Jeferson
Tenório (1977) é escritor, professor e pesquisador brasileiro, tendo nascido no
Rio de Janeiro é radicado em Porto Alegre. Seus textos teatrais e contos foram
traduzidos para o inglês e o espanhol. Recebeu o Prêmio Jabuti em 2021 pela
obra "O avesso da pele" publicado pela Companhia das Letras.
Todo professor já deve ter
assistido a algum filme ou lido algum livro sobre a docência. Eu mesmo gostava
de me ver representado na ficção. Gostava de ver aqueles super-professores
humilhados pelo sistema, tendo de dar aula numa escola com alunos violentos e
indisciplinados, dentro de salas de aula degradadas. Então, este mesmo
professor, com toda a sua perseverança, força de vontade e movido por grande
paixão pela profissão, abria mão de sua vida particular, da sua vida afetiva e
familiar para transformar aquela realidade. Tudo em nome do amor à docência.
Além de todas essas adversidades, professores de escolas
públicas ou privadas estão sempre devendo alguma coisa: relatórios, notas,
devolução de provas, pareceres sobre aluno, ementa de projeto interdisciplinar,
programa de estudo, diários de classe e
outras chateações. Um professor sempre deve alguma coisa para a direção. Mesmo
quando não deve nada, ele continua em dívida, porque mesmo que você tenha
entregado tudo que lhe foi solicitado, ainda assim sobrará aquele sentimento de
que você não poderia estar descansando, e ainda fica com aquela sensação de
domingo à tarde, em que você não relaxa por completo porque a segunda feira
está chegando, e você não pode se dar ao luxo de relaxar.
Lembro ainda do filme Escritores da Liberdade, em que uma
professora, interpretada por Hilary Swank, estimula seus alunos a escreverem
diários. No entanto, como se trata de uma escola pública, não havia
recursos para a compra de livros. É
então que a professora resolve fazer um bico como vendedora de roupas no turno
inverso para levantar dinheiro e assim comprar os exemplares. A atitude pode
ser vista como louvável, e é; porém, isto tudo pode ser bonito na ficção, mas
na vida real não é.
Este artigo na verdade é uma carta aos professores. Me
dirijo a vocês desse modo porque acho ser importante dizer que sim, somos
apaixonados pelo que fazemos, que sim, fazemos muito mais do que nossas
atribuições. No entanto, não podemos amara a profissão mais do que a nós
mesmos. O amor pela docência não é incondicional. Não é anulando-se como pessoa
que um professor prova seu valor. Por isso, faço uma apelo: professores, não se
esqueçam de si.
Por mais que haja uma ligação forte entre você e a sua
instituição de ensino, a escola não é a sua casa. Escola é um lugar de formação
social, mas não pode ser a extensão da sua vida. Um professor não é mais
professor porque não relaxa, porque está sempre em estado de alerta. Um
professor é bom quando cuida de suas aulas, mas sobretudo quando cuida de si
mesmo.
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