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sábado, 11 de maio de 2019

Bolsonaro entre o discurso e o exemplo!



                Há alguns dias, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) deu posse a Abraham Weintraub no cargo de Ministro da Educação. A substituição foi necessária, pois, decorridos noventa dias, a pasta continuava num estado de total letargia. O Ministro Ricardo Vélez por sua ação e inação não correspondeu às expectativas da sociedade, menos ainda dos profissionais da educação. Em meio às críticas acerca da atuação do Ministro, relutante, Bolsonaro teve de substituí-lo. Por ocasião da posse de Weintraub, Bolsonaro ao discursar afirmou “[...] Nós queremos uma garotada que comece a não se interessar por política, como é atualmente dentro das escolas, mas comece realmente aprender coisas que possam levar a quem sabe ao espaço no futuro”¹. Imediatamente lembrei-me de uma fala do ex-presidente Lula em que ele falava aos estudantes que estes deviam se interessar mais pela política, pois, talvez fossem eles os políticos e a nova forma de fazer política de que o país precisava². 
Os discursos de ambos passam pela educação e o papel que se espera dos estudantes. Sempre acreditei que democracia é participação. E que a escola não deve ser um lugar para preparar unicamente para o mercado de trabalho, mas, também para a cidadania. Democracia e cidadania são termos que se complementam, não há uma sem a outra. Porém, sob o falso pretexto da defesa da democracia e da outorgação da cidadania, golpes de Estado e guerras foram deflagradas na história da humanidade. Democracia e cidadania são conceitos abstratos, cuja concretude somente é alcançada com a participação popular. Democracia e cidadania precisam deixar as páginas do dicionário e passarem a ser vividas. Mas, como construir a democracia em um país cuja regra é o autoritarismo? Cuja democracia é efêmera e ocorre em hiatos entre os períodos de exceção? Em um país cujos sonhos de dias melhores da parcela pauperizada da sociedade são sempre castrados pelas elites do capital financeiro e do capital intelectual?
 Se o que se pretende é fazer com que a escola pública tenha a qualidade necessária para formar estudantes que serão os futuros cientistas a desenvolver tecnologia de ponta é necessário criar as condições para tal. E para isso é necessário conhecer a realidade das escolas, sua infraestrutura e as condições de trabalhos dos docentes. Após ter o choque de realidade, pois, boa parte dos políticos e até mesmo vários Ministros da Educação sempre falaram da Educação Pública “sem pisar no chão da escola”, pois a conheciam/conhecem por meios de jornais, revistas, quando muito de livros não raramente escritos por intelectuais que também não gastaram solas de seus calçados no chão da escola. É necessário rever políticas defendidas como a PEC do Fim do Mundo (EC 95/2016) que congela os gastos públicos e afeta fortemente a Educação. É preciso ter em mente que recursos empregados na Educação não são gastos e sim investimentos e que desde o golpe de Estado de 2016, tudo o que tem sido feito em matéria de Educação Pública objetiva literalmente “mandá-la ao espaço” juntamente com o futuro dos estudantes e isto somente não ocorreu ainda graças aos profissionais da Educação que exercem com grande seriedade a sua atividade, mesmo, sendo cada vez mais desvalorizados pela classe política que a elegeu como inimigos e por parte da sociedade que infelizmente está absorvendo esse discurso.
 Falar que a educação hoje não é de qualidade por ter viés ideológico é de uma ingenuidade ou desonestidade gigantesca. Quando não teve? Ou que escola do mundo não tem? A ideologia é o conjunto de ideias, crenças e valores de um indivíduo ou de um grupo de pessoas. A ideologia está presente em todos os lugares e todas as pessoas saudáveis a possuem. Na igreja, na ciência, na arte, na política, etc. A escola é plural, mas, não é exceção! A escola prepara para a vida. E a vida em sociedade é organizada por meio da política. A política não é em si uma atividade pornográfica, embora historicamente muitos políticos tenham atuado e atuem de forma obscena. A criminalização da política é uma atitude burra. É necessário resgatar a arte da boa política. E todos os espaços públicos precisam ser utilizados para estimular a reflexão, o debate e a participação. A escola tem um importante papel a desempenhar neste sentido. Se não o fizer contribuirá para o aumento do número de analfabetos políticos tal como enunciado por Bertolt Brecht. Bolsonaro talvez tenha tentado que seus filhos não se interessassem por política, mas, eles se interessaram. Cabe a você decidir se deve acatar a fala de Bolsonaro e estendê-la aos seus filhos ou, estimulá-los à prática do debate, da reflexão e da participação. Os filhos de Bolsonaro se interessam pela política e parecem ter o apoio do pai. E você como pai, vai seguir o discurso do presidente Bolsonaro ou o exemplo do pai Bolsonaro quanto ao interesse e à participação de seus filhos na política? Quer para seus filhos um papel submisso na sociedade ou de cidadãos ativos? Concluo trazendo Arnold Toynbee quando afirmou: “o maior castigo para aqueles que não se interessam por política é que serão governados por aqueles que se interessam!

FONTES:


2. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=OlKPivmWHWk – acesso em 23 de abril de 2019.

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