As redes sociais são a forma majoritariamente utilizada pela população alfabetizada digitalmente para a propagação de suas opiniões. Sabemos que opinião e conhecimento são coisas diferentes. O professor, o médico, o cientista, etc. têm o conhecimento específico de seus ofícios e, para tê-lo, passaram milhares de horas em bancos universitários assistindo aulas de proeminentes mestres, leram centenas de livros, fizeram especializações, mestrados, doutorados e pós-doutorados na busca do conhecimento. Lembro que conhecimento é algo diferente de informação, pois, a informação diz respeito aos dados, aos fatos em si, sendo o conhecimento a capacidade sintético-analítica, ou seja, a capacidade de fazer a síntese e análise dos dados e fatos e a devida correlação com outros dados e fatos. Hoje não faltam pessoas que por serem informadas, pensam saber mais do que o professor, o médico ou o cientista nos ofícios que estes exercem. São as pessoas que as gerações passadas afirmavam "querer ensinar o padre a rezar a missa".
O conhecimento se adquire pela teoria e pela prática. Os
profissionais citados como exemplo conjugam teoria e prática. Mas, há quem se
considere "doutor pelas redes sociais" e, portanto, capaz de
contestá-los ao contrapor opinião contra o conhecimento dos profissionais. No
ano passado (2020) houve casos de médicos que sofreram agressões físicas por
não receitar um coquetel de remédios considerados ineficiente para a Covid 19.
Também houve casos em que médicos ao se recusarem a colocar outra "causa
mortis" a óbitos decorrentes da Covid 19 foram agredidos por beneficiários
de seguros que não cobriam mortes decorrentes de pandemia. Nestes tempos de
obscurantismo, cujo maior exemplo é a eleição de Jair Bolsonaro à presidência
da república, também os professores têm sofrido o seu quinhão com agressões
verbais e/ou físicas que partem não apenas de estudantes, mas, também de seus
pais ou responsáveis que sem ter conhecimento pedagógico-didático tentam impor
sua opinião sobre a metodologia de ensino das aulas que consideram correta. É
verdade que não foi a ascensão de Bolsonaro ao Planalto que deu início a esse
momento de desvalorização dos professores, apesar de intensificá-la. Os ataques
partem da parcela da população saudosista da ditadura militar, do
autoritarismo, do conservadorismo moral, dos simpatizantes fanáticos do
liberalismo econômico e defensores do status
quo de uma das mais injustas sociedades do mundo no que concerne a
distribuição de renda.
Retomo aqui a edição da Gazeta do Povo acerca do
resultado final das eleições de segundo turno em novembro de 2018, na qual
publicou um mapa do Paraná atribuindo cores diferenciadas aos contendores. Nele
ficou evidente a esmagadora vitória de Bolsonaro (PSL) com 68,43% dos votos
válidos sobre Haddad (PT) na grande maioria dos municípios. No Paraná,
Bolsonaro teve a sexta maior votação dentre as 27 unidades federativas.
Curitiba, a cidade de maior IDH do estado votou em peso com Bolsonaro (76,54%).
No entanto, chama a atenção duas manchas vermelhas que se localizam exatamente
onde ficam as duas regiões paranaenses de maior atraso social e econômico, a
região norte do primeiro planalto (onde ficam Cerro Azul e Adrianópolis) e a
região da Cantuquiriguaçu (terceiro planalto) da qual Laranjeiras do Sul faz
parte. Nestas duas regiões vários municípios contíguos concederam a maioria dos
votos para Haddad. Os eleitores pobres das microrregiões paranaenses citadas
(tal como fez a região nordeste brasileira) votaram conscientemente (com a mão
em suas barrigas) na tentativa de preservar sua segurança alimentar. Segurança
alimentar que, não mais existe para milhões de brasileiros. A fila do osso nos
frigoríficos de Cuiabá é prova disso. Não posso dizer que aqueles que votaram
em Bolsonaro também não o fizeram de forma consciente, mas, fizeram com a mão
no bolso, afim de preservar seus injustos e centenários privilégios de classe.
O amigo leitor me lembrará que nem todo mundo que votou em Bolsonaro tinha
privilégios para conservar e, eu respondo que estes tinham seus ossos
garantidos, votaram porque sabiam que não precisariam entrar na referida fila (de
madrugada) para conquistá-los. O que possuem é o osso, mas, imaginam ter um
suculento filé mignon e afortunados se julgam.
P.S. O Paraná cuja história
registra ter sido reduto eleitoral da Arena no período da ditadura militar
(1964-85), por seu conservadorismo reacionário, pode ser tranquilamente
denominado Bolsonaristão (aqui a rejeição a Bolsonaro é menor). E a capital?
Ora, amigo leitor, a capital do Bolsonaristão é a "República de Curitiba".
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