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quinta-feira, 17 de abril de 2014

A pauta que me pauta

Há alguns dias li uma frase de autoria do escritor e jornalista Paulo Mendes Campos (1922-1991) que me deixou intrigado, a frase: “escritor é quem tem dificuldade para escrever, quem tem facilidade para escrever é orador”. Ao refletir sobre a frase vi que nela não me encaixo, pois tenho grande facilidade para escrever, no que sou melhor do que ao manejar o microfone, pois tenho uma relação mais íntima e prazerosa com o computador e o papel no trabalho solitário de trazer uma ideia ou reflexão ao mundo. Ao dar certidão de nascimento a um novo artigo o faço sempre pautado pela coerência com a minha história de vida e os ideais que norteiam a minha personalidade, não escrevo para agradar ninguém, pois, poderia incorrer em desonestidade para comigo mesmo. Também não escrevo com a intenção de mudar a forma de pensar de ninguém, escrevo defendendo as coisas em que acredito e para que as pessoas que pensam de igual forma saibam não estarem sozinhas. Sei que minhas linhas agradam alguns e desagradam outros, da mesma forma leio muita coisa que me desagrada e fico feliz que vivamos num país democrático que possibilita a coexistência da pluralidade de ideias. Sei também que a leitura dos temas e textos longos que escrevo é desprezada por muitas pessoas, isso não me incomoda ou entristece, porque escrevo primeiro para mim e reparto com aqueles que buscam subsídios para livremente pensar, não importa que sejam poucos, importa que sejam como são: seres pensantes. O mundo seria muito triste e vazio se todos pensassem da mesma forma, lamentável é saber que nem todo mundo pense assim, pois o pensamento único não é fermento da democracia, mas, sustentáculo da ditadura. Em nossa prática devemos fazer-nos acompanhar da coerência que deve ser a pedra basilar de nosso pensamento e ação, mas não pode ser uma coerência paralisante que nos torne indiferentes e incapazes de agir quando o momento nos pede que nos posicionemos. A coerência não significa que nos tornemos insípidos para agradarmos às pessoas, pois isso tem nome chama-se oportunismo. Os oportunistas trilham os caminhos da vida sem rumo certo conforme os ventos do momento lhes mostra onde se encontram as maiores possibilidades de satisfação pessoal, dessa forma buscam não “queimar o filme” se posicionando sobre temas espinhosos e nem mesmo fazer parte de causas que não tragam algum benefício, razão pela qual costumam se posicionar junto ao grupo mais poderoso vendendo a este, a alma. Na vida é preciso tomar partido, já afirmava o grande pensador italiano Antonio Gramsci (1891-1937) “Odeio os indiferentes. Acredito que viver significa tomar partido. Indiferença é apatia, parasitismo, covardia. Não é vida. [...]”. O leitor pode até não gostar do que escrevo, mas jamais poderá dizer que não tomo partido, pois, ao deixar claro meu posicionamento ideológico agrado uns e desagrado outros, mas evidencio que o oportunismo é um traço de personalidade lamentável em qualquer pessoa. Portanto, ser coerente não é acenar com a cabeça concordando com a maioria, pois a maioria nem sempre representa as causas mais justas e as ideias mais elaboradas, a coerência não é um lugar e nem um tempo, ela é a nossa própria essência quando não estamos perdidos de nós mesmos. Somente encontramos a essência daquilo que conhecemos bem e a maioria das pessoas é para si própria, um estranho. Escrever é para mim uma possibilidade de a cada texto conhecer-me um pouco mais e a pauta que me pauta é a essência do meu próprio ser.

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