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quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Você também trabalha ou só dá aulas?


O título acima causa a revolta dos educadores, pois, se trata de uma situação bem comum pela qual passam em diálogos com pessoas não atuantes na área da educação, e que surpreendentemente assim agem sem qualquer maldade. Isto se explica pelo fato de que somos um país cuja população em seu inconsciente coletivo considera trabalho como sendo apenas o braçal. Este escriba na qualidade de professor certa vez ouviu de um educando: “professor nem trabalha, fica só falando, queria ver por no cabo de uma enxada”. Penso que este educando, por sua pouca idade, repetiu falas que ouviu em sua casa ou meio social. E esse é um pensamento mais comum do que se imagina, tendo em vista que para parte da sociedade parece muito fácil ser professor, afinal como me disse um empresário: “é só ficar jogando conversa fora com os estudantes sem ter grandes preocupações como vender o suficiente para pagar os empregados e os impostos”. Minha mãe em resposta ao questionamento de uma lojista citou as profissões dos filhos. A lojista ao tomar conhecimento de que o filho mais novo (eu) era professor, afirmou: “mas, ele tem bastante estudo, com o tempo arranja uma coisa melhor”, note-se que minha mãe tem orgulho de eu ser professor.            
Se o magistério é uma profissão tão fácil, por que tantas matérias jornalísticas e artigos científicos estão sendo produzidos alertando sobre o risco de um apagão educacional por falta de professores? Se a educação é o paraíso das profissões por que os jovens da classe alta e média não a escolhem como seu futuro profissional? Se professor ganha tão bem como alguns dizem por que os jovens bem nascidos não são incentivados por seus pais a seguir em tão promissora carreira? Se o trabalho de professor é tão suave por que tantas pesquisas científicas mostram grandes índices de adoecimento entre seus profissionais? Se o magistério é uma atividade laboral tão tranquila, por que os educandos que dividem a rotina diária com seus mestres, nas diversas classes, em sua quase totalidade, não a desejam para si? Se o professor é o profissional responsável por formar os trabalhadores das mais diversas áreas, do operário ao empresário; do médico ao cientista; do advogado ao Juiz de Direito por que ele é tão pouco valorizado socialmente?
Segundo recente pesquisa metade dos professores não recomenda a profissão para um jovem. E se engana quem pensa que os problemas na educação se referem unicamente à questão salarial em que dentre as profissões que exigem igual formação, o magistério continua a ser a menos remunerada, não somente no Brasil, mas, na América Latina. As pesquisas mostram que além dos baixos salários, a falta de autonomia, a sobrecarga de trabalho, a pressão vinda de cima para baixo na busca de resultados, salas superlotadas, indisciplina e desinteresse de estudantes que não raras vezes acabam em violência verbal e física levam ao adoecimento dos profissionais da educação cujas enfermidades mais constatadas são: problemas gastrointestinais, enxaquecas, dores de cabeça persistentes, falta de sono, esgotamento físico e psicológico, varizes, bursites, doenças osteomusculares, perda parcial da audição e da voz, estresse, depressão e a síndrome de Bournout.
Vivemos um momento em que professores são tratados quase como criminosos. A eles é atribuída toda a culpa pelo insucesso dos educandos, e isso é feito de forma perversa, pois, se omite as péssimas condições de trabalho a eles entregues. Se cobra resultados dos educadores como se apenas deles dependesse o sucesso dos educandos, e muitas vezes tomando como base comparativa, os resultados alcançados pelos estudantes avaliados nos países da OCDE, mas, sem levar em conta a desigualdade social que nos diferencia de tais países, e que ceifa dos jovens pobres o que lhes é mais precioso: o sonho de uma vida melhor para si e sua família!

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