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terça-feira, 18 de outubro de 2022

Odorico na cabeça

 

Alfredo de Freitas Dias Gomes (1922-1999) foi romancista, contista e teatrólogo, nasceu em Salvador (BA) e faleceu em São Paulo. Dias Gomes sempre demonstrou talento para escrever peças de teatro, sendo que com apenas quinze anos escreveu sua primeira peça. Em 1939, ganhou o 1º lugar no Concurso do Serviço Nacional de Teatro com a peça “Comédia dos moralistas”. Em 1943, ingressou no curso de Direito na Faculdade de Direito do Estado do Rio de Janeiro, porém abandonou o curso no 3º ano. Em 1950, casou-se com Janete Emmer (mais tarde conhecida como Janete Clair, famosa escritora de novelas da Rede Globo) com quem teve cinco filhos. Em 1983 ficou viúvo, e mais tarde casou-se com Maria Bernadete com quem teve mais duas filhas. Dentre as peças que escreveu, “O pagador de promessas” foi traduzido para mais de uma dúzia de idiomas, dando ao autor projeção internacional. A peça foi encenada em todo o mundo. A adaptação da peça para o cinema lhe rendeu (dentre vários outros prêmios), a Palma de Ouro do Festival de Cannes, em 1962. Ao fazer uma visita à União Soviética em 1953, Dias Gomes foi demitido da Rádio Clube e seu nome foi incluído na “lista negra”. Seus textos tinham que ser negociados com a TV Tupi em nome de colegas. O autor teve várias de suas obras censuradas pela ditadura militar (1964-1985). Em 1964, foi demitido da Rádio Nacional por conta do conteúdo de sua obra. A partir de então, participou de manifestações contra a censura e em defesa da liberdade de expressão. Em 1980, com a decretação da Lei da Anistia, foi reintegrado ao quadro da Rádio Nacional e, sua peça Roque Santeiro, após dez anos de proibição pela censura, foi liberada e adaptada para a televisão pela Rede Globo e, exibida com grande sucesso junto ao público. Dias Gomes é ainda hoje, um dos autores brasileiros mais premiados por sua atuação no rádio e por sua obra no teatro, cinema e televisão. Em 11 de abril de 1991, Dias Gomes foi eleito para a Academia Brasileira de Letras. ¹

            Tão logo soube da republicação do livro "Odorico na cabeça" tratei de adquiri-lo e ao tê-lo em mãos iniciei sua leitura, não o deixando na fila de espera. No livro, o universo das personagens de Sucupira (que embora escrito há tanto tempo) não perde sua atualidade, tamanho os descalabros que constatamos na realidade política e social brasileira. Ao ler a obra, temos a impressão que Dias Gomes escreveu determinadas personagens inspirado em personalidades da política e da sociedade brasileira atual, mesmo sabendo que suas fontes de inspirações eram personalidades e a sociedade de sua época de vivência. Isso nos leva a constatar que o tempo passa, porém, a hipocrisia, o falso moralismo, a malandragem e a corrupção permanecem e, não faltam personalidades cujo perfil se encaixa nas personagens de Sucupira. O Bem-Amado levado ao ar pela TV Globo obteve estrondoso sucesso e ainda hoje, muita gente lembra com saudade de suas personagens e tramas. Não falta quem diga que as produções televisivas atuais não conservam a mesma qualidade de tempos passados.

            O livro "Odorico na cabeça" traz os seguintes contos: O Chafarótico; Só cai quem monta; A Guerra das Malvadas; Um analista em Sucupira; Um jegue no Vaticano; O Finado que o vento levou e, Sucupira vai às urnas.  Em O Chafarótico, o conto trata de um chafariz restaurado em que D. Pedro I e uma de suas amantes teriam parado para beber água e cujas mulheres que dessa água passaram a beber começaram a libertar suas fantasias sexuais para o escândalo da sociedade e a indignação dos maridos traídos; Em "Só cai quem monta", Odorico cai do cavalo em sua fazenda, quando deveria estar dando expediente na prefeitura, mas preferiu estar em companhia de uma bela mulher do Rio de Janeiro a qual reivindica constantemente seus préstimos amorosos; Em A Guerra das Malvadas" Dias Gomes faz uma sátira à Guerra das Malvinas e a intenção das autoridades cuja impopularidade constatada nas pesquisas as levou a unir o povo em torno de uma causa (que se demonstrou perdida) com a real intenção de se manter no poder; No conto "Um analista em Sucupira", as pessoas de Sucupira procuram o profissional com a intenção de superar traumas e bloqueios psicológicos, o que acaba por mudar a forma de agir dos mesmos para a indignação da conservadora sociedade sucupirana que reage contra a presença do analista na cidade; O conto  "Um jegue no Vaticano" trata da promessa de uma personagem de presentear o Papa com o seu jegue de estimação em troca da recuperação de uma estátua de São Pedro que fora roubada da Igreja. A personagem não desiste de cumprir a sua promessa mesmo ante os religiosos que afirmam as dificuldades para enviar o jegue para Roma e que dadas as dificuldades, o cumprimento não é necessário e que, o que vale é a intenção; Em "O Finado que o vento levou" Odorico entusiasma-se pela possibilidade de, enfim inaugurar o cemitério que construiu e, que por ironia do destino, ninguém mais morre na cidade desde que ele ficou pronto (conseguirá?). Em Sucupira vai às Urnas, Odorico compra uma estação de rádio e monta um jornal dotado de uma moderna gráfica para fazer às calúnias e difamações da imprensa "marronzista" e "comunista" com seus jornalistas "subversivos" e "esquerdistas" (na obra quem faz oposição a Odorico é sempre por ele considerado comunista e esquerdista). Com ela pretende publicar a verdade, mas não a verdade dos opositores e sim a única verdade, a verdade dele.

            O leitor que teve a oportunidade de assistir "O Bem-Amado" ao ler a obra em questão sente saudades da produção televisiva cuja personagem de Odorico foi encarnada pelo genial Paulo Gracindo (1911-1995) e o ex-cangaceiro Zeca Diabo por Lima Duarte. Gostei de todos os contos, porém, "A Guerra das Malvadas" e "Sucupira vai às Urnas" estão acima da média dos contos do autor, Lembrando que em se tratando de Dias Gomes, a média é sempre muito alta! Fica a dica"  

1. Fonte: Disponível em:  http://www.academia.org.br/academicos/dias-gomes/biografia - acesso em 14 de Outubro de 2022.

Sugestão de boa leitura:

Título: Odorico na cabeça.

Autor: Dias Gomes.

Editora: Bertrand Brasil, 2022, 2ª edição, 153 p.


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