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quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

A história revisitada na cozinha

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            A história costuma ser contada a partir da versão dos vencedores. Por isso, muita informação se produz de forma incompleta ou manipulada. E isso não é algo à toa, pois, há uma clara intencionalidade, a conquista da hegemonia do discurso. A história oficial (com claro viés ocidental) registra que o dia da virada dos rumos da Segunda Guerra Mundial foi 06 de Junho de 1944 (o dia “D”) quando ocorreu a invasão da Normandia por tropas aliadas que cruzaram o Canal da Mancha e adentraram em território francês ocupado pelas tropas nazistas. A história oficial concede aos Estados Unidos da América o papel principal na derrocada do regime nazista, mas, a história está sendo revisada, e sabe-se que o início do fim do regime nazista, foi a derrota alemã para tropas soviéticas na batalha de Stalingrado. A União Soviética teve a maior perda de vidas humanas de toda a Segunda Guerra Mundial, estima-se que para cada soldado alemão morto em combate morreram dois soldados soviéticos. A União Soviética após ter parte de seu território ocupado por tropas alemãs que chegaram às cercanias de Moscou retomou o fôlego e expulsou as tropas nazistas de seu território e de todo o leste europeu, libertando inclusive os prisioneiros dos famigerados campos de concentração até a conquista do bunker nazista em Berlim. Antes disso, Stalin implorava para que os Estados Unidos abrisse outro front contra a Alemanha, pois, esta concentrava a maior parte de seu arsenal contra a URSS e caso fosse atacada em dois flancos, teria que dividir suas forças, mas, os EUA hesitavam (o que irritava Stalin). Mais tarde, quando viram que havia a possibilidade de a URSS sozinha dar conta da Alemanha apressaram-se em desembarcar na Normandia com o receio de que o destino da Europa ficasse sob a influência soviética.
            A escritora e jornalista bielorrussa Svetlana Aleksiévitch se insere nesse grupo de pesquisadores que tem revisitado a história na busca de relatos que fogem ao habitual. Ao invés de buscar as fontes oficiais de informação e os personagens de alta graduação, ela vai ao encontro do andar de baixo para buscar no meio do povo a história não contada da superpotência soviética. Svetlana ganhou o Prêmio Nobel de Literatura de 2015 e entre suas principais obras estão “Vozes de Chernobyl”, “A guerra não tem rosto de mulher” e “O fim do homem soviético”. Este escriba, após a indicação de uma amiga virtual, tratou de comprar e ler a obra “O fim do homem soviético”. Nesta obra Svetlana, com seu gravador e bloco de anotações visita as cozinhas de várias residências, pois, é nestas segundo o antigo costume soviético que se recebia as pessoas e onde ocorriam as acaloradas discussões acerca da vida naqueles tempos. Svetlana buscou memórias de pessoas da sociedade sobre como elas viram a história passar diante delas. Aleksiévitch priorizou as pessoas que viveram os tempos de Stalin, Krushev, Brejnev, Gorbatchev e Ieltsin. Procurou deixar as pessoas à vontade, pois, queria apenas as impressões das pessoas sobre os tempos passados e atuais. O livro é excelente e nele há todo tipo de relato, desde mulheres lindas que se casam com homens machistas, beberrões e violentos aos fatos envolvendo o período de grandes transformações da superpotência soviética e seus personagens principais. Há relatos de dificuldades na sobrevivência diária, a falta de produtos, bem como, declarações acerca da camaradagem entre as pessoas que na visão delas com o advento do capitalismo se extinguiu. Há depoimentos de pessoas desiludidas com o capitalismo, pois, tinham uma esperança acerca dele que não se concretizou e que afirmaram que os proprietários de grandes fortunas são criminosos que se apossaram das riquezas nacionais. Há também depoimentos de pessoas que se sentiram traídas, pois, apoiaram Gorbatchev e Ieltsin pensando que o socialismo seria reformado e não extinto. Ler a obra de Svetlana é mergulhar na história não contada ou que não se quer contar!

Sugestão de boa leitura:

O fim do homem soviético – Svetlana Aleksiévitch, Ed. Companhia das Letras.

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