história da humanidade), o bombardeio com armas químicas no Vietnã, o apoio e colaboração com ditaduras sanguinárias na América Latina durante a Guerra Fria e, recentemente, as torturas praticadas contra prisioneiros em Abu Ghraib (Iraque) e em Guantánamo (possessão estadunidense em Cuba). Os Estados Unidos jamais foram punidos por seus crimes de guerra, da mesma forma, nações imperialistas europeias que promoveram genocídios na colonização do continente americano, africano e asiático. Se poderá falar que à época da colonização, não havia tribunais internacionais, no entanto, nem depois da sua criação após a Segunda Guerra Mundial isso acontece. É verdadeira a frase do escritor inglês George Orwell (1903-1950) quando disse:  "a lei é para todos, mas, alguns são mais iguais que os outros".

            Qualquer pessoa minimamente esclarecida, já percebeu que a contenda entre Ucrânia e Rússia é de grande interesse para os EUA e a OTAN. Ela propiciou às potências ocidentais uma oportunidade de ouro para promover o estrangulamento econômico da Rússia e, assim enfraquecer tal país e consequentemente atingir a aliança com a China. Como já disse, o pano de fundo do conflito na Ucrânia é a disputa pela hegemonia mundial. O Ocidente a quer manter no Atlântico ante os indícios de que ela tende a migrar para o Pacífico (China - Rússia). Fala-se até na possibilidade de que o BRICS que constitui até o presente momento um grupo informal de discussão e cooperação entre Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul possa a vir formar uma aliança militar nos moldes da OTAN. A se efetivar tal intento, o Brasil teria que optar em estreitar laços com estes países, o que desagradaria os Estados Unidos da América e a Europa. Estreitar ainda mais os laços econômicos com o grupo seria muito bom, porém, no campo militar a situação se complica, pois, teria que romper com sua histórica política de neutralidade. A iniciativa esbarra ainda no histórico de conflitos territoriais entre China e Índia, embora, esta última tenha criticado as sanções impostas à Rússia e tenha afirmado que poderá realizar compras da Rússia em rublos se esta assim solicitar.

            Encerro dizendo, que os direitos humanos são universais e, as penalidades da lei internacional deveriam ser aplicadas a todos. Líderes nazistas alemães foram corretamente levados a julgamento em tribunais internacionais, o presidente estadunidense Harry Trumann (1884-1972) que autorizou o lançamento de bombas atômicas sobre o Japão, não. É óbvio que poderoso como é, os Estados Unidos não permitiria. É utópico pensar que nações poderosas e seus líderes paguem por seus crimes contra a humanidade. Mas é um objetivo que deve ser perseguido. O mecanismo de funcionamento da ONU, em especial, do Conselho de Segurança precisa ser revisto. O combate à desinformação e à manipulação ideológica midiática é necessária e urgente. Um mundo melhor se faz com pessoas esclarecidas e críticas!

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