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quinta-feira, 1 de maio de 2014

Aula prática de cidadania

Os/as professores(as) da rede Estadual de Educação Básica do Estado do Paraná reunidos em Curitiba deliberaram há algumas horas, hoje (29/04), pela suspensão da greve iniciada em 23 de abril e levada a cabo para destravar a pauta de reivindicações cujas negociações há algum tempo encontrava-se emperrada. A suspensão não é o fim da greve, mas uma interrupção, em meu ver uma estratégia inteligente que dará ao Governo tempo para efetivação das ações referentes à proposta apresentada junto ao Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP-Sindicato). Na hipótese que espero seja pouco provável de o Governo não cumprir as promessas, a greve pode retornar. A história dos direitos trabalhistas que hoje conhecemos (férias, descanso semanal, 13º salário, etc.) é a história de muitas lágrimas, muito suor e sangue derramado, trabalhadores(as) deram até mesmo suas vidas pela conquista de direitos que hoje consideramos tão naturais e não nos damos conta de como foram arduamente conquistados, o dia 1° de Maio (dia do trabalho) e dia 08 de Março (dia Internacional da Mulher) são datas históricas de luta dos(as) trabalhadores(as) por melhores condições de trabalho e que resultaram em prisões e mortes. Uma greve é sempre o último recurso, nenhum(a) trabalhador(a) gosta de recorrer a tal expediente, não é diferente com os/as educadores(as), numa greve há grande desgaste psicológico, os/as trabalhadores(as) mais experientes precisam dar apoio aos/às mais jovens, esclarecer as dúvidas de todos(as) e a carga de trabalho na organização da greve faz com que o cansaço seja maior do que a rotina diária de trabalho. A preocupação com as reposições necessárias que precisam ser encaixadas no calendário não saem da cabeça dos/das professores(as). Mas é sempre um bonito momento de exercício da cidadania, costumo dizer que os/as professores(as) ao lutar por seus direitos ensinam lições práticas de cidadania aos/as educandos(as), pois, sabemos a diferença entre ser professor(a) e educador(a) reside no fato de que ao/a primeiro(a) basta ensinar pela teoria, por sua vez, educador(a) é o/a profissional que domina a teoria e alia o conhecimento desta com a prática ensinando pelo exemplo. Ouvi de uma professora que alunos perguntaram “por que ela não estava lutando junto com seus colegas, pois se ensinava que os alunos deviam se unir para lutar por seus direitos, ela devia fazer o mesmo” e afirmei a ela que suas aulas deviam ser boas e estavam surtindo efeito, portanto, não devia ficar constrangida por não ter ingressado na luta desde o primeiro momento e que era bem vinda à luta. No momento em que estamos em greve rememoramos toda a história da classe trabalhadora e honramos os direitos que hoje dispomos e que foram conquistados por quem superando o medo e cheio de esperança ousou lutar. Nós educadores não podemos ter a falsa ilusão de fazermos parte da elite, pois, somos classe trabalhadora e por trabalharmos o conhecimento temos diante de nós a missão de sermos “intelectuais orgânicos” (tal como preconizado por Gramsci) unindo-nos aos demais trabalhadores de outros setores auxiliando na conscientização e na organização da luta por melhores condições de trabalho, mas, também por uma sociedade justa, solidária e fraterna. Durante a greve juntamente com os/as colegas da APP-Sindicato tive a oportunidade de visitar várias escolas em Laranjeiras do Sul, Quedas do Iguaçu, Saudade do Iguaçu, Sulina, Virmond, Cantagalo e Diamante do Sul, e, conversar com os/as trabalhadores(as) em Educação da rede pública do Estado do Paraná esclarecendo dúvidas e convidando-os/as a fazer parte da história e neste momento quero agradecer a todos(as) os/as profissionais das escolas com as quais mantivemos contato pela resposta positiva ao chamado para a luta e dizer que tenho grande orgulho de cada um/uma de vocês, pois, venceram o medo e imbuídos da esperança ousaram lutar por melhorias na Educação, mesmo sabedores(as) de que sacrifícios seriam necessários. Como afirmou Ruy Barbosa: “Quem não luta pelos seus direitos, não merece tê-los” e você trabalhador(a) em Educação conquistou uma batalha, outras virão e importa que estejamos sempre prontos(as) para mostrar à sociedade como se luta pelos direitos de forma organizada e ordeira, pois, para reivindicar direitos não são necessárias depredações e nem causar transtornos à ordem pública. Aproveito para dizer que a história dos trabalhadores não é feita de grandes avanços através de pequenas ações, mas, de pequenos avanços sucessivos através de grandes ações. Parabéns a você que ousou enfrentar o medo e pôs de lado o comodismo, pois, seu exemplo vale mais do que qualquer teoria para os/as educandos(as).

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