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sábado, 19 de setembro de 2020

O último dia de um condenado

 


 

           


Victor Hugo (1802-1885) foi um romancista, poeta, dramaturgo, ensaísta, artista, estadista e ativista pelos direitos humanos. Em sua grandiosa obra, destacam-se os livros: Os miseráveis (1862) e O corcunda de Notre Dame (1831) publicado originalmente com o título Notre Dame – Paris, 1482. O autor é conhecido por seus calhamaços (obras com grande número de páginas), mas, este não é o caso do livro "O último dia de um condenado" publicado em 1829. Na obra, o autor apresenta para a reflexão do leitor a pena capital a partir do ponto de vista de um condenado à espera de sua execução. Embora o leitor possivelmente tenha opinião formada sobre a validade ou não da pena de morte, a leitura desse livro é fundamental, pois, o próprio Victor Hugo, após ver publicado seu livro criticou personalidades da alta sociedade francesa que debatiam-no, porém, sem jamais o terem lido, afinal, ter opinião formada sobre a pena de morte, não as fazia críticas competentes da premissa contida na obra, dada a ignorância acerca desta.

            O escritor francês fazia parte de um seleto grupo de intelectuais engajados na construção de uma sociedade menos injusta e mais solidária e, obviamente era opositor fervoroso da pena de morte, algo que inúmeras vezes presenciou na França de sua época. Embora esta fosse aplicada a ricos e pobres, a classe social era levada em conta e, se pobre, humilhações eram acrescentadas ao espetáculo horrendo. O médico francês Joseph-Ignace Guillotin (1738-1804) considerava que a pena capital deveria ser igual para todos os criminosos, independente da classe social e, deveria ser menos dolorosa para o condenado. Ele criou uma máquina que acabou por levar seu sobrenome e, como também era parlamentar apresentou a guilhotina ao governo francês e, por meio dela morreram desde mendigos a reis e rainhas.

            O livro é contado a partir do ponto de vista do narrador, um condenado cujo nome e crime não é revelado ao leitor. Ao ler, supõe-se que ele tenha assassinado alguém e que o autor tem a intenção de levar o leitor a refletir sobre a pena capital e não sobre um determinado crime em si. Mas, algumas pistas são dadas, o condenado tem educação refinada, algo naquele tempo inacessível à pessoas pobres. A escrita profundamente realista levanta a dúvida se o escritor usou sua imaginação ou baseou-se em relatos escritos por algum condenado ao qual teve acesso. O autor também coloca no livro relatos de jornais sobre crimes hediondos levando o leitor a pensar nas vítimas e em suas famílias. O condenado parece não se arrepender do crime, mas, tem profunda esperança em ser absolvido, porém, suas esperanças esvanecem ante as tentativas frustradas de seu advogado de lhe conseguir a postergação do julgamento, a comutação da pena e o perdão. A condenação ante o Tribunal do Júri, os jurados (cuja fisionomia observou atentamente na esperança de compaixão) o mandaram para a morte, embora ele pense não merecer tal destino. Na prisão, embora tente, não consegue parar de pensar na morte, a não ser quando consegue dormir.

            O condenado que preferia morrer a ser obrigado a trabalhos forçados, começa a mudar de opinião conforme se aproxima o dia e o horário de sua execução (conforme lhe fora informado). Ele pensa na mãe idosa e doente que certamente morrerá de desgosto quando de sua execução. Pensa na esposa também doente e na filha pequena cujos amiguinhos terão pai e ela não, também pensa em como elas sobreviverão, pois a ele cabia sustentá-las. A obra procura mostrar a tortura psicológica pela qual passa o condenado que possui ciência antecipada da data de execução (embora seja um criminoso, não deixa com isso de ser humano). O leitor, indiretamente é levado a pensar nos países que adotaram/adotam a pena capital e nas várias vezes em que  inocentes foram condenados, sendo na maioria dos casos, pobres e minorias e, de que não há reparação possível à morte de uma pessoa inocente. E o que pensar quanto aos países que aplicam a pena de morte sem nunca terem dado condições de vida digna à grande parcela destas? Enfim, na obra, o leitor sabe de antemão que o condenado será executado e, esta tem como ponto principal a narrativa detalhada e chocante do último dia de vida deste, sobre o qual nada direi, para não dar spoiler. Fica a dica!

 

Sugestão de boa leitura:

Título: O último dia de um condenado.

Autor: Victor Hugo.

Editora: Estação Liberdade, 2002, 192 p.

Preço: R$36,00.

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