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sábado, 9 de setembro de 2017

“Self made man” – parte 2 - Percival Farquhar

Dentre as várias personagens que segundo os admiradores do capitalismo fazem jus em serem reconhecidas como “self made man” está o nome do empresário estadunidense Percival Farquhar (Iorque, 1864 - Nova Iorque, 1953). Nascido numa família abastada, cujo pai, um empresário industrial bem sucedido, Farquhar teve a possibilidade de estudar nas melhores escolas estadunidenses e de cursar engenharia na famosa e elitista Universidade Yale. Formado, começou a trabalhar na empresa de seu pai. Ainda jovem, também se dedicou à política, tendo duas passagens pela Câmara dos Representantes de Annapolis, a capital do Estado de Maryland. Ocupou também cargos executivos em empresas de transportes em Nova Iorque. Como o histórico sonho estadunidense sempre foi anexar Cuba, realizou uma viagem de exploração à ilha recém livre da dominação espanhola. Convenceu seus amigos endinheirados a embarcarem com ele na aventura que tinha como objetivo a exploração de serviços de utilidade pública em Havana, isto no período de 1898-1902. Concomitantemente, formou a empresa Cuba Railroad (1900-1903), que construiu a estrada de ferro que integrou regiões agrícolas até então isoladas com a capital Havana. O dinheiro para seus empreendimentos vinham sempre da sociedade com amigos capitalistas, ou ainda do lançamento de ações na bolsa de valores e/ou empréstimos, junto a banqueiros europeus. De 1903 a 1908 foi vice-presidente da Guatemala Railway. Também teve ferrovias e minas na Rússia, e negociou pessoalmente com Lênin. Ao se retirar desse país venceu uma disputa jurídica com o Estado, sendo, portanto indenizado. Percival Farquhar se gabava que era capaz de vender qualquer coisa. Em certa ocasião, um grande banqueiro inglês estava evitando recebê-lo em seu escritório, pois, considerava que seus empreendimentos envolviam riscos excessivos. Mas, Percival encontrou o banqueiro nas ruas de Londres, e, este não conseguiu escapar à sua lábia. Questionado por seus colaboradores sobre o motivo que o levou a mudar de opinião quanto a financiar os perigosos empreendimentos do estadunidense, o banqueiro inglês disse: “tenho sorte em não ser mulher” (pois, caso fosse, Farquhar teria conseguido mais do que dinheiro). Embora tenha atuado em vários países como o Paraguai, a Argentina e o Uruguai, no Brasil é que Percival Farquhar deu dimensões colossais ao seu império. Foi proprietário dos portos do Rio de Janeiro, de Rio Grande (RS) e do Pará e de empresas de navegação. Explorou serviços de bonde, água e eletricidade no Rio de Janeiro e na Bahia. Sua obra mais famosa foi a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré com o sacrifício de milhares de vidas principalmente pela malária no período de 1906 a 1915. Possuiu fazendas de gado com milhares de alqueires e igual número de reses. Montou o frigorífico Continental (segundo do Brasil) sendo que os animais eram trazidos de suas fazendas por meio de trem para o abate em Osasco (SP). Adquiriu e concluiu a construção da estrada de ferro que ligava São Paulo (SP) à Santa Maria (RS) e que deu origem a empresa Brazil Railway Company e a Southern Lumber & Colonization Company. Recebia em numerário por quilômetro, além de quinze quilômetros de terras para cada lado da ferrovia, assim impôs ao traçado da ferrovia, curvas desnecessárias, e procurava passar por terras ricas em madeiras nobres (araucárias e imbuias) as quais beneficiava em gigantescas serrarias de sua propriedade, que eram as maiores da América Latina e se localizavam em Três Barras (SC) e Calmon (SC). Após o aproveitamento das madeiras, as terras eram então vendidas. Suas empresas estiveram envolvidas na Guerra do Contestado (1912-1916) e constituíam um enclave dos EUA no Brasil. Hasteava-se a bandeira ianque e os feriados daquele país eram respeitados. A empresa costumava utilizar-se de pistoleiros estadunidenses para “pacificar” os funcionários descontentes, bem como expulsar posseiros que muito tempo antes da chegada da empresa à região já a ocupavam. Suas empresas tinham caixa 2 e funcionários especialmente designados para “convencer” os políticos resistentes aos seus interesses. As crises econômicas resultantes das Guerras Mundiais lhe causaram a queda de seu pedestal dourado, e os investidores de seus empreendimentos arcaram com os prejuízos de suas aventuras que resultaram em recuperação judicial. Reclamava muito de Getúlio Vargas, pela criação dos direitos trabalhistas da CLT e pela demora com que este tomava decisões. Sobre Vargas dizia: “ele costuma deixar tudo como está, para ver como fica”! Foi proprietário da empresa Itabira Iron Ore Co. Mas, Vargas e seus assessores a nacionalizaram dando origem à estatal Vale do Rio Doce (atual Vale), depois privatizada por FHC. Tentou criar a primeira grande siderúrgica brasileira, isso antes da CSN, mas, foi impedido por políticos nacionalistas. Fundou então a siderúrgica Acesita que acabou encampada pelo Banco do Brasil devido ao seu forte endividamento e privatizada por Collor. Jamais se aposentou. Morreu em 1953, aos 89 anos de idade, devido a complicações resultantes de uma cirurgia cerebral que visava vencer o Mal de Parkinson. Alguns historiadores fazem dele um herói, outros um vilão sem escrúpulos. A biografia que aqui indico é boa, porém, apologética, então não deve ser vista como a pura expressão da verdade. 

Sugestão de boa leitura:

FARQUHAR, O ÚLTIMO TITÃ: um empreendedor americano na América Latina – Charles A. Gauld.

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