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sábado, 14 de novembro de 2020

Homens em guerra

            

Andreas Latzko (1876-1943) foi um escritor, biógrafo e pacifista nascido no então Império Austro-Húngaro. Dentre  sua obra, a que mais se destaca é "Homens em guerra" e que foi publicada de forma anônima no ano de 1917. Esse cuidado deve-se ao fato de seu autor ser à época um oficial do Exército Austro-Húngaro e, de seu livro  ser um pungente relato do horror diário da guerra. Latzko visava conscientizar as pessoas sobre a loucura, a insensatez, de enviar pessoas (que abandonam suas famílias e sonhos)  para morrer ou retornar da guerra com terríveis sequelas físicas ou mentais. Andreas Latzko acabou sendo descoberto e foi destituído de seu cargo de oficial. O livro foi proibido de circular nos territórios das nações beligerantes da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), porém, cópias clandestinas dele foram feitas e distribuídas de forma discreta nos círculos intelectuais da época. Lembro de ter lido uma frase de Hiram Johnson que considero emblemática "sempre que uma guerra se inicia, a primeira vítima é a verdade".

            A verdade, bem como quem a profere é considerado um estorvo, sinal de anti-patriotismo. Nesse sentido, o movimento pacifista The Flower Power que incluía importantes personalidades do meio artístico como o ex-beatle John Lennon (1940-1980) com seus inflamados discursos pacifistas irritou profundamente as autoridades civis e militares dos Estados Unidos da América, a mais beligerante das nações. É nesse contexto que o livro foi censurado, afinal, para que a sociedade apóie a guerra é necessário romantizá-la e, não há romantismo algum para quem a vive diariamente. Trata-se de uma morte em vida. Um pesadelo vivido enquanto se está acordado.O general estrategista militar prussiano Carl Von Clausewitz (1790-1831) afirmou sem chance para erro que "a guerra é a continuação da política por outros meios".Trata-se de uma política voltada via de regra para a defesa dos interesses privados dos grandes capitalistas e, levada a cabo pelo Estado com recursos públicos, o qual envia jovens (geralmente pobres) para o inferno a fim de que os ricos continuem a desfrutar das benesses que o  "paraíso capitalista" lhes concede.

            O livro de Latzko pertence ao gênero literatura de guerra que é bastante popular e conta com boas tiragens de exemplares mundo adentro, no entanto, tem a peculiaridade de ser uma leitura muito dolorida, afinal, tem a intenção de não poupar os leitores de detalhes vividos por soldados na dura rotina diária da guerra. O livro tem seis histórias (contos) vividos pelo próprio autor e/ou que lhe foram contadas por soldados com os quais conviveu. O escritor relata bailes realizados em cidades com o objetivo de homenagear os "defensores da pátria", mas, de entrada proibida aos soldados com sequelas. Detalhes como corpos estraçalhados, poças de sangue, etc. não são poupados ao leitor. O escritor lamenta as vidas desperdiçadas enviadas para a morte certa, seja pelo insuficiente treinamento e/ou pelo total descaso com o ser humano, pois,  idosos, pais de família e jovens que ainda não se encontravam na faixa etária ideal eram enviados para o front devido à necessidade de reposição de "material humano" (na denominação das autoridades).

            Dentre as histórias chocantes, há a de um lindo rapaz (desejado por muitas moças) e que namorava a mais bela moça de sua comunidade e que volta da guerra com o rosto desfigurado. Este jovem, na sua rotina diária na guerra, ansiava voltar para casar-se, promessa que ambos haviam feito reciprocamente  para a seu retorno. Ele não é reconhecido pelas moças que conhecia e, sua namorada (que não consegue fixar o olhar em seu rosto) termina o relacionamento. O autor relata que enquanto o soldado vive seus dias no inferno, a população civil toca suas vidas de forma quase normal e, consegue dormir à noite, sendo que muitos soldados jamais terão suas vidas anteriores de volta, pois, a vida comunitária seguiu sem eles e, também porque suas mentes e corpos se deterioraram em vida. O escritor afirma que o discurso do retorno glorioso proferido pelas autoridades (que não entram em combate) é uma farsa.

            Trata-se de um livro perturbador e o indico somente  para quem tem espírito e estômago fortes!

Sugestão de boa leitura:

Título: Homens em guerra.

Autor: Andreas Latzko.

Editora: Editora Carambaia, 2015, 160 p.

Preço: R$ 25,00.

 


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