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domingo, 16 de junho de 2019

O canto da Sereia! (republicação)


 “Trago-lhes caros leitores uma republicação de um artigo que saiu neste espaço no distante dia 28 de agosto de 2014. Artigo que me rendeu algumas críticas que conquanto fossem desprovidas de fundamento não lhes faltava maldade. Talvez devido à proximidade das eleições majoritárias e a polarização que a marcava visando atingir-me por conta de meu posicionamento ideológico por todos conhecido. O tema agora exaustivamente debatido na Assembléia Legislativa do Paraná (ALEP), a qual por unanimidade, acima de quaisquer bandeiras partidárias e para o bem do meio ambiente e da sociedade paranaense aprovou em primeira discussão a proibição da exploração do gás de xisto pelo método de fracking. O projeto de lei é de autoria dos deputados Evandro Araújo (PSC), Goura (PDT), Cristina Silvestri (PPS) e Márcio Pacheco (PDT), aos quais parabenizo pela iniciativa. Ainda não é definitivo, mas, encaminha-se para bom termo dada a consciência daquela casa quanto aos riscos que tal exploração acarreta. Sei que algumas vezes minhas palavras são duras, porém, dura é a realidade. Pode-se amar o conhecimento, mas, para produzi-lo ou levá-lo adiante não se pode fazê-lo de forma amadora. Algumas pessoas podem me achar arrogante, mas, não se pode titubear quando convicto. Há um provérbio português que dita: o tempo é o senhor da razão! E ele acaba de provar isso”!

O canto da Sereia!

Penso que o leitor certamente já ouviu falar ou então leu a respeito do mito das sereias cujos corpos eram parte mulher e parte peixe. Elas habitavam rochedos e ao avistá-las, os marinheiros eram por elas atraídos devido à sua beleza estonteante e por seu belíssimo e doce canto, assim, guiavam suas embarcações até elas e acabavam colidindo com os rochedos e naufragando. Os gregos relatam que apenas duas pessoas conseguiram escapar ilesos ao encanto das sereias, Orfeu que era o deus mitológico da música e da poesia e que para salvar a si próprio e aos que lhe acompanhavam na viagem de barco cantou mais divinamente do que as sereias superando-as com seu talento e sua voz. O outro vitorioso foi Ulisses que por não possuir o talento musical de Orfeu colocou cera de abelha em seus ouvidos e pediu que lhe acorrentassem ao mastro do navio e deus ordens que se caso implorasse para libertá-lo apertassem ainda mais as cordas que o prendiam. Ulisses quase enlouqueceu gritando para ser liberto e assim poder ir ao encontro das sereias, mas, passou ileso pela grande provação a que fora submetido. No primeiro caso Orfeu foi vencedor porque teve espírito de superação, autoconfiança e coragem de fazer ainda melhor e no segundo caso, Ulisses sobreviveu porque teve a consciência de sua fragilidade e tomou atitudes sábias para evitar o feitiço visual e musical das sereias.
            Mitologia é sempre um assunto interessante, muitos livros e filmes se produziram com tal temática, no entanto, neste artigo serve apenas para introduzir neste espaço a discussão que precisa ser feita por todos  antes que seja tarde demais e não dê tempo para preparar a voz  daqueles que talento possuírem ou na inexistência de tal dom para tapar os ouvidos com cera. Este escriba que redige estas linhas adotará por não haver outra possibilidade a estratégia de Ulisses. Há um debate que precisa ser urgentemente realizado, trata-se da exploração através do sistema de “fracking” do gás de xisto, na verdade, o termo correto seria gás de folhelho betuminoso. O Folhelho betuminoso é uma rocha sedimentar que se aquecida num processo antieconômico vira óleo e é possível obter dela os combustíveis normalmente obtidos do petróleo. O Brasil possui uma das dez maiores reservas de folhelho do mundo e há a intenção da Copel de explorar inicialmente uma região localizada no terceiro planalto paranaense entre Pitanga, Cascavel, Toledo e Paranavaí.
            O fracking, ou fraturamento hidráulico consiste numa nova técnica em que água com aditivos químicos cuja fórmula não é revelada por constituir segredo empresarial é injetada sob altíssima pressão por um furo vertical até atingir a camada de folhelho e após são feitas perfurações horizontais para liberar o gás presente na rocha que tem a mesma utilidade do gás natural obtido pelo método de perfuração tradicional com máquinas perfuratrizes de petróleo para libertar o gás do bolsão em que se encontra. Tanto o petróleo como o folhelho é encontrado em áreas sedimentares e  no Terceiro Planalto Paranaense se encontra em profundidades de mil a dois mil metros. Lembro-me de ter lido certa vez um livro sobre os Estados Unidos da América que relatava os graves danos ambientais nas regiões de exploração por tal método, onde as compensações financeiras que alguns fazendeiros receberam foram insuficientes para cobrir os prejuízos, pois, tiveram que abandonar a prática da agropecuária porque a carne e os alimentos naquela região produzidos estavam contaminados e impróprios para o consumo, aliás, a saúde dos moradores da região também se deteriorou gravemente e a água de lençóis freáticos e rios contaminados não puderam mais ser utilizados para consumo humano. Atualmente não há como evitar a contaminação porque é impossível saber onde os gases podem ser liberados uma vez que as rochas do subsolo apresentam fraturas pelas quais as águas infiltram até camadas mais profundas. Nos EUA ocorreram casos de rios pegando fogo, e mais bizarro ainda, fogo saindo pela torneira. Há também registros naquele país de terremotos em áreas inusitadas que estão sendo investigados por sua possível relação com o método do fracking. A Argentina também enfrenta os problemas ecológicos e econômicos de tal exploração resultantes.
            Na atualidade, o canto da Sereia diz respeito a uma proposta extremamente vantajosa e que depois se mostra um engodo. As autoridades da Cantuquiriguaçu, os professores e estudantes do Ensino Básico e Superior, especialmente a UFFS, os agricultores, os pecuaristas, enfim, todo o povo paranaense precisa debater o tema e em meu ver combater essa monumental tragédia ecológica que se prenuncia, a possível morte por envenenamento do Aquífero Guarani e inviabilidade econômica da agropecuária nas regiões de exploração e circunvizinhas.

P.S. Parabéns aos cidadãos de Toledo e Cascavel que resistem brava e heroicamente ao canto da Sereia!

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