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domingo, 6 de maio de 2012

Os Órfãos e o Filho Pródigo

Aos 28 anos de idade, naquele fatídico dia 9 de Novembro de 1989 ele se foi para nunca mais. Falo acerca do Muro de Berlim que separava a capitalista Berlim Ocidental (República Federativa da Alemanha ou Alemanha Ocidental) da socialista Berlim Oriental (República Democrática da Alemanha ou Alemanha Oriental). O muro de Berlim mais do que a separação de uma cidade em duas partes, simbolizava a divisão bipolar do mundo (capitalismo x socialismo) liderada por EUA (capitalista) e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (socialista). Era o maior símbolo da Guerra Fria (1945-1991) que ruiria por completo com o fim da URSS em 1991. Muitos aclamaram aquele momento histórico como o início de uma nova era, onde enfim haveria paz, sendo que a fome, a miséria e o analfabetismo seriam erradicados do planeta e a prosperidade seria levada aos mais longínquos rincões deste planeta. Mas (sempre há um mas!), o mundo não se tornou mais seguro, a violência ainda prolifera, bem como as guerras e a onipresença de um inimigo silencioso chamado terrorismo. No campo da alimentação, nunca se produziu tanto alimento e apesar disso a fome permanece, é que alimento é mercadoria e quem tem mercadoria quer vender, o problema é que há pessoas que precisam do alimento mas não têm dinheiro para pagar por ele. Na área da educação, em muitos países, o analfabetismo (sobrevivente da Guerra Fria) faz parceria com o analfabetismo funcional produzido com a política de baixo investimento em educação via neoliberalismo e engordado com a política de resultados (mera estatística publicitária) em que mais importante que a boa qualidade da formação é a quantidade de formados para compor a multidão de excluídos na vida. A era de progresso para toda a humanidade não passava de ilusão nas mentes ingênuas de boa parte da população e jamais chegará. O Capitalismo por muitos considerados a única alternativa após o fim do socialismo real vide queda do muro de Berlim vive a mais severa crise desde 1929, porém, esta crise é mais complexa, pois é econômica, política, social (civilizacional) e ambiental. Há na sociedade, muitas pessoas que preocupados com o destino do Titanic que se tornou o sistema econômico mundial abalroado pelo iceberg imobiliário estadunidense se vê à beira de um abismo, não podendo retornar, pois todas as pontes e viadutos na estrada percorrida desabaram por falta de manutenção e o caminho alternativo (socialismo real) não existe mais com o fim da URSS e do socialismo no leste europeu. Essa geração de pensadores anônimos e intelectuais notórios se sente órfã da única experiência alternativa ao capitalismo, o socialismo que ruiu prematuramente ante a estratégia estadunidense via corrida armamentista para determinar seu ocaso. Além de órfãos, assistem passivamente as farras do Filho Pródigo (Capital) que se aventura na jogatina do Mercado, buscando os prazeres mundanos que o dinheiro (seu e alheio) proporciona e que em tempos de vacas gordas privatiza os lucros para uma minoria deixando aos seus irmãos de sangue o mero sobreviver à custa de muito trabalho e pouco resultado, para em tempos de vacas magras e após torrar todos os recursos nas mais inimagináveis orgias financeiras, retornar, não com a humildade que a ocasião exigiria, mas com a arrogância que lhe é própria, determinando que o Pai (Estado) cubra os cheques sem fundos e salde todas as dívidas contraídas por ocasião das festanças. Ocorre que a volta do Filho Pródigo a que me refiro não é a da passagem bíblica, portanto, não é a volta de um filho que se perdeu, mas que retornou ao lar e ao bom caminho, mas de um filho ou irmão que vive os prazeres mundanos à custa de nosso sacrifício, pois, nós contribuintes através dos impostos fornecemos ao Estado o dinheiro para bancar a farra dos grandes capitalistas que somente reconhecem o valor do Estado nos momentos de vacas magras e que são cíclicas e rotineiras. As crises cíclicas do capitalismo são de sua própria natureza e não algo externo, portanto demonstram que o mesmo está funcionando em sua “normalidade”. As crises do capitalismo são o momento da distribuição dos lucros para alguns e da socialização dos prejuízos para muitos, que o sistema espera sejam cobertos pelo Estado via mais impostos, menos Saúde, Educação, infraestrutura, etc. Dói ver esse “Filho Pródigo” de maus costumes fazer festa com o dinheiro dos irmãos e o Pai (Estado) bancá-lo nos momentos de apuros, afirmando, talvez com razão, ser o melhor para todos, nesse momento sentimos o quanto somos órfãos de um outro mundo possível.

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