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sábado, 23 de outubro de 2021

A bandeira nacional e a indignação de Augusto Comte

            

            Há alguns dias enquanto caminhava com a esperança de deixar de ser uma pessoa de tão grande presença, não pude deixar de observar a quantidade de casas com a bandeira nacional, atualmente apropriada por um movimento político que pouco ou nada tem de patriótico, afinal, para começo de conversa, seu líder-mor Jair Bolsonaro bateu continência para a bandeira estadunidense. Que muitos brasileiros comuns tenham o complexo de vira-latas perante os Estados Unidos e a Europa, eu lamento, mas, aceito, afinal, faz parte da fraqueza de espírito de muitos. Difícil é ver investido no cargo de Presidente da República, quem tem tal complexo mais exaltado. Não há na carreira militar ou política de Bolsonaro nada que endosse seu alçamento ao maior cargo eletivo da Nação. Não dá nem para alegar que ele iludiu o povo com seu discurso nos debates, afinal, ele não foi a nenhum debate e sua oratória é tosca. Foi um péssimo militar, sofreu processo disciplinar (planejou atentado a bombas). Em várias oportunidades demonstrou ser favorável à ditadura, à tortura, à misoginia, à homofobia, à sonegação fiscal, ao machismo, ao armamentismo, etc. Ao receber a faixa do golpista Michel Temer afirmou que com sua eleição iria libertar o povo do socialismo e do politicamente correto.

            Socialismo que no Brasil nunca houve, pois, jamais a propriedade privada dos meios de produção (fazendas, bancos, indústrias, etc.) foi extinta. Quanto ao politicamente correto, esta é a forma civilizada com que um presidente de uma grande nação deve se pautar, afinal ele é enquanto presidente, o cartão de apresentação do país. Com seu governo, recheado de militares para nenhum general da ditadura militar (1964-85) poder se comparar, a imagem que o mundo tem do Brasil, infelizmente, é de uma autêntica República das Bananas. Há quem ria do Brasil, há quem se indigne com as ações governamentais em temas pungentes de discussão mundial como a questão ambiental e há quem tenha muita pena dos brasileiros. Lembro que quando estudante em plena ditadura militar, ouvíamos que o mundo inteiro admirava a beleza da bandeira brasileira, por todos considerada a mais bonita. Nunca consegui confirmar a fonte dessa afirmação tão popularizada, penso que se tratava de uma fake news para inspirar nos jovens um patriotismo ufanista embalado por "Eu te amo meu Brasil" de Don e Ravel, obrigatório nas escolas públicas juntamente com a execução dos hinos. Nem por isso, há evidências comprováveis cientificamente de que essa geração se tornou mais patriótica. Há muitos políticos dessa geração fazendo a velha política e, dela também muitos empresários roubando a Mãe-Pátria ao sonegar impostos.

            A bandeira nacional instituída em 19 de Novembro de 1889, trouxe poucas alterações àquela utilizada pelo Império. Manteve-se a cor verde da Casa de Bragança (D.Pedro I) e o amarelo da Casa de Habsburgo (D. Leopoldina). Falar de matas e ouro é conversa para boi dormir, digo mais, nossa bandeira deveria ser vermelha, afinal, na língua Tupi-Guarani "Brasil" significa vermelho. Na antiga base, se inseriu uma esfera celeste com as estrelas representando as unidades federativas. No centro do círculo a inscrição "Ordem e Progresso" vem do lema positivista de Augusto Comte (1798 - 1857) que dita: "O amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim". Há quem diga que a palavra "amor" não foi incluída, porque a tornaria longa. Outros dizem que isso ocorreu devido a necessidade de passar uma imagem viril. Numa terra em que o sistema escravocrata vigorou por mais de três séculos, o face-lift superficial da bandeira nacional e a exclusão da palavra amor, evidencia toda a sua história cuja macro política nacional ao se ver ante a inevitabilidade da mudança, muda apenas para manter tudo como está. Bolsonaro no poder é uma contrarrevolução preventiva de  uma elite cruel, mesquinha, sanguinária e impatriótica. A falta de amor neste país não se denota apenas na bandeira, mas no olhar que se esquiva ante o mendigo que cata no lixo o que comer, nos ouvidos que se fazem moucos perante as notícias da miséria, da fome, da injustiça social. Dói ver a bandeira nacional ser usada como símbolo de um movimento político nefasto à democracia, à liberdade, à Justiça Social, mas, entendo, embora não concorde que, quem sempre desfrutou de privilégios injustos os queira manter. O que corta o coração é ver tal bandeira (e o que ela hoje simboliza) na frente de casas humildes. Neste caso, o sentimento de repugnância ante mansões é tomado pelo sentimento de tristeza, de pena, de impotência.

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