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sábado, 19 de dezembro de 2020

Olhai os lírios do campo

 

Érico Veríssimo (1905-1975) nasceu em Cruz Alta (RS) e faleceu em sua eterna Porto Alegre. Nascido numa família abastada, mas, que se arruinou financeiramente e, diante das dificuldades econômicas e da separação dos pais, trabalhou em vários ofícios, tendo sido inclusive farmacêutico. Mas, era nas redações de jornais e revistas, o ambiente em que se sentia melhor. Sua paixão era escrever, porém, não conseguia viver de sua literatura, seus livros encalhavam, embora, chamassem a atenção desde o princípio.

            "Nos livros que escrevia Érico despejava fora aquilo que angustiava sua alma, mas, também moldava o país que sonhava e acreditava ser possível. Érico não era dado a rompantes. Em sua obra passava a sua mensagem de forma quase sutil, mas, não tão sutil, afinal, a Érico não faltava coragem, mas, sobravam-lhe convicções. Érico Veríssimo defendia a justiça social, condenava a absurda desigualdade social de seu tempo (e nesse quesito o país piorou ainda mais). No entanto, ele não acreditava em soluções extremas (uma revolução armada) e pensava que o Brasil haveria de ser transformado por uma revolução por dentro, ou seja, por reformas que levadas a cabo por sucessivos governos democráticos melhorassem a condição de vida do povo brasileiro. [...] Em seu livro "Incidente em Antares" (1971) ele escreveu "comunista é o pseudônimo que os conservadores e saudosistas do fascismo inventaram para designar todo sujeito que luta por justiça social". Mesmo sendo avesso à soluções extremas foi fichado no DOPS por ser "comunista", ou seja, por desejar a justiça social". (Tributo a(o) Érico Veríssimo - Novembro de 2020 - A Vista de Meu Ponto!)

            Érico conta que somente conseguiu viver de sua literatura a partir da publicação de "Olhai os lírios do campo" (1938). Nesta obra, o escritor por meio da personagem Eugênio Fontes (um médico), cuja história de vida é contada na primeira parte do livro, na qual evidencia o complexo de inferioridade deste por sua origem humilde, filho de pai alfaiate e de mãe lavadeira de roupas. O então menino pobre consegue uma bolsa de estudos e entra num internato inglês na cidade de Porto Alegre, dedicado, consegue mais tarde entrar na Faculdade de Medicina e se formar. No curso, conhece Olívia, porém, ensimesmado, jamais lhe dá a devida importância. Eugênio é egoísta, e somente pensa em se dar bem na vida. Olívia gosta de Eugênio apesar de seus múltiplos defeitos de personalidade. Eugênio casa-se com uma moça rica, a qual não ama, com o único interesse de entrar para a alta sociedade e deixar para trás a pobreza. No casamento, não é feliz, sua esposa é atraente, porém, lhe é quase uma desconhecida. Com o tempo começa a se arrepender de ter se afastado de sua família. Apesar de estar rico e vivendo numa mansão, se sente deslocado nos luxuosos jantares promovidos pelo sogro a seus convivas. Não consegue se desligar de sua origem pobre. Lembra dos momentos vividos com a amiga Olívia que está no hospital morrendo e quer lhe ver, quando chega ao hospital, Olívia está morta.

            Ela deixou-lhe cartas que o motivam a dar uma guinada em sua vida. Pede a separação judicial, um escândalo na época, abre mão de qualquer direito econômico resultante do casamento e, volta a exercer a medicina e conviver com a precariedade das condições de trabalho à época (ainda hoje, longe de ser as ideais). Eugênio anseia por uma "medicina socializada" na qual os médicos seriam funcionários públicos e contariam com boas condições de trabalho para exercer uma medicina gratuita e essencialmente humana. Érico viu em seu tempo a falta que faz um sistema público e gratuito de saúde. Na época não havia o SUS, muita gente morria por falta de recursos financeiros, o que lhe impossibilitava o acesso à medicina, noutras vezes, alguns médicos atendiam gratuitamente pessoas pobres. Hoje temos o SUS, ele precisa ser melhorado, mas precisamos defendê-lo. A obra é embasada no Sermão da Montanha e não era o livro preferido de Érico Veríssimo, mas, é ainda hoje, o seu livro mais vendido e amado pelos leitores. Érico que era bastante crítico ao livro que escrevera disse nunca ter entendido o motivo de seu sucesso. O escritor morreu durante a ditadura militar (1965-1985) sem ver o retorno do país à democracia que tanto prezava. Trata-se de um livro inspirador. Fica a dica!

Sugestão de boa leitura:

Título: Olhai os lírios do campo.

Autor: Érico Veríssimo.

Editora: Companhia das Letras, 2005, 288 p.

Preço: R$34,93.


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