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sábado, 18 de julho de 2020

O estrangeiro



           
           
            Albert Camus (pronuncia-se Cami) nasceu em 1913, na costa da Argélia, no continente africano. A Argélia estava sob colonização da França, sendo ele próprio descendente de franceses. Seu pai morreu em 1914, em combate na Primeira Guerra Mundial. Como a família era muito pobre, todos precisavam trabalhar para conseguir o sustento. Sua mãe trabalhava lavando roupa para outras pessoas, trabalho digno, porém, que demonstra o nível de pobreza da família. Um professor de Camus viu que ele tinha um futuro promissor, para tal precisava prosseguir os estudos. Os familiares se opunham, afinal, todos precisavam contribuir com a subsistência da família. Camus tomou a difícil decisão de continuar os estudos e cursar a escola secundária. Nesta escola, sob a influência de outro professor, cursou e se graduou em Filosofia. Fez Mestrado em cuja dissertação discorreu sobre o Neoplatonismo e, em seguida o Doutorado, abordando em sua tese, a filosofia de Santo Agostinho. Neste momento em que estava se preparando para lecionar na Universidade, recebeu o diagnóstico de tuberculose o que o impediu de iniciar sua carreira no magistério. Trabalhou em vários jornais, escreveu inúmeros artigos além dos livros que o tornaram um dos grandes nomes da literatura francesa e mundial, reconhecimento este que cresceu exponencialmente após ganhar o Prêmio Nobel de 1957.
            O diagnóstico da grave doença inseriu marcas profundas na personalidade e na obra de Camus. Filósofo de formação, sua obra é classificada no gênero de “Filosofia do Absurdo” que alguns confundem com o existencialismo, mas, que na realidade é distinta. Camus sempre teve durante a sua curta e intensa vida a perspectiva da morte o rondando. A formação que teve, ao ser turbinada pela doença, intensificou as suas reflexões sobre a busca do sentido da vida ou de uma lógica que explicasse o motivo de nossas pobres e vazias existências, mas, chegou à conclusão que não existem, afinal, o caos governa o Universo desde sua origem. Apesar disso, Camus teve suas paixões, constituiu família. Adorava futebol e conta-se que era um bom goleiro. Em 1949, esteve no Brasil para proferir palestra e solicitou que o levassem para assistir um jogo de futebol. Encantou-se com a paixão dos brasileiros pelo futebol. Sua obra de maior destaque é “O estrangeiro”, embora, “A queda” e “A peste” sejam também muito famosas. Esta última inclusive tem vendido muito devido ao momento de pandemia que vivemos atualmente. O famoso filósofo Jean Paul Sartre adorou o livro “O estrangeiro” e disse em entrevista que desejava conhecer Albert Camus. Eles se conheceram e tornaram-se amigos por longo tempo até que se afastaram por conta das críticas de Camus à União Soviética, algo que desagradou Sartre. Ele irritou também as autoridades francesas ao denunciar a forma como estas tratavam os cidadãos árabes. Camus, certamente sabia que sua vida seria curta, então, deu a ela, intensidade, porém, não morreu pela doença, mas, num acidente de automóvel em 1960.
            A obra “O estrangeiro” tem como narrador-personagem Meursault e, a trama se inicia com este contando haver recebido um telegrama informando-o da morte de sua mãe, a qual se encontrava num asilo na cidade de Marengo. Meursault ao receber as condolências de pessoas do trabalho, afirma que não é sua culpa, para o estranhamento dos demais, tamanha sua indiferença. Meursault pede dispensa para o patrão e pensa que ele não deve ter gostado de dispensá-lo, mas, que não é sua culpa. Viaja para Marengo e lá chegando é atendido pelo diretor da instituição que lhe dá os pêsames, mas, ele apenas reclama do calor. É então conduzido para o salão onde o velório está se realizando, senta-se em uma cadeira e recusa-se a ver o corpo da mãe, ato que causa estranheza para os funcionários do asilo. Durante a noite toma café, fuma e cochila sentado na cadeira. Na manhã do dia seguinte, após a realização dos rituais religiosos, juntamente com o diretor da instituição e alguns idosos (amigos de sua mãe) seguem até o cemitério, Meursault reclama do calor enquanto caminha. Após o enterro, viaja para sua cidade e lembra que agora terá mais dois dias sem trabalho e pensa: não é culpa minha. Liga para a namorada Marie, passam o final de semana juntos, vão à praia, jantam, vão ao cinema onde assistem a um filme de comédia. Questionado por Marie se ele se casaria com ela, dá a entender que se ela quer, pode ser. Meursault usa muito a expressão “tanto faz”. Questionado se ele a ama, diz que não. E ela pergunta: e se casaria comigo mesmo assim? Tanto faz, casar ou não. Questionado se ele diria sim a outra que quisesse se casar com ele, responde “talvez”. Convidada a passar mais uma noite com ele, Marie declina, pois precisa trabalhar no dia seguinte, então vai a pé para sua casa, ele não a acompanha.
Raymond, o vizinho cafetão de Meursault espanca uma jovem árabe.  E Meursault aceita fazer testemunho falso para aliviar a barra deste perante a justiça, afinal, Raymond precisa, e, para ele, tanto faz. No trabalho, o patrão lhe oferece promoção caso aceite se mudar para o escritório de Paris, ele responde para o estranhamento deste, que ganhar mais ou não, morar ali ou em Paris, tanto faz! O patrão lhe pergunta: mas você não tem ambições na vida? Ele responde que tanto faz, gosta de viver ali. Raymond vai passar um final de semana numa casa de praia com uma de suas garotas e convida Meursault e sua namorada. Na praia deparam com o irmão da moça espancada e ali ocorre uma briga. Meursault volta armado à praia e encontra novamente o árabe. Sem dar tempo a este, puxa o revólver e atira, o árabe cai morto, Meursault, mesmo assim, descarrega outros quatro tiros no corpo inerte. Meursault vai preso, e pensa que para qualquer pessoa que viveu um ano do lado de fora, estar preso ou não, tanto faz. Ao juiz, afirma que tanto faz ter advogado para defendê-lo ou não. O juiz nomeia um defensor público para representá-lo. O processo é o ponto alto do livro. Testemunhas arroladas pela acusação falam sobre seu jeito estranho de ser, pois, não sentiu a morte da mãe e por ser indiferente aos demais. O promotor explora de forma brilhante o final de semana que Meursault passou curtindo a vida (logo após o enterro da mãe), e traça um perfil psicológico do réu demonstrando que ele representa um perigo para a sociedade. O advogado se esforça em sua defesa, mas as testemunhas da defesa (ante as perguntas do promotor) se contradizem. Meursault percebe o show que o promotor está dando e, que ele não está sendo julgado pelo assassinato, mas, por sua forma de ser, pois, não vive de acordo com o padrão de normalidade da sociedade. Ele pensa que poderia falar algo em sua defesa, mas, está com preguiça e, afinal, tanto faz! Neste momento, preservo o desfecho da trama, (caso o leitor resolva ler), e digo que ao fechar o livro, genialmente escrito, o leitor terá uma sensação de estranhamento como a dizer “que foi isso que li”? 

Sugestão de boa leitura:
Título: O estrangeiro.
Autor: Albert Camus.
Editora: Record, edição128 (1979), 128 p.
Preço: R$23,90.

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