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domingo, 22 de setembro de 2019

Fogo Morto



                José Lins do Rego (José Lins do Rego Cavalcanti) nasceu em Engenho Corredor, na Paraíba, em três de junho de 1901 e, faleceu no Rio de Janeiro, a doze de setembro de 1957. Dentro do que se esperava de um filho da elite rural nordestina estudou e formou-se em Direito. Colaborou no Jornal do Recife e, em 1922, fundou o semanário Dom Casmurro. O tempo que passou em Recife possibilitou-lhe laços de amizade com várias personalidades que influenciaram sua carreira na literatura, dentre elas, Gilberto Freire. José Lins do Rego ainda muito jovem revelou seu talento para a literatura. A obra de José Lins traz em seu bojo, as origens das diferentes gerações de sua família ligada ao mundo rural do nordeste açucareiro. No Brasil poucos escritores conseguiram/conseguem viver apenas dos rendimentos de sua literatura. José Lins não escapou a essa regra e, trabalhou por pouco tempo como promotor, fiscal de bancos e, fiscal do imposto de consumo. Colaborou em vários periódicos com crônicas diárias. Quando morou em Maceió, tornou-se colaborador do Jornal de Alagoas e passou a fazer parte do grupo de Graciliano Ramos, Raquel de Queirós, Aurélio Buarque de Holanda e outros. Ali publicou seu primeiro livro, Menino de engenho (1932), obra considerada de fundamental importância na história do moderno romance brasileiro e que lhe rendeu o Prêmio da Fundação Graça Aranha. Sua paixão pelo esporte (torcedor do Flamengo) o levou a ocupar o cargo de secretário-geral da Confederação Brasileira de Desportos (1942 a 1954). Em certa ocasião, ao falar de sua literatura, afirmou “[...] meu futebol é de primeira. Eu não uso a bola para fazer bailado. Eu a atiro ao primeiro golpe e, se não chego a realizar uma jogada com perfeição, não comprometo, por outro lado, a eficiência do meu time”.
José Lins do Rego se popularizou como um romancista da decadência dos senhores de engenhos e tinha como característica escrever com grande agilidade, apesar de dizer a todos que o ato de escrever era difícil. A matéria-prima de suas obras estava nas memórias e reminiscências (vividas e internalizadas pela transmissão oral por seus predecessores) de um sistema econômico de origem patriarcal, com o trabalho semi-escravo do eito, ao lado de outro aspecto importante da vida nordestina, o cangaço e o misticismo. O conjunto de sua obra pode ser classificado em três tópicos: 1. O ciclo da cana-de-açúcar, com Menino do Engenho, Doidinho, Banguê, Usina e Fogo Morto; 2. O ciclo do cangaço, misticismo e seca, com Pedra Bonita e Cangaceiros; 3. Obras independentes com ligações nos dois ciclos: O moleque Ricardo, Pureza e Riacho Doce; e desligadas dos ciclos: Água-mãe e Eurídice. Sua carreira como literato o lançou à “imortalidade” como membro eleito da Academia Brasileira de Letras – ABL. José Lins tentou produzir obras desligadas dos temas que o popularizaram, porém, como assinalou Manuel Bandeira: “era um motor que só funcionava bem queimando bagaço de cana”.
A obra Fogo Morto (1943) é dividida em três partes. A primeira parte tem como personagem principal, o mestre José Amaro. José Amaro é um seleiro que mora com sua esposa e filha nas terras do Coronel Lula, proprietário do Engenho Santa Fé. O mestre é muito habilidoso no seu ofício. José Amaro tem uma língua ferina e, aponta deficiências no caráter de quase todos, ao mesmo tempo em que afirma ser um homem correto e independente. Também se mostra decepcionado com a vida e com a família. Entre as suas decepções está fato de que não teve um filho homem para ensinar-lhe os rudimentos da profissão. Sua filha não conseguiu se casar e com o passar do tempo enlouquece. O Coronel Lula manda que se retire de suas terras, sua esposa o abandona e, sua vida passa a ser de lamentos e ideias de vingança contra o negro Floripes, o causador do desentendimento dele com o senhor de engenho. A segunda parte tem como título “o engenho de seu Lula”. O Engenho Santa Fé criado por seu Tomás Cabral de Melo e Dona Mariquinha, apesar de ser pequeno se comparado aos engenhos vizinhos, tem grande produtividade com o empenho pessoal de seus proprietários. O casal tem duas filhas, Amélia e Olívia. Amélia, refinada, estudou na capital, nas melhores escolas. Olívia seguia o mesmo roteiro, porém, enlouqueceu. Passa o tempo e, não aparece um pretendente à altura de Amélia. Surge então Luis Cesar de Holanda Chacon, órfão de pai, morador da cidade grande, possuidor de grande orgulho de suas raízes familiares, mas, sem nenhum dinheiro. Casa-se com Dona Amélia, mas, para a decepção de seu Tomás, não tem nenhum interesse em aprender a administrar o engenho e dedica-se apenas a ler jornais. Com a morte de seu Tomás, seu Lula tenta tomar para si o engenho, mas, Dona Mariquinha consegue na Justiça o direito de administrá-lo. Seu Lula e Dona Amélia, têm uma filha. Seu Lula, nega a Dona Mariquinha, o contato com a netinha. Dona Mariquinha morre, seu Lula passa a administrar o engenho, mas, sua inaptidão é tão grande que sua esposa sente vontade de tomar a tarefa para si, mas, não o faz afinal, Lula é o homem, poderia não gostar. O Engenho entra em decadência e eles vão ficando cada vez mais pobres. A terceira parte trata do Capitão Vitorino, homem que costuma fazer bravatas, mas, que não é levado muito a sério, sendo que até os moleques, ao passar por ele gritam “papa-rabo”, apelido que recebeu por ter o costume de cortar o rabo de alguns de seus animais. Capitão Vitorino tem interesse na política, é da oposição e se coloca em defesa dos mais fracos. Apesar de inofensivo, apanha da polícia e, é preso por suas atitudes insolentes perante o Tenente Maurício, que se encontra na região para eliminar a ação de cangaceiros do bando do Capitão Antonio Silvino. Mais, não posso falar, sob pena de estragar a sua leitura caso assim deseje.
Sugestão de boa leitura:
Título: Fogo Morto.
Autor: José Lins do Rego.
Editora: José Olympio, São Paulo, 2014, 77ª edição, 414 p.
Preço: R$ 38,80 (capa comum).

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