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quinta-feira, 29 de outubro de 2015

As estripulias do Imperador

Há alguns meses estava em uma livraria e tendo pegado nas mãos um livro, uma moça se ofereceu para me ajudar e disse que ele era excelente, que o leu e gostou muito. Escutei e escolhi mais alguns com a ajuda da simpática vendedora e, lógico, levei o livro em questão para casa. É bem verdade que a decisão de levá-lo não ocorreu pelo comentário elogioso a respeito do mesmo, que, serviu mais como uma confirmação de uma decisão já tomada, pois, li outras obras de Mary Del Priore e, portanto, sabia da qualidade da pesquisa por ela realizada e que se traduz em vários prêmios já recebidos (Jabuti, APCA, Sérgio Buarque de Holanda, Ars Latina, e Casa Grande & Senzala). A historiadora faz parte de uma nova geração de pesquisadores que estão revisando a história nacional e trazendo à luz vários fatos que marcaram o cotidiano de nossa história. Em “A Carne e o Sangue”, Mary Del Priore revela detalhes acerca do casamento de Dom Pedro I com a arquiduquesa austríaca Maria Leopoldina Josefa Carolina Francisca Fernanda Beatriz da Áustria, filha do último soberano do Sacro Império Romano-Germânico e Imperador da Áustria Francisco I tendo sempre presente e como pano de fundo, os fatos históricos do período. A moça de 20 anos causou desapontamento em parte da população do Rio de Janeiro que alimentava a ideia de ver o herdeiro da coroa unido a uma belíssima noiva europeia. Leopoldina tinha olhos azuis, porém, era gorda, e, portanto, estava distante do ideal de beleza, tinha, porém, na educação e na cultura refinada, seus maiores trunfos. Moça casta, educada para a nobreza, Leopoldina apaixonou-se pelo príncipe que conheceu por meio de uma fotografia, que lhe foi enviada por emissários de Dom João VI, o qual pretendia casar o filho e alinhavar uma aliança com o importante reino da Europa. Leopoldina casou-se oficialmente na Áustria, mas, somente viu seu consorte pela primeira vez ao desembarcar no Rio de Janeiro, uma vez que o casamento se deu com uma procuração de Dom Pedro I e aos convivas foi oferecida luxuosa festa patrocinada por Dom João VI. No Brasil, com a presença dos noivos, nova festa. Mas como a realidade não condiz com os contos de príncipes e princesas, Leopoldina não tardou a descobrir que Pedro I, era infiel, mas, mesmo indignada e deprimida, resignou-se ao papel que à época se esperava das esposas (submissão inconteste). Pedro I causava grande preocupação aos pais das mais belas donzelas, pois, tido como bonito, fogoso e por ser o herdeiro da coroa, mulher alguma recusava suas investidas, as quais não perdoavam nem mesmo as casadas. Não raras vezes, pai e irmãos de suas amantes ganhavam cargos no governo ou no exército como um ato de simpatia do Imperador na aproximação com as moças que lhe despertavam os desejos da carne. Mas o grande amor de Pedro I foi a bela e sensual Domitila de Castro Canto e Melo (Marquesa de Santos) com a qual Pedro I afirmava fazer o amor da Carne enquanto que com a esposa realizava o amor de Matrimônio visando a procriação para garantir a linha sucessória. Os amantes trocaram inúmeras correspondências em que chamavam um ao outro de “Titília” e “Demonão”, porém, com a morte prematura de Leopoldina e a recusa de várias cortes europeias em fornecer uma noiva para Dom Pedro, pois, sua má-fama corria além-mar, resolveu melhorar a reputação enviando a Marquesa para São Paulo, não lhe dando mais os caros presentes e acabando com seu tráfico de influência junto à Corte. Casou-se então com a bela Dona Amélia que pôs ordem na corte, e, mais tarde abdicou em favor do herdeiro D. Pedro II, então, uma criança. Pedro I foi para Portugal recuperar para a filha Maria da Glória, o trono usurpado por D. Miguel e morreu de tuberculose aos 36 anos (1834). Domitila casou-se novamente, viveu até os 70 anos e do passado na Corte do Rio de Janeiro, restaram apenas lembranças que contava aos próximos. Sugestão de boa leitura: A carne e o sangue. Mary Del Priore. Rocco, 2012.

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